3
PROPAGAÇÃO E RÁDIO ENLACES.
1
1.1 – Introdução.
A propagação das ondas eletromagnéticas e sua concatenação, a fim de formar um
rádio enlace, tem sido bem estudada nas últimas décadas.
Esse capítulo tem por objetivo apresentar de forma simplificada conceitos básicos
para o entendimento e futuro projeto de um rádio enlace na faixa de freqüência de 5 GHz,
como proposto anteriormente. Os aspectos mais importantes considerados são a definição do
rádio enlace e aspectos gerais de propagação, sobretudo em visibilidade.
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• Transmissor
• Receptor
• Meio de transmissão
Quando essa comunicação deve ser realizada em distâncias maiores que o alcance da
voz humana, lança-se mão do conceito de telecomunicações [2]. Depois disso, define-se o
meio físico dessa transmissão, que pode ser guiado ou não-guiado.
A radiocomunicação estuda as telecomunicações sob o prisma da utilização do meio
aéreo (não-guiado), através das ondas eletromagnéticas que se deslocam do transmissor ao
receptor e vice-versa, conforme a figura 1.2. A propagação da onda ocorre quando há a
transferência de energia eletromagnética entre esses dois pontos pela atmosfera terrestre ou
ambiente aberto e ilimitado.
Estação A Estação B
A energia será distribuída por todo o espaço, mas apenas uma parte da potência
irradiada pela antena transmissora chegará à antena receptora. O rádio enlace ou sistema
rádio ponto-a-ponto define de que forma a interligação entre os pontos de transmissão e
recepção pode ser feita, para garantir que o sinal gerado na origem chegue a seu destino
inteligível, dentro de uma taxa de erros aceitável.
Portanto, para que um rádio enlace funcione satisfatoriamente, são necessários os
seguintes requisitos básicos:
1) A intensidade do sinal recebido deve ter potência suficiente para se sobrepor ao
sinal do ruído recebido e ao nível de sensibilidade.
2) A intensidade do sinal deve ser propagada sem distorção excessiva,
3) Para que o rádio enlace tenha confiabilidade, as condições acima devem
permanecer constantes na maior parte do tempo.
Pode-se então, do ponto de vista econômico, definir que um rádio enlace pode ser do
tipo: otimizado, superdimensionado ou subdimensionado.
5
Um enlace é considerado otimizado quando ele é feito sob medida para atender a
finalidade a que se destina, ou seja, está na melhor relação custo/benefício, ou ainda,
tecnicamente correto para aquela situação específica ao menor valor monetário a ser
despendido.
De maneira análoga ao explicado acima, um sistema é definido como
superdimensionado, quando o cálculo dos parâmetros e componentes do sistema é feito bem
acima do necessário. Neste caso, isso pode ocorrer por imperícia do projetista ou para que o
enlace esteja planejado para suportar futuras expansões.
Por outro lado, um sistema é dito subdimensionado quando sua valorização é
considerada inferior ao mínimo aceitável, acarretando o mau funcionamento do enlace
através de alta taxa de erros de bit e, por conseguinte, a degradação rápida do link.
A concepção de um rádio enlace deve então levar em consideração os aspectos
abordados, bem como a análise de aspectos sistêmicos do mesmo a fim de garantir um
funcionamento dentro do projetado.
6
Tabela 1.1 – Divisão clássica do espectro de radiofreqüências e algumas de suas aplicações
Faixa de freqüência Sigla Designação técnica Exemplos de
utilização
300 Hz a 3 kHz ELF Ondas extremamente Voz humana,
longas comunicação para
submarinos,
3 kHz a 30 kHz VLF Ondas muito longas escavações em minas,
etc.
30 kHz a 300 kHz LF Ondas longas Auxílio à navegação
aérea, serviços
300 kHz a 3 MHz MF Ondas médias marítimos,
radiodifusão AM
3 MHz a 30 MHz HF Ondas tropicais e Radiodifusão local e
ondas curtas distante, serviços
marítimos, TV, FM,
30 MHz a 300 MHz VHF Ondas métricas comunicação de
segurança,
300 MHz a 3 GHz UHF radioamadorismo, etc.
Microondas Comunicação pública
3 GHz a 30 GHz SHF à longa distância
(telefonia fixa),
30 GHz a 300 GHz EHF telefonia celular,
transmissão de dados
Wi-Fi, Wimax, etc.
P
S= [W / m 2 ] (1-1)
4 ⋅π ⋅ R 2
7
Figura 1.3 – Conceito de densidade de potência.
Densidade de
potência
[W/m²]
Raio R [m]
Figura 1.4 – Comportamento da densidade de potência na área esférica, para um P de 10 W.
8
1.7 – Apresentação dos diferentes mecanismos de propagação.
A propagação das ondas eletromagnéticas entre as antenas transmissora e receptora
tem características definidas fundamentalmente pelas propriedades do meio de transmissão
entre essas antenas. Este meio, constituído, no geral pelo conjunto atmosfera-superfície
terrestre, apresenta propriedades que variam com a freqüência da onda irradiada,
determinando tipos de mecanismos de propagação dominantes para as diferentes faixas do
espectro de radiofreqüências, apresentado aqui, na tabela 1.1, no início do capítulo.
Deve-se ressaltar ainda, que os parâmetros do meio que especificam as características
de propagação se modificam em função da região envolvida (urbana, florestas, desertos,
montanhas, etc.) bem como sofrem variações ao longo do tempo (temperatura, pressão,
umidade, etc.).
Serão apresentados inicialmente, os mecanismos de propagação nas freqüências mais
baixas do espectro, até alcançarmos a faixa de microondas, onde se enquadra o projeto.
9
Figura 1.5 – Composição da atmosfera.
10
1.8.2 – Faixa VLF.
