Quero começar por agradecer o convite para intervir no Vosso Congresso. Propondo-me
como tema “A Internacionalização pela Via da Inovação e do Conhecimento”, deduzo
que face a uma audiência de engenheiros não se pretende que venha fazer o discurso
habitual de que “é necessário inovar”, mas que antes se procura que das minhas funções
possa retirar evidência de que essa estratégia de internacionalização assente na
inovação e no conhecimento é de facto possível em Portugal. São muitos os casos que o
provam, tantos que deixaram de poder ser tratados como excepção, como as três dezenas
de intervenções de empresas previstas para os três dias deste Congresso decerto o
provarão à saciedade. Procurei por isso coligir alguns dados estatísticos que permitam
uma abordagem mais global e sistemática.
EU Countries
Portugal
Finland
Greece (1995-1999)
Denmark (1995-1999)
Austria (1993-1998)
Spain
Sweden
Ireland
Belgium (1995-2000)
Norway
EU
Germany
Netherlands (1996-2001)
Italy
France (1997-2001)
0 2 4 6 8 10 12 14 16 18 20
Annual growth rate, 1995-2001
OECD Science, Technology and Industry Scoreboard 2003 - Towards a knowledge-based economy
1,2
Balança Comercial de Mercadorias
1,0
Exportação / Importação
Balança de Pagamentos
Tecnológica
0,8
0,6
0,4
0,2
0,0
1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007
Fonte: Banco de Portugal (Setembro de 2007) Ano
Nota: 2007 - valores até Julho
45
40 60%
35
Nº de spin-offs formados
30
25
20
15
10
0
1985 1986 1987 1988 1989 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006
Fonte: OCES e AdI Ano de fundação
Novembro de 2007
Dos dados do gráfico ressalta que este movimento se intensificou nos últimos anos. Estas
empresas são em geral subestimadas, como excepções sem significado económico. Não é
verdade. Calculando só para aquelas de que temos informação económica mais recente
constatamos que o valor das vendas destas empresas, que “saltaram” do sistema C&T,
ultrapassam os 500 milhões de euros.
O quadro seguinte permite evidenciar o particular dinamismo destas Empresas de Base
Tecnológica (EBT) face às outras empresas apoiadas pela AdI (e que têm também um
dinamismo acima da média da nossa economia).
Spin-offs Outras
Txmca
Vendas 22 5
Exportacao 17 5
Trabalhadores 10 -1
Licenciados 10 6
Rácio Lic ano +
65 18
recente
Tendo 65% dos seus trabalhadores com formação superior estas EBT apresentam taxas
de crescimento anuais excepcionais, quer das vendas ou das exportações quer de criação
de emprego.
Intensidade
% Spin-offs
Tecnológica
Alta 19%
Média-alta 1%
ia
Média-baixa 2%
tr
us
I nd
Baixa 2%
KIS Financeiros 0%
KIS HT 26%
s
ço
Less KIS 3%
Outros Out Act 4%
Total 9%
Fonte: Empresas apoiadas pela AdI
Vários sinais sugerem que estas tendências de mudança se irão a acelerar nos
próximos anos.
Este surto de Spin-offs, permite antever a continuação da mudança de conteúdo
tecnológico da economia portuguesa.
O investimento na I&D empresarial está a intensificar a taxa, já de si elevada, do seu
crescimento. Isso ressalta por exemplo da evolução dos pedidos de apoio no âmbito da
medida de I&D em co-promoção do QREN. Na última “chamada”, que acabamos agora
de avaliar, os pedidos de apoio ultrapassam largamente as expectativas que estavam
implícitas nos plafonds anunciados no aviso do concurso: cinco vezes mais do que o
financiamento previsto!
