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Revista
Artigo

Evolução histórica do controle de


constitucionalidade nas Constituições
brasileiras
Filipo Bruno Silva Amorim

Elaborado em 09/2009.

«Página 1 de 2»

Desativar Realce a A

1. Nota Introdutória:

O presente artigo visa tão-somente introduzir o leitor, ainda que de forma breve e
incipiente, a evolução ou, caso prefiram, mutação, histórica das Constituições
brasileiras, no que concerne ao controle de constitucionalidade, partindo da
Constituição Imperial de 1824 até alcançarmos a Constituição Federal de 1988.

O estudo a que me propus não busca, em absoluto, um caráter exaustivo da referida


evolução histórica, mas apenas percorrer en passant as disposições constitucionais
pertinentes ao tema, de modo a proporcionar àqueles que passarem as vistas sobre esse
texto um rápido e objetivo panorama do nosso sistema de controle de
constitucionalidade, instrumento, ao mesmo tempo vetusto e hodierno, tão difundido e
discutido no dia-a-dia da prática jurídica nacional.

2. Controle de Constitucionalidade – Noções Preliminares:

Pode-se dizer que o controle de constitucionalidade é um instrumento criado para


garantir o respeito e a obediência às normas constitucionalmente postas. Isto significa
que os atos normativos infraconstitucionais não podem contrariar os preceitos erigidos
ao patamar constitucional [01].

A pirâmide Kelseniana, que propõe a hierarquização das normas dentro do ordenamento


jurídico, prevê a Lei Fundamental (Constituição) no seu vértice, e todas as demais
normas abaixo daquela que as legitima.

Se um ato normativo qualquer contrariar os preceitos da norma que o legitima, não


poderá integrar aquele determinado ordenamento jurídico, sob pena de admitirmos a
revogação de normas constitucionais por normas infraconstitucionais. Estaríamos diante
de uma Constituição sem identidade, na expressão do mestre Português J.J. Gomes
Canotilho, mais abaixo reproduzida, eis que modificável ao bel prazer das maiorias
políticas de plantão.

Nesta esteira, importante traçarmos, ainda que brevemente, um paralelo entre o que se
convencionou denominar de Constituições rígidas e flexíveis. Deste modo, salutar
trazer-se à baila escólio do mestre José Afonso da Silva, que em sua clássica obra Curso
de Direto Constitucional Positivo [02] leciona:

Textos relacionados

• Da sincretização dos controles de constitucionalidade


• Exame da OAB. O Projeto de Lei nº 1.284/2011, Ophir e os representantes de
"organizações de reprovados no teste"
• Ativismo judicial: as experiências brasileira e sul africana no combate à AIDS
• Competência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para regular o uso de
marcas em rótulos de alimentos
• A exploração da atividade econômica pelo Estado

Rígida é a constituição somente alterável mediante processos, solenidades e


exigências formais especiais, diferentes e mais difíceis que os de formação das leis
ordinários ou complementares. Ao contrário, a constituição é flexível quando pode ser
livremente modificada pelo legislador segundo o mesmo processo de elaboração das leis
ordinários. Na verdade, a própria lei ordinária contrastante muda o texto constitucional.

Nas sábias palavras do mestre Português, J. J. Gomes Canotilho [03]:

A rigidez traduz-se fundamentalmente na atribuição às normas constitucionais de uma


capacidade de resistência à derogação superior à de qualquer lei ordinária. Significa
isto que a Constituição (normas constitucionais) só pode ser modificada através de um
procedimento de revisão específico e dentro de certos limites (formais, circunstanciais e
materiais) como se verá no estudo sobre o procedimento de revisão (cfr. CPR, artigos
284.º e segs.). Os outros actos normativos desprovidos do valor e da força de leis
constitucionais de revisão (CRP, artigos 119.º/1/1, 161.º/1 e 166.º/1) não possuem
capacidade derrogatória relativamente às normas constitucionais. No caso de estes
outros actos normativos editarem disciplina jurídica em desconformidade com as regras
e princípios da Constituição eles são inconstitucionais (cfr. CRP, artigo 277.º/1) com as
conseqüências jurídicas que serão indicadas no momento da análise da fiscalização da
constitucionalidade. A opção por um "texto rígido", no sentido assinalado, é hoje
justificado pela necessidade de se garantir a identidade da constituição sem impedir
o desenvolvimento constitucional. Rigidez é sinónimo de garantia contra mudanças
constantes, freqüentes e imprevistas ao sabor das maiorias legislativas transitórias. A
rigidez não é um entrave ao desenvolvimento constitucional, pois a constituição deve
poder ser revista sempre que a sua capacidade reflexiva para captar a realidade
constitucional se mostre insuficiente.

A dicotomia entre rigidez/flexibilidade não postula necessariamente uma alternativa


radical; exige-se, sim, uma articulação ou coordenação das duas dimensões, pois, se, por
um lado, o texto constitucional não deve permanecer alheio à mudança, também, por
outro lado, há elementos do direito constitucional (princípios estruturantes) que devem
permanecer estáveis, sob pena de a constituição deixar de ser uma ordem jurídica
fundamental do Estado para se dissolver na dinâmica das forças políticas. Neste sentido
se fala da identidade da constituição caracterizada por certos princípios de conteúdo
inalterável. (grifos nossos)

De igual modo, o Professo Paulo Bonavides registra em seu Curso de Direito


Constitucional [04] que:

O sistema das Constituições rígidas assenta numa distinção primacial entre poder
constituinte e poderes constituídos. Disso resulta a superioridade da lei constitucional,
obra do poder constituinte, sobre a lei ordinária, simples ato do poder constituído, um
poder inferior, de competência limitada pela Constituição mesma.

As Constituições rígidas, sendo Constituições em sentido formal, demandam um


processo especial de revisão. Esse processo lhes confere estabilidade ou rigidez bem
superior àquela que as leis ordinárias desfrutam. Daqui procede pois a supremacia
incontrastável da lei constitucional sobre as demais regras de direito vigente num
determinado ordenamento. Compõe-se assim uma hierarquia jurídica, que se estende da
norma constitucional às normas inferiores (leis, decretos-leis, regulamentos etc.), e a
que corresponde por igual uma hierarquia de órgão.

A conseqüência dessa hierarquia é o reconhecimento da "superlegalidade


constitucional", que faz da Constituição a lei das leis, a lex legum, ou seja, a mais alta
expressão jurídica da soberania.

O órgão legislativo, ao derivar da Constituição sua competência, não pode obviamente


introduzir no sistema jurídico leis contrárias às disposições constitucionais: essas leis se
reputariam nulas, inaplicáveis, sem validade, inconsistentes com a ordem jurídica
estabelecida.

Conclui-se, portanto, que o controle da constitucionalidade só existirá, por lógica, nos


ordenamentos que se fundarem em conceitos constitucionais rígidos, pois se uma lei
qualquer tivesse o poder de ab-rogar normas constitucionais, estaríamos diante de uma
Constituição flexível; destarte, sem utilidade alguma esse mecanismo de proteção –
Controle de Constitucionalidade.

3. Constituição Imperial de 1824:

No sentido acima exposto, é de se registrar que a Constituição Imperial de 1824 não


adotou essa espécie de controle judicial de constitucionalidade das leis, uma vez que seu
texto não se coadunava com o que se pode hodiernamente chamar de "rígido".

Ademais, fortemente influenciada pelo modelo francês, outorgou-se ao Poder


Legislativo a atribuição de fazer leis, interpretá-las, suspendê-las e revogá-las, além de
velar pela guarda da Constituição, senão observe-se, tal qual o original:

Art. 13. O Poder Legislativo é delegado á Assembléa Geral com a Sancção do


Imperador.
Art. 14. A Assembléa Geral compõe-se de duas Camaras: Camara de Deputados, e
Camara de Senadores, ou Senado.

Art. 15. É da attribuição da Assembléa Geral.

(...)

VIII. Fazer Leis, interpretal-as, suspendel-as, e revogal-as.

IX.Velar na guarda da Constituição, e promover o bem geral do Nação (grifos


nossos)

Primou-se por uma rígida separação de Poderes, tal qual pregado por Montesquieu,
todavia em um modelo não tripartite, mas tetradimensional, nas palavras do Professo
Paulo Bonavides, já que previu a existência do denominado Poder Moderador, o Poder
dos Poderes, que dentre outros deveres, conferia ao Chefe de Estado, o Imperador, a
missão de velar pela manutenção da independência, equilibro e harmonia dos demais
poderes (art. 98, Constituição Imperial).

Por fim, acerca da possibilidade de reforma constitucional, registre-se o teor do artigo


178 da referida Carta Política:

Art. 178. É só Constitucional o que diz respeito aos limites, e attribuições respectivas
dos Poderes Politicos, e aos Direitos Politicos, e individuaes dos Cidadãos. Tudo, o que
não é Constitucional, póde ser alterado sem as formalidades referidas, pelas
Legislaturas ordinarias. (grifos nossos)

Vê-se, deste modo, a não adequação do texto de 1824 ao conceito moderno de rigidez
constitucional, bem como a inexistência de lugar, nesse sistema, "para o mais incipiente
modelo de controle judicial de constitucionalidade." [05]

4. Constituição Republicana de 1891:

Iniciada a República, desde a sua primeira Constituição (1891), o Brasil passou a adotar
o modelo difuso de controle da constitucionalidade, buscando fundamentos no modelo
norte-americano, "reconhecendo a competência do Supremo Tribunal Federal para rever
as sentenças das Justiças dos Estados, em última instância, quando se questionasse a
validade ou a aplicação de tratados e leis federais e a decisão do Tribunal fosse contra
ela, ou quando se contestasse a validade de leis ou de atos dos governos locais, em face
da Constituição ou das leis federais, e a decisão do Tribunal considerasse válidos esses
atos ou leis impugnadas (art. 59, §1º, a e b)" [06]:

Art. 59 - Ao Supremo Tribunal Federal compete:

(...)