Nessa faixa do espectro de radiofreqüência, é utilizada como mecanismo de
propagação, a reflexão ionosférica, esquematicamente representada na figura 1.6.
11
Figura 1.7 – Propagação por onda superficial.
A figura 1.9 ilustra três ondas de freqüências diferentes (5 MHz, 20 MHz e 100 MHz)
com um mesmo ângulo de irradiação. A onda de freqüência igual a 20 MHz se refrata em
camada mais alta (maior grau de ionização) que aquela de 5 MHz, estabelecendo um enlace
12
maior. Já a onda de 100 MHz não sofre refração suficiente, de modo que não retorna à
superfície terrestre. Em outras palavras, a onda de 100 MHz atravessa a ionosfera.
A figura 1.10 ilustra, para uma determinada freqüência (por exemplo, 25 MHz), a
variação do alcance com o ângulo de irradiação. Observa-se que para ângulos de irradiação
acima de um certo valor não há refração suficiente na ionosfera e as ondas se perdem no
espaço.
1
Alguns radioamadores utilizam a faixa de HF para transmissão de dados à taxas muito baixas à partir do canal
de áudio de seus equipamentos. Já existem também serviços digitais de broadcastig em Ondas Curtas.
13
analisaremos os principais aspectos dos fenômenos que caracterizam um canal de rádio
operando nessa condição (f maior que 30 MHz).
Acima dos 30 MHz, a partir da faixa de VHF (30 MHz a 300 MHz,), não se torna
mais possível o uso da refração ionosférica, porque, como indica a figura 1.11, nessa faixa as
ondas refratadas não chegam a atingir o ângulo zero (ângulo ideal), por conseguinte, não
retornando de volta à superfície terrestre.
RAIOS DIFRATADOS NÃO RETORNAM
MAIS À TERRA
Figura 1.11 – Transparência da ionosfera às ondas a partir da faixa de VHF (acima dos 30 MHz).
Acima de VHF, já são usadas antenas que concentram a energia em feixes mais
estreitos, estabelecendo as ligações através da onda espacial direta entre antena transmissora
e receptora, formando sistemas em visada direta, usando propagação troposférica, ou seja,
usando a camada adjacente à superfície terrestre. Visada direta significa que não existem
obstáculos entre antena transmissora e receptora, embora o surgimento de algum obstáculo,
dependendo do tamanho, não impeça o funcionamento do enlace. Com isso, define-se o
conceito de ligação por difração, e como ocorre a difração de uma onda de rádio por um
obstáculo.
O fenômeno da difração deve ser definido como a capacidade que um feixe
eletromagnético tem de contornar obstáculos quando esses são da mesma ordem de grandeza
do comprimento de onda do feixe.
A figura 1.12 mostra o efeito da difração quando temos duas freqüências distintas,
para um mesmo obstáculo.
14
Na figura 1.12-a observa-se que temos uma freqüência menor, em relação a
freqüência da figura 1.12-b (f2 maior que f1). Para um caso prático, pode-se imaginar que na
figura 1.12-a tem-se um enlace em 2.4 GHz, e na figura 1.12-b um enlace em 5.8 GHz. Nota-
se, que à medida que se aumenta a freqüência para um mesmo obstáculo, temos um menor
efeito da difração. Em outras palavras, um feixe em 5.8 GHz é mais sensível ao mesmo
obstáculo, se comparado a 2.4 GHz, ou seja, a difração ocorre com maior intensidade em 2.4
GHz do que em 5.8 GHz, para um mesmo obstáculo.
Assim, a presença de obstáculos próximos à linha de visada entre as antenas, como
morros, árvores ou prédios, acarreta uma diminuição da energia recebida, sendo que parte da
onda é bloqueada e parte contorna o obstáculo. Com isso, quanto menor a freqüência, maior
será o envolvimento do obstáculo.
A própria terra pode constituir um obstáculo a ser contornado, devido à sua curvatura.
A figura 1.13 ilustra a difração na superfície da terra. Esse efeito é mais comum em enlaces
acima dos 50 km.
Na figura 1.15 pode-se observar o que ocorre com o feixe ao passar através das
camadas de densidades diferentes.
15
Figura 1.15 – Refração troposférica.
λ
AM + MB = n ⋅ (1-2)
2
Figura 1.16 – Aspecto das zonas de Fresnel numa ligação troposférica entre estação A e B
Como regra prática, um enlace é considerado com visada direta, isto é, com fenômeno
de difração desprezível se não existir nenhum obstáculo dentro da primeira zona de Fresnel.
O raio de uma elipsóide de Fresnel em um ponto entre o transmissor e o receptor é
dado pela expressão:
16
n ⋅ λ ⋅ d1 ⋅ d 2
Rn = [m] (1-3)
d1 + d 2
d1 ⋅ d 2
R1 = 550 ⋅ [m] (1-4)
( d 1 + d 2) ⋅ f
17
Figura 1.18 – Conceito de raio equivalente terrestre.
18
Kmin
Distância
[Km]
Figura 1.19 – Variação do Kmínimo com a distância (REC P 530-9 do ITU-R) e sub-refração atmosférica.
250
200
150
100
50
0
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Distância [Km]
altitude real K4/3 Kmin visada 100%fresnel
Figura 1.20 – Perfil de um enlace ressaltando os fatores de correção Kmédio e Kmínimo, bem como a primeira
zona de Fresnel.
19
Alguns projetistas de enlaces são bastante conservadores no que diz respeito ao
critério de visibilidade devido ao receio de que o enlace sofra obstruções devido a variações
atmosféricas. Como essas variações em geral são lentas (desvanecimento lento), um enlace
poderia ficar fora de atividade por minutos ou até horas [7].
1.9.4 – Reflexões.