Fonte: QPMT
1995 26.130
Aumento de 198%
2000 44.900
2005 77.907
Fonte: QPMT
Para além deste valor médio interessa reter o aumento do número de empresas com
pelo menos um bacharel, que aumentou 200% em dez anos. Em 1995 só 14% tinham
pelo menos um bacharel ou licenciados. Dez anos depois esta percentagem passou para
os 23%. O que constitui uma mudança chave na relação das empresas com as
universidades porque estes quadros são o “elo” fundamental para que a comunicação se
estabeleça e seja profícua.
16.000
60%
14.000
50%
12.000
10.000 40%
Total Doutoramentos
8.000 % Doutoramentos no Estrangeiro
30%
6.000
20%
4.000
10%
2.000
0 0%
80 9
9
90
91
92
93
94
95
96
97
98
99
00
01
02
03
04
05
06
07
19 1 97
98
19
19
19
19
19
19
19
19
19
19
20
20
20
20
20
20
20
20
-1
-
70
19
Networking internacional
I&D em cooperação internacional
300 60,0
250 50,0
200 40,0
Publicações / mil investigadores
(ETI)
150 30,0
Publicações em co-autoria
internacional (%)
100 20,0
50 10,0
0 0,0
1982 1984 1986 1988 1990 1992 1995 1997 1999 2001 2003 2005
2 15,1%
0,0% 5,7%
Anos
5 Nacional Ibérico Europeu Mundial
Anos
Fonte: AdI
Networking internacional
Das equipas empreendedoras de projectos NEOTEC
18,4% 38,8%
34,7%
8,2%
Experiência TRUE
Empresarial
FALSE
FALSE TRUE
Experiência Académica
Fonte: AdI
26,5%
Ambiente
Químicas e
Construção Civil
Consumo Privado
Energia e
Telecomunicações
Outros Serviços
Serviços às
Metalomecânica
Software e
Farmacêutica
Mar, Agricultura e
Instrumentação e
Plásticos
Empresas
Metalurgica e
Agro-alimentar
Minerais não
metálicos e
Saúde e
Electrónica,
Fonte: AdI
Isto é, os projectos de I&D empresarial e a sua valorização por novas EBT são
protagonizadas principalmente por empresas produtoras de “meios de produção”. Este
facto tem um importante alcance estratégico porque tem vindo a minorar um dos pontos
fracos do nosso tecido económico tradicional. Portugal era especializado em bens de
consumo cuja tecnologia não dominava. Embora sejam uma minoria, as empresas de
“meios de produção” - pela própria posição que ocupam nas fileiras de produção - são
difusoras dos resultados da inovação tecnológica sob a forma dos produtos e serviços
que vendem para as empresas suas clientes, que naturalmente constituem um universo
bem mais alargado, nomeadamente nos sectores mais tradicionais.
Mas esta característica não é só dos spin-off. As sessões de apresentação de resultados de
projectos apoiados pela AdI, realizados por exemplo na última semana, dão-nos mais
exemplos desta característica dos projectos de I&D. Todos estes projectos são de “meios
de produção” para um vasto leque de sectores. Aplicação da marcação lazer a vários
materiais dos metais às indústrias da cortiça. Inovações nas tecnologias de moldes
aplicáveis ao sector automóvel e a outros sectores utilizadores de peças de plástico.
Aplicações do processamento computacional da voz a sectores tão diversos como
indústrias transformadoras, transportes, médico e saúde, TIE e telecomunicações, vídeo,
TV, bancário, para-bancário, seguros e investigação criminal.
Esta tendência de I&D vem aliás na linha, reforçando-a, da evolução recente da
especialização da nossa economia. Usando o indicador do grau de cobertura das
importações pelas exportações (de bens industriais) verificamos uma clara inversão da
situação da especialização tradicional. Por exemplo entre 1990 e 2004 este indicador
diminui no comércio de bens de consumo de 182% para 81% enquanto sobe nos bens de
equipamento de 20% para os 43%.
Este eixo de inovação C&T das empresas de meios de produção permite uma dupla
articulação com dois outros eixos de melhoria do nosso tecido económico: com a
modernização dos sectores tradicionais e na atracção de novos investimentos.