Neste artigo, pretende-se efetuar uma reflexão epistemológica acerca das concepções de linguagem e o ensino de
Língua Portuguesa. Nessa perspectiva, a análise teórico-conceitual da origem, das definições e das diferentes
concepções de linguagem constitui o escopo deste trabalho. Além da observação pragmática na abordagem de
atividades que norteiam as várias concepções. A princípio, discernimos sobre os vários cursos de graduação,
considerados em nosso trabalho como “papa-léguas”, os quais não conseguem cumprir com os cronogramas das
disciplinas. Para tal comentário, apropriamo-nos de argumentos na Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional – LDB. Depois, fizemos uma revisão crítica e reflexiva sobre as obras de fundamentação lingüística
moderna, contextualizando historicamente o desenvolvimento da linguagem em todo o seu processo diacrônico.
Por fim, descrevemos e discorremos sobre a relação intrínseca entre as concepções de linguagem e o ensino da
língua materna, explicitando sistematicamente os suportes técnico-metodológicos projetados para o pragmatismo
da sala de aula e possibilitando ao professor uma formação teórica e proficiente no plano epistemológico das
concepções de linguagem.
01. INTRODUÇÃO
A prática docente no ensino de Língua Portuguesa vem, desde muito tempo, abrindo
um leque de discussões e debates no meio acadêmico e em todos os espaços de questões
pedagógicas. Nessas discussões, observamos, com certo entusiasmo, o debate sobre a escolha
ou não das concepções de linguagem adotadas pelos professores de Língua Portuguesa e a
influência dessas concepções no processo ensino-aprendizagem.
Mas será que podemos partir do princípio de escolha ou não? Será que os mestres
estão cientes da importância das Concepções de Linguagem para o ensino de Língua
Portuguesa? Essas e outras perguntas irão nortear o nosso trabalho.
Sabemos que muitas Faculdades, devido à péssima qualidade instrumental e
profissional, não conseguem concluir no final do ano letivo o cronograma instituído pelas
disciplinas, ou seja, alguns conteúdos dessa ou daquela disciplina deixam de ser exploradas.
Além disso, com a nova Lei n.º 9.394/96 de Diretrizes e Bases da Educação Nacional que em
seu Art. 62 diz “A formação de docentes para atuar na educação básica far-se-á em nível
superior, em curso de licenciatura de graduação plena, em universidades e institutos
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Graduado em Letras pela UERN – RN e Especialista em Língua Portuguesa: Leitura e Produção de
Textos pela Faculdade do Vale do Jaguaribe – FVJ / Aracati-Ce. Professor da EEM João Barbosa
Lima / Itaiçaba-Ceará. regilberto@fvj.br / regilbertos@bol.com.br
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Assim é a linguagem. Em seu todo, possui várias formas no ato da interlocução e não
segue princípios gramaticais. Como não segue preceitos gramaticais, não podemos estabelecer
divisão em categorias mórficas, sintáticas ou semânticas. Ela também é natural e heterogênea,
ou seja, ao mesmo tempo em que é particular também é coletiva. Ao contrário, a língua
constitui algo adquirido e convencional, externo ao ser humano. É classificada em categorias
mórficas, sintáticas e semânticas. Por isso, o indivíduo tem a necessidade de uma
aprendizagem para conhecê-la.
Segundo Evanildo Bechara (1999:28), entende-se por linguagem qualquer sistema de
signos simbólicos empregados na intercomunicação social para expressar e comunicar idéias e
sentimentos, isto é, conteúdos da consciência.
Nessa perspectiva, a linguagem se forma através de um conjunto de unidades que se
ordenam para a materialização dos pensamentos no processo de interação comunicativa entre
os interlocutores do discurso. Essa intercomunicação social se dá principalmente pela
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necessidade do ser humano estar no mundo com o outro, fazendo parte de uma comunidade e
de uma vivência social.
Em resumo, essas concepções são análogas enquanto concebem a linguagem como
sistema de signos para a realização do processo de interação sócio-comunicativa entre os
indivíduos. Na verdade, a linguagem se caracteriza através da exploração dinâmica da
inteligência e da relação social que a caracteriza, favorecendo a expressão dos pensamentos e
idéias para a construção do sentido e da retórica no convívio social e na interpretação
expressiva do signo ideológico (Bakhtin: 1929-1930).
01. Preencha a lacuna com o verbo indicado entre parênteses, fazendo sua concordância com o sujeito de acordo
como o exigido pela norma culta.
a) Eu com meus colegas _________________ (limpar – passado) o teatro da escola.
b) Maria como os filhos _______________ (dar – passado) muito trabalho no hospital.
c) Todos os anos, diretor com os professores _______________________ (fazer – presente) uma campanha de
esclarecimento dos alunos sobre as drogas.