A reflexão de uma onda eletromagnética pode ser devido à superfície do solo, de
obstáculos que podem estar próximos ou distantes do caminho do enlace, ou ainda das
camadas atmosféricas, que ocasionam oscilação do campo elétrico em torno do valor do
espaço-livre de acordo com a geometria do enlace (desvanecimento). O nível de interferência
(construtiva ou destrutiva) observado na antena receptora é função da atenuação da energia
refletida e da defasagem entre os sinais em vista de distintos caminhos percorridos ou
múltiplos percursos [8].
A reflexão pode ser do tipo difusa ou irregular, quando há um espalhamento da onda
refletida em várias direções, conforme mostra a figura 1.21, ou do tipo regular, quando o
feixe se reflete de acordo com um ângulo bem definido igual ao de incidência sobre a água
( θi = θr ), conforme mostra a 1.22.
20
1.9.5 – Desvanecimento.
Desvanecimento ou fading é o nome dado para se caracterizar o fenômeno da
existência de variações aleatórias ao longo do tempo da intensidade de sinal recebido [3].
Essa variação é considerada, na análise dos sistemas, e é conhecida como atenuação
suplementar tendo, portanto, como referência, o valor de campo em espaço-livre.
Os desvanecimentos são normalmente classificados em rápidos e lentos [7]. Embora
não exista uma regra definida para essa classificação, pode-se indicar, genericamente, que os
desvanecimentos lentos correspondem a variações de poucos dB por minuto na intensidade
do sinal, enquanto que os desvanecimentos rápidos podem corresponder a variações de
dezenas de dB em segundos.
21
Figura 1.24 – Perfil de um enlace com propagação de multipercurso.
Onde:
A – Atenuação total que o raio direto vai sofrer
b – Amplitude do raio refletido.
τ – Atraso do raio indireto em relação ao direto.
22
(
Y ( f ) = A ⋅ X ( f ) + b ⋅ X ( f ) ⋅ e − j⋅ω ⋅τ )
[
Y ( f ) = A ⋅ X ( f ) ⋅ 1 + b ⋅ e − j⋅ω ⋅τ ]
Onde :
H ( f ) = 1 + b ⋅ e − j⋅ω ⋅τ
Teremos :
Y( f ) = A⋅ X ( f )⋅ H( f )
Para o módulo de H ( f ) :
H ( f ) ⋅ H ( f )* = H ( f )
2
H ( f ) = 1 + b 2 + b ⋅ cos(ω ⋅τ )
2
Para b = 1, tem-se:
|H(f)|
1
τ
f
Figura 1.26 – Desvanecimento do sinal de forma geral.
Na figura 1.26, os vales (notches) aparecem quando o sinal direto tem fase oposta aos
sinais refletidos. Por outro lado, quando as fases dos dois sinais coincidem há um reforço de
sinal (ponto de máximo na figura).
1
O intervalo entre os vales é , onde τ é o atraso de tempo entre os raios direto e
τ
refletido. A amplitude relativa dos raios determina a profundidade dos vales. Quando esses
vales estão presentes dentro de um canal de rádio, significa que houve uma dispersão em
amplitude, degradando conseqüentemente a TEB (taxa de erro de bits).
1.9.5.3 – Contramedidas.
São técnicas utilizadas no combate aos fenômenos associados ao desvanecimento
rápido e ao ambiente com múltiplos percursos. Duas dessas técnicas serão abordadas aqui:
equalização adaptativa e técnicas de diversidade.
23
de múltiplos percursos deteriora a banda em determinadas freqüências (seletivo) de forma
imprevisível, o papel do equalizador adaptativo é tornar a resposta o mais plana o possível.
Técnicas de modulação com multiportadoras, como OFDM, associadas a técnicas de
equalização adaptativa têm sido amplamente utilizadas no combate ao efeito do múltiplo
percurso [11].
Na figura 1.27a tem-se o caso clássico de uma informação modulada com apenas uma
portadora sendo submetida a um ambiente de múltiplos percursos. Em 1.27b tem-se a mesma
informação modulada por uma série de sub-portadoras, sendo também submetida a um
ambiente de múltiplos percursos. Nota-se que uma ação de equalização torna-se bem mais
simples no segundo caso.
Figura 1.27 – Informação modulada com uma única portadora(a) e com um conjunto de sub-
portadoras(b).
a) diversidade de espaço:
24
Figura 1.28 – Técnica de diversidade de espaço.
b) diversidade de freqüência:
Figura 1.29 – Técnica de diversidade em freqüência sendo utilizada em um canal com múltiplos percursos.
25
1.10 – Conclusões
Este capítulo apresentou os principais conceitos físicos necessários à modelagem de
um rádio enlace ponto-a-ponto. O entendimento desses conceitos, bem como uma abordagem
a partir do caso ideal (vácuo) faz-se importante, pois, no próximo capítulo serão apresentados
os modelos de propagação, que são considerações do mundo real feitas a partir de condições
ideais, ou seja, são desvios das condições ideais que representam o encontrado na prática.
1.11 - Referências
[1] SIQUEIRA, Ethevaldo. Três momentos da história das telecomunicações no Brasil.
Dezembro Editorial. São Paulo, Brasil. 1997. 108 p.
[2] NASCIMENTO, Juarez. Telecomunicações. Makron Books. São Paulo, Brasil.1992. 541
p.
[5] MIYOSHI, E.M. e SANCHES, C. A. Projetos de Sistemas Rádio. Érica. São Paulo,
Brasil. 2002. 534 p.
[9] PUC-Rio - Caracterização do Canal de Rádio Propagação – Texto base dos cursos de
propagação da PUC. Disponível em http://www.maxwell.lambda.ele.puc-rio.br/cgi-
bin/PRG_0599.EXE/3747_4.PDF?NrOcoSis=7176&CdLinPrg=pt, acessado em 30 de
abril de 2007.
