INTRODUÇÃO
O art. 475-J, CPC é uma das modificações trazidas pela Lei 11.232/2005, que
adicionou uma penalidade para quando o executado deixar de cumprir a obrigação a
qual foi condenado, na fase de cumprimento de sentença.
Diante disso surgiu a questão quanto à aplicabilidade no processo de
execução trabalhista se seria possível ou não.
Devemos para tanto analisar as conseqüências e os benefícios decorrentes
da aplicação subsidiaria de referida multa no âmbito do processo trabalhista.
Para basear essa pesquisa seguimos as normas jurídicas que regem a
matéria, a opinião dos juristas mais conceituados e a manifestação dos tribunais.
3.1 Conceito
3.2 Autonomia
1
SARAIVA, Renato. Curso de Direito Processual do Trabalho. 5.ed. São Paulo: Método, 2008,
p.27.
Quando se fala em autonomia do Direito Processual do Trabalho, duas teorias
tratam da matéria, a saber: a teoria monista e a teoria dualista.
A primeira entende que Direito Processual é único, e por conseqüência, o
Direito Processual do Trabalho seria apenas um desdobramento do processo civil.
Essa teoria é defendida por Henrique Bezerra Leite (2009, p.80), que entende
que :
2
SARAIVA, Renato. Op. Cit., p. 28
Os principais diplomas que incidem no Processo do Trabalho são a
Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), o Código de Processo Civil (CPC) e a Lei
nº 6.830/80. Ocorre que, além destas, também há a incidência de outras leis, o que
muitas vezes geram problemas de interpretação, compatibilidade e até mesmo de
preferência quanto a este ou aquele preceito.
Uma possível solução para esse problema de interpretação seria a reforma na
execução trabalhista, o que até o presente momento não ocorreu, ou a edição de um
Código de Processo do Trabalho.
São dois os artigos da CLT que autorizam a busca de normas do processo
comum: o artigo 769, na fase de conhecimento, e o artigo 889, na fase de execução,
nos termos do princípio da subsidiariedade, dispositivo cuja finalidade é suprir as
lacunas encontradas nos dispositivos do Direito Processual do Trabalho.
Sobre o tema, explicita Sérgio Pinto Martins (2009, p.791):
Subsidiário tem o sentido do que vem em reforço ou apoio de. É o que irá
ajudar, que será aplicado em caráter supletivo ou complementar. Havendo
omissão da CLT, o CPC é fonte subsidiária do direito processual do
trabalho, desde que haja compatibilidade com suas normas. Em matéria
processual a regra é aplicação do artigo 769 da CLT. Na execução,
observa-se o artigo 889 da CLT e não o artigo em comentário, pois nesse
caso aplica-se primeiro a Lei nº 6.830/80, omissa a CLT, e depois o CPC,
omissa a lei anterior. Nem tudo é regulado na CLT, daí a existência do
artigo 769, que serve como uma espécie de “ponte”, ligando o processo do
trabalho ao processo comum, ou permitindo a utilização do último, como
forma de evitar as omissões naturais da CLT.
3
BEBBER, Júlio César. Cumprimento da sentença do processo do trabalho. São Paulo: LTr,
2007, p. 35
4
D´ÁVILA, Gilmara V. Medeiros. A polêmica aplicação do Art.475-J do CPC no processo do
trabalho. São Paulo: LTr, 2009, p. 55.
5
BEBBER, Júlio César. Op. Cit., p. 36.
4.1 Autonomia da Execução Trabalhista
6
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antônio. Curso de Direito Processual do Trabalho: Processo de
execução, Processo Cautelar, Procedimentos Especiais. São Paulo: LTR, 2009, v.III, p. 1832.
7
VADE Mecum. 7. ed. São Paulo: Saraiva, 2009. p. 959.
Os títulos executivos judiciais trabalhistas podem ser relacionados da
seguinte forma: sentença transitada em julgado ou pendente de recurso sem efeito
suspensivo, o termo ou ata de conciliação, certificação de custas, honorários de
advogado. Já os títulos executivos extrajudiciais, por força da Lei n. 9.958/00 que
alterou o artigo 876 da CLT, são: os termos de ajuste de conduta firmados perante o
Ministério Público do Trabalho e os termos de conciliação firmados perante as
comissões de conciliação prévia.
