Pessoalmente não consigo aceitar a indiferença nem conter a indignação com certas
atitudes prepóteras do dirigismo recém-chegado. Avisada como se pretende,
compreenderá por si, a razão que me levou a dirigir-lhe estas linhas. Em forma de
Carta Aberta. Permiti-me iniciá-la na convicção de que as palavras do Tolentino
possam dar o mote e o enquadramento em que me dirijo a si.
Tenho para mim que a forma de me dirigir aos dirigentes do Xadrez nacional, com
conhecimento a toda a comunidade xadrezista através de uma Carta Aberta vai
começar a ficar com os dias contados. Vai ganhar o tédio, a indiferença e a
resignação, mas, independentemente de ficar tranquilo com a minha consciência
pessoal, sinto que prestei um dever à consciência social a que me dirijo e, isso, por
agora, basta-me.
Poderia começar por uma qualquer forma, que seria legível e legítima, mas preferi
iniciar por dois episódios sintomáticos quanto elucidativos de uma forma de estar no
dirigismo português.
Primeiro. No passado dia 5/7, em pleno encontro das meias-finais da Taça de Portugal
entre as equipas do GC Odivelas – GD Diana, enquanto o ex-Vice-Presidente da AX
Lisboa Paulo Dias me estendeu a mão, a Presidente Maria Armanda, quando a
cumprimentei desviou o olhar e abandonou de seguida a sala de jogo sem me dirigir a
palavra.
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Em função do que tenho escrito no blogue Ala de Rei, é bem possível que a Sra. Maria
não aprecie a minha companhia e as minhas saudações.
A própria Ana ficou estupefacta com tal atitude, desconhecendo o que teria passado
pela cabeça da Sra. Maria, para não lhe dirigir a palavra. Já não bastava não a ter
felicitado pelo seu feito desportivo, agora ignora-a.
Não se conhecem as razões que terão levado a Sra. Maria Armanda Plácido, que é
uma jogadora de xadrez e uma dirigente associativa, a agir daquela forma. A
senhora, concentra em si mesma, os cargos de Presidente da Direcção da Associação
de Xadrez de Lisboa e Vice-Presidente da Direcção da Federação Portuguesa de
Xadrez. Não é, por isso, nem uma pessoa nem uma dirigente qualquer, acumula dois
cargos de elevada responsabilidade na modalidade. Por isso, em qualquer posição
em que se coloque, evidencia-se sempre, a sua qualidade de dirigente que presumia
uma impoluta conduta social.
Esperava-se que o seu dever de urbanidade, exigível a qualquer cidadão para a sua
conduta em sociedade, fosse exemplar, sobretudo, quando ocupa cargos no
associativismo desportivo, mas parece, que nem todos se regem pelos mesmos
códigos de conduta.
É tudo isto que se espera de um jogador de xadrez bem formado e cumpridor dos
estatutos da sua federação que lhe concedeu uma licença desportiva para praticar a
modalidade e, por maioria de razão, quando ele é um dirigente nacional.
E, quando esse cidadão que é jogador, que é dirigente distrital, que é dirigente
nacional, que é membro de uma selecção nacional e que é capitão de uma
selecção nacional, o que se esperaria? Redobrados cuidados, lisura de
comportamentos e presciência.
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selecção nacional olímpica feminina em que foi nomeada pessoalmente pelo
Presidente da FP Xadrez.
Ora, senhora Maria Armanda Plácido, que garantias tem o País, que delegou
competência e funções na FP Xadrez e que a designou a si como capitã, de que a
Sra. vai ser objectiva, imparcial e justa, aplicando com isenção o critério que
estabelece que
«(…)
As jogadoras serão ordenadas, sendo a ordem de selecção a da
ordenação obtida. Tal não implicará contudo que tenha de ter ser essa a
ordem dos tabuleiros da equipa nacional, ficando tal ordem de tabuleiros
ao critério da capitã da equipa.
(…)»
em que a Sra. é parte interessada? Quem acredita que vai ser justa e equidistante dos
seus interesses pessoais? Quem acredita que não vai utilizar o seu poder prejudicando
uma qualquer jogadora da selecção olímpica – e, recorde-se, que foram todas as 4 –
que subscreveu um documento a pedir a sua substituição?
A Sra. Maria, nestas condições não dá quaisquer garantias. Mais, temo que se não for
impedida, possa ter alguma conduta que possa facilmente ser interpretada como
“abuso de poder”, porque tem os motivos, tem as condições e tem o momento para o
poder livremente fazer.
E mais, que competência manifesta para poder alterar, por sua iniciativa, «(…) a
ordem dos tabuleiros da equipa nacional…», incluindo substituir uma qualquer
jogadora pela sua própria pessoa, poder este que lhe foi pessoalmente conferido pelo
Presidente da FPX?
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regulamentos que permitem seleccionados de duvidosa valia técnica e desportiva
representarem o país – e como capitã.
A FP Xadrez tem um problema olímpico? Pois tem, mas o curioso é que já o tem há
muito tempo. Em boa verdade tem-no desde que foram conhecidas as alterações aos
regulamentos da FIDE que aumentava o número de tabuleiros da secção feminina
das Olimpíadas.
A situação é assim tão complicada? Não sei, mas posso assegurar que encontrei a
resposta num artigo, curto mas incisivo, que uma jovem jogadora de xadrez, de 13
anos, escreveu em apenas 17 linhas e colocou no fórum Lusoxadrez. Sofia Lança, o
nome da jovem, diz-nos, tão só, o que muitos adultos não ousam sussurrar, que este
assunto «foi um dos temas mais abordados no recente nacional feminino». E apresenta
a solução: «O Nacional desta época deveria contar» e devia ser «a Bianca a ter o
direito a integrar a selecção feminina». A simplicidade vista por uma jovem que tem
idade para ser sua neta.
Isto é, as jogadoras de xadrez que conhecem bem a sua força de jogo sobre o
tabuleiro, comentaram entre si e puseram em causa a sua capacidade e
competência de jogadora de xadrez que também é capitã da equipa de representar
o nosso país, na selecção olímpica, mas a Vice-presidente da Direcção da FP Xadrez
não consegue compreender o que se está a passar e vislumbrar o seu alcance. É
deveras elucidativo!
Até aqui discutiam-se créditos desportivos da jogadora Maria Armanda Plácido para
assumir o 5º tabuleiro. A partir do post da Sofia Lança e do comportamento da
senhora com a Ana Baptista, discute-se, e já publicamente, a capacidade de
liderança, de seriedade e rigor da sua putativa imparcialidade.
Não pretendi, nestas linhas, como nunca o pretendi sempre que me dirigi a si – sempre
numa qualquer qualidade de dirigente desportiva – ofuscar-lhe a imagem, a
dignidade ou a consideração pessoais. Mas, quando escolhe ocupar um cargo
público, expõe-se, de imediato e publicamente, abrindo-se ipso facto, à crítica e ao
comentário do escrutínio público.
A Sra. poderá não gostar das minhas palavras e das minhas ideias. É uma pena, mas é
um direito que lhe assiste. Mas fará a bondade de reconhecer que eu possa ter o
direito de pensar de forma diferente e de o expressar. Pelo menos, far-me-á o favor de
me deixar pensar que assim é.
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Por vezes não é fácil encontrar o lobo, como nos ensina a história do capuchinho
vermelho, sobretudo quando eles “andam por aí” à solta sem deixarem rasto.
Por tudo o que foi dito, Sra. Maria Armanda Plácido coloque os seus lugares de
jogadora e de capitã da selecção nacional olímpica feminina à disposição da
Direcção da FP Xadrez para que esta possa com lucidez, competência e rigor técnico
e desportivo, que se exigem, evitando desta forma, manipulações grosseiras de
critérios, como foi o caso presente, escolher outra pessoa que ofereça outras garantias
mais consentâneas com o seu valor sobre o tabuleiro e outra capitã que demonstre
seriedade, isenção e justiça, princípios que a senhora manifestamente não apresenta
como o abaixo-assinado referido comprova.
Pelo exposto e a manter-se a situação, não creio que a senhora tenha condições para
poder subsistir nos seus cargos directivos por muito mais tempo, mas a senhora fará a
avaliação pessoal que entender razoável ou conveniente.
Francisco Vieira