[10] BISPO, Marcio Nascimento – Instituto Militar de Engenharia - Notas de aula do curso
de propagação, disponível em http://www.ime.eb.br/~bispo/4a%20aula_2004_2pp.pdf,
acessado em 2 de maio de 2007.
26
[11] – LEITE, Ernesto e PENEDO, Cláudio – A técnica de transmissão OFDM – Revista
científica periódica – Telecomunicações, Junho de 2002.
27
MODELOS DE PROPAGAÇÃO. 2
2.1 – Introdução
Muitas aplicações requerem a propagação de RF ponto-a-ponto nas proximidades da
superfície terrestre na presença de várias adversidades, constituindo o que chamamos de
propagação troposférica no item 1.9. Exemplos de algumas aplicações incluem telefonia
celular, serviço público de rádio (FM), televisão digital ou analógica, redes WLAN, etc.
Perdas de propagação troposférica sobre o terreno, vegetação e/ou construções podem
ser atribuídas a vários fenômenos, incluindo difração, refração, absorção ou espalhamento.
Os modelos de propagação são uma tentativa de validar a cobertura de uma rede
conectada via rádio antes da instalação física dos equipamentos. Dentro desse contexto, é
necessário fazer um exame físico do relevo (site survey) e utilizar, de preferência, mais
modelo de propagação antes de finalmente instalar a rede. Nesse capítulo, serão apresentados
alguns modelos de propagação básicos, porém amplamente utilizados, para posteriormente
fazer-se uma análise desses modelos no projeto do rádio enlace.
28
Figura 2.1 – Classificação dos modelos de propagação.
A maioria dos modelos de raio ótico são modelos bastante complexos e levam em
conta todos os caminhos relevantes entre transmissor e receptor percorridos por vários feixes
óticos. O comportamento de transmissão de cada caminho é calculado. A potência recebida é
calculada pela utilização de todos os parâmetros de todos os caminhos feitos por cada feixe
ótico em consideração. Existe um modelo baseado nas leis da física ótica para cálculo da
atenuação ocasionada por um obstáculo que se encontra na linha de visada entre duas
antenas. Esse modelo é conhecido como obstáculo ou difração gume-de-faca (knife wedge) e
está associado ao conceito das zonas de Fresnel, que será abordado mais adiante ainda nesse
capítulo.
Modelos de propagação baseados na teoria de campo são computados a partir da
solução numérica das equações de Maxwell com ajuda de sistemas de equações diferenciais.
Os modelos que usam teoria de campo necessitam geralmente de poder computacional
devido à complexidade dos cálculos.
P
S= [W / m 2 ]
4 ⋅π ⋅ d 2
Em teoria das antenas existe uma relação entre área efetiva da antena e ganho da
mesma que é dada por [15]:
Gλ2
Aeff = [ m2 ] (2-1)
4π
A área efetiva Aeff é aquela sob a qual a antena recebe a energia vinda da onda
eletromagnética.
Considere-se agora uma antena receptora localizada em um ponto qualquer, a
densidade de potência neste ponto é dada por:
29
Pt ⋅ G t
Sr = [W / m2] (2-2)
4 ⋅π ⋅ d 2
Onde:
G r ⋅ λ2
Aeffr = [m] (2-4)
4 ⋅π
Pt ⋅ G t ⋅ G r ⋅ λ2
Pr = [W] (2-5)
(4 ⋅ π ⋅ d ) 2
Ou ainda:
Pr Gt ⋅ G r ⋅ λ2
= (2-6)
Pt (4 ⋅ π ⋅ d ) 2
4 ⋅π ⋅ d
2
1
L= ⋅ (2-7)
λ Gt ⋅ G r
4 ⋅π ⋅ d
2
Lbf = (2-8)
λ
Onde:
Pr : é a potência de recepção em dBm.
Pt : é a potência de transmissão em dBm.
30
Gt e Gr : são os ganhos das antenas transmissora e receptora, respectivamente,
em dBi.
d: é a distância em km.
f: é freqüência em GHz.
Figura 2.2 – Ilustração dos termos utilizados no conceito de perdas de transmissão na recomendação P.341-5
do ITU
31
2.2.1.2 - Perdas do sistema (símbolos: Ls ou As)
É a taxa, geralmente expressa em dB, para um rádio enlace, da potência entregue nos
terminais da antena receptora e a potência resultante nos terminais da antena receptora,
considerando-se perdas nas linhas de transmissão.
Ls pode também ser expressa por:
p
Ls = 10 ⋅ log t = Pt - Pa [dB] (2-10)
pa
Onde:
pt : potência entregue nos terminais da linha de transmissão (início da linha).
pa : potência resultante disponível os terminais da linha de transmissão (fim da linha).
L = Lb − Gt − G r [dB] (2-11)
Onde Ltc e Lrc são as perdas, expressas em dB, nos circuitos das antenas transmissora
e receptora respectivamente, excluindo as perdas associadas com a radiação das antenas. Ltc
r´
e Lrc valem 10 ⋅ log , onde r´ é a resistência de perda, e r é a resistência de radiação.
r
Lb = L + Gt + Gr [dB] (2-12)
32
Lbf = 92.5 + 20 ⋅ log(d ) + 20 ⋅ log( f ) [dB] (2-13)
[dB]
Distância [m]
Figura 2.3 – Variação da atenuação do espaço-livre com a distância em 2.4 e 5.8 GHz.
Observa-se que para uma mesma distância, em condição de espaço-livre, tem-se uma
atenuação maior em 5.8 GHz, em relação a 2.4 GHz, devido sua maior freqüência.
