Por exemplo, há quem afirme ser injusto punir uma pessoa para servir de exemplo a
outras; que a punição só é justa quando visa o bem da própria pessoa castigada. Outros
defendem o exacto oposto, afirmando que punir para seu próprio benefício pessoas que
atingiram a idade do discernimento é despotismo e injustiça, pois se o que está em
questão é apenas o seu próprio bem, ninguém tem o direito de lhe controlar a sua
própria avaliação do seu bem; mas podem, com justiça, ser punidas para prevenir a
ocorrência de mal a outros, sendo esta uma forma de exercício do direito legítimo de
autodefesa. O Sr. Owen afirma neste caso que punir é, de todo em todo, injusto; pois o
criminoso não criou o seu próprio carácter; a sua educação e as circunstâncias que o
rodeiam fizeram dele um criminoso, e por essas ele não é responsável. Todas estas
opiniões são extremamente plausíveis; e, enquanto a questão for simplesmente mantida
no plano da justiça, sem descer aos princípios que lhe estão subjacentes e constituem a
fonte da sua autoridade, sou incapaz de ver como qualquer um destes pensadores pode
ser refutado. Pois, na verdade, cada um dos três parte de regras de justiça
reconhecidamente verdadeiras. O primeiro faz apelo à reconhecida injustiça de escolher
um indivíduo e sacrificá-lo, sem o seu consentimento, para benefício de outras pessoas.
O segundo baseia-se na reconhecida justiça da autodefesa, e na reconhecida injustiça de
forçar uma pessoa a conformar-se às noções de outrem quanto ao que é o seu próprio
bem. O apoiante de Owen invoca o princípio reconhecido de que é injusto punir alguém
pelo que não depende de si. Cada um triunfará enquanto não for obrigado a tomar em
linha de conta quaisquer outras máximas da justiça além daquela que escolheu; mas
assim que as suas diferentes máximas são postas em confronto, cada um dos
contendores parece ter exactamente o mesmo para dizer em sua defesa do que os outros.
Nenhum pode desenvolver a sua própria noção de justiça sem violar outra igualmente
vinculativa. Estas são dificuldades; sempre foram reconhecidas como tal; e muitos
dispositivos foram inventados mais para as contornar do que para as ultrapassar. Como
refúgio para a última das três, os homens conceberam aquilo a que chamaram o livre-
arbítrio; imaginando que não podiam justificar a punição de um homem cuja vontade
está num estado inteiramente odioso a menos que se supusesse que chegara a esse
estado sem influência de circunstâncias anteriores. Para escapar às outras dificuldades,
um estratagema preferido tem sido a ficção de um contrato, mediante o qual num
qualquer período desconhecido todos os membros da sociedade se terão comprometido
a obedecer às leis, e terão consentido em ser punidos por qualquer desobediência às
mesmas; dando assim aos legisladores o direito, que de outra forma se presume não
teriam, de puni-los, quer para o seu próprio bem, quer para o bem da sociedade.
Considerava-se que esta ideia feliz permitia eliminar a dificuldade, e legitimava o
infligir da punição graças a outra máxima de justiça tradicional, volenti non fit injuria;
não é injusto o que é feito com o consentimento da pessoa que se visa castigar. Mal
preciso de assinalar que, mesmo que o consentimento não seja uma mera ficção, esta
máxima não é superior em autoridade às que pretensamente vem substituir. É, pelo
contrário, um exemplo instrutivo do modo descuidado e irregular como se desenvolvem
os supostos princípios de justiça. Este princípio, em particular, começou obviamente a
ser usado como auxiliar nas exigências vagas dos tribunais, que por vezes são obrigados
a contentar-se com pressuposições muito incertas, em virtude dos males maiores que
frequentemente decorreriam de qualquer tentativa da sua parte de ser mais exactos. Mas
mesmo os tribunais não conseguem aderir à máxima de forma consistente, pois
permitem que alguns compromissos voluntários sejam postos de parte como
fraudulentos, e, por vezes, como resultantes de mero engano ou má informação.
Uma vez mais, quantos, e quão irreconciliáveis, são os padrões de justiça aos quais se
apela ao discutir a distribuição da carga fiscal. Uma opinião defende que o pagamento
ao estado deveria ser feito em proporção numérica aos meios pecuniários. Outros
pensam que a justiça ordena o que designam de tributação progressiva; tomar uma
percentagem maior daqueles que podem dispensar mais. No plano da justiça natural,
poderia fazer-se uma boa defesa da ideia de ignorar completamente os meios, e tomar
de todos a mesma soma absoluta (sempre que fosse possível fazê-lo): assim como os
sócios de uma associação ou de um clube pagam todos a mesma quantia pelos mesmos
privilégios, possam ou não fazê-lo com a mesma facilidade. Uma vez que a protecção
da lei e do governo é (poderia dizer-se) concedida a todos, e é igualmente requerida por
todos, não há qualquer injustiça em fazer que todos a comprem ao mesmo preço. É
considerado justo, e não injusto, que um comerciante cobre a todos os clientes o mesmo
preço pelo mesmo artigo, e não um preço que varie de acordo com o seu poder de
compra. Esta doutrina, no que diz respeito aos impostos, não tem defensores, por estar
em forte conflito com os sentimentos de humanidade dos homens e o seu entendimento
da expediência social; mas o princípio de justiça que invoca é tão verdadeiro e
vinculativo como os que podem ser invocados contra ele. Exerce, por isso, uma
influência tácita na linha de defesa usada por outros modos de abordar a tributação. As
pessoas sentem-se obrigadas a defender que o estado faz mais pelos ricos do que pelos
pobres, como justificação para lhes tirar mais; embora isto não seja de facto verdade,
pois os ricos seriam de longe mais capazes de se proteger a si mesmos, na ausência de
lei ou governo, do que os pobres, e na verdade seriam provavelmente bem sucedidos em
converter os pobres em seus escravos. Outros, no entanto, aceitam esta concepção de
justiça a ponto de defender que todos devem pagar a mesma taxa por cabeça pela sua
protecção (sendo cada pessoa de igual valor para todos), e uma taxa diferente pela
protecção das suas propriedades, que é desigual. A isto respondem outros que a
totalidade do que um homem tem é tão valioso para ele como a totalidade de outro. Não
há outra maneira de sair destas confusões a não ser a utilitarista.