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A crise do macho – Veja

Edição 1.644 -12/4/2000

Psiquiatra diz que os homens estão em dúvida sobre o papel masculino e não sabem mais como
lidar com as mulheres

Juliana De Mari

Ricardo Benichio
"O homem é o sexo frágil. Está obcecado pelo trabalho e assustado com a obrigação de dar
prazer à mulher."

O psiquiatra paulistano Luiz Cuschnir especializou-se num autêntico vespeiro: a guerra dos sexos.
Depois de vinte anos de trabalho, sua conclusão é que os homens se tornaram o sexo frágil. São
eles que estão à beira de um ataque de nervos, atordoados com a revoada feminista, infelizes e
vulneráveis. Nem no sexo estão à vontade, pois se sentem na obrigação de dar prioridade ao
prazer da parceira. Cuschnir já trabalhou no Men Center, um serviço médico em Washington,
onde conheceu experiências de atendimento específico para homens, e hoje coordena o Gender
Group do Instituto de Psiquiatria da Universidade de São Paulo. Foi ele quem trouxe para o Brasil
o conceito de "masculismo", movimento inspirado no feminismo e que pretende vasculhar a vida
emocional dos homens para ajudá-los a enfrentar a crise de identidade da vida moderna. Aos 50
anos, autor de dois livros sobre o assunto, Homem, um Pedaço Adolescente e Masculino, Como
Ele Se Vê, Cuschnir falou a VEJA.

Veja — O homem virou o sexo frágil?


Cuschnir — Neste momento, o homem é o sexo frágil, sim. Ele está assustado, obcecado pela
realização profissional e pela obrigação de garantir o prazer feminino. A mulher tem muito mais
jogo de cintura em suas relações profissionais, sociais e familiares do que o homem, apesar de
historicamente ter sido estimulada a agir de maneira mais delicada e a limitar seus domínios ao
lar. O homem não consegue lidar com a flutuação de emoções que existe nas relações humanas
em geral. Ele não sabe o que fazer com suas emoções.

Veja — Os homens já não sabem comportar-se como homens?


Cuschnir — Os homens de hoje estão falidos em seu papel masculino. Eles sentem-se infelizes,
nervosos e vulneráveis. Uma boa parte deles sofre de séria insegurança financeira, o que afeta
diretamente sua condição de macho. Isso porque o trabalho é o pano de fundo da identidade
masculina. O homem imagina que quanto mais dinheiro, quanto mais prestígio, mais macho será
diante da sociedade. Por isso, busca como nunca a realização profissional. Ao mesmo tempo,
demonstra uma ânsia incomensurável por atingir a tranqüilidade emocional. Do ponto de vista
afetivo, ele não consegue se realizar e menos ainda se dedicar à mulher e à vida familiar como
gostaria. Isso ocorre, primeiro, porque não foi ensinado a fazer isso. Segundo, porque está muito
insatisfeito com sua relação com as mulheres. No fundo, segue acreditando que elas o escolhem
por sua posição profissional.

Veja — Por que ainda pensam assim num momento em que as mulheres ocupam mais espaços
profissionais e conquistam tanta autonomia?
Cuschnir — O homem não consegue delegar completamente à mulher o papel de provedor da
casa. Esse é um dos assuntos em que vive em eterno conflito. Não expõe isso de forma clara
porque teme ser chamado de explorador ou incapaz. Não é só um problema masculino. Na ótica
feminina, o insucesso profissional não deixará de ser visto como uma espécie de fracasso nos
deveres da masculinidade. Uma mulher que vive com um homem de nível profissional inferior ao
dela tende a esperar que ele tenha maior participação nos compromissos financeiros do casal. É
claro que muitas mulheres estão sozinhas, são chefes de família, viram-se muito bem e não
dependem de um homem. É um paradoxo. Se está sozinha, a mulher assume com tranqüilidade o
ônus financeiro. Mas, se tem uma relação afetiva estabelecida, tende a se sentir constrangida
quando assume o papel de provedor da casa.

Veja — Foram as mudanças no comportamento feminino que provocaram a crise no homem?


Cuschnir — Elas se sentem um pouco responsáveis, mas não foram elas. A culpada é a sociedade,
que estabelece papéis para cada um dos sexos. Ainda se espera que o homem seja forte, bem-
sucedido, que esconda seus medos. Na verdade, a crise do homem vem de uma profunda
transformação no papel masculino diante do novo papel feminino. O homem sente-se
absolutamente desconfortável com tanta transformação em sua vida familiar e afetiva. Numa
família classe média, ele ainda não aceita tomar conta da cozinha, limpar o banheiro e organizar a
compra do supermercado. A área em que o homem está evoluindo com mais sucesso é a relação
com a paternidade.