33
Pr = Pt + Gt + Gr − Atenuações [dBm] (2-14)
Onde:
Pr : é a potência de recepção prevista pelo link budget entregue ao rádio em dBm.
Pt : é a potência na saída do rádio em dBm.
Gt : é o ganho da antena transmissora em dBi.
Gr : é o ganho da antena receptora em dBi.
Atenuações: são todas as atenuações presentes no sistema, como perdas de propagação (não
determinísticas), perdas em conectores, cabos, guias de onda, atenuadores (determinísticas).
O projetista deverá observar qual sua margem do enlace, que em palavras, significa a
diferença entre a potência de recepção estimada pelo link budget e a sensibilidade do
equipamento estipulada pelo fabricante para cada taxa de transmissão em Mbps.
Como dito anteriormente, a margem do enlace é obtida comparando-se a potência do
sinal de recepção prevista no link budget e o limiar de recepção do rádio. Essa margem pode
ser entendida como o quão seguro está um rádio enlace do fenômeno de desvanecimento, e
quanto maior seu valor, menor a chance desse enlace tornar-se indisponível devido a
variações aleatórias do clima ou por múltiplos percursos [20].
A margem do enlace pode ser obtida a partir da equação 2-14:
Onde:
M: é a margem do enlace em dB
TH RX : é o limiar de recepção do rádio em dBm para uma dada taxa de transmissão em
Mbps.
34
2.2.3.1 – Um único obstáculo tipo gume-de-faca.
Nesse caso extremamente idealizado, todos os parâmetros são combinados em um
único parâmetro adimensional normalmente denotado por ν que pode assumir uma
variedade de formas equivalentes de acordo com os parâmetros geométricos selecionados.
2 1 1
ν = h⋅ ⋅ + (2-16)
λ d1 d 2
Onde:
J (ν ) = 6.9 + 20 ⋅ log (ν - 0.1) + 1 + ν − 0.1
2
[dB] (2-17)
As figuras 2.4 e 2.5 mostram respectivamente a condição de obstrução por gume-de-
faca quando obstáculo encontra-se acima e abaixo da linha de visada.
Figura 2.6 – Comportamento da atenuação por gume-de-faca à medida que o obstáculo penetra na primeira
zona de Fresnel.
35
2.2.3.2 – Único obstáculo arredondado (thick smooth).
A geometria de um obstáculo arredondado, de raio R, é ilustrada na figura 2.7 abaixo.
Note que as distâncias d1 e d2, e a altura h acima da linha de visada, são todas medidas
para o vértice onde os raios projetados intersectam acima do obstáculo. A perda por difração
para essa geometria pode ser calculada como:
T (m, n ) = k ⋅ m b (2-19a)
k = 8.2 + 12 ⋅ n (2-19b)
[
b = 0.73 + 0.27 ⋅ 1 − e −1.43⋅n ] (2-19c)
d1 + d 2
d1 ⋅ d 2
m = R⋅ (2-20)
π ⋅ R
1/ 3
λ
π ⋅ R
2/3
λ
n = h⋅ (2-21)
R
Onde R, d1, d2, h e λ devem estar na mesma unidade. T (m, n ) também pode ser
encontrado a partir da figura 2.8.
36
Figura 2.8 – Valor de T(m,n) em função dos valores de m e n.
Note que à medida que R tende a zero, m e T(m,n), também tendem a zero. Com isso,
a equação 2-18 reduz-se ao caso do obstáculo gume-de-faca de 2-17.
Com isso, pode-se associar o modelo de espaço-livre com os modelos de difração
quando houver obstáculo na primeira zona de Fresnel para quantificar as perdas de
propagação.
37
(
E = E 0 1 + Rc ⋅ e j∆ + (1 − Rc )F ⋅ e j∆ + ... ) [V/m] (2-22)
sinψ − (ε r − jx ) − cos 2 ψ
Rc = (2-23)
sinψ + (ε r − jx ) − cos 2 ψ
(ε r − jx ) ⋅ sin ψ − (ε r − jx ) − cos 2 ψ
Rc = (2-24)
(ε r − jx ) ⋅ sin ψ + (ε r − jx ) − cos 2 ψ
Onde:
εr: é a constante dielétrica relativa do solo.
Ψ: ângulo de incidência entre o raio refletido e a superfície
x: σ/(2 π fc ε0) onde σ é a condutividade do solo e ε0 é a constante dielétrica no
vácuo. Então, x = σ/(ωε0)=18 109σ/f.
A diferença de fase entre a onda direta e a onda refletida pode ser encontrada a partir
de uma aproximação com dois raios desconsiderando a onda de superfície. Chamando de ht e
hr as alturas das antenas de transmissão e recepção, respectivamente, a diferença de fase pode
ser expressa por:
2π 2
∆= d + (ht + hr ) − d 2 + (ht − hr )
2 2
(2-25)
λ
εr
Fazendo 1 + ε r ≅1 + , temos:
2
4π ht ⋅ hr
∆≅ (2-26)
λ d
2 ⋅ π ⋅ ht ⋅ hr
2
LTP = 20 ⋅ log(4πd ) − 20 ⋅ log(λ ) − 20 ⋅ log2 ⋅ sin [dB] (2-27)
λ ⋅d
Onde:
38
d: é a distância entre as estações em metros.
λ: comprimento de onda em metros
ht : é a altura da antena de transmissão em metros.
hr: é a altura da antena de recepção em metros.
[dB]
Distância [m]
Figura 2.10 – Comportamento da perda por terra-plana, espaço-livre e uma aproximação
do modelo de terra-plana. Onde: ht.= 36m, hr=23m e f=5.2 GHz.