Segundo Daniel Assumpção Amorim Neves (2009, p. 47): “título executivo
judicial é formado pelo juiz, por meio da atuação jurisdicional, enquanto o título
executivo extrajudicial é formado por ato de vontade das partes envolvidas na
relação jurídica de direito material”.
Assim, quanto ao título executivo judicial, não basta um crédito não satisfeito,
essa obrigação deve ser declarada judicialmente para que se possa ter força
executiva e assim possa ser cobrada em juízo.
Já em relação aos títulos executivos extrajudiciais, o rol do artigo 876 da CLT
é exemplificativo, conforme explicita Renato Saraiva, in verbis:
No CPC, em seu artigo 585, o rol dos títulos extrajudiciais é bem mais
abrangente que no Processo do Trabalho. Como a Emenda Constitucional nº
45/2004 ampliou a competência da Justiça do Trabalho, já há entendimento de que
os títulos extrajudiciais do artigo 585 do CPC, provenientes de relação de emprego
ou de trabalho, poderão ser executados na Justiça do Trabalho.
4.2.2 Liquidação de Sentença
8
SARAIVA, Renato. Op. Cit., p. 51.
Quando a sentença, transitada em julgado, condena a uma prestação de
fazer ilíquida, faz-se necessário apurar o valor a ser pago pelo devedor. Assim,
inicia-se a fase de liquidação de sentença, que é um conjunto de atos que a serem
praticados para estabelecer o exato valor da condenação ou de individualizar o
objeto da obrigação.
As sentenças de processos trabalhistas, após o trânsito em julgado, não
possuem um valor determinado, necessitando desta liquidação para a devida
apuração.
Segundo o artigo 89 da CLT: “Sendo ilíquida a sentença exeqüenda, ordenar-
se-á, previamente, a sua liquidação, que poderá ser feita por cálculo, por
arbitramento ou por artigos”.
O artigo 475-E dispõe que: “Far-se-á a liquidação por artigos, quando, para
determinar o valor da condenação, houver necessidade de alegar e provar fato
novo.”10
Aqui não se trata de qualquer fato, mas aquele que influencia na fixação do
valor da condenação ou a individualização do seu objeto, buscando-se, portanto, a
fixação do valor da dívida, não sua existência, vez que isto já foi comprovado no
processo de conhecimento.
Desta forma, liquidação por artigos é a forma mais complexa de liquidação
da sentença, pois há uma verdadeira reabertura da fase de conhecimento no
processo de execução, cabendo normalmente ao credor, indicar aquilo que deve ser
liquidado. Quem elabora os artigos é a própria parte e não o juiz.
9
VADE Mecum. Op. Cit. p. 421.
10
VADE Mecum. Op. Cit. p. 421.
4.3.1 Execução por Quantia Certa
11
PINTO, José Augusto Rodrigues. Execução Trabalhista: Estática – Dinâmica – Pratica. São Paulo:
LTr, 2006, p. 23.
execução tratava-se de redundância, pois ele já tinha ciência da existência do
processo, exatamente em razão de já ter participado do processo de conhecimento.
Ainda, o executado tinha o beneficio de opor embargos à execução de
sentença, o que gerava novo processo de cognição, perpetuando ainda mais a
entrega do bem.
Hoje, através das alterações da Lei 11.232/2005 é necessária somente a
intimação do advogado do executado, através da imprensa oficial, para que, no
prazo de 15 dias efetue o pagamento do saldo devedor, sob pena de acréscimo de
multa de 10%.
Os embargos foram substituídos pela impugnação ao cumprimento da
sentença, que tem um procedimento mais célere. Tendo o credor à faculdade
exclusiva de indicar bens a penhora. Assim, a liquidação da sentença passou a ser
um processo decidido de forma interlocutória.
Vimos então que as alterações trazidas pela referida lei, nesse ponto, trouxe
uma evolução rumo a execução mais simples e célere para a esfera cível.
Diante de tal questão questiona-se, em razão do que estabelece a CLT como
orientação da execução trabalhista, quanto ao processo do trabalho, como ficaria as
alteração do Código de Processo Civil.