Veja — Como isso ocorre?


Cuschnir — Antes era importante ser pai para conquistar o respeito da sociedade. Era quase uma
obrigação para validar seu papel de macho. Agora, ele começou a perceber que se pode ganhar
bastante na relação com os filhos. Uma vida afetiva em ordem é excelente vitamina para a
identidade do homem. Como as coisas estão malparadas com a mulher, ele está começando a
melhorar sua vida pela relação com os filhos. Eles dão ao homem a estabilidade emocional que
tanto procura. O pai hoje retribui com muito mais afetividade do que no passado. Não são mais só
as mulheres que estão educando as crianças.

Veja — Como isso tudo se reflete na vida sexual do homem?


Cuschnir — O homem hoje está obcecado pelo prazer feminino porque é daí que virá sua
diplomação de masculinidade. Por incrível que pareça, tem muito homem que não sabe a
diferença entre ejaculação e orgasmo, que não conhece o próprio prazer. A liberação sexual
trouxe junto a acusação de que o homem não dava a mínima para a mulher. Veio a cobrança pelo
homem sensível na cama. Isso acabou virando uma ditadura ao contrário: a do prazer feminino. O
sexo é, portanto, o distintivo que confirma a condição de macho, e é a mulher quem outorga a ele
esse diploma. Na hora em que um homem entrega esse direito à mulher, cria-se uma situação
anômala. As mulheres não entendem quase nada de homem. Muitas nem sequer sabem que
região do pênis lhe dá mais excitação. Sexo para esse homem em crise pode estar virando uma
coisa mecânica. Quase como se ele fosse ao banheiro uma vez por dia. Ele passa a "cumprir" o
dever de fazer sexo.

Veja — O senhor defende uma espécie de feminismo ao contrário, o masculismo. O que vem a ser
isso?
Cuschnir — O objetivo principal do masculismo é tentar reverter o mito de que o homem não
precisa de ajuda, não precisa de tratamento, não precisa de proteção. Não é uma reação ao
feminismo. É uma complementação do movimento das mulheres. O masculismo, como é próprio
dos homens, está crescendo na surdina. O feminismo foi uma guerra porque precisava atuar com
firmeza para conquistar o espaço devido às mulheres e para seu reconhecimento como ser
humano por inteiro. O masculismo não tem esse afã. Ele se propõe a fazer pesquisas sobre o
entendimento da vida emocional masculina, a atender o homem do ponto de vista psicológico e
físico. Vai tentar, no futuro, influir na legislação, para criar programas de proteção ao cidadão do
gênero masculino. Já existem braços fortes do movimento em várias partes do mundo. Os homens
que lutam pela guarda dos filhos no Canadá, por exemplo.

Veja — Como os brasileiros reagem à idéia de deixar para trás o mito do super-homem?
Cuschnir — Quando lancei o primeiro grupo de estudo de gênero de homens no Brasil, no início
dos anos 80, a tendência geral era reagir com muito preconceito. Diziam que o homem não
precisa de ajuda ou consideravam a proposta típica de um grupo de gays. Isso começou a mudar
na década de 90, quando outros pesquisadores perceberam a crise masculina e a importância de
oferecer ao homem ferramentas para que aprendesse a lidar com a vida emocional de maneira
mais tranqüila. Os homens desejam ardentemente mais qualidade de vida e sabem que isso
implica abandonar os velhos mitos da masculinidade.

Veja — Por que é tão difícil para um homem falar sobre suas angústias?
Cuschnir — O homem não fala de suas angústias porque está se preservando da possibilidade de
ser criticado. Ele é educado para não passar vergonha, para nunca ser chamado de tolo. Obriga-
se o menino a enfrentar precocemente situações para as quais ele pode não estar preparado,
mas tem de ir em frente porque é homem. Não pode ter medo dos colegas, não pode voltar
chorando para casa, porque corre o risco de demonstrar excessiva sensibilidade. E sensibilidade,
para um homem, é sinônimo de fragilidade. Ele entra na vida adulta com as emoções resfriadas.