§ 1º - Das sentenças das Justiças dos Estados, em última instância, haverá recurso para o
Supremo Tribunal Federal:
a) quando se questionar sobre a validade, ou a aplicação de tratados e leis federais, e a
decisão do Tribunal do Estado for contra ela;

b) quando se contestar a validade de leis ou de atos dos Governos dos Estados em


face da Constituição, ou das leis federais, e a decisão do Tribunal do Estado
considerar válidos esses atos, ou essas leis impugnadas (grifos nossos)

Posteriormente, com o advento da Lei nº 221, de 20-11-1894, explicitou-se


definitivamente, caso ainda pairassem dúvidas acerca de sua existência, o sistema
judicial de controle de constitucionalidade, uma vez que seu artigo 13, § 10º previu de
forma expressa que juízes e tribunais apreciariam a validade de leis e regulamentos e
deixariam de aplicá-los caso manifestamente inconstitucionais.

Insusceptível de dúvidas a adoção do modelo de controle concreto de


constitucionalidade pela 1ª Constituição Republicana do Brasil.

5. Constituição de 1934:

A tendência inaugurada pela Constituição de 1891 foi mantida com a Constituição de


1934, onde se introduziu a primeira disposição que trata da reserva de plenário (art.
179), ou seja, a inconstitucionalidade no âmbito do Tribunal só poderia ser proclamada
pela maioria da totalidade dos seus membros [07], bem como se consagrou a competência
do Senado Federal (art. 91) para suspender a execução de qualquer ato normativo,
quando o Judiciário o houvesse declarado inconstitucional, conferindo, portanto,
eficácia erga omnes à decisão do Supremo Tribunal Federal [08].

Não se pode olvidar, ademais, que nessa mesma Carta Política inseriu-se o primeiro
gérmen do controle concentrado de constitucionalidade (art. 12), qual seja, a declaração
de inconstitucionalidade para evitar a intervenção federal ou somente representação
interventiva, cuja legitimidade ativa competia exclusivamente ao Procurador-Geral da
República. Tratava-se de ação que visava condicionar a eficácia da lei interventiva, de
iniciativa do Senado, à declaração de sua constitucionalidade pela Corte Suprema [09].

6. Constituição de 1937 – " A Polaca":

Com o golpe de Estado de 10 de novembro de 1937, outorgou-se nova Carta Política de


cunho extremamente autoritário, que sequer foi cumprida pelos próprios titulares do
Poder à época. [10]

Muito embora a Constituição de 1937 não tenha formalmente modificado o sistema de


controle de constitucionalidade consolidado por sua antecessora, implicou em
insofismável retrocesso no que diz respeito a esse mesmo modelo de controle de
constitucionalidade, senão observe-se a redação do parágrafo único do seu art. 96,
verbis:

Art. 96 - Só por maioria absoluta de votos da totalidade dos seus Juízes poderão os
Tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou de ato do Presidente da República.
Parágrafo único - No caso de ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei que, a
juízo do Presidente da República, seja necessária ao bem-estar do povo, à
promoção ou defesa de interesse nacional de alta monta, poderá o Presidente da
República submetê-la novamente ao exame do Parlamento: se este a confirmar por
dois terços de votos em cada uma das Câmaras, ficará sem efeito a decisão do
Tribunal. (grifos nossos)

Tal dispositivo permitiu a Getúlio Vargas, ditador e instituidor do chamado Estado


Novo, que já dispunha do controle do Congresso Nacional, amoldar as decisões
judiciais ao seu bel prazer, conferindo às leis confirmatórias status de verdadeiras
emendas constitucionais, uma vez que as equiparava ao dispositivo constitucional tido
pelo Judiciário como vilipendiado pela norma ora confirmada.

7. Constituição de 1946:

Com a Constituição de 1946, superado o retrocesso operado com a Carta de 1937,


evoluiu-se no modelo da representação interventiva introduzida pelo Texto Magno de
1934, o que significa a volta do modelo de controle de constitucionalidade concentrado
no ordenamento jurídico pátrio, atribuindo-se ao Procurador-Geral da República a
titularidade da representação de inconstitucionalidade, para os efeitos de intervenção
federal, nos casos de violação dos seguintes princípios (art. 8º, parágrafo único, c/c o
art. 7º, VII): a) forma republicana representativa; b) independência e harmonia entre os
Poderes; c) temporariedade das funções eletivas, limitada a duração destas à das funções
federais correspondentes; d) proibição da reeleição de governadores e prefeitos para o
período imediatamente subseqüente; e) autonomia municipal; f) prestação de contas da
Administração Pública; g) garantias do Poder Judiciário.

Além disso, restaurou-se a tradição do controle de constitucionalidade concreto no


direito brasileiro, consoante se observa pela dicção do art. 101, III, "a", "b" e "c" do
referido texto constitucional, in litteris:

Art. 101 - Ao Supremo Tribunal Federal compete:

(...)

III - julgar em recurso extraordinário as causas decididas em única ou última instância


por outros Tribunais ou Juízes:

a) quando a decisão for contrária a dispositivo desta Constituição ou à letra de


tratado ou lei federal;

b) quando se questionar sobre a validade de lei federal em face desta Constituição, e


a decisão recorrida negar aplicação à lei impugnada;

c) quando se contestar a validade de lei ou ato de governo local em face desta


Constituição ou de lei federal, e a decisão recorrida julgar válida a lei ou o ato; (grifos
nossos)
Com o advento da Emenda Constitucional nº 16/1965, introduzida ao texto da
Constituição de 1946, ao lado da representação interventiva, surge de fato o controle
abstrato de normas estaduais e federais (representação de inconstitucionalidade), de
iniciativa exclusiva do Procurador-Geral da República, cujo objetivo era preservar o
ordenamento jurídico de criações legislativas "inconvenientes" [11], conforme palavras
do Professor Celso Ribeiro Bastos.

Por fim, digno de registro é o fato de a referida Emenda Constitucional ter consagrado
por meio do art. 124, XIII da Constituição de 1946, a possibilidade de o legislador
estabelecer processo de controle de constitucionalidade de lei ou ato normativo
municipal em face da Constituição Estadual, cuja competência originária para
julgamento seria do Tribunal de Justiça do respectivo Estado.

7. Constituição de 1967 e Emenda Constitucional nº 1 de 1969 –


Constituição de 1967/69:

Na Constituição de 1967/69 manteve-se a característica da duplicidade dos modelos


adotados no Brasil, com a preservação do controle difuso e a subsistência da
representação de inconstitucionalidade (ação direta de inconstitucionalidade), como
acima referido.

Contudo, merece destaque o embate jurisprudencial e doutrinário acerca da natureza


jurídica da referida representação de inconstitucionalidade: se dúplice ou não; bem
como do exercício pelo Procurador-Geral da República do domínio da representação:
direito versus poder-dever.

Embora, à época, não se tenha chegado a uma conclusão, nem doutrinária, nem no
âmbito do Supremo Tribunal Federal, a discussão em muito contribuiu para a evolução
do modelo de controle concentrado posteriormente adotado com o advento da
Constituição de 1988.

Prima facie, questionou-se se a legitimidade ativa exclusiva do Procurador-Geral da


República lhe conferia o direito de só encaminhar proposições formuladas por terceiros,
que não ele próprio, quando entendesse de fato haver a inconstitucionalidade apontada,
e não sua obrigação em fazê-lo (poder-dever) quando houvesse pelo menos sérias
dúvidas sobre a constitucionalidade da lei objurgada.

Muitas e poderosas vozes se levantaram para defender tanto um quanto outro ponto de
vista [12], bem como a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal patinou de acordo
com as alterações regimentais operadas:

1º. Regimento Interno do STF, na versão de 1970:

Art. 174. Omissis

§ 1º Provocado por autoridade ou por terceiro para exercitar a iniciativa prevista neste
artigo, o Procurador-Geral, entendendo improcedente a fundamentação da súplica,
poderá encaminhá-la com parecer contrário.
Nesse momento histórico, o entendimento, ainda que vacilante, com fulcro
primordialmente na previsão regimental acima transcrita, era o de que o Procurador-
Geral da República não poderia ser tido como o juiz último da constitucionalidade das
leis. Deste modo, deveria, nos casos em que discordasse da solicitação formulada,
apresentar a Representação de Inconstitucionalidade acompanhada de parecer contrário,
ou seja, opinando pela constitucionalidade da lei impugnada.

Nesta seara vê-se com clareza, pelo menos nos dias atuais, que o caráter da
Representação de Inconstitucionalidade, ainda que sua denominação não confirme a
assertiva que a seguir se produzirá, teria caráter dúplice ou ambivalente, servindo tanto
ao propósito da declaração de inconstitucionalidade quanto de constitucionalidade da lei
posta ao exame do Supremo Tribunal Federal.

2º. Regimento Interno do STF, na versão de 1980:

Art. 169. O Procurador-Geral da República poderá submeter ao Tribunal, mediante


representação, o exame de lei ou ato normativo federal ou estadual, para que seja
declarada a sua inconstitucionalidade.

§ 1º Proposta a representação, não se admitirá desistência, ainda que afinal o


Procurador-Geral se manifeste pela sua improcedência.

Alterado o dispositivo inserto no art. 174, § 1º, e passando a viger o art. 169, § 1º na
redação acima reproduzida, o entendimento esposado pelo Supremo Tribunal Federal
passou a vedar a impetração da Representação de Inconstitucionalidade acompanhada,
ab initio, do parecer em sentido contrário. Todavia, após a sua propositura, muito
embora fosse vedada a desistência, ante o caráter objetivo da demanda, o Procurador-
Geral da República poderia manifestar-se pela sua improcedência.

Não obstante essa digressão acerca do posicionamento do Supremo Tribunal Federal


sobre o tema, à luz das alterações operadas em seu Regimento Interno sob a égide da
Constituição de 1967/69, o fato é que tal assentamento, atualmente, possui tão-somente
valor histórico, não obstante tenha sido em função dessa celeuma jurídica que se
plantou a semente do modelo de controle de constitucionalidade adotado pela
Constituição de 1988.