02. Qual a correta classificação das orações subordinadas abaixo? Assinale a resposta correta:
01. Convém que não durmas na aula...
02. Eu espero que ninguém cole...
a) “que não durmas na aula” é oração substantiva objetiva direta; “que ninguém cole” é substantiva predicativa.
b) “que não durmas na aula” é substantiva subjetiva; “que ninguém cole” é objetiva direta.
c) as duas orações em destaque são objetivas diretas.
02. Coloque sobre o que, pronome relativo, a letra R; e sobre o que, conjunção integrante, a letra I.
01. “D. Maria apenas entrou, mandou chamar o licenciado, que, depois de examinar o doente, declarou que o
caso era perdido.” (Manuel A. de Almeida)
02. “A única palavra com que lhe agradeci é a mesma que ora lhe mando.”
03. “O meio, em que seus romances se passam, tem quase sempre um ar feérico.”
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01. Procure o maior número de palavras e expressões que são usadas pelas pessoas para dizer que alguém
“roubou” algo e palavras e expressões usadas para se referir a quem rouba. Escreva pequenos textos com estas
palavras ou expressões e discuta com seus colegas quando, em que tipo de situação e/ou por que tipo de pessoas
cada uma das palavras e expressões é utilizada
02. Qual a diferença de sentido entre os textos (a), (b) e (c) e em que situações seriam usadas?
(a) Eu estou tão cansado. Eu precisava descansar.
(b) Eu estou tão cansado. Eu precisaria descansar.
(c) Eu estou tão cansado. Eu preciso descansar.
Saber usar um método ou uma concepção nova é uma tarefa que requer coragem e
espírito de aceitação e de disposição às novas práticas, uma vez que a alteração para uma nova
concepção proporciona reformulações de concepções internas e externas no indivíduo, ou
seja, mudança de ideologia, de cognição, de prática e de comportamento com relação à língua
e a outras instituições sociais.
Com referência às concepções de linguagem, não é diferente. Mudar a concepção
interfere não só em uma mudança conceitual ou de postura ideológica mas também em uma
mudança de postura cognitiva. Nessa acepção, Geraldi, (2002:45.) afirma:
Como se sabe, o ensino de Língua Portuguesa ainda está longe da qualidade que
merece. Essa realidade não se dá apenas nas escolas de Educação Básica. Isso acontece
também nas Faculdades Privadas e Públicas, sendo esta última mais conceituada na
sociedade. Temos a certeza disso porque os exames do SAEB (Sistema de Avaliação do
Ensino Básico), ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio) e o ENADE (Exame Nacional de
Desempenho de Estudantes), que integra o Sistema Nacional de Avaliação da Educação
Superior (Sinaes) comprovam que muitos alunos terminam a Educação Básica e o Ensino
Superior sem a mínima condição de se comunicar decodificando ou produzindo com clareza e
coerência um pequeno texto.
Para que o ensino da língua materna seja eficiente e não mais considerado como “um
bicho de sete cabeças”, precisamos que os professores/orientadores, mesmos com as
dificuldades, possam ter conhecimento da necessidade de mudar as metodologias e as
posturas cognitivas. Para isso acontecer, afirma Bagno (2002:35):
Nessas condições, o ensino de língua seria mais atraente e concreto, dando ao aluno
oportunidade para que ele reflita sobre a importância da língua no seu dia-a-dia. Com isso, o
professor seria um orientador nas atividades de caráter funcional e semântico. Não perderia
tanto tempo em apenas classificar ou descrever os termos das orações como também em fazer
leituras para apenas preencher o tempo da aula.
Além disso, outro fator que interfere no desempenho dos alunos em língua
portuguesa é a falta de preparo dos professores em reconhecer as necessidades e
características dos alunos. Muitos não se preocupam com os conhecimentos de língua que os
alunos já trazem consigo, deixando de aproveitar esse recurso de interação comunicativa.
Preocupado com isso, Martinet (1979:34) diz:
O que precisa ser conscientizado antes de tudo é que a criança que chega à escola,
ou, mais tarde, ao ginásio, conhece a sua língua. Conhece a fonologia, o essencial da
morfologia e da sintaxe. Como todos, em graus diversos, ela conhece também o
léxico que talvez deva completar no decorrer dos seus anos de escola; mas quem
dentre nós pode se gabar de conhecer todo o léxico de sua língua?
pessoas falam — exercem a linguagem, usam a língua — para produzir sentidos, e, desse
modo, a linguagem se tornaria um mecanismo de interação entre o emissor e o receptor nos
mais diversos processos de comunicação.
Em remate, o conhecimento das concepções de linguagem é condição precípua a um
ensino de qualidade. Para tanto, o educador tem que ter uma sólida formação holística, saber
ensinar, atualizando seus conhecimentos, produzindo novos saberes (pesquisa) e construir sua
identidade profissional, a fim de formar o aluno para a cidadania e para a intervenção
transformadora em sua própria realidade.
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