Veja — As mulheres adoram discutir a relação, coisa que os homens odeiam. Vale a pena insistir
nisso?
Cuschnir — É um perigo. Em princípio, um homem evita entrar numa discussão se não tiver
domínio do assunto em pauta. Não pode discutir a relação porque se trata de um tema para o
qual não está preparado. O homem sabe muito pouco sobre as próprias emoções, embora tenha
sentimentos intensos. Outra razão para ele evitar conversas sobre assuntos emocionais decorre
do medo de expor as próprias fraquezas. O que teme, acima de tudo, é que a mulher se aproveite
das confidências para tratá-lo como um fraco.

Veja — O que as mulheres devem fazer?


Cuschnir — A relação com o homem é muito cheia de dedos, porque ele está muito vulnerável. A
mulher deve agir como se estivesse fazendo uma pesquisa numa múmia. Se fizer qualquer
movimento brusco, a múmia vira pó. Primeiro, ela tem de mobilizar o afeto dele, com contato
físico, não necessariamente numa relação sexual. Ela vai chegar lá pelo feminino, não pelo
racional ou pelo assertivo. Não dá certo tentar dialogar na língua dele. Se ela o constrange a falar,
ele dirá um monte de mentiras só para acabar logo com a conversa que julga desagradável.
Quando se sentem acuados, os homens são os maiores mentirosos do mundo.

Veja — Que tipo de mulher os homens consideram confiável?


Cuschnir — É aquela que permite que ele exponha seus sentimentos sem depois vir com
cobranças. Se ela usar as confidências contra ele, danou-se. Por outro lado, o homem é um
conquistador nato e valoriza a mulher que o obriga a lutar por ela. Gosta de desafios. Aquela que
o aceita de qualquer jeito fica como última opção.

Veja — Esse homem em transformação entende o universo feminino?


Cuschnir — A grande descoberta que fiz depois de tantos anos de estudo é que o homem entende
de mulher muito mais do que a mulher entende de homem. Ele sabe que elas estão esperando
um sujeito bem-sucedido, potente sexualmente e que possa oferecer-lhes segurança em todas as
áreas da vida. Por outro lado, elas também querem um homem sensível. Os homens entendem as
mulheres. Se não correspondem é porque não querem. É porque não confiam nas mulheres.

Veja — A chegada do Viagra ajudou de alguma forma?


Cuschnir — Nove em cada dez casos de impotência decorrem de problemas emocionais. Num
caso de crise conjugal, o Viagra pode funcionar num primeiro momento. Sozinho, contudo, não
resolve problemas de relacionamento.

Veja — O homem tende a trair a mulher quando os problemas começam a se agravar?


Cuschnir — O relacionamento extraconjugal só atrapalha. O novo homem está começando a
perceber que, se não cuidar da vida afetiva, conjugal e familiar, o casamento acaba mesmo. Não
existe mais aquela história de ter duas, três, dez mulheres e continuar mantendo as aparências
no casamento. A mulher hoje dispensa o homem com facilidade. Ela prefere viver sozinha a
suportar a infidelidade. O risco que o marido corre não é ser trocado por outro homem, mas por
uma vida melhor. Acabou a era da supremacia masculina.

Veja — A separação assusta os homens?


Cuschnir — Sim. Separação e desemprego, nesta ordem, são os grandes cataclismos na vida de
um homem. O desemprego significa que ele fracassou no papel de provedor. De forma similar, a
separação é entendida como a incapacidade de manter uma família. O homem pode até partir
para outra relação mais rapidamente que a mulher, mas é por pura incompetência para se
manter sozinho. Com a mulher não é assim. Não é por falta de candidato que tantas permanecem
sozinhas. É porque estão bem resolvidas emocionalmente em outros aspectos da vida. Afinal, é
ela quem fica com os filhos e a estrutura familiar.

Veja — Nesse sentido, os homens dependem das mulheres?


Cuschnir — Todo homem tem grande dependência emocional da mulher. Maior do que a dela em
relação a ele. A diferença é que ela expressa seus sentimentos alto e bom som. A mulher é vital
para que o homem possa manter a estabilidade psicológica de que precisa para resolver seus
conflitos internos.

Veja — Os homens eram mais felizes antigamente?


Cuschnir — No passado, os homens não tinham noção clara da própria insatisfação. Em
decorrência disso, morriam mais cedo e passavam pela vida muito deprimidos, sem procurar
ajuda médica. Hoje, eles estão mais conscientes do peso que representa o papel masculino como
provedor e amante. Aprenderam a reclamar e já não escondem suas angústias como no passado.
Não há como negar, contudo, que estão mais tristes.

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