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Evolução histórica do controle de


constitucionalidade nas Constituições
brasileiras
Filipo Bruno Silva Amorim

Elaborado em 09/2009.

«Página 1 de 2»

Desativar Realce a A

1. Nota Introdutória:

O presente artigo visa tão-somente introduzir o leitor, ainda que de forma breve e
incipiente, a evolução ou, caso prefiram, mutação, histórica das Constituições
brasileiras, no que concerne ao controle de constitucionalidade, partindo da
Constituição Imperial de 1824 até alcançarmos a Constituição Federal de 1988.

O estudo a que me propus não busca, em absoluto, um caráter exaustivo da referida


evolução histórica, mas apenas percorrer en passant as disposições constitucionais
pertinentes ao tema, de modo a proporcionar àqueles que passarem as vistas sobre esse
texto um rápido e objetivo panorama do nosso sistema de controle de
constitucionalidade, instrumento, ao mesmo tempo vetusto e hodierno, tão difundido e
discutido no dia-a-dia da prática jurídica nacional.

2. Controle de Constitucionalidade – Noções Preliminares:

Pode-se dizer que o controle de constitucionalidade é um instrumento criado para


garantir o respeito e a obediência às normas constitucionalmente postas. Isto significa
que os atos normativos infraconstitucionais não podem contrariar os preceitos erigidos
ao patamar constitucional [01].

A pirâmide Kelseniana, que propõe a hierarquização das normas dentro do ordenamento


jurídico, prevê a Lei Fundamental (Constituição) no seu vértice, e todas as demais
normas abaixo daquela que as legitima.

Se um ato normativo qualquer contrariar os preceitos da norma que o legitima, não


poderá integrar aquele determinado ordenamento jurídico, sob pena de admitirmos a
revogação de normas constitucionais por normas infraconstitucionais. Estaríamos diante
de uma Constituição sem identidade, na expressão do mestre Português J.J. Gomes
Canotilho, mais abaixo reproduzida, eis que modificável ao bel prazer das maiorias
políticas de plantão.

Nesta esteira, importante traçarmos, ainda que brevemente, um paralelo entre o que se
convencionou denominar de Constituições rígidas e flexíveis. Deste modo, salutar
trazer-se à baila escólio do mestre José Afonso da Silva, que em sua clássica obra Curso
de Direto Constitucional Positivo [02] leciona:

Textos relacionados

• Da sincretização dos controles de constitucionalidade


• Exame da OAB. O Projeto de Lei nº 1.284/2011, Ophir e os representantes de
"organizações de reprovados no teste"
• Ativismo judicial: as experiências brasileira e sul africana no combate à AIDS
• Competência da Agência Nacional de Vigilância Sanitária para regular o uso de
marcas em rótulos de alimentos
• A exploração da atividade econômica pelo Estado

Rígida é a constituição somente alterável mediante processos, solenidades e


exigências formais especiais, diferentes e mais difíceis que os de formação das leis
ordinários ou complementares. Ao contrário, a constituição é flexível quando pode ser
livremente modificada pelo legislador segundo o mesmo processo de elaboração das leis
ordinários. Na verdade, a própria lei ordinária contrastante muda o texto constitucional.

Nas sábias palavras do mestre Português, J. J. Gomes Canotilho [03]:

A rigidez traduz-se fundamentalmente na atribuição às normas constitucionais de uma


capacidade de resistência à derogação superior à de qualquer lei ordinária. Significa
isto que a Constituição (normas constitucionais) só pode ser modificada através de um
procedimento de revisão específico e dentro de certos limites (formais, circunstanciais e
materiais) como se verá no estudo sobre o procedimento de revisão (cfr. CPR, artigos
284.º e segs.). Os outros actos normativos desprovidos do valor e da força de leis
constitucionais de revisão (CRP, artigos 119.º/1/1, 161.º/1 e 166.º/1) não possuem
capacidade derrogatória relativamente às normas constitucionais. No caso de estes
outros actos normativos editarem disciplina jurídica em desconformidade com as regras
e princípios da Constituição eles são inconstitucionais (cfr. CRP, artigo 277.º/1) com as
conseqüências jurídicas que serão indicadas no momento da análise da fiscalização da
constitucionalidade. A opção por um "texto rígido", no sentido assinalado, é hoje
justificado pela necessidade de se garantir a identidade da constituição sem impedir
o desenvolvimento constitucional. Rigidez é sinónimo de garantia contra mudanças
constantes, freqüentes e imprevistas ao sabor das maiorias legislativas transitórias. A
rigidez não é um entrave ao desenvolvimento constitucional, pois a constituição deve
poder ser revista sempre que a sua capacidade reflexiva para captar a realidade
constitucional se mostre insuficiente.

A dicotomia entre rigidez/flexibilidade não postula necessariamente uma alternativa


radical; exige-se, sim, uma articulação ou coordenação das duas dimensões, pois, se, por
um lado, o texto constitucional não deve permanecer alheio à mudança, também, por
outro lado, há elementos do direito constitucional (princípios estruturantes) que devem
permanecer estáveis, sob pena de a constituição deixar de ser uma ordem jurídica
fundamental do Estado para se dissolver na dinâmica das forças políticas. Neste sentido
se fala da identidade da constituição caracterizada por certos princípios de conteúdo
inalterável. (grifos nossos)

De igual modo, o Professo Paulo Bonavides registra em seu Curso de Direito


Constitucional [04] que:

O sistema das Constituições rígidas assenta numa distinção primacial entre poder
constituinte e poderes constituídos. Disso resulta a superioridade da lei constitucional,
obra do poder constituinte, sobre a lei ordinária, simples ato do poder constituído, um
poder inferior, de competência limitada pela Constituição mesma.
As Constituições rígidas, sendo Constituições em sentido formal, demandam um
processo especial de revisão. Esse processo lhes confere estabilidade ou rigidez bem
superior àquela que as leis ordinárias desfrutam. Daqui procede pois a supremacia
incontrastável da lei constitucional sobre as demais regras de direito vigente num
determinado ordenamento. Compõe-se assim uma hierarquia jurídica, que se estende da
norma constitucional às normas inferiores (leis, decretos-leis, regulamentos etc.), e a
que corresponde por igual uma hierarquia de órgão.

A conseqüência dessa hierarquia é o reconhecimento da "superlegalidade


constitucional", que faz da Constituição a lei das leis, a lex legum, ou seja, a mais alta
expressão jurídica da soberania.

O órgão legislativo, ao derivar da Constituição sua competência, não pode obviamente


introduzir no sistema jurídico leis contrárias às disposições constitucionais: essas leis se
reputariam nulas, inaplicáveis, sem validade, inconsistentes com a ordem jurídica
estabelecida.

Conclui-se, portanto, que o controle da constitucionalidade só existirá, por lógica, nos


ordenamentos que se fundarem em conceitos constitucionais rígidos, pois se uma lei
qualquer tivesse o poder de ab-rogar normas constitucionais, estaríamos diante de uma
Constituição flexível; destarte, sem utilidade alguma esse mecanismo de proteção –
Controle de Constitucionalidade.

3. Constituição Imperial de 1824:

No sentido acima exposto, é de se registrar que a Constituição Imperial de 1824 não


adotou essa espécie de controle judicial de constitucionalidade das leis, uma vez que seu
texto não se coadunava com o que se pode hodiernamente chamar de "rígido".

Ademais, fortemente influenciada pelo modelo francês, outorgou-se ao Poder


Legislativo a atribuição de fazer leis, interpretá-las, suspendê-las e revogá-las, além de
velar pela guarda da Constituição, senão observe-se, tal qual o original:

Art. 13. O Poder Legislativo é delegado á Assembléa Geral com a Sancção do


Imperador.

Art. 14. A Assembléa Geral compõe-se de duas Camaras: Camara de Deputados, e


Camara de Senadores, ou Senado.

Art. 15. É da attribuição da Assembléa Geral.

(...)

VIII. Fazer Leis, interpretal-as, suspendel-as, e revogal-as.

IX.Velar na guarda da Constituição, e promover o bem geral do Nação (grifos


nossos)
Primou-se por uma rígida separação de Poderes, tal qual pregado por Montesquieu,
todavia em um modelo não tripartite, mas tetradimensional, nas palavras do Professo
Paulo Bonavides, já que previu a existência do denominado Poder Moderador, o Poder
dos Poderes, que dentre outros deveres, conferia ao Chefe de Estado, o Imperador, a
missão de velar pela manutenção da independência, equilibro e harmonia dos demais
poderes (art. 98, Constituição Imperial).

Por fim, acerca da possibilidade de reforma constitucional, registre-se o teor do artigo


178 da referida Carta Política:

Art. 178. É só Constitucional o que diz respeito aos limites, e attribuições respectivas
dos Poderes Politicos, e aos Direitos Politicos, e individuaes dos Cidadãos. Tudo, o que
não é Constitucional, póde ser alterado sem as formalidades referidas, pelas
Legislaturas ordinarias. (grifos nossos)

Vê-se, deste modo, a não adequação do texto de 1824 ao conceito moderno de rigidez
constitucional, bem como a inexistência de lugar, nesse sistema, "para o mais incipiente
modelo de controle judicial de constitucionalidade." [05]

4. Constituição Republicana de 1891:

Iniciada a República, desde a sua primeira Constituição (1891), o Brasil passou a adotar
o modelo difuso de controle da constitucionalidade, buscando fundamentos no modelo
norte-americano, "reconhecendo a competência do Supremo Tribunal Federal para rever
as sentenças das Justiças dos Estados, em última instância, quando se questionasse a
validade ou a aplicação de tratados e leis federais e a decisão do Tribunal fosse contra
ela, ou quando se contestasse a validade de leis ou de atos dos governos locais, em face
da Constituição ou das leis federais, e a decisão do Tribunal considerasse válidos esses
atos ou leis impugnadas (art. 59, §1º, a e b)" [06]:

Art. 59 - Ao Supremo Tribunal Federal compete:

(...)

§ 1º - Das sentenças das Justiças dos Estados, em última instância, haverá recurso para o
Supremo Tribunal Federal:

a) quando se questionar sobre a validade, ou a aplicação de tratados e leis federais, e a


decisão do Tribunal do Estado for contra ela;

b) quando se contestar a validade de leis ou de atos dos Governos dos Estados em


face da Constituição, ou das leis federais, e a decisão do Tribunal do Estado
considerar válidos esses atos, ou essas leis impugnadas (grifos nossos)

Posteriormente, com o advento da Lei nº 221, de 20-11-1894, explicitou-se


definitivamente, caso ainda pairassem dúvidas acerca de sua existência, o sistema
judicial de controle de constitucionalidade, uma vez que seu artigo 13, § 10º previu de
forma expressa que juízes e tribunais apreciariam a validade de leis e regulamentos e
deixariam de aplicá-los caso manifestamente inconstitucionais.
Insusceptível de dúvidas a adoção do modelo de controle concreto de
constitucionalidade pela 1ª Constituição Republicana do Brasil.

5. Constituição de 1934:

A tendência inaugurada pela Constituição de 1891 foi mantida com a Constituição de


1934, onde se introduziu a primeira disposição que trata da reserva de plenário (art.
179), ou seja, a inconstitucionalidade no âmbito do Tribunal só poderia ser proclamada
pela maioria da totalidade dos seus membros [07], bem como se consagrou a competência
do Senado Federal (art. 91) para suspender a execução de qualquer ato normativo,
quando o Judiciário o houvesse declarado inconstitucional, conferindo, portanto,
eficácia erga omnes à decisão do Supremo Tribunal Federal [08].

Não se pode olvidar, ademais, que nessa mesma Carta Política inseriu-se o primeiro
gérmen do controle concentrado de constitucionalidade (art. 12), qual seja, a declaração
de inconstitucionalidade para evitar a intervenção federal ou somente representação
interventiva, cuja legitimidade ativa competia exclusivamente ao Procurador-Geral da
República. Tratava-se de ação que visava condicionar a eficácia da lei interventiva, de
iniciativa do Senado, à declaração de sua constitucionalidade pela Corte Suprema [09].

6. Constituição de 1937 – " A Polaca":

Com o golpe de Estado de 10 de novembro de 1937, outorgou-se nova Carta Política de


cunho extremamente autoritário, que sequer foi cumprida pelos próprios titulares do
Poder à época. [10]

Muito embora a Constituição de 1937 não tenha formalmente modificado o sistema de


controle de constitucionalidade consolidado por sua antecessora, implicou em
insofismável retrocesso no que diz respeito a esse mesmo modelo de controle de
constitucionalidade, senão observe-se a redação do parágrafo único do seu art. 96,
verbis:

Art. 96 - Só por maioria absoluta de votos da totalidade dos seus Juízes poderão os
Tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou de ato do Presidente da República.

Parágrafo único - No caso de ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei que, a


juízo do Presidente da República, seja necessária ao bem-estar do povo, à
promoção ou defesa de interesse nacional de alta monta, poderá o Presidente da
República submetê-la novamente ao exame do Parlamento: se este a confirmar por
dois terços de votos em cada uma das Câmaras, ficará sem efeito a decisão do
Tribunal. (grifos nossos)

Tal dispositivo permitiu a Getúlio Vargas, ditador e instituidor do chamado Estado


Novo, que já dispunha do controle do Congresso Nacional, amoldar as decisões
judiciais ao seu bel prazer, conferindo às leis confirmatórias status de verdadeiras
emendas constitucionais, uma vez que as equiparava ao dispositivo constitucional tido
pelo Judiciário como vilipendiado pela norma ora confirmada.
7. Constituição de 1946:

Com a Constituição de 1946, superado o retrocesso operado com a Carta de 1937,


evoluiu-se no modelo da representação interventiva introduzida pelo Texto Magno de
1934, o que significa a volta do modelo de controle de constitucionalidade concentrado
no ordenamento jurídico pátrio, atribuindo-se ao Procurador-Geral da República a
titularidade da representação de inconstitucionalidade, para os efeitos de intervenção
federal, nos casos de violação dos seguintes princípios (art. 8º, parágrafo único, c/c o
art. 7º, VII): a) forma republicana representativa; b) independência e harmonia entre os
Poderes; c) temporariedade das funções eletivas, limitada a duração destas à das funções
federais correspondentes; d) proibição da reeleição de governadores e prefeitos para o
período imediatamente subseqüente; e) autonomia municipal; f) prestação de contas da
Administração Pública; g) garantias do Poder Judiciário.

Além disso, restaurou-se a tradição do controle de constitucionalidade concreto no


direito brasileiro, consoante se observa pela dicção do art. 101, III, "a", "b" e "c" do
referido texto constitucional, in litteris:

Art. 101 - Ao Supremo Tribunal Federal compete:

(...)

III - julgar em recurso extraordinário as causas decididas em única ou última instância


por outros Tribunais ou Juízes:

a) quando a decisão for contrária a dispositivo desta Constituição ou à letra de


tratado ou lei federal;

b) quando se questionar sobre a validade de lei federal em face desta Constituição, e


a decisão recorrida negar aplicação à lei impugnada;

c) quando se contestar a validade de lei ou ato de governo local em face desta


Constituição ou de lei federal, e a decisão recorrida julgar válida a lei ou o ato; (grifos
nossos)

Com o advento da Emenda Constitucional nº 16/1965, introduzida ao texto da


Constituição de 1946, ao lado da representação interventiva, surge de fato o controle
abstrato de normas estaduais e federais (representação de inconstitucionalidade), de
iniciativa exclusiva do Procurador-Geral da República, cujo objetivo era preservar o
ordenamento jurídico de criações legislativas "inconvenientes" [11], conforme palavras
do Professor Celso Ribeiro Bastos.

Por fim, digno de registro é o fato de a referida Emenda Constitucional ter consagrado
por meio do art. 124, XIII da Constituição de 1946, a possibilidade de o legislador
estabelecer processo de controle de constitucionalidade de lei ou ato normativo
municipal em face da Constituição Estadual, cuja competência originária para
julgamento seria do Tribunal de Justiça do respectivo Estado.
7. Constituição de 1967 e Emenda Constitucional nº 1 de 1969 –
Constituição de 1967/69:

Na Constituição de 1967/69 manteve-se a característica da duplicidade dos modelos


adotados no Brasil, com a preservação do controle difuso e a subsistência da
representação de inconstitucionalidade (ação direta de inconstitucionalidade), como
acima referido.

Contudo, merece destaque o embate jurisprudencial e doutrinário acerca da natureza


jurídica da referida representação de inconstitucionalidade: se dúplice ou não; bem
como do exercício pelo Procurador-Geral da República do domínio da representação:
direito versus poder-dever.

Embora, à época, não se tenha chegado a uma conclusão, nem doutrinária, nem no
âmbito do Supremo Tribunal Federal, a discussão em muito contribuiu para a evolução
do modelo de controle concentrado posteriormente adotado com o advento da
Constituição de 1988.

Prima facie, questionou-se se a legitimidade ativa exclusiva do Procurador-Geral da


República lhe conferia o direito de só encaminhar proposições formuladas por terceiros,
que não ele próprio, quando entendesse de fato haver a inconstitucionalidade apontada,
e não sua obrigação em fazê-lo (poder-dever) quando houvesse pelo menos sérias
dúvidas sobre a constitucionalidade da lei objurgada.

Muitas e poderosas vozes se levantaram para defender tanto um quanto outro ponto de
vista [12], bem como a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal patinou de acordo
com as alterações regimentais operadas:

1º. Regimento Interno do STF, na versão de 1970:

Art. 174. Omissis

§ 1º Provocado por autoridade ou por terceiro para exercitar a iniciativa prevista neste
artigo, o Procurador-Geral, entendendo improcedente a fundamentação da súplica,
poderá encaminhá-la com parecer contrário.

Nesse momento histórico, o entendimento, ainda que vacilante, com fulcro


primordialmente na previsão regimental acima transcrita, era o de que o Procurador-
Geral da República não poderia ser tido como o juiz último da constitucionalidade das
leis. Deste modo, deveria, nos casos em que discordasse da solicitação formulada,
apresentar a Representação de Inconstitucionalidade acompanhada de parecer contrário,
ou seja, opinando pela constitucionalidade da lei impugnada.

Nesta seara vê-se com clareza, pelo menos nos dias atuais, que o caráter da
Representação de Inconstitucionalidade, ainda que sua denominação não confirme a
assertiva que a seguir se produzirá, teria caráter dúplice ou ambivalente, servindo tanto
ao propósito da declaração de inconstitucionalidade quanto de constitucionalidade da lei
posta ao exame do Supremo Tribunal Federal.

2º. Regimento Interno do STF, na versão de 1980:


Art. 169. O Procurador-Geral da República poderá submeter ao Tribunal, mediante
representação, o exame de lei ou ato normativo federal ou estadual, para que seja
declarada a sua inconstitucionalidade.

§ 1º Proposta a representação, não se admitirá desistência, ainda que afinal o


Procurador-Geral se manifeste pela sua improcedência.

Alterado o dispositivo inserto no art. 174, § 1º, e passando a viger o art. 169, § 1º na
redação acima reproduzida, o entendimento esposado pelo Supremo Tribunal Federal
passou a vedar a impetração da Representação de Inconstitucionalidade acompanhada,
ab initio, do parecer em sentido contrário. Todavia, após a sua propositura, muito
embora fosse vedada a desistência, ante o caráter objetivo da demanda, o Procurador-
Geral da República poderia manifestar-se pela sua improcedência.

Não obstante essa digressão acerca do posicionamento do Supremo Tribunal Federal


sobre o tema, à luz das alterações operadas em seu Regimento Interno sob a égide da
Constituição de 1967/69, o fato é que tal assentamento, atualmente, possui tão-somente
valor histórico, não obstante tenha sido em função dessa celeuma jurídica que se
plantou a semente do modelo de controle de constitucionalidade adotado pela
Constituição de 1988.

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Revista
Artigo

Evolução histórica do controle de


constitucionalidade nas Constituições
brasileiras
Filipo Bruno Silva Amorim

Elaborado em 09/2009.

«Página 1 de 2»

Desativar Realce a A

1. Nota Introdutória:

O presente artigo visa tão-somente introduzir o leitor, ainda que de forma breve e
incipiente, a evolução ou, caso prefiram, mutação, histórica das Constituições
brasileiras, no que concerne ao controle de constitucionalidade, partindo da
Constituição Imperial de 1824 até alcançarmos a Constituição Federal de 1988.
O estudo a que me propus não busca, em absoluto, um caráter exaustivo da referida
evolução histórica, mas apenas percorrer en passant as disposições constitucionais
pertinentes ao tema, de modo a proporcionar àqueles que passarem as vistas sobre esse
texto um rápido e objetivo panorama do nosso sistema de controle de
constitucionalidade, instrumento, ao mesmo tempo vetusto e hodierno, tão difundido e
discutido no dia-a-dia da prática jurídica nacional.

2. Controle de Constitucionalidade – Noções Preliminares:

Pode-se dizer que o controle de constitucionalidade é um instrumento criado para


garantir o respeito e a obediência às normas constitucionalmente postas. Isto significa
que os atos normativos infraconstitucionais não podem contrariar os preceitos erigidos
ao patamar constitucional [01].

A pirâmide Kelseniana, que propõe a hierarquização das normas dentro do ordenamento


jurídico, prevê a Lei Fundamental (Constituição) no seu vértice, e todas as demais
normas abaixo daquela que as legitima.

Se um ato normativo qualquer contrariar os preceitos da norma que o legitima, não


poderá integrar aquele determinado ordenamento jurídico, sob pena de admitirmos a
revogação de normas constitucionais por normas infraconstitucionais. Estaríamos diante
de uma Constituição sem identidade, na expressão do mestre Português J.J. Gomes
Canotilho, mais abaixo reproduzida, eis que modificável ao bel prazer das maiorias
políticas de plantão.

Nesta esteira, importante traçarmos, ainda que brevemente, um paralelo entre o que se
convencionou denominar de Constituições rígidas e flexíveis. Deste modo, salutar
trazer-se à baila escólio do mestre José Afonso da Silva, que em sua clássica obra Curso
de Direto Constitucional Positivo [02] leciona:

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marcas em rótulos de alimentos
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Rígida é a constituição somente alterável mediante processos, solenidades e


exigências formais especiais, diferentes e mais difíceis que os de formação das leis
ordinários ou complementares. Ao contrário, a constituição é flexível quando pode ser
livremente modificada pelo legislador segundo o mesmo processo de elaboração das leis
ordinários. Na verdade, a própria lei ordinária contrastante muda o texto constitucional.

Nas sábias palavras do mestre Português, J. J. Gomes Canotilho [03]:


A rigidez traduz-se fundamentalmente na atribuição às normas constitucionais de uma
capacidade de resistência à derogação superior à de qualquer lei ordinária. Significa
isto que a Constituição (normas constitucionais) só pode ser modificada através de um
procedimento de revisão específico e dentro de certos limites (formais, circunstanciais e
materiais) como se verá no estudo sobre o procedimento de revisão (cfr. CPR, artigos
284.º e segs.). Os outros actos normativos desprovidos do valor e da força de leis
constitucionais de revisão (CRP, artigos 119.º/1/1, 161.º/1 e 166.º/1) não possuem
capacidade derrogatória relativamente às normas constitucionais. No caso de estes
outros actos normativos editarem disciplina jurídica em desconformidade com as regras
e princípios da Constituição eles são inconstitucionais (cfr. CRP, artigo 277.º/1) com as
conseqüências jurídicas que serão indicadas no momento da análise da fiscalização da
constitucionalidade. A opção por um "texto rígido", no sentido assinalado, é hoje
justificado pela necessidade de se garantir a identidade da constituição sem impedir
o desenvolvimento constitucional. Rigidez é sinónimo de garantia contra mudanças
constantes, freqüentes e imprevistas ao sabor das maiorias legislativas transitórias. A
rigidez não é um entrave ao desenvolvimento constitucional, pois a constituição deve
poder ser revista sempre que a sua capacidade reflexiva para captar a realidade
constitucional se mostre insuficiente.

A dicotomia entre rigidez/flexibilidade não postula necessariamente uma alternativa


radical; exige-se, sim, uma articulação ou coordenação das duas dimensões, pois, se, por
um lado, o texto constitucional não deve permanecer alheio à mudança, também, por
outro lado, há elementos do direito constitucional (princípios estruturantes) que devem
permanecer estáveis, sob pena de a constituição deixar de ser uma ordem jurídica
fundamental do Estado para se dissolver na dinâmica das forças políticas. Neste sentido
se fala da identidade da constituição caracterizada por certos princípios de conteúdo
inalterável. (grifos nossos)

De igual modo, o Professo Paulo Bonavides registra em seu Curso de Direito


Constitucional [04] que:

O sistema das Constituições rígidas assenta numa distinção primacial entre poder
constituinte e poderes constituídos. Disso resulta a superioridade da lei constitucional,
obra do poder constituinte, sobre a lei ordinária, simples ato do poder constituído, um
poder inferior, de competência limitada pela Constituição mesma.

As Constituições rígidas, sendo Constituições em sentido formal, demandam um


processo especial de revisão. Esse processo lhes confere estabilidade ou rigidez bem
superior àquela que as leis ordinárias desfrutam. Daqui procede pois a supremacia
incontrastável da lei constitucional sobre as demais regras de direito vigente num
determinado ordenamento. Compõe-se assim uma hierarquia jurídica, que se estende da
norma constitucional às normas inferiores (leis, decretos-leis, regulamentos etc.), e a
que corresponde por igual uma hierarquia de órgão.

A conseqüência dessa hierarquia é o reconhecimento da "superlegalidade


constitucional", que faz da Constituição a lei das leis, a lex legum, ou seja, a mais alta
expressão jurídica da soberania.

O órgão legislativo, ao derivar da Constituição sua competência, não pode obviamente


introduzir no sistema jurídico leis contrárias às disposições constitucionais: essas leis se
reputariam nulas, inaplicáveis, sem validade, inconsistentes com a ordem jurídica
estabelecida.

Conclui-se, portanto, que o controle da constitucionalidade só existirá, por lógica, nos


ordenamentos que se fundarem em conceitos constitucionais rígidos, pois se uma lei
qualquer tivesse o poder de ab-rogar normas constitucionais, estaríamos diante de uma
Constituição flexível; destarte, sem utilidade alguma esse mecanismo de proteção –
Controle de Constitucionalidade.

3. Constituição Imperial de 1824:

No sentido acima exposto, é de se registrar que a Constituição Imperial de 1824 não


adotou essa espécie de controle judicial de constitucionalidade das leis, uma vez que seu
texto não se coadunava com o que se pode hodiernamente chamar de "rígido".

Ademais, fortemente influenciada pelo modelo francês, outorgou-se ao Poder


Legislativo a atribuição de fazer leis, interpretá-las, suspendê-las e revogá-las, além de
velar pela guarda da Constituição, senão observe-se, tal qual o original:

Art. 13. O Poder Legislativo é delegado á Assembléa Geral com a Sancção do


Imperador.

Art. 14. A Assembléa Geral compõe-se de duas Camaras: Camara de Deputados, e


Camara de Senadores, ou Senado.

Art. 15. É da attribuição da Assembléa Geral.

(...)

VIII. Fazer Leis, interpretal-as, suspendel-as, e revogal-as.

IX.Velar na guarda da Constituição, e promover o bem geral do Nação (grifos


nossos)

Primou-se por uma rígida separação de Poderes, tal qual pregado por Montesquieu,
todavia em um modelo não tripartite, mas tetradimensional, nas palavras do Professo
Paulo Bonavides, já que previu a existência do denominado Poder Moderador, o Poder
dos Poderes, que dentre outros deveres, conferia ao Chefe de Estado, o Imperador, a
missão de velar pela manutenção da independência, equilibro e harmonia dos demais
poderes (art. 98, Constituição Imperial).

Por fim, acerca da possibilidade de reforma constitucional, registre-se o teor do artigo


178 da referida Carta Política:

Art. 178. É só Constitucional o que diz respeito aos limites, e attribuições respectivas
dos Poderes Politicos, e aos Direitos Politicos, e individuaes dos Cidadãos. Tudo, o que
não é Constitucional, póde ser alterado sem as formalidades referidas, pelas
Legislaturas ordinarias. (grifos nossos)
Vê-se, deste modo, a não adequação do texto de 1824 ao conceito moderno de rigidez
constitucional, bem como a inexistência de lugar, nesse sistema, "para o mais incipiente
modelo de controle judicial de constitucionalidade." [05]

4. Constituição Republicana de 1891:

Iniciada a República, desde a sua primeira Constituição (1891), o Brasil passou a adotar
o modelo difuso de controle da constitucionalidade, buscando fundamentos no modelo
norte-americano, "reconhecendo a competência do Supremo Tribunal Federal para rever
as sentenças das Justiças dos Estados, em última instância, quando se questionasse a
validade ou a aplicação de tratados e leis federais e a decisão do Tribunal fosse contra
ela, ou quando se contestasse a validade de leis ou de atos dos governos locais, em face
da Constituição ou das leis federais, e a decisão do Tribunal considerasse válidos esses
atos ou leis impugnadas (art. 59, §1º, a e b)" [06]:

Art. 59 - Ao Supremo Tribunal Federal compete:

(...)

§ 1º - Das sentenças das Justiças dos Estados, em última instância, haverá recurso para o
Supremo Tribunal Federal:

a) quando se questionar sobre a validade, ou a aplicação de tratados e leis federais, e a


decisão do Tribunal do Estado for contra ela;

b) quando se contestar a validade de leis ou de atos dos Governos dos Estados em


face da Constituição, ou das leis federais, e a decisão do Tribunal do Estado
considerar válidos esses atos, ou essas leis impugnadas (grifos nossos)

Posteriormente, com o advento da Lei nº 221, de 20-11-1894, explicitou-se


definitivamente, caso ainda pairassem dúvidas acerca de sua existência, o sistema
judicial de controle de constitucionalidade, uma vez que seu artigo 13, § 10º previu de
forma expressa que juízes e tribunais apreciariam a validade de leis e regulamentos e
deixariam de aplicá-los caso manifestamente inconstitucionais.

Insusceptível de dúvidas a adoção do modelo de controle concreto de


constitucionalidade pela 1ª Constituição Republicana do Brasil.

5. Constituição de 1934:

A tendência inaugurada pela Constituição de 1891 foi mantida com a Constituição de


1934, onde se introduziu a primeira disposição que trata da reserva de plenário (art.
179), ou seja, a inconstitucionalidade no âmbito do Tribunal só poderia ser proclamada
pela maioria da totalidade dos seus membros [07], bem como se consagrou a competência
do Senado Federal (art. 91) para suspender a execução de qualquer ato normativo,
quando o Judiciário o houvesse declarado inconstitucional, conferindo, portanto,
eficácia erga omnes à decisão do Supremo Tribunal Federal [08].
Não se pode olvidar, ademais, que nessa mesma Carta Política inseriu-se o primeiro
gérmen do controle concentrado de constitucionalidade (art. 12), qual seja, a declaração
de inconstitucionalidade para evitar a intervenção federal ou somente representação
interventiva, cuja legitimidade ativa competia exclusivamente ao Procurador-Geral da
República. Tratava-se de ação que visava condicionar a eficácia da lei interventiva, de
iniciativa do Senado, à declaração de sua constitucionalidade pela Corte Suprema [09].

6. Constituição de 1937 – " A Polaca":

Com o golpe de Estado de 10 de novembro de 1937, outorgou-se nova Carta Política de


cunho extremamente autoritário, que sequer foi cumprida pelos próprios titulares do
Poder à época. [10]

Muito embora a Constituição de 1937 não tenha formalmente modificado o sistema de


controle de constitucionalidade consolidado por sua antecessora, implicou em
insofismável retrocesso no que diz respeito a esse mesmo modelo de controle de
constitucionalidade, senão observe-se a redação do parágrafo único do seu art. 96,
verbis:

Art. 96 - Só por maioria absoluta de votos da totalidade dos seus Juízes poderão os
Tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou de ato do Presidente da República.

Parágrafo único - No caso de ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei que, a


juízo do Presidente da República, seja necessária ao bem-estar do povo, à
promoção ou defesa de interesse nacional de alta monta, poderá o Presidente da
República submetê-la novamente ao exame do Parlamento: se este a confirmar por
dois terços de votos em cada uma das Câmaras, ficará sem efeito a decisão do
Tribunal. (grifos nossos)

Tal dispositivo permitiu a Getúlio Vargas, ditador e instituidor do chamado Estado


Novo, que já dispunha do controle do Congresso Nacional, amoldar as decisões
judiciais ao seu bel prazer, conferindo às leis confirmatórias status de verdadeiras
emendas constitucionais, uma vez que as equiparava ao dispositivo constitucional tido
pelo Judiciário como vilipendiado pela norma ora confirmada.

7. Constituição de 1946:

Com a Constituição de 1946, superado o retrocesso operado com a Carta de 1937,


evoluiu-se no modelo da representação interventiva introduzida pelo Texto Magno de
1934, o que significa a volta do modelo de controle de constitucionalidade concentrado
no ordenamento jurídico pátrio, atribuindo-se ao Procurador-Geral da República a
titularidade da representação de inconstitucionalidade, para os efeitos de intervenção
federal, nos casos de violação dos seguintes princípios (art. 8º, parágrafo único, c/c o
art. 7º, VII): a) forma republicana representativa; b) independência e harmonia entre os
Poderes; c) temporariedade das funções eletivas, limitada a duração destas à das funções
federais correspondentes; d) proibição da reeleição de governadores e prefeitos para o
período imediatamente subseqüente; e) autonomia municipal; f) prestação de contas da
Administração Pública; g) garantias do Poder Judiciário.
Além disso, restaurou-se a tradição do controle de constitucionalidade concreto no
direito brasileiro, consoante se observa pela dicção do art. 101, III, "a", "b" e "c" do
referido texto constitucional, in litteris:

Art. 101 - Ao Supremo Tribunal Federal compete:

(...)

III - julgar em recurso extraordinário as causas decididas em única ou última instância


por outros Tribunais ou Juízes:

a) quando a decisão for contrária a dispositivo desta Constituição ou à letra de


tratado ou lei federal;

b) quando se questionar sobre a validade de lei federal em face desta Constituição, e


a decisão recorrida negar aplicação à lei impugnada;

c) quando se contestar a validade de lei ou ato de governo local em face desta


Constituição ou de lei federal, e a decisão recorrida julgar válida a lei ou o ato; (grifos
nossos)

Com o advento da Emenda Constitucional nº 16/1965, introduzida ao texto da


Constituição de 1946, ao lado da representação interventiva, surge de fato o controle
abstrato de normas estaduais e federais (representação de inconstitucionalidade), de
iniciativa exclusiva do Procurador-Geral da República, cujo objetivo era preservar o
ordenamento jurídico de criações legislativas "inconvenientes" [11], conforme palavras
do Professor Celso Ribeiro Bastos.

Por fim, digno de registro é o fato de a referida Emenda Constitucional ter consagrado
por meio do art. 124, XIII da Constituição de 1946, a possibilidade de o legislador
estabelecer processo de controle de constitucionalidade de lei ou ato normativo
municipal em face da Constituição Estadual, cuja competência originária para
julgamento seria do Tribunal de Justiça do respectivo Estado.

7. Constituição de 1967 e Emenda Constitucional nº 1 de 1969 –


Constituição de 1967/69:

Na Constituição de 1967/69 manteve-se a característica da duplicidade dos modelos


adotados no Brasil, com a preservação do controle difuso e a subsistência da
representação de inconstitucionalidade (ação direta de inconstitucionalidade), como
acima referido.

Contudo, merece destaque o embate jurisprudencial e doutrinário acerca da natureza


jurídica da referida representação de inconstitucionalidade: se dúplice ou não; bem
como do exercício pelo Procurador-Geral da República do domínio da representação:
direito versus poder-dever.

Embora, à época, não se tenha chegado a uma conclusão, nem doutrinária, nem no
âmbito do Supremo Tribunal Federal, a discussão em muito contribuiu para a evolução
do modelo de controle concentrado posteriormente adotado com o advento da
Constituição de 1988.

Prima facie, questionou-se se a legitimidade ativa exclusiva do Procurador-Geral da


República lhe conferia o direito de só encaminhar proposições formuladas por terceiros,
que não ele próprio, quando entendesse de fato haver a inconstitucionalidade apontada,
e não sua obrigação em fazê-lo (poder-dever) quando houvesse pelo menos sérias
dúvidas sobre a constitucionalidade da lei objurgada.

Muitas e poderosas vozes se levantaram para defender tanto um quanto outro ponto de
vista [12], bem como a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal patinou de acordo
com as alterações regimentais operadas:

1º. Regimento Interno do STF, na versão de 1970:

Art. 174. Omissis

§ 1º Provocado por autoridade ou por terceiro para exercitar a iniciativa prevista neste
artigo, o Procurador-Geral, entendendo improcedente a fundamentação da súplica,
poderá encaminhá-la com parecer contrário.

Nesse momento histórico, o entendimento, ainda que vacilante, com fulcro


primordialmente na previsão regimental acima transcrita, era o de que o Procurador-
Geral da República não poderia ser tido como o juiz último da constitucionalidade das
leis. Deste modo, deveria, nos casos em que discordasse da solicitação formulada,
apresentar a Representação de Inconstitucionalidade acompanhada de parecer contrário,
ou seja, opinando pela constitucionalidade da lei impugnada.

Nesta seara vê-se com clareza, pelo menos nos dias atuais, que o caráter da
Representação de Inconstitucionalidade, ainda que sua denominação não confirme a
assertiva que a seguir se produzirá, teria caráter dúplice ou ambivalente, servindo tanto
ao propósito da declaração de inconstitucionalidade quanto de constitucionalidade da lei
posta ao exame do Supremo Tribunal Federal.

2º. Regimento Interno do STF, na versão de 1980:

Art. 169. O Procurador-Geral da República poderá submeter ao Tribunal, mediante


representação, o exame de lei ou ato normativo federal ou estadual, para que seja
declarada a sua inconstitucionalidade.

§ 1º Proposta a representação, não se admitirá desistência, ainda que afinal o


Procurador-Geral se manifeste pela sua improcedência.

Alterado o dispositivo inserto no art. 174, § 1º, e passando a viger o art. 169, § 1º na
redação acima reproduzida, o entendimento esposado pelo Supremo Tribunal Federal
passou a vedar a impetração da Representação de Inconstitucionalidade acompanhada,
ab initio, do parecer em sentido contrário. Todavia, após a sua propositura, muito
embora fosse vedada a desistência, ante o caráter objetivo da demanda, o Procurador-
Geral da República poderia manifestar-se pela sua improcedência.
Não obstante essa digressão acerca do posicionamento do Supremo Tribunal Federal
sobre o tema, à luz das alterações operadas em seu Regimento Interno sob a égide da
Constituição de 1967/69, o fato é que tal assentamento, atualmente, possui tão-somente
valor histórico, não obstante tenha sido em função dessa celeuma jurídica que se
plantou a semente do modelo de controle de constitucionalidade adotado pela
Constituição de 1988.

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constitucionalidade nas Constituições
brasileiras
Filipo Bruno Silva Amorim

Elaborado em 09/2009.

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1. Nota Introdutória:

O presente artigo visa tão-somente introduzir o leitor, ainda que de forma breve e
incipiente, a evolução ou, caso prefiram, mutação, histórica das Constituições
brasileiras, no que concerne ao controle de constitucionalidade, partindo da
Constituição Imperial de 1824 até alcançarmos a Constituição Federal de 1988.

O estudo a que me propus não busca, em absoluto, um caráter exaustivo da referida


evolução histórica, mas apenas percorrer en passant as disposições constitucionais
pertinentes ao tema, de modo a proporcionar àqueles que passarem as vistas sobre esse
texto um rápido e objetivo panorama do nosso sistema de controle de
constitucionalidade, instrumento, ao mesmo tempo vetusto e hodierno, tão difundido e
discutido no dia-a-dia da prática jurídica nacional.

2. Controle de Constitucionalidade – Noções Preliminares:

Pode-se dizer que o controle de constitucionalidade é um instrumento criado para


garantir o respeito e a obediência às normas constitucionalmente postas. Isto significa
que os atos normativos infraconstitucionais não podem contrariar os preceitos erigidos
ao patamar constitucional [01].
A pirâmide Kelseniana, que propõe a hierarquização das normas dentro do ordenamento
jurídico, prevê a Lei Fundamental (Constituição) no seu vértice, e todas as demais
normas abaixo daquela que as legitima.

Se um ato normativo qualquer contrariar os preceitos da norma que o legitima, não


poderá integrar aquele determinado ordenamento jurídico, sob pena de admitirmos a
revogação de normas constitucionais por normas infraconstitucionais. Estaríamos diante
de uma Constituição sem identidade, na expressão do mestre Português J.J. Gomes
Canotilho, mais abaixo reproduzida, eis que modificável ao bel prazer das maiorias
políticas de plantão.

Nesta esteira, importante traçarmos, ainda que brevemente, um paralelo entre o que se
convencionou denominar de Constituições rígidas e flexíveis. Deste modo, salutar
trazer-se à baila escólio do mestre José Afonso da Silva, que em sua clássica obra Curso
de Direto Constitucional Positivo [02] leciona:

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Rígida é a constituição somente alterável mediante processos, solenidades e


exigências formais especiais, diferentes e mais difíceis que os de formação das leis
ordinários ou complementares. Ao contrário, a constituição é flexível quando pode ser
livremente modificada pelo legislador segundo o mesmo processo de elaboração das leis
ordinários. Na verdade, a própria lei ordinária contrastante muda o texto constitucional.

Nas sábias palavras do mestre Português, J. J. Gomes Canotilho [03]:

A rigidez traduz-se fundamentalmente na atribuição às normas constitucionais de uma


capacidade de resistência à derogação superior à de qualquer lei ordinária. Significa
isto que a Constituição (normas constitucionais) só pode ser modificada através de um
procedimento de revisão específico e dentro de certos limites (formais, circunstanciais e
materiais) como se verá no estudo sobre o procedimento de revisão (cfr. CPR, artigos
284.º e segs.). Os outros actos normativos desprovidos do valor e da força de leis
constitucionais de revisão (CRP, artigos 119.º/1/1, 161.º/1 e 166.º/1) não possuem
capacidade derrogatória relativamente às normas constitucionais. No caso de estes
outros actos normativos editarem disciplina jurídica em desconformidade com as regras
e princípios da Constituição eles são inconstitucionais (cfr. CRP, artigo 277.º/1) com as
conseqüências jurídicas que serão indicadas no momento da análise da fiscalização da
constitucionalidade. A opção por um "texto rígido", no sentido assinalado, é hoje
justificado pela necessidade de se garantir a identidade da constituição sem impedir
o desenvolvimento constitucional. Rigidez é sinónimo de garantia contra mudanças
constantes, freqüentes e imprevistas ao sabor das maiorias legislativas transitórias. A
rigidez não é um entrave ao desenvolvimento constitucional, pois a constituição deve
poder ser revista sempre que a sua capacidade reflexiva para captar a realidade
constitucional se mostre insuficiente.

A dicotomia entre rigidez/flexibilidade não postula necessariamente uma alternativa


radical; exige-se, sim, uma articulação ou coordenação das duas dimensões, pois, se, por
um lado, o texto constitucional não deve permanecer alheio à mudança, também, por
outro lado, há elementos do direito constitucional (princípios estruturantes) que devem
permanecer estáveis, sob pena de a constituição deixar de ser uma ordem jurídica
fundamental do Estado para se dissolver na dinâmica das forças políticas. Neste sentido
se fala da identidade da constituição caracterizada por certos princípios de conteúdo
inalterável. (grifos nossos)

De igual modo, o Professo Paulo Bonavides registra em seu Curso de Direito


Constitucional [04] que:

O sistema das Constituições rígidas assenta numa distinção primacial entre poder
constituinte e poderes constituídos. Disso resulta a superioridade da lei constitucional,
obra do poder constituinte, sobre a lei ordinária, simples ato do poder constituído, um
poder inferior, de competência limitada pela Constituição mesma.

As Constituições rígidas, sendo Constituições em sentido formal, demandam um


processo especial de revisão. Esse processo lhes confere estabilidade ou rigidez bem
superior àquela que as leis ordinárias desfrutam. Daqui procede pois a supremacia
incontrastável da lei constitucional sobre as demais regras de direito vigente num
determinado ordenamento. Compõe-se assim uma hierarquia jurídica, que se estende da
norma constitucional às normas inferiores (leis, decretos-leis, regulamentos etc.), e a
que corresponde por igual uma hierarquia de órgão.

A conseqüência dessa hierarquia é o reconhecimento da "superlegalidade


constitucional", que faz da Constituição a lei das leis, a lex legum, ou seja, a mais alta
expressão jurídica da soberania.

O órgão legislativo, ao derivar da Constituição sua competência, não pode obviamente


introduzir no sistema jurídico leis contrárias às disposições constitucionais: essas leis se
reputariam nulas, inaplicáveis, sem validade, inconsistentes com a ordem jurídica
estabelecida.

Conclui-se, portanto, que o controle da constitucionalidade só existirá, por lógica, nos


ordenamentos que se fundarem em conceitos constitucionais rígidos, pois se uma lei
qualquer tivesse o poder de ab-rogar normas constitucionais, estaríamos diante de uma
Constituição flexível; destarte, sem utilidade alguma esse mecanismo de proteção –
Controle de Constitucionalidade.

3. Constituição Imperial de 1824:

No sentido acima exposto, é de se registrar que a Constituição Imperial de 1824 não


adotou essa espécie de controle judicial de constitucionalidade das leis, uma vez que seu
texto não se coadunava com o que se pode hodiernamente chamar de "rígido".
Ademais, fortemente influenciada pelo modelo francês, outorgou-se ao Poder
Legislativo a atribuição de fazer leis, interpretá-las, suspendê-las e revogá-las, além de
velar pela guarda da Constituição, senão observe-se, tal qual o original:

Art. 13. O Poder Legislativo é delegado á Assembléa Geral com a Sancção do


Imperador.

Art. 14. A Assembléa Geral compõe-se de duas Camaras: Camara de Deputados, e


Camara de Senadores, ou Senado.

Art. 15. É da attribuição da Assembléa Geral.

(...)

VIII. Fazer Leis, interpretal-as, suspendel-as, e revogal-as.

IX.Velar na guarda da Constituição, e promover o bem geral do Nação (grifos


nossos)

Primou-se por uma rígida separação de Poderes, tal qual pregado por Montesquieu,
todavia em um modelo não tripartite, mas tetradimensional, nas palavras do Professo
Paulo Bonavides, já que previu a existência do denominado Poder Moderador, o Poder
dos Poderes, que dentre outros deveres, conferia ao Chefe de Estado, o Imperador, a
missão de velar pela manutenção da independência, equilibro e harmonia dos demais
poderes (art. 98, Constituição Imperial).

Por fim, acerca da possibilidade de reforma constitucional, registre-se o teor do artigo


178 da referida Carta Política:

Art. 178. É só Constitucional o que diz respeito aos limites, e attribuições respectivas
dos Poderes Politicos, e aos Direitos Politicos, e individuaes dos Cidadãos. Tudo, o que
não é Constitucional, póde ser alterado sem as formalidades referidas, pelas
Legislaturas ordinarias. (grifos nossos)

Vê-se, deste modo, a não adequação do texto de 1824 ao conceito moderno de rigidez
constitucional, bem como a inexistência de lugar, nesse sistema, "para o mais incipiente
modelo de controle judicial de constitucionalidade." [05]

4. Constituição Republicana de 1891:

Iniciada a República, desde a sua primeira Constituição (1891), o Brasil passou a adotar
o modelo difuso de controle da constitucionalidade, buscando fundamentos no modelo
norte-americano, "reconhecendo a competência do Supremo Tribunal Federal para rever
as sentenças das Justiças dos Estados, em última instância, quando se questionasse a
validade ou a aplicação de tratados e leis federais e a decisão do Tribunal fosse contra
ela, ou quando se contestasse a validade de leis ou de atos dos governos locais, em face
da Constituição ou das leis federais, e a decisão do Tribunal considerasse válidos esses
atos ou leis impugnadas (art. 59, §1º, a e b)" [06]:
Art. 59 - Ao Supremo Tribunal Federal compete:

(...)

§ 1º - Das sentenças das Justiças dos Estados, em última instância, haverá recurso para o
Supremo Tribunal Federal:

a) quando se questionar sobre a validade, ou a aplicação de tratados e leis federais, e a


decisão do Tribunal do Estado for contra ela;

b) quando se contestar a validade de leis ou de atos dos Governos dos Estados em


face da Constituição, ou das leis federais, e a decisão do Tribunal do Estado
considerar válidos esses atos, ou essas leis impugnadas (grifos nossos)

Posteriormente, com o advento da Lei nº 221, de 20-11-1894, explicitou-se


definitivamente, caso ainda pairassem dúvidas acerca de sua existência, o sistema
judicial de controle de constitucionalidade, uma vez que seu artigo 13, § 10º previu de
forma expressa que juízes e tribunais apreciariam a validade de leis e regulamentos e
deixariam de aplicá-los caso manifestamente inconstitucionais.

Insusceptível de dúvidas a adoção do modelo de controle concreto de


constitucionalidade pela 1ª Constituição Republicana do Brasil.

5. Constituição de 1934:

A tendência inaugurada pela Constituição de 1891 foi mantida com a Constituição de


1934, onde se introduziu a primeira disposição que trata da reserva de plenário (art.
179), ou seja, a inconstitucionalidade no âmbito do Tribunal só poderia ser proclamada
pela maioria da totalidade dos seus membros [07], bem como se consagrou a competência
do Senado Federal (art. 91) para suspender a execução de qualquer ato normativo,
quando o Judiciário o houvesse declarado inconstitucional, conferindo, portanto,
eficácia erga omnes à decisão do Supremo Tribunal Federal [08].

Não se pode olvidar, ademais, que nessa mesma Carta Política inseriu-se o primeiro
gérmen do controle concentrado de constitucionalidade (art. 12), qual seja, a declaração
de inconstitucionalidade para evitar a intervenção federal ou somente representação
interventiva, cuja legitimidade ativa competia exclusivamente ao Procurador-Geral da
República. Tratava-se de ação que visava condicionar a eficácia da lei interventiva, de
iniciativa do Senado, à declaração de sua constitucionalidade pela Corte Suprema [09].

6. Constituição de 1937 – " A Polaca":

Com o golpe de Estado de 10 de novembro de 1937, outorgou-se nova Carta Política de


cunho extremamente autoritário, que sequer foi cumprida pelos próprios titulares do
Poder à época. [10]

Muito embora a Constituição de 1937 não tenha formalmente modificado o sistema de


controle de constitucionalidade consolidado por sua antecessora, implicou em
insofismável retrocesso no que diz respeito a esse mesmo modelo de controle de
constitucionalidade, senão observe-se a redação do parágrafo único do seu art. 96,
verbis:

Art. 96 - Só por maioria absoluta de votos da totalidade dos seus Juízes poderão os
Tribunais declarar a inconstitucionalidade de lei ou de ato do Presidente da República.

Parágrafo único - No caso de ser declarada a inconstitucionalidade de uma lei que, a


juízo do Presidente da República, seja necessária ao bem-estar do povo, à
promoção ou defesa de interesse nacional de alta monta, poderá o Presidente da
República submetê-la novamente ao exame do Parlamento: se este a confirmar por
dois terços de votos em cada uma das Câmaras, ficará sem efeito a decisão do
Tribunal. (grifos nossos)

Tal dispositivo permitiu a Getúlio Vargas, ditador e instituidor do chamado Estado


Novo, que já dispunha do controle do Congresso Nacional, amoldar as decisões
judiciais ao seu bel prazer, conferindo às leis confirmatórias status de verdadeiras
emendas constitucionais, uma vez que as equiparava ao dispositivo constitucional tido
pelo Judiciário como vilipendiado pela norma ora confirmada.

7. Constituição de 1946:

Com a Constituição de 1946, superado o retrocesso operado com a Carta de 1937,


evoluiu-se no modelo da representação interventiva introduzida pelo Texto Magno de
1934, o que significa a volta do modelo de controle de constitucionalidade concentrado
no ordenamento jurídico pátrio, atribuindo-se ao Procurador-Geral da República a
titularidade da representação de inconstitucionalidade, para os efeitos de intervenção
federal, nos casos de violação dos seguintes princípios (art. 8º, parágrafo único, c/c o
art. 7º, VII): a) forma republicana representativa; b) independência e harmonia entre os
Poderes; c) temporariedade das funções eletivas, limitada a duração destas à das funções
federais correspondentes; d) proibição da reeleição de governadores e prefeitos para o
período imediatamente subseqüente; e) autonomia municipal; f) prestação de contas da
Administração Pública; g) garantias do Poder Judiciário.

Além disso, restaurou-se a tradição do controle de constitucionalidade concreto no


direito brasileiro, consoante se observa pela dicção do art. 101, III, "a", "b" e "c" do
referido texto constitucional, in litteris:

Art. 101 - Ao Supremo Tribunal Federal compete:

(...)

III - julgar em recurso extraordinário as causas decididas em única ou última instância


por outros Tribunais ou Juízes:

a) quando a decisão for contrária a dispositivo desta Constituição ou à letra de


tratado ou lei federal;
b) quando se questionar sobre a validade de lei federal em face desta Constituição, e
a decisão recorrida negar aplicação à lei impugnada;

c) quando se contestar a validade de lei ou ato de governo local em face desta


Constituição ou de lei federal, e a decisão recorrida julgar válida a lei ou o ato; (grifos
nossos)

Com o advento da Emenda Constitucional nº 16/1965, introduzida ao texto da


Constituição de 1946, ao lado da representação interventiva, surge de fato o controle
abstrato de normas estaduais e federais (representação de inconstitucionalidade), de
iniciativa exclusiva do Procurador-Geral da República, cujo objetivo era preservar o
ordenamento jurídico de criações legislativas "inconvenientes" [11], conforme palavras
do Professor Celso Ribeiro Bastos.

Por fim, digno de registro é o fato de a referida Emenda Constitucional ter consagrado
por meio do art. 124, XIII da Constituição de 1946, a possibilidade de o legislador
estabelecer processo de controle de constitucionalidade de lei ou ato normativo
municipal em face da Constituição Estadual, cuja competência originária para
julgamento seria do Tribunal de Justiça do respectivo Estado.

7. Constituição de 1967 e Emenda Constitucional nº 1 de 1969 –


Constituição de 1967/69:

Na Constituição de 1967/69 manteve-se a característica da duplicidade dos modelos


adotados no Brasil, com a preservação do controle difuso e a subsistência da
representação de inconstitucionalidade (ação direta de inconstitucionalidade), como
acima referido.

Contudo, merece destaque o embate jurisprudencial e doutrinário acerca da natureza


jurídica da referida representação de inconstitucionalidade: se dúplice ou não; bem
como do exercício pelo Procurador-Geral da República do domínio da representação:
direito versus poder-dever.

Embora, à época, não se tenha chegado a uma conclusão, nem doutrinária, nem no
âmbito do Supremo Tribunal Federal, a discussão em muito contribuiu para a evolução
do modelo de controle concentrado posteriormente adotado com o advento da
Constituição de 1988.

Prima facie, questionou-se se a legitimidade ativa exclusiva do Procurador-Geral da


República lhe conferia o direito de só encaminhar proposições formuladas por terceiros,
que não ele próprio, quando entendesse de fato haver a inconstitucionalidade apontada,
e não sua obrigação em fazê-lo (poder-dever) quando houvesse pelo menos sérias
dúvidas sobre a constitucionalidade da lei objurgada.

Muitas e poderosas vozes se levantaram para defender tanto um quanto outro ponto de
vista [12], bem como a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal patinou de acordo
com as alterações regimentais operadas:

1º. Regimento Interno do STF, na versão de 1970:


Art. 174. Omissis

§ 1º Provocado por autoridade ou por terceiro para exercitar a iniciativa prevista neste
artigo, o Procurador-Geral, entendendo improcedente a fundamentação da súplica,
poderá encaminhá-la com parecer contrário.

Nesse momento histórico, o entendimento, ainda que vacilante, com fulcro


primordialmente na previsão regimental acima transcrita, era o de que o Procurador-
Geral da República não poderia ser tido como o juiz último da constitucionalidade das
leis. Deste modo, deveria, nos casos em que discordasse da solicitação formulada,
apresentar a Representação de Inconstitucionalidade acompanhada de parecer contrário,
ou seja, opinando pela constitucionalidade da lei impugnada.

Nesta seara vê-se com clareza, pelo menos nos dias atuais, que o caráter da
Representação de Inconstitucionalidade, ainda que sua denominação não confirme a
assertiva que a seguir se produzirá, teria caráter dúplice ou ambivalente, servindo tanto
ao propósito da declaração de inconstitucionalidade quanto de constitucionalidade da lei
posta ao exame do Supremo Tribunal Federal.

2º. Regimento Interno do STF, na versão de 1980:

Art. 169. O Procurador-Geral da República poderá submeter ao Tribunal, mediante


representação, o exame de lei ou ato normativo federal ou estadual, para que seja
declarada a sua inconstitucionalidade.

§ 1º Proposta a representação, não se admitirá desistência, ainda que afinal o


Procurador-Geral se manifeste pela sua improcedência.

Alterado o dispositivo inserto no art. 174, § 1º, e passando a viger o art. 169, § 1º na
redação acima reproduzida, o entendimento esposado pelo Supremo Tribunal Federal
passou a vedar a impetração da Representação de Inconstitucionalidade acompanhada,
ab initio, do parecer em sentido contrário. Todavia, após a sua propositura, muito
embora fosse vedada a desistência, ante o caráter objetivo da demanda, o Procurador-
Geral da República poderia manifestar-se pela sua improcedência.

Não obstante essa digressão acerca do posicionamento do Supremo Tribunal Federal


sobre o tema, à luz das alterações operadas em seu Regimento Interno sob a égide da
Constituição de 1967/69, o fato é que tal assentamento, atualmente, possui tão-somente
valor histórico, não obstante tenha sido em função dessa celeuma jurídica que se
plantou a semente do modelo de controle de constitucionalidade adotado pela
Constituição de 1988.

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