VIDEOMONITORAMENTO:
SOLUÇÃO TECNOLÓGICA INOVADORA NO CAMPO DO
POLICIAMENTO MODERNO
VITÓRIA
2008
2
VIDEOMONITORAMENTO:
SOLUÇÃO TECNOLÓGICA INOVADORA NO CAMPO DO
POLICIAMENTO MODERNO
VITÓRIA
2008
3
VIDEOMONITORAMENTO:
SOLUÇÃO TECNOLÓGICA INOVADORA NO CAMPO DO
POLICIAMENTO MODERNO
COMISSÃO EXAMINADORA
_______________________________
Nylton Rodrigues Ribeiro Filho
Major PM e Coordenador do CIODES
Orientador
_______________________________
Márcio Luiz Boni
Major PM- PMES
_______________________________
Adriano Santana Pedra
Faculdade de Direito de Vitória - FDV
4
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ser não o "Big Brother", mas verdadeiramente o nosso "Big Father", que
paira vigilante sobre todos nós, não para nos punir, mas para nos mostrar o quanto é
importante seguir o plano Dele para que possamos fazer parte do banquete dos
justos: a vida eterna.
Às nossas famílias que nos deram um valoroso suporte durante nossas jornadas
semanais, que perduraram por quase um ano de idas e vindas longe de casa.
Aos nossos amigos do CAO que supriram a falta dos nossos familiares e mais do
que isso, souberam valorizar a importância de se ter boas amizades.
Especialmente a Mariana Brêda e Giovana Brêda, que não mediram esforços para
contribuir, sempre que as suas presenças se fizeram requeridas.
RESUMO
políticas públicas de segurança, e sim deve ser planejado de forma a agregar outras
ações que visem a redução da violência e da criminalidade.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
LISTA DE TABELAS
CAP – Capitão
CEL – Coronel
ES – Espírito Santo
MT – Mato Grosso
PM – Polícia Militar
SC – Santa Catarina
Pólis – Cidades-Estados.
Sic – Assim, tal. Vocábulo consignado entre parênteses, para indicar que a
referência está feita como no original, ainda que errônea ou singular.
Vacatio legis – Dispensa da lei. Espaço de tempo entre a publicação de uma lei e a
sua entrada em vigor.
14
LISTA DE ANEXOS
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ................................................................................................... 17
1 A SEGURANÇA PÚBLICA................................................................................. 20
1.1 SURGIMENTO DA SEGURANÇA PÚBLICA NAS SOCIEDADES..................... 22
1.2 CONSTITUCIONALISMO................................ 25
1.3 COMPETÊNCIA CONSTITUCIONAL DA SEGURANÇA PÚBLICA NO
BRASIL................................................................................................................ 28
1.3.1 A origem histórica da polícia militar................................................................ 32
1.4 SEGURANÇA PÚBLICA E TECNOLOGIA.......................................................... 33
2 VIOLÊNCIA SOCIAL........................................................................................... 40
2.1 CRESCIMENTO DA VIOLÊNCIA NOS CENTROS URBANOS
BRASILEIROS..................................................................................................... 43
5 VIDEOMONITORAMENTO................................................................................. 63
5.1 O QUE É O VIDEOMONITORAMENTO............................................................. 66
5.2 FUNCIONALIDADE E EFICÁCIA DO VIDEOMONITORAMENTO .................... 68
5.3 FUNCIONALIDADE DA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO DE
VIDEOMONITORAMENTO NO MUNICÍPIO DE SERRA-
ES........................................................................................................................ 73
5.4 FUNCIONALIDADE DA IMPLANTAÇÃO DO PROJETO DE 76
VIDEOMONITORAMENTO NO MUNICÍPIO DE SERRA-ES
5.5 FUNCIONALIDADE DO SISTEMA DE VIDEOMONITORAMENTO NOS
ESTADOS FEDERATIVOS ............................................................................... 78
INVESTIMENTOS NO VIDEOMONITORAMENTO............................................
Investimentos no videomonitoramento no município de Vitória-ES............ 81
Investimentos no videomonitoramento no município de Serra-ES.............. 82
5.7 COMPARATIVOS ENTRE OS MUNICÍPIO DE SERRA E DE VITÓRIA:
ANTES E DEPOIS DA IMPLANTAÇÃO DO VIDEOMONITORAMENTO........... 84
16
95
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 99
REFERÊNCIAS................................................................................................... 102
ANEXOS.............................................................................................................. 108
17
INTRODUÇÃO
Trouxemos à baila uma panorâmica acerca dos primórdios das civilizações, o seu
modelo de organização ao longo das eras, o modo de convivência entre os povos
antigos até os dias atuais, o surgimento dos Estados soberanos e o aparecimento do
constitucionalismo com seus dispositivos legais de concentração de poder nas mãos
do Estado, dentre outros fatores; para se chegar à raiz do problema da insegurança
e os meios tecnológicos utilizados para o seu controle.
1 A SEGURANÇA PÚBLICA
Assim sendo, a Segurança Pública nada mais é do que a busca pela preservação e
manutenção da ordem pública, permitindo que todos exerçam suas atividades sem
perturbação de outrem. Em seu contexto estão inseridas atividades de prevenção,
vigilância e coibição de condutas delituosas.
A falta de garantia da ordem pública por parte do Estado é um dos fatores que levam
à míngua o equilíbrio social do homem moderno, especialmente aqueles que vivem
em grandes centros urbanos, os quais são, sem dúvida, os mais afetados pela
criminalidade e falta de segurança.
É primordial o estudo acerca da segurança pública, não para dar um basta aos
casos que hodiernamente são expostos pela mídia, mas para jogar luzes em fatos e
situações de interesse coletivo para uma melhor convivência e entendimento do que
vem sendo feito para coibir a criminalidade e asseverar o preceito constitucional da
segurança pública, que é, precipuamente, dever do Estado.
Maslow apud Azamor dos Santos Filho (2007) destaca a segurança como
necessidade indispensável, especialmente nos grandes centros urbanos, onde a
criminalidade é crescente:
Ainda citando Lewis Mumford (1998), este argumenta que o caçador paleolítico e o
domesticador neolítico em sua aldeia vão se unir em torno de uma relação
praticamente simbiótica. O caçador, dominador das armas, defenderia a aldeia dos
animais predadores e, em contrapartida, teria acolhimento na aldeia.
Por fim, novamente utilizando-se das lições de Lewis Mumford (1998), o foco da
segurança muda um pouco quando, além de proteger as moradias, o homem passa
a se preocupar com a defesa dos alimentos que produzia e do gado.
De acordo com o texto “Idade dos Metais” (Jornal Livre, 2007), os grandes avanços
em relação aos instrumentos de defesa ocorreram na “Idade dos Metais” – período
23
que se deu em meados do ano 5.000 a.C., com a “Idade do Bronze”, e término na
“Idade do Ferro” – que teve por termo inicial o ano de 1.200 a.C.. Nessa época,
houve um grande aperfeiçoamento dos seus instrumentos através do domínio da
técnica de fundição dos metais.
Houve então uma passagem da “cultura de aldeia” para a “cultura urbana”. Surgiram
as ‘muralhas altivas e fortes’ – onde “a própria muralha valia por um exército para
controlar os rebeldes, manter os rivais sob vigilância e bloquear a fuga dos
desesperados”. Começou-se, a partir daí, o convívio amistoso dentro da cidade, a
comunhão espiritual e um complexo sistema de cooperação. De outro lado,
introduziu-se também, na cultura urbana, a segregação de classe, o controle
autoritário e a violência extrema por intermédio da agressividade militar (MUMFORD,
1998, p. 56 e 57).
Com o fim da Idade Média e o nascimento da Idade Moderna – com o advento das
incursões do mercantilismo, em meados do ano de 1.500 d.C. – os Estados
passaram a deter um maior controle social, atraindo para si todas as
responsabilidades, tanto nos quesitos de proteção dos seus cidadãos, quanto em
suas políticas de desenvolvimento.
A exemplo, foi nesse período histórico que emergiram diversos pensadores, dentre
eles Tomaz Hobbes, autor da célebre obra “Leviatã”, ao qual tratava o Estado como
garantidor de todas as coisas.
1.2 CONSTITUCIONALISMO
Washington de Barros, apud Ana Flávia Messa, melhor expressa este raciocínio ao
dizer:
Porém, foi na Inglaterra, ainda na Idade Média, que o Direito Constitucional passou a
se desenvolver melhor, com a manutenção dos costumes legais pelos monarcas da
época até o advento do primeiro texto legal constitucional escrito, no reinado do
monarca inglês João Sem Terra (1199-1216). Vejamos, novamente, a preciosa lição
de NASCIMENTO (1998):
Vale ressaltar, porém, que a doutrina da separação dos poderes foi idealizada em
molde embrionário por Aristóteles, em sua obra “Política”. É o fundamento de todo o
Estado Democrático. Conhecida como doutrina dos “freios e contrapesos” –
27
nomenclatura utilizada após lapidação das idéias por Montesquieu – defende a idéia
de que os poderes dentro do Estado são independentes e harmônicos entre si.
Esses poderes estão divididos em Legislativo, Executivo e Judiciário, segundo
Montesquieu (MALDONADO, [20--?], p.5-6).
Em 1787, com a Constituição rígida e escrita dos Estados Unidos da América, após
a independência das 13 colônias, e em 1791, com a elaboração da Constituição
Francesa, a partir da Revolução Francesa, é que se deu início ao constitucionalismo
formal.
Portanto, desde os primórdios, onde o homem não civilizado buscava a sua proteção
em aldeias e se defendia com instrumentos rudimentares, até os dias atuais, onde o
28
Antes, porém, urge ressaltar que o Estado, para cumprir a sua finalidade de alcançar
o bem comum, utiliza recursos financeiros para manter toda a organização estatal,
até mesmo para garantir a sua própria existência. Atentemo-nos para lição da
Mestra Ana Flávia Messa:
Como visto, o Estado atraiu para si a prerrogativa de proteção dos seus súditos. Na
Era Contemporânea, a sociedade se viu entremeada a desvios sociais, exigindo da
organização política medidas para controle da delinqüência dos seus habitantes.
Houve então a necessidade de dispositivos de segurança eficazes no controle à
criminalidade.
À Polícia Militar executa seu mister em duas fases distintas. A primeira delas
é quando a situação é normal, ou seja, não há nenhuma quebra da ordem
pública, neste caso deve, a Polícia Militar, promover ações de caráter
preventivo que visam a dissuadir quaisquer quebra da ordem que possam
vir a ocorrer, utilizando para isto o policiamento preventivo. A segunda fase
por sua vez dá-se quando a ordem já foi quebrada, neste caso a polícia
agirá de maneira repressiva, trata-se do policiamento repressivo (OLIVEIRA
et al, 2006, p. 4).
Não é só. Em sua obra, Luiz Ferraz Moulin (2003), destaca que as polícias militares
passaram a ser administradas pelos governadores de Estado e do Distrito Federal,
continuando como força auxiliar do Exército, abrindo-se espaços para funcionalidade
de uma nova Segurança Pública que seja discutida e exercida em prol do benefício
popular.
Nesse mesmo sentido discorre inflamado o professor Luis Ferraz Moulin (2003), ao
acentuar outra função constitucional da Polícia Militar, que não o caráter ostensivo e
de preservação do controle social:
Fica claro, portanto, que aos órgãos da administração pública competem a guarda e
vigilância sobre a sociedade. É dever constitucional apregoado como fator
determinante no convívio coletivo.
Não obstante, também por dever constitucional, compete à Polícia Militar o controle
direto e imediato aos criminosos que apontam cada vez mais preparados para a
prática criminosa, conforme alusão supra mencionada.
32
Conforme visto, a Polícia Militar atua junto à sociedade com o fim de manter a ordem
pública e a incolumidade das pessoas, bem como do patrimônio, seja ele público ou
particular.
Pois bem. A origem da instituição da Polícia Militar tem registro histórico da época do
Imperialismo Nacional, em meados da década de 30 do século XIX, mais
precisamente após a revolução de 1831. Diogo Feijó – então Ministro da Justiça do
período conhecido como “Regencial”, preocupado em fortalecer as bases
institucionais do referido período, dissolveu a Guarda Real de Polícia e dispensou
dois terços do efetivo do Exército Nacional (MOULIN, 2003, p. 15).
Feijó foi buscar no modelo francês bonapartista a Polícia de Estado, que agregava
funções policiais e administrativas, de guerra e de paz, entre outras, perdurando, na
França, desde o período monárquico que sucedeu Bonaparte (1815) como também
mantida pela República Francesa.
exércitos de guerra, “uma das primeiras colunas que sustentaram a paz pública e a
tranqüilidade dos povos”, nos dizeres do próprio Feijó (MOULIN, 2003, p. 16).
A estruturação da então criada Polícia de Estado competiu tão somente ao, hoje,
patrono do Exército Brasileiro, Duque de Caxias. Vejamos, por derradeiro, a
explanação de MOULIN (2003):
Ao major Luiz Alves de Lima e Silva, futuro Duque de Caxias, que de 1831 a
1839 exerceu o comando da nova polícia – designada ‘Corpo de Guardas
Permanentes’, atual Polícia Militar –, foi confiada a missão de normatizá-la e
estruturá-la. [...] Era o braço armado do Estado no seu trabalho contínuo de
autoproteção (2003, p. 15).
Assim surgiu a Polícia Militar no Estado brasileiro, com o escopo parecido ao que foi
adotado na atual Constituição pátria, qual seja, a manutenção da ordem e da defesa
do Estado Democrático de Direito.
Diante dos conflitos sociais cada vez mais aterrorizantes, surgiu a necessidade de
imposição de leis mais severas e de penas elevadas a fim de reprimir a
criminalidade.
Art. 59. O juiz, [...] estabelecerá, conforme seja necessário e suficiente para
a reprovação e prevenção do crime:
I - as penas aplicáveis dentre as cominadas;
II - a quantidade de pena aplicável, dentro dos limites previstos;
III - o regime inicial de cumprimento da pena privativa de liberdade;
IV - a substituição da pena privativa da liberdade aplicada, por outra espécie
de pena, se cabível. (grifo nosso)
34
Sendo assim, o aspecto que vai nos interessar mais precisamente na segurança
pública atual será aquele exercido nas medidas de coordenação da circulação de
pessoas. É nesse contexto que há maior incidência criminosa, como é o caso dos
grandes centros urbanos.
Segundo o autor acima citado, a polícia administrativa tem “por objeto as limitações
impostas a bens jurídicos e individuais”; já quanto à polícia ostensiva, “as medidas
preventivas que em sua prudência julga necessárias para evitar o dano ou perigo
para as pessoas”.
Nesse exato sentido é a lição do sapiente professor José Afonso da Silva apud
Marcus Cláudio Acquaviva quando faz a divisão da polícia em Administrativa e de
Segurança, compreendendo esta última em polícia ostensiva, bem como judiciária:
Importante ressaltar que os agentes estatais que mantêm contato direto e imediato
com a pessoa do investigado são os policiais, razão pela qual, em caráter inicial, faz-
se necessário esclarecer onde se acham inseridos esses agentes públicos e qual o
seu papel nessa atividade, voltada essencialmente para a manutenção da paz
social.
O jurista TORNAGHI apud LYRA (1989, p. 23), lembra que “aos poucos, polícia
passa a significar a atividade administrativa tendente a assegurar a ordem, a paz
interna, a harmonia e, mais tarde, o órgão do Estado que zela pela segurança dos
cidadãos”.
38
E não é só isso. Várias outras medidas vêm sendo tomadas para uma melhor
interação da tecnologia no controle ao crime. Novamente o ex-Secretário Nacional
de Segurança Pública, José Vicente da Silva Filho, nos esclarece acerca da
tecnologia e sua utilidade na esfera policial, no artigo intitulado “A Polícia no Novo
Século”:
O Projeto de Lei já foi aprovado pela Câmara dos Deputados e sancionado pelo
Presidente da República, estando apenas pendente o seu período de vacatio legis
para a entrada em vigor.
Assim como em qualquer outra atividade, seja ela de cunho particular ou público, de
caráter individual ou coletivo, não se pode deixar de levar em consideração as
vantagens advindas de uma Era baseada, quase que exclusivamente, em
informações e tecnologias.
2 VIOLÊNCIA SOCIAL
Para Rita de Cássia Souza (2006), ressalta que o medo que gera insegurança,
vivenciado em decorrência da violência social e da mídia que rodeiam os
acontecimentos, acaba por ameaçar a qualidade de vida das pessoas, amputando
sua vida social, e acrescenta:
Por outro lado, há a violência legalmente instituída. Ainda dentro do campo da esfera
penal temos as causas excludentes de ilicitude, que são as causas legitimadoras da
ação descrita dentro do tipo penal.
É bem verdade que os casos trazidos pela lei são excepcionalíssimos, mas não de
rara constatação. Entre as causas legitimadoras de condutas criminosas
encontramos no próprio diploma penal o artigo que trata da exclusão de ilicitude.
Vejamos o enunciado do artigo relacionado ao tema:
Exclusão de ilicitude
Art. 23 - Não há crime quando o agente pratica o fato:
I - em estado de necessidade;
II - em legítima defesa;
III - em estrito cumprimento de dever legal ou no exercício regular de direito.
Há vários tipos de violência que estão categoricamente autorizados por lei e são
praticados cotidianamente, inclusive para a manutenção da ordem pública. Mas a
discussão que permeia o presente capítulo não é a violência legitimada pela lei, mas
sim a violência que assombra a sociedade e merecedora de repressão. Aglair
Bernardo referindo-se a FOUCAULT, colaciona que:
Impende ressaltar, por oportuno, que o século XIX, compreendido como um período
histórico para se compreender a formação da sociedade e das cidades modernas,
está caracterizado por um processo vivo de individualização, o que contribuiu para o
crescimento da violência dentro dos setores sociais. Essa individualização
representa nos dizeres de Alain Corbin, um duplo movimento:
Toda violência, quando não legitimada pelo Estado, deve ser retaliada de modo
direto e preciso tendo por azo as leis, a justiça e todos os órgãos institucionalizados,
como é o caso das policias, dentro do contexto da política de segurança pública.
43
É notório no contexto mundial que a violência, via de regra, aflora nos grandes
conglomerados populacionais. Diante disso, medidas mais urgentes devem ser
tomadas para seu melhor controle e conseqüente melhora da qualidade de vida da
sociedade.
Azamor dos Santos Filho (2007), destaca a problemática das grandes cidades
encontrada no Brasil quanto à delinqüência avassaladora:
A evolução social do Brasil desde a Época Colonial até os dias atuais sempre foi
pautada na diferenciação de classes – sejam elas raciais, religiosas, de poder, entre
outras. Assim, desde a origem da formação da nação brasileira, aconteceram
disputas de poder que geraram divisões de classes, em sua grande maioria
desiguais, o que explica a razão da violência social acentuada em nosso país.
Adorno (1995) em sua obra explica e expõe uma das razões que levaram, e que
ainda produzem efeitos hodiernamente, à violência social, principalmente dentro do
Período Republicano:
Com o escopo de por fim ao aumento dos dados estatísticos, os governos vêm
investindo em novos métodos de controle à delinqüência. Podemos citar como
medidas de coibição ao crime, o aperfeiçoamento policial através de cursos de
formação, bem como por intermédio de melhor aparelhamento e tecnologia,
45
Como cediço, foi a partir da chegada do príncipe regente D. João que foi criada a
Divisão Militar da Guarda Real de Polícia que tinha como objetivo, manter a ordem e
o sossego públicos, como bem destacou o jurista Luiz Ferraz Moulin, em sua obra
“Polícia Interativa” (2003).
A partir daí, foi criada a primeira força policial ostensiva, com adaptações do modelo
francês bonapartista, com atribuições e funções repressivas a fim de normalizarem o
comportamento público, estando aí o nascedouro da Polícia Militar, conforme
anteriormente dito.
assim como o de Vargas acima citado, adotaram políticas que melhor convinham
com o momento histórico e com a tecnologia disponível.
É o que ocorre nos dias atuais. A sociedade em que vivemos, cada vez mais violenta
e delinqüente, adota políticas mais repressivas para controle da criminalidade, como
é o caso de leis penais mais severas.
Além disso, para maior eficiência nesse embate, a polícia se vale dos novos meios
tecnológicos que estão sendo criados e explorados pelo mundo atual. Nesse
diapasão, as polícias se vêem diante de novas tecnologias que lhes auxiliam de
sobremaneira ao cumprimento de sua função institucional.
Através dos estudos de Herts, MARCONI entendeu que as ondas de Herts poderiam
transmitir mensagens; e no ano de 1895, realizou suas primeiras experiências, com
os aparelhos criados com materiais rudimentares. O texto “A Criação do Rádio: 70
anos de Rádio no Brasil”, assim explica:
volta de 100 anos depois, foi marcada pela Internet. O constitucionalista da UERJ,
Luis Roberto Barroso (2004), adverte: “Hoje, mediante um computador conectado à
rede mundial (Internet) em banda larga, é possível ler um jornal, ouvir música ou
assistir a uma programação audiovisual idêntica a da televisão convencional”.
De posse da tecnologia, o homem começa cada vez mais a ser dependente dela,
em razão da praticidade bem como de sua eficiência. A segurança, para aprimorar
seus métodos de trabalho e de conduta, também lança mão dessas tecnologias e as
aproveita em seu benefício.