Prevê o art. 880, CLT, que a citação do executado é ordenada, a fim de que
cumpra a decisão ou acordo no prazo, pelo modo e sob cominações estabelecidas
ou, quando se tratar de pagamento em dinheiro, inclusive de contribuições sociais
devidas a União, para que o faça em 48 horas ou garanta a execução sob pena de
penhora.
A execução trabalhista já era definida pela celeridade e simplicidade,
permitindo, inclusive que a execução pudesse ser promovida de oficio pelo juiz.
Para Humberto Theodoro Junior:
12
THEODORO JUNIOR, Humberto. O cumprimento da Sentença e a Garantia do Devido
Processo Legal: Antecedente histórico da Reformar da Execução de Sentença ultimada pela Lei
11.232 de 22.12.2005. Belo Horizonte: Mandamentos, 2006, p. 198.
Para Manoel Antonio Teixeira Filho:
O CPC de 1973 previa em seu art. 162, §1º, que “a sentença é o ato pelo qual
o juiz põe termo ao processo decidindo ou não o mérito da causa.” Esse conceito
adotado pelo legislador tinha como parâmetro a conseqüência dos pronunciamentos
judiciais como critério distintivo.
Por este entendimento, estaríamos diante de sentença, caso o conteúdo do
pronunciamento judicial fosse decisório e potencialmente tivesse aptidão para por
fim ao processo. Sendo que, estaríamos diante de decisão interlocutória, caso não
tivesse aptidão para por fim ao processo.
Nesse sentido Nelton dos Santos e Antonio Carlos Marcato:
A nova redação do art. 162, §1º ficou como “sentença é o ato do juiz que
implica algumas das situações previstas nos arts 267 e 269”, CPC.
A sentença passou a ser então o pronunciamento do juiz que examina a
relação jurídica processual e extingue o processo, bem como o que examina a
relação jurídica material sem por fim ao processo.
Diante de tudo isso vemos que a extinção do processo não ocorre, porquanto
virão a fase recursal e a fase de cumprimento de sentença.
Já a decisão interlocutória é o pronunciamento do juiz que no curso do
processo que examina a relação jurídica processual ou resolve alguma outra
questão sem por fim ao processo.
Com relação ao despacho temos que é o pronunciamento do juiz que
impulsiona o processo sem nada decidir.
14
SANTOS, Nelton dos. In. MARCATO, Antonio Carlos (Coord). Código de Processo Civil
Interpretado. São Paulo: Atlas, 2004, p. 424.
O processo de conhecimento clássico não compadece, de regra, com as
ações sincréticas, que são justamente aquelas que admitem,
simultaneamente, cognição e execução, isto é, à medida que o juiz vai
conhecendo e, de acordo com as necessidades delineadas pela relação de
direito material apresentada e a tutela perseguida pelo autor, vai também
executando (satisfazendo) provisoriamente, fulcrado em juízo de
versossimilhança ou probabilidade. Significa dizer que as ações sincréticas
não apresentam a dicotomia entre conhecimento e executividade,
verifcando-se a satisfação perseguida pelo jurisdicionado numa única
relação jurídico-processual, onde a decisão interlocutória de mérito
(provisória) ou a sentença de procedência do pedido (definitiva) será auto-
exequiveis. 15
15
Joel Dias Figueira Junior, Comentários à novíssima reforma do CPC Lei 10.444, de 07 de maior de
2002, p. 03.
16
WAMBIER, Luiz Rodrigues. Sentença Civil: liquidação e cumprimento, 3. ed, revista, ampliada e
atualizada de acordo com a Lei 11.232/05. São Paulo: RT, 2006, p. 38.
Encontramos a execução trabalhista regulamentas pela consolidação das Leis
Trabalhistas, a partir dos arts. 880 e seguintes.
Entretanto, caso haja omissão nos referidos artigos, devemos aplicar a Lei de
Execução Fiscal, conforme prevê o art. 889, in verbis:
Ao tramites e incidentes do processo da execução são aplicáveis, naquilo
em que não contravierem ao presente Titulo, os preceitos que regem o
processo dos executivos fiscais para a cobrança judicial da divida ativa da
Fazenda Publica Federal.
17
Tribunal Regional do Trabalho da 3ª Região, Proc nº 00131-2007-000-03-00-5-MS, Desª RElª Maria
Perpetua Capanema Ferreira de Melo, DJMG de 11/05/2007.
Também, a Sexta Turma do Tribunal Superior do Trabalho, em julgamento
publicado em 15.02.2008, pronunciou-se no sentido de que a determinação da
incidência da multa em processo trabalhista viola o art. 889, CLT que determina
explicitamente a aplicação do processo dos executivos fiscais aos tramites e
incidentes do processo de execução.
A aplicação do Código de Processo Civil, segundo o art. 769, CLT é
subsidiaria, ou seja, somente é possível quando houver omissão da CLT.
Para o relato do recurso de revista Ministro Aloysio Correa da Veiga, não
considerar o que esta previsto no art., 880, CLT poderia gerar uma confusão
processual, tanto em relação ao prazo para cumprimento da obrigação, quanto em
relação a penhora, uma vez que em relação aquele no processo civil o prazo é mais
dilatado.
Para o Ministro:
20
TEIXEIRA FILHO, Manoel Antonio. Processo do Trabalho – Embargos à Execução ou
Impugnação à Sentença? (A propósito do art. 475-J, do CPC). São Paulo: LTr, 2006,P. 1182.
21
Tribunal Regional do Trabalho do RS, 7ª turma, Proc nº 01251-2002-003-04-00-9 AP. Relatora.
Juíza Maria Inês Cunha Dornelles, janeiro de 2007.
O texto denota o principio nele inserto, dessa forma, uma leitura isolada do
texto serve para, em primeiro lugar, verificar qual aplicação do principio. Em seguida
deve-se analisar de forma sistemática o texto constitucional.
Para buscarmos o significado dos princípios o elo seria o próprio texto
constitucional quanto na lei, na doutrina ou mesmo na jurisprudência.
De formar geral, o principio advem de qualquer atividade capaz de fornecer
subsídios hábeis a melhorar a compreensão do significado da norma.
A função do principio da proporcionalidade é a ponderação dos princípios de
direitos fundamentais que se mostram constitucionalmente estampados numa
amplitude de aplicabilidade do estado de direito como principal objetivo ideal de
obediência através da democracia.
Ainda, o principio da proporcionalidade serve para que os diversos direitos
coexistam limitadamente, acompanhado de uma diversidade de aplicações dos
princípios de direito fundamental.
Nesse contexto, indagamos como que o processo de execução trabalhista
tornaria mais ágil com a inserção de uma multa de 10%, em detrimento do principio
do devido processo legal.
Se o executado que não tem a possibilidade de efetuar o pagamento, a
inclusão da multa se torna indiferente, considerando-se o efeito coercitivo.
Pergunta-se: entre a agilidade e um processo legalmente adequado, qual
predominaria?
Luiz Rodrigues Wambier trata da questão:
Arturo Hoyos entende que o principio do devido processo legal esta inserido
no contexto, mais amplo, das garantias constitucionais do processo, e que
somente mediante a existência de normas processuais, justas, que
proporcionem a justeza do próprio processo, é que se conseguira a
manutenção de uma sociedade sob o império do direito.22
22
WAMBIER, Op. Cit.,, p. 34.
Para o consagrado Nelson Nery Junior, “o principio fundamental do processo
civil que entendemos como a base, sobre a qual todos os outros se sustentam, é o
do devido processo legal, expressão oriunda da inglesa due process of law”.23
Assim, não há que se falar em ofensa ao principio da duração razoável do
processo somente porque foi deixado de lado no caso concreto.
O jurista Pontes de Miranda adverte que “na aplicação do art. 620, o juiz não
tem arbítrio, mas sim o dever de escolher o modo menos gravoso para o devedor”.26
23
SANTOS, Nelton dos. In. MARCATO, Antonio Carlos (Coord), Op. Cit., p. 54.
24
DINAMARCO, Candido Rangel. A Instrumentalidade do Processo. São Paulo: Malheiros
Editores, 2005, p. 319.
25
Enunciado de Sumula n 417 do TST: (...) III – Em se tratando de execução provisória, fere direito
liquido e certo do impetrante a determinação de penhora em dinheiro, quando nomeados outros bens
a penhora pois o executado tem direito a que a execução se processe da forma que lhe seja menos
gravosa, nos termos do art. 620 do CPC. ( ex-OJ n. 62 – inserida em 20.09.2000)”
26
Pontes de Miranda, Comentários ao CPC, p. 87.
Acarretaria prejuízo ao executado e violaria referido principio caso houvesse a
subversão do procedimento.
Afim de balancear as diretrizes da máxima utilidade da execução com o
menor sacrifício do executado é que existe o principio da execução equilibrada,
alem da preocupação com a efetividade da execução, deve-se procurar sempre o
caminho menos gravoso para o devedor.
Nesse sentido:
EXECUÇÃO – BENS A PENHORA – BANCO – (...) A execução deve se
fazer pelo modo menos gravoso ao executado. O certificado de deposito
bancário (CDB) tem praticamente a liquidez da moeda. Segurança
concedida para anular a penhora em dinheiro, transformando em penhora
de CDB (TST-RO-MS 105.612/94.1, AC. SDI 4652/95, rel. Ministro Vantuil
Abdala DJU de 07.12.1995).
Ainda que se busca tentar a aplicação do art., 475-J, através da analogia, isto
não poderá ocorrer, pois, tal norma tem carga eminentemente restritiva-punitica, e,
sua aplicação fere de morte os Princípios mais comezinhos do direito.
Estevão Mallet assevera:
27
MALLET, Estevão. O processo do trabalho e as recentes modificações do Código de
Processo Civil. Revista do Advogado – AASP, de maio 2006, p. 197/205.
Tribunal a qui, desautorizando o aborto; outrossim, pelas peculiaridades do
caso, para considerar prejudicada a apelação interposta, porquanto houve,
efetivamente, manifestação exaustiva e definitiva da Corte Estadual acerca
do mérito por ocasião do julgamento do agravo regimental. 28
(1) a multa prevista no art. 475-J, caput, do CPC (dez por cento) é
aplicável ao processo trabalhista;
(2) o artigo 475-O do CPC aplica-se ao processo do trabalho e, alem de
afirmar que a execução provisória far-se-a de modo identico a definitiva,
ainda possibilita, mediante caução, o levantamento de depósitos em
dinheiro (pense-se, e.g, nos depósitos recursais ou nas penhoras on-line), a
alienação de propriedade (hastas publicas) e outros atos de executivos que
causem gravame ao executado,
28
Superior Tribunal de Justiça, HC 32.159 – RJ – 6ª T. Min, Laurita Vaz – DJU 22.03.2004 – p. 33.
29
Não há crime sem lei anterior que o defina, nem pena sem previa cominação legal.
30
Carlos Maximiliano, Hermenêutica e Aplicação do Direito, p. 81
a 4ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho do Estado de Minas Gerais
julgou a questão:
31
TRT 3ª Reg, 4ª turma, Proc 00285-2003-073-03-00-3 AP, Desembargador Reloator Antonio Álvares
da Silva DJMG 16/12/2006
32
DINAMARCO, Candido Rangel. Op. Cit., p. 365
É inegável o fato de que a introdução da multa de 10% do art. 475-J foi uma
das maiores inovações trazidas ao processo civil , como medida executiva voltada a
obtenção do cumprimento da obrigação.
Diante do artigo 475-J, a multa é devida por imposição legal,
independentemente de decisão do juiz, decorrido o prazo de quinze dias. O
dispositivo é taxativo, o juiz não pode optar entre a multa ou outra medida coercitiva.
Luiz Rodrigues Wambier, pondera a respeito da natureza jurídica da multa:
“A multa referida no art. 475-J do CPC, atua como medida executiva
coercitica, e não como medida punitiva. Assim, a multa do art. 475-J pode ser
cumulada com a do art. 14, inc V e parágrafo único.” 33
Nesse entendimento, somente pelo fato da sua existência a multa deveria
compelir psicologicamente o devedor a adimplir a obrigação dentro do prazo
estipulado pela lei, isto é, quinze dias. A existência da multa forçaria o devedor ao
pagamento tempestivo, sob pena de sua incidência.
Para este jurista não há analogia in malam partem pois a multa possui feição
coercitiva e não punitiva. Tal qual acontece na execução de alimentos do art. 733,
CPC, em que o executado é citado para pagar no prazo de três dias, sob pena de
prisão.
Somente excepcionalmente é que a multa pode ser afastada, nos casos em
que o cumprimento da obrigação pelo réu seja impossível ou muito difícil.
Para Guilherme Guimarães Feliciano:
Para estes que defendem essa tese, o procedimento executório deve ser
adequado, para se tornar mais célere e eficaz possível, pois trata de credito
alimentar, assim os artigos da CLT deveria ganhar nova leitura constitucional.
35
Art. 8º, 1. Toda pessoa tem direito a ser ouvida, com as devidas garantias e dentro de um prazo
razoável, por um juiz ou tribunal competente, independente e imparcial, estabelecido anteriormente
por lei, na apuração de qualquer acusação penal formulada contra ela, ou para que se determinem
seus direitos ou obrigações de natureza civil, trabalhista, fiscal ou de qualquer outra natureza. Art. 25,
1. toda pessa tem direito a um recurso simples e rápido ou a qualquer outro recurso efetivo, perante
os juízos ou tribunais competentes, que a projeta contra atos que violem seus direitos fundamentais
reconhecidos pela constituição, pela lei ou pela presente Convenção, mesmo quando tal violação seja
cometida por pessoas que estejam atuando no exercício de suas funções oficiais.
36
Disponível em: http://www.anamatra.org.br/jornada/enunciados/enunciados_aprovados.cfm
O principio constitucional da duração razoável do processo deve ser concreto
tal qual o principio da efetividade da tutela jurisdicional. Sendo que esse principio da
efetividade da tutela jurisdicional trata-se de um principio implícito na Constituição
Federal, permanente as normas do art. 5, XXXV, correspondente a inafastabilidade
do Poder Judiciário.
37
O Jurista Jorge Luiz Souto Maior sugere uma nova leitura ao art. 880, CLT
e ainda aplicando o novo modelo executivo ao processo do trabalho, acaba por
entender que basta a intimação postal do devedor, por carta registrada, para que
pague a divida constante do titulo no prazo de quinze dias, sob pena da aplicação da
multa de 10% constante no art. 475-J, CPC.
Cumpre-nos ressaltar que o problema da morosidade processual deve ser
resolvido também por meio de investimentos financeiros na própria estrutura do
Poder Judiciário e não somente através de reformas na legislação processual.
37
MAIOR, Jorge Luiz Souto. Reflexões das alterações do Código de Processo Civil no Processo
do Trabalho. São Paulo: LTr, 2006, p. 922
38
MAIOR, Jorge Luiz Souto. Teoria Geral da Execução Forçada. In: Execução Trabalhista: Visão
Atual. Rio de Janeiro: Forense, 2001, p. 37.
subsistência, no caso de perda da unidade exclusiva de atividade econômica, são
esses os valores que carregam os princípios informadores do direito do trabalho.
A aplicação da Lei 11.232/2005 ao processo do trabalho, tem como objetivo a
máxima efetividade de tais princípios, difundindo o sincretismo processual.
Todo o ordenamento legal esta sob os efeitos dos direitos fundamentais,
sendo portanto, de responsabilidade do operador do direito o amoldamento da
solução jurídica ao contexto da atualidade no momento de sua aplicação.
A interpretação dos dispositivos da CLT cabe ao juiz do trabalho, ele que
deve dar efetividade ao principio da celeridade, pois assim estará resguardando a
efetividade dos direitos fundamentais de segunda dimensão e exaltar o Estado
Democrático de Direito, que tem dentre seus fundamentos a dignidade da pessoa
humana e os valores sócias do trabalho.
O principio do contraditório pode ser mitigado na fase de cumprimento de
sentença, uma vez que a obrigação já esta constituída no titulo e deve ser cumprida
de forma espontânea pelo devedor, ou mediante a atuação coativa do Estado.
A ampla defesa e o contraditório já foram exercitados na fase de
conhecimento.
Contudo, ainda há uma forma do executado se defender, através da
impugnação em determinados casos, como preconiza Jorge Luiz Souto Maior:
CONCLUSAO
39
MAIOR, Jorge Luiz Souto. Op. Cit., p. 920.
Diante de todo o estudo acima proposto, concluímos pela inaplicabilidade da
multa do art. 475-J CPC no processo do trabalho.
A incidência do Código de Processo Civil é afastado pela Lei de Execução
Fiscal que é a norma subsidiaria da execução trabalhista, exceto do art. 655, por
força do dispositivo 882 da CLT.
Apesar da legislação fiscal ser norma subsidiaria, ela possui dispositivos
incompatíveis com o processo do trabalho, é o caso da citação que tem prazo de 05
dias.
Sendo totalmente legalista, a multa do artigo 475-J, CPC se torna inaplicável
ao processo do trabalho.
Analisando pela ótica dos princípios da celeridade e efetividade na execução
trabalhista, aqueles que defendem a aplicação da multa, pregam a adoção de novos
institutos civilistas ou penas que, de alguma maneira, agreguem desvantagens
econômicas para o executado na resistência ao cumprimento da condenação.
Pelo lado pratico, a multa imposta ao executado que esta a beira da
insolvência em nada serve para impulsionar o processo.
A execução trabalhista é mais rigorosa do a execução processual comum,
possuindo institutos próprios. Um dos exemplos é a exigência do deposito recursal
prévio, também para a interposição de recurso de revista ao Tribunal Superior do
trabalho.
A penhora on line também é um mecanismo muito eficaz já utilizada pela
execução trabalhista. O bloqueio de numerários em aplicações financeiras através
de convenio do Banco Centro do Brasil, já tem por objetivo coibir eventual pratica de
atos procrastinatórios do executado, garantindo, assim, a tão defendida efetividade
na entrega do bem da vida.
Teria um condão de punição se transportássemos a multa do cumprimento de
sentença civilista para o processo do trabalho, ademais, qualquer interpretação
analógica ou ampliativa é cultura e historicamente rejeitada em hermenêutica.
A aplicação da multa ao processo trabalhista, resultaria num mal maior
atingindo o devido processo legal, que é como já dito, o principio de maior grau dos
princípios processuais.
As regras de hermenêutica constitucional devem ser seguidas, prezando pela
unidade da constituição, diante disso, o principio da celeridade processual não pode
tomar o lugar do devido processo legal que se caracteriza pela garantia da pessoa
humana e limite do poder do estado.
Se assim agir, poderá ocorrer uma confusão procedimental e ate mesmo o
surgimento de um terceiro procedimento para o cumprimento da sentença
trabalhista, que acarretaria um insegurança jurídica aos tutelados, se dependessem
do entendimento de cada julgador.
Deve se ter em mente sempre o que for menos gravoso ao devedor, assim a
execução deve balancear as diretrizes da máxima utilidade da execução com o
menor sacrifício do executado.
O Tribunal Superior do Trabalho, através da SDI-1, inclina-se no sentido da
impossibilidade da aplicação da multa na seara trabalhista.
Nesse entendimento, segundo os ministros da Sexta Turma do TST,
entenderam que a regra do processo civil não se aplica a norma trabalhista, pois
segundo art. 880 da CLT determina a execução em 48 horas, sob pena de penhora,
não de multa.
A aplicação do CPC, de acordo com o artigo 769 da CLT, é subsidiária:
apenas é possível quando houver omissão da CLT.
Essa decisão está fundamentada através do Relator Ministro Aloysio Corrêa
da Veiga, expõe ao julgar sobre a possibilidade da incidência da multa em processo
trabalhista, é violadora do artigo 889 da CLT, o qual determina explicitamente a
aplicação do processo dos executivos fiscais aos trâmites e incidentes do processo
de execução.
“O julgador deveria cindir a norma legal para utilizar o prazo de 48 horas,
menor, da CLT, com a multa disciplinada no CPC, ou aplicar o prazo do CPC, maior
que o da CLT, com a multa e a penhora”.
A aplicação da multa do art. 475-J, CPC na Justiça do Trabalho, gera danos
irreparáveis ao sistema processual como um todo, não podendo o Judiciário
Trabalhista aplicar tal penalidade, sob pena de usurpação da sua função típica.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Lúcio Rodrigues de. Execução Trabalhista. Rio de Janeiro: AIDE, 1997.
BEBBER, Júlio César. Cumprimento da sentença do processo do trabalho. São
Paulo: LTr, 2007.
D´ÁVILA, Gilmara V. Medeiros. A polêmica aplicação do Art. 475-J do CPC no
processo do trabalho. São Paulo: LTr, 2009.
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