Observando o gráfico da figura 2.10, note-se que a partir de uma certa distância
4
d= ⋅ ht ⋅ hr (turnover point), o comportamento da equação 2-27 pode ser aproximado pela
λ
equação 2-28 que tem um declínio de 40 dB/década, ao contrário da equação de espaço-livre
que declina 20 dB/década [24]:
Onde:
d: é a distância entre as estações em metros.
ht : é a altura da antena de transmissão em metros.
hr: é a altura da antena de recepção em metros.
39
2.2.5 – Modelo de Egli.
Egli baseou-se no modelo de terra-plana, e através de medições, adicionou um fator
de correção β que varia com freqüência [20]. Em contraste com o modelo teórico de terra-
plana, Egli percebeu um aumento da perda de percurso com a freqüência para faixas de 1 < d
< 50 km, e propôs o seguinte modelo semi-empírico para perda de propagação:
Onde:
d: é a distância entre as estações em metros.
ht : é a altura da antena de transmissão em metros.
hr: é a altura da antena de recepção em metros.
f: é a freqüência em MHz.
Nota-se pela equação 2-29 que Egli introduziu uma correção empírica dependente de
(40 MHz/fc) 2 para freqüências entre 30 MHz e 1 GHz. A equação 2-29 provê a perda de
propagação média (50%), onde, se outra estimativa diferente da média for desejada, o fator
de ajuste em dB pode ser obtido da figura 2.11.
Embora a freqüência de 5.8 GHz esteja fora da faixa de estudo do modelo de Egli, o
mesmo fora utilizado em [25] e [26] para efeito comparativo.
Na figura acima, por exemplo, se 90% é desejado, significa que se o modelo de Egli
for utilizado para um link budget, existe a probabilidade de que em 10% do tempo, a potência
de recepção fique abaixo do limiar de recepção [27].
Figura 2.11 – Fator de ajuste para diversas freqüências e probabilidades no modelo de Egli.
40
2.2.6 – Modelo de Longley-Rice.
Trata-se de um modelo bastante detalhado, que foi desenvolvido na década de 60 para
predição em terreno irregular, também conhecido como ITM (Irregular Terrain Model) e que
vem sendo refinado ao longo dos anos [20]. O modelo é baseado em dados coletados entre 40
MHz e 20 GHz em faixas de distâncias que vão de 1 a 2000 km, com altura das antenas
variando entre 0.5 e 3000 m, para polarização vertical e horizontal. O modelo leva em conta
as condições do relevo, clima, condições e curvatura do solo.
Devido ao nível de detalhamento desse modelo, ele é geralmente aplicado a partir de
auxílio computacional através de um algoritmo. Podem ser encontradas várias versões
comerciais e algumas livres de algoritmos do modelo Longley-Rice. No site do
Departamento de Comércio Americano [28] é disponibilizado um conjunto de algoritmos
para a contabilização de perdas de percurso usando o ITM. Existem também versões gratuitas
com interfaces mais amigáveis para a utilização desse modelo, como por exemplo, o software
Radio Mobile [29], disponível para Windows e o SPLAT! (Signal Propagation, Loss, And
Terrain) [30], disponível para UNIX.
O modelo possui dois modos de operação que são o ponto-a-ponto e o ponto-área. O
modo ponto-a-ponto faz uso de dados detalhados do terreno, enquanto o modo ponto-área faz
uso de informações gerais das características do relevo [31].
A figura 2.12 ilustra alguns dos parâmetros necessários para que o algoritmo do ITM
calcule as perdas quando opera no modo ponto-a-ponto, ressaltando a complexidade desse
modelo.
Figura 2.12 – Alguns parâmetros utilizados pelo ITM para computar perdas em enlaces ponto-a-ponto.
Onde:
41
utilizado o software Radio Mobile tendo como base de dados de relevo arquivos SRTM
(Shuttle Radar Terrain Mission) disponível em [32].
Freqüência máxima e mínima, onde a freqüência utilizada pelo modelo será a média
entre as duas no caso do Radio Mobile.
b) Polarization:
1 1
N s = 179.3 ⋅ ln 1 − [N-Units] (2-30)
0.046665 K
Vale observar que o ITM não trabalha com valores de K menores que 1, onde K=1.33
equivale a 301 N-Units. A faixa de operação em relação a K é de 1.232 até 1.767, que
equivale a uma faixa de 250 até 400 N-Units. Nota-se que Kmínimo não pode ser utilizado
nesse modelo. Um mapa com o índice de refração de várias regiões pode ser encontrado em
[11].
42
d) Ground conductivity e relative ground permittivity:
Permissividade
Tipo do solo Condutividade
relativa
Solo médio 15 0.005
Solo pobre 4 0.001
Solo fértil 25 0.020
Água 81 0.010
Água do mar 81 5.000
e) Climate:
f) Additional loss:
Porcentagem de perda adicional que pode ser somada à perda computada pelo
algoritmo.
43
g.1) Time variability:
-76 dBm
90% do
tempo
-76 dBm
-80 dBm
95% do
tempo
44
Ou seja, aumentar-se o valor de variabilidade, resultará em um sinal menor recebido,
pois o programa computa atenuações maiores, mas com uma probabilidade maior desse valor
está disponível em um dado período.
LPU 50 = 69.55 + 26.16 log( f ) − 13.82 log(hte ) − a(hre ) + log(d ) ⋅ [44.9 − 6.55 log(hte )] [dB] (2-
31)
45
m, d é a separação entre as estações em km, e a (hre ) é o fator de correção para altura efetiva
da antena receptora, que é função do tamanho da área de cobertura. Para uma cidade de
pequena a média, o fator de correção é dado por:
2
f
LPS 50 = LPU 50 − 2 ⋅ log − 5.4 [dB] (2-34)
28
2.3 – Conclusões.
Nesse capítulo foram apresentados alguns dos principais modelos de propagação
clássicos. O objetivo de um modelo de propagação é freqüentemente determinar a
probabilidade de performance satisfatória de um sistema de comunicação ou outro sistema
que é diretamente dependente da propagação de ondas eletromagnéticas.
A forma mais eficaz de se projetar um rádio enlace é a partir de um desses modelos.
A prática mostrará qual modelo se aplica melhor para cada tipo de aplicação. No próximo
capítulo, o rádio enlace será projetado, tendo como ponto de partida o site survey.
2.4 - Referências
[12] G. A. Hufford, A. G. Longley, and W. A. Kissick, A Guide to the Use of the ITS
Irregular Terrain Model in the Area Prediction Mode, National Telecomm. and Info.
Admin. report 82-100, USA, abril de 1982.
46
[14] Free Space Loss – disponível em http://en.wikipedia.org/wiki/Free-space_loss, acessado
dia 2 de maio.
[15] C. A. Balanis, Antenna Theory: Analysis and Design, Harper & Row Publishers, New
York, NY, 1982.
[16] ITU – T. RECOMMENDATION ITU P.341-5. The concept of transmission loss for
radio links, ITU – T. Genebra, Suíça. 2004.
[18] LOPES, Rui - Modelos e Planejamento para Redes Locais de Acesso Via Rádio,
Instituto Superior de Engenharia de Lisboa, Lisboa, 2004.
[28] HUFFORD, George; MCKENNA, Paul, Irregular Terrain Model (ITM) (Longley-Rice
Algorithms, Department of Commerce NTIA/ITS
Institute for Telecommunication Sciences.
[29] Radio Mobile Deluxe, site oficial disponível em
http://www.cplus.org/rmw/english1.html.
[30] SPLAT! (RF Signal Propagation, Loss And Terrain Analysis) - site oficial disponível
em http://www.qsl.net/kd2bd/splat.html.
47
[31] PARSONS J. D., The Mobile Radio Propagation Channel. New York: Wiley, 1992.
[34] Rappaport T. S., Wireless Communications: Principles and Practice, Upper Saddle
River, NJ: Prentice Hall PTR, 1999.
48
PARAMETRIZAÇÃO DO ENLACE. 3
3.1 – Introdução.
Depois de vistos os principais conceitos físicos inerentes ao desenho de um rádio
enlace, faz-se necessário seguir uma seqüência lógica no desenvolvimento do projeto até sua
implementação. Nesse projeto, será utilizado o fluxograma mostrado na figura 3.1.
49
3.2 – Site survey.
De posse de um GPS e através do software Radio Mobile, foi possível situar o enlace
geograficamente a partir do MED (Modelo de Elevação Digital) SRTM [32]. A figura 3.2
ilustra a região em questão, mostrando uma superposição de fotos de satélite do GoogleMap
com a altimetria renderizada fornecida pelos dados SRTM.
Parnamirim
6,4 km
50
3.3 – Dimensionamento das torres e critérios de visibilidade.
Do fluxograma da figura 3.1, faz-se necessário a verificação de uma estrutura pré-
existente nas estações envolvidas. A RNNet possui uma torre auto-portante de 41 m, como
mostra a figura 3.3.
Para atender os critérios de visibilidade, e com isso projetar a altura das antenas, faz-
se necessário conhecer o perfil topográfico entre as estações envolvidas. Isso pode ser feito a
partir de cartas topográficas, ou de modelos de elevação digital. Com isso, deve-se aplicar os
fatores de correção Kmédio e Kmínimo, de acordo com a recomendação ITU-R 530-9, como
mostrado no item 1.9.3.
Depois de realizada a correção do perfil através da aplicação do fator K, determina-se
a altura das torres baseando-se no percentual de liberação do raio da primeira zona de Fresnel
como mostra a tabela 3.2.
A escolha de Kmínimo é motivo de discórdia entre projetistas de enlaces, onde muitos
ignoram a recomendação ITU-R 530-9 e adotam Kmínimo igual a 0.67 independente da
distância do enlace. Ao fazer isso, o projetista pode estar superdimensionando o enlace,
comprometendo a relação custo-benefício.
A verdade é que para distâncias de até aproximadamente 15 a 20 km, os fatores de
correção K pouco modificarão o perfil do relevo, como será mostrado mais adiante.
51
Tabela 3.2 – Liberação do raio da primeira zona de Fresnel em função da freqüência.
RNNet Randon
120
100
80
60
40
20
0
0 1 2 3 4 5 6
altitude real K4/3 Kmin visada 100%fresnel
Nota-se pela figura que para enlaces curtos, o fator de correção K pouco interfere no
perfil. Nesse caso, foi utilizado Kmédio igual a 1.33 e Kmínimo igual a 0.67.
Depois de definidas as alturas das torres, a tabela 3.1 pode ser atualizada.
52
3.4 – Definição dos equipamentos.
53
Figura 3.6 – HG2358D da Hyperlink.
Além dos equipamentos de transmissão, outros acessórios como pig tails e caixas
herméticas foram utilizados como mostra a figura 3.8.
54
Figura 3.8 – Pig tail e caixa hermética utilizados na conexão e acondicionamento dos rádios.
Pr = Pt + Gt + Gr − Atenuações
Logo,
Pr = 13 + 24 + 24 − 125
Pr = −64 dBm
Com isso, estima-se que a estação Randon receba da estação RNNet -64 dBm,
utilizando a menor potência de transmissão disponível no rádio juntamente com o modelo de
espaço-livre. Para calcular a margem do enlace, é necessário observar os valores de
sensibilidade nos quais o rádio opera. De acordo com a figura 3.5 que mostra as
especificações do rádio, temos uma faixa de sensibilidade entre -73 e -91 dBm para as taxas
de transmissão de 1 e 108 Mbps respectivamente. A sensibilidade é um valor no qual se
excedido, deteriora a taxa de erro de bit (TEB), fazendo com que a taxa de transmissão
diminua. Como a Randon contratou apenas 512 kbps do backbone da RNNet, no pior caso (1
Mbps a -91 dBm), o enlace será capaz de fornecer a taxa de transmissão contratada.
55
Considerando-se uma sensibilidade intermediária de -80 dBm ( de 34 a 54 Mbps),
tem-se uma margem para desvanecimentos computada a partir da equação 2-15:
M = Pt + Gt + G r − Atenuações − TH RX
M = 13 + 24 + 24 − 128 + 80
M = 13 dB
3.6 – Implementação.
Para o alinhamento das antenas, o rádio oferece uma ferramenta baseada em RSSi
(Receive Signal Strength Identifier). Essa ferramenta é usada para otimizar o alinhamento das
antenas durante a configuração inicial do enlace.
O padrão IEE 802.11 define o RSSi como mecanismo pelo qual a energia de RF é
medida na circuitaria em um NIC wireless. O RSSi é um valor analógico inteiro arbitrário
que é digitalizado e situa-se em uma faixa de 0 a 255 (1 byte) [37]. É destinado para uso do
adaptador de rede e pelo device driver. Não necessariamente os fabricantes de equipamentos
56
802.11 especificam seus RSSis dentro dessa faixa, de forma que cada um deles especifica seu
valor RSSI_Max. Por exemplo, a Cisco escolheu medir 101 valores de RF separados, de
forma que seu RSSI_Max é 100. A Atheros usa um RSSI_Max de 60.
No rádio AI108, o RSSi deve ser interpretado como sendo a força do sinal recebido,
medido em dB, acima da potência do ruído (noise floor), como mostrado na figura 3.10.
Nota-se por essa figura que a diferença entre o RSSi e o nível de ruído, fornece a relação
sinal/ruído (SNR). A figura 3.11 ilustra uma outra tela de configuração do rádio AI108 com
mais detalhes sobre o segmento Ethernet ao qual se encontra conectado e sobre a potência do
ruído na estação Randon.
Figura 3.11 – Tela das configurações atuais do rádio AI108 na estação Randon.
57
Do analisado até agora, vale observar que se o nível de ruído for muito baixo o
sistema estará mais limitado pela sensibilidade do receptor do que pela relação sinal/ruído. Se
o nível de ruído for muito elevado, a SNR será o fator com mais influência na taxa de
transmissão. Nesse caso em particular, percebe-se pela figura acima que o nível de potência
do ruído vale -89 dBm e a sensibilidade escolhida foi de -80 dBm, sendo essa última
determinante. Com isso, a margem real para a sensibilidade é de 5 dB.
A figura 3.12 ilustra o valor RSSi, medido no dia 02/07/2007 em um curto intervalo
de tempo pela manhã, no rádio da estação Randon. A figura mostra tanto barras verdes como
azuis. As barras azuis ilustram a potência recebida para pacotes individuais, e podem variar
consideravelmente. As barras verdes representam o valor médio de potência, em dB, acima
do piso de ruído [38].
Nota-se pela figura, que a potência recebida encontra-se em torno de -75 dBm, ou
seja, 14 dB acima do piso de ruído que vale -89.
Figura 3.12 – Valores RSSi instantâneos (azul) e médios (verde) observados na estação Randon.
Com isso, obteve-se resultados satisfatórios previstos pelo link budget. Embora o
modelo de espaço-livre, utilizado inicialmente para projeto, tenha sido relaxado em sua
previsão inicial, o enlace foi fechado utilizando-se a menor potência de transmissão possível
em ambas as estações, que vale 13 e com possibilidade de ser ajustada até 21 dBm.
58
A potência de recepção estimada usando o modelo de espaço-livre foi de -64 dBm, ou
seja, 11 dB acima do valor medido pelo RSSi.
A tabela 3.6 mostra uma comparação dos modelos citados no capítulo 2 para o enlace
em estudo.
Valor
Valor
estimado Erro Erro
medido
Modelo pelo link absoluto relativo
RSSi
budget (dB) (%)
(dBm)
(dBm)
Espaço-livre -75 -64 11 -17.18
Terra-plana -75 -58.1 16.9 -29.08
Egli (50) -75 -77.3 -2.3 2.97
Longley-Rice -75 -62 13 -20.96
(50% spot mode)
Longley-Rice -75 -75 0 0
(85% spot mode)
Hata - Cidade de -75 -41.44 33.56 -80.98
pequenas ou
médias dimensões
Hata - Cidade de -75 -100.52 -25.52 25.38
grandes
dimensões
Hata – Área -75 -98.74 -23.74 24.04
suburbana
Hata - Área rural. -75 -75.52 -0.52 -0.68
Embora o esforço desse projeto seja somente fazer com que a potência recebida
supere o ruído e a sensibilidade, e não uma comparação entre os modelos, a tabela acima
apenas sugere uma aproximação inicial para o uso desses modelos em aplicações reais.
Os dados da tabela 3.6 contém erros primeiramente, devido ao fato do próprio RSSi
ser um valor relativo e não absoluto. Para resultados mais precisos, as potências de
transmissão precisariam ser cuidadosamente mensuradas. O ganho e a impedância das
antenas são questionáveis, podendo ocorrer perda de retorno e erro no cálculo do link budget.
Um melhor alinhamento das antenas, com ajuda de equipamentos mais precisos, também
deveria ser levado em conta. A utilização de outros modelos mais específicos para a faixa em
questão também refletiria uma previsão mais próxima da realidade.
59
3.8 - Referências
[35] AIRAYIA, Especificações do rádio AI108, disponível em
https://secure.airaya.com/proddetail.asp?prod=AI108-4958-N, acessado em 18 de maio
de 2007
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