Há muito a polícia vem desejando que a tecnologia possa facilitar os problemas que
mais a atormentam. Rita de Cássia Souza Leal (2006) sustenta que uma das
principais reivindicações políticas da sociedade quanto à insegurança e à incerteza,
é o próprio controle da segurança através de métodos de monitoração:
Das inovações em tecnologia, a que tem maior valor está relacionada aos
computadores e respectivos softwares. Está inclusa nesse rol, a câmera de
filmagens 24 (vinte e quatro) horas – cujos dados e imagens são codificados e
emitidos para um centro especializado de monitoramento.
Nos Estados Unidos da América, a polícia urbana vinha há muito esperando uma
tecnologia que pudesse melhorar seu status profissional, a fim de facilitar o
policiamento nos centros urbanos.
Paul Virilio e Andrés Vitalis apud Marta Mourão Kanashiro (2006) afirmaram que os
primeiros sistemas de vigilância foram instalados na realidade européia no início da
década de 1970:
VIRILIO e VITALIS apud KANASHIRO (2006, p. 2), sustentaram que “nessa época,
existiriam na França um milhão de sistemas de câmeras de vigilância de circuito
fechado e, aproximadamente, 150 mil instalações em lugares públicos”.
Túlio Lima Vianna acrescenta que “Na América Latina, os circuitos internos de TV,
até então só encontrados em centros comerciais e metrôs, começaram a ser
instalados em ruas, praças e ônibus, seguindo-se a tendência mundial” (VIANNA,
Tulio Lima, 2007, p. 3) (grifo nosso).
Na esteira do raciocínio, Rita de Cássia Souza Leal (2006, p. 89), acrescenta que “o
medo, racionalmente construído, se transcreve em artifícios de neutralização e
monitoramento [...]”.
O oficial da Reserva da Brigada Militar do Rio Grande do Sul, Luiz Antônio Brenner
Guimarães (2007), salienta que foi a partir da década de 90 que os governos
começaram a investir na Segurança Pública em espaços públicos tendo em vista os
56
Ele percebeu ainda que o panoptismo não estava presente somente nas
prisões, mas também nas escolas, fábricas, hospitais, casernas. Em A
verdade e as formas jurídicas afirmou, por um lado, que a prisão, surgida no
século XIX, era a instituição emblemática do panoptismo social e ainda
deste novo poder. Por outro, que este aspecto paradigmático permitia
justificar o aparecimento e o sucesso dela, destarte todo seu paroxismo e
controvérsias (RIBEIRO, et al, [200-?], p. 3).
FOUCAULT apud Fernando Bruno (2004, p. 162) ressalta que o filósofo observa a
figura do panóptico como um dispositivo disciplinar e de controle, um mecanismo
arquitetônico onde predomina a vigilância permanente obtendo-se informações
diuturnas de forma intermitente com o fulcro de se construir e aperfeiçoar o exercício
do poder através da exposição do cidadão à luz (visibilidade), do controle do seu
tempo e na sua posição no espaço.
A soma desses três aspectos gera um domínio sobre o ser observado e observável,
que no caso do panóptico moderno, é o pária que o Estado quer resgatar para o
convívio social.
Acrescenta ainda a autora que a sociedade disciplinar analisada por Foucault tem
seu ápice até o começo do século XX. Uma nova subjetividade ganha outros
contornos ainda mais sofisticados. Os Novos apetrechos de vigilância, suas
onipresenças e suas quase ausências de materialidade são estudados por Foucault
58
Denota-se por parte de FOUCAULT que há uma percepção por parte do indivíduo de
que o sistema coercitivo está ali para ser aplicado no seu ser e na contribuição
decisiva da sua subjetividade (BRUNO, 2004, p. 28).
Agora, o monitoramento está voltado para aqueles sobre quem o poder atua. E
nesse aspecto, FOUCAULT indaga e responde ao mesmo tempo: “Será uma
59
Esse poder agora “individualiza pelo olhar” (BRUNO, 2004, p.111), dissecando
extremamente o ser rudimentar, transportando a esfera de poder para um anonimato
intransponível. Não se faz mais necessário expor o corpo do criminoso ao suplício
diante de toda a sociedade oferecendo esse espetáculo ao público com patrocínio
do poder real.
Afirma BRUNO (2004) que agora, o pária e o normal é que estão expostos nas
vitrines, constituídos como objeto a serem esmiuçados, cada um com seu rótulo de
identificação quer seja na fábrica, no asilo, no presídio ou na escola. Constrói-se a
partir daí uma classificação de seus comportamentos individualizantes, registrando-
se tudo, desde “bons” procedimentos e “maus” procedimentos. Os “bons” modos
serão utilizados para formatarem a individualização de cada um e os “maus”, para
serem utilizados nos seres objetivados como uma maneira de como não agir,
através da “autovigilância” (2004, p. 112).
Agora, o olhar da torre central sobre o indivíduo reflete um olhar para dentro de si
mesmo. Agora, ele se monitora. E nesse ambiente disciplinar, surge o regulamento,
discriminado por FOUCAULT como “um pequeno mecanismo penal” (FOUCALT
apud, BRUNO, 2004, p. 112.) onde as atitudes regulares são catalogadas
externamente e, internamente, produzidas pelos próprios seres analisados, comenta
Bruno (2004, p.112).
comportar advêm dele, foram produzidas por ele. Esse é outro aspecto que a
vigilância moderna se diferencia da visibilidade voltada para o soberano: atinge-se
não mais o corpo, mas verdadeiramente o próprio espírito, discrimina BRUNO (2004,
p.115).
Eis por que, como se mostrou, a vigilância moderna deve ver e agir através,
sob a superfície dos corpos e comportamentos de modo a incidir sobre a
interioridade, a alma dos indivíduos. Na atualidade, trata-se, sobretudo de
ver adiante, de prever e predizer, a partir dos cruzamentos e análises de
dados, indivíduos e seus atos potenciais, seja para contê-los (como no caso
de crimes, doenças, onde tende a predominar uma vigilância preventiva),
seja para incitá-los (como no caso do consumo, da publicidade e do
marketing) [...] (BRUNO, 2004, p. 117).
Agora, não se tem mais a preocupação por parte do Estado em se curar o indivíduo,
em disciplinar o aluno, em aperfeiçoar as atividades do trabalhador ou verificar o que
se passa na interioridade do indivíduo, salienta BRUNO (2004):
62
Para BRUNO (2004), no entanto, essa nova forma de exposição não é alvo de
cobiça por parte da sociedade individualizada:
5 VIDEOMONITORAMENTO
A implantação de câmeras com alto falantes para dar bronca nos infratores
começou no Norte da Inglaterra e chegou no Brasil no ano passado [...] A
primeira cidade brasileira a receber os aparelhos foi Piracicaba, no interior
de São Paulo, onde ganhou o apelido de ‘câmera tagarela’ (RIBEIRO, F.,
2008, p. 15).
KANASHIRO (2006) destaca ainda que existe diferença quanto à transmissão das
imagens do sistema analógico para o sistema digital, mas que ambas as imagens
podem ser combinadas, interagindo com os bancos de dados informatizados:
podendo ainda ampliar as imagens em até duzentas vezes sobre o tamanho original
da imagem.
Segundo Lawrence W. Sherman (1992), por exemplo, na última década, tem sido
uma das áreas mais inovadoras da América, o policiamento do crime relacionado a
drogas:
José Bittencourt Filho afirma que “As câmeras têm fim educativo, é uma forma de
coibir a conduta irregular. A intenção é muito boa e já é aplicada em outros países”
(BITTENCOURT FILHO, 2008).
Fig. 03 – Funcionamento das Câmeras Tagarelas nos Municípios de Vitória e Serra -ES
Para Mark Harrison Moore (1992), um fator importante para controlar os distúrbios
urbanos é ter uma rede de relações que alcancem todas as comunidades, dando
71
É oportuna, porém, a lição do professor Carlos Ari Sundfeld, ao concluir que: “Tem
de se controlar o uso posterior dessa imagem, ver onde ela será guardada, não
deixar divulgar” (SUNDFELD apud BRITO, 2007).
72
As imagens obtidas através das câmeras eram monitoradas vinte e quatro horas de
uma central por policiais militares do 6º BPM e em tempo real, sendo que as
informações contribuíram para uma rápida ação dos policiais militares do
policiamento ostensivo em caso de flagrante delito, ou mesmo na identificação de
suspeitos de furtos e roubos pela Polícia Civil.
O Cel. Luiz Antônio Brenner Guimarães (2007), referindo-se a capital Porto Alegre
do Estado do Rio Grande do Sul, quanto a implantação do sistema de
Videomonitoramento, apresenta:
GUIMARÃES (2007), ainda tratando sobre o assunto, relatou que “Em novembro de
2006, o Secretário Municipal de Transporte, Trânsito e Segurança de Novo
Hamburgo, declarou que nos locais monitorados pelas câmeras de vídeo desde abril
de 2002, houve uma redução de 90% das ocorrências [...]” (GUIMARÃES, 2007, p.
10).
79
O contrato firmado entre a Prefeitura de Vitória e uma empresa privada, tem prazo
estipulado em 12 (doze) meses, destacando que todas as despesas de instalação e
manutenção do sistema são da empresa contratada.
foi possível observar uma despesa média mensal de R$ 7.985,00 (sete mil,
novecentos e oitenta e cinco reais) por câmera instalada.
2006
Bairro Local Ja Fe Ma Ab Ma Ju
n v r r i n Total
DOUTOR PEDRO F
ROSA RUA DOS CRAVOS 2 5 3 10
AV ABDO SAAD 21 10 19 21 11 12 94
JACARAIPE N S DOS
NAVEGANTES 8 11 3 8 4 2 36
AV CENTRAL 1 6 8 8 7 7 37
AV PRIMEIRA
AVENIDA 1 1 2
PRQ R LARANJEIRAS
AV SEGUNDA
AVENIDA 1 1 1 3
RUA PITAGORAS
Total 30 28 34 37 28 25 182
2007
Bairro Local Ja Fe Ma Ab Ma Ju
n v r r i n Total
DOUTOR PEDRO F
ROSA RUA DOS CRAVOS 1 1 4 2 2 1 11
AV ABDO SAAD 22 20 19 12 17 14 104
JACARAIPE N S DOS
NAVEGANTES 7 3 3 1 1 3 18
AV CENTRAL 7 7 4 4 5 9 36
AV PRIMEIRA
AVENIDA 1 2 3
PRQ R LARANJEIRAS
AV SEGUNDA
AVENIDA 1 1
RUA PITAGORAS
Total 39 31 32 19 25 27 173
2008
Bairro Local Ja Fe Ma Ab Ma Ju
n v r r i n Total
DOUTOR PEDRO F
ROSA RUA DOS CRAVOS 7 2 1 10
AV ABDO SAAD 30 17 19 11 22 22 121
JACARAIPE N S DOS
NAVEGANTES 2 4 5 2 2 1 16
AV CENTRAL 4 11 10 9 3 4 41
AV PRIMEIRA
AVENIDA 1 2 1 4
PRQ R LARANJEIRAS
AV SEGUNDA
AVENIDA 1 1
RUA PITAGORAS 1 1
Total 36 1 37 22 1 23 194
Variação Absoluta 2008 - 2007 21
Variação Percentual 2008/2007 12,14
Variação Absoluta 2008 - 2006 12
Variação Percentual 2008/2006 6,59
86
Tabela 06 – Principais Crimes: Crimes contra Pessoa e Crimes contra Patrimônio registrados no
município de Serra 1º Semestre 2007/2008 - Locais de Câmeras. Fonte: GEAC/SESP.
Em relação à tabela 06, vale ressaltar que somente em meados do mês de abril de
2008, foi instalado o Videomonitoramento nas regiões de Laranjeiras e Feu Rosa,
portanto, um período curto para se ter uma melhor avaliação em termos estatísticos.
Assim sendo, para termos de análise foi disponibilizado números estatísticos no
período de janeiro a junho dos anos de 2006, 2007 e 2008. Com relação aos crimes
contra a pessoa e contra o patrimônio no período 2008, comparado ao mesmo
período do ano de 2006, houve um aumento nos registros de 6,59%. Há uma
pequena variação em termos de número no período referenciado no período de
2007/2008, registrando um aumento de ocorrências de crimes contra a pessoa e
patrimônio em 6,59%.
2006
Bairro Local Fe Ma Ab Ma
Jan v r r i Jun Total
FEU ROSA RUA CRAVOS 2 5 3 10
AV ABDO SAAD 104 84 72 83 66 60 469
JACARAIPE
AV N S NAVEGANTES 48 49 23 31 23 16 190
AV CENTRAL 1 6 8 8 7 7 37
AV PRIMEIRA
AVENIDA 1 1 2
PRQ R LARANJEIRAS
AV SEGUNDA
AVENIDA 1 1 1 3
RUA PITAGORAS 0
15 14 10 12 10
Total 3 0 7 2 2 87 711
2007
Bairro Local Fe Ma Ab Ma
Jan v r r i Jun Total
FEU ROSA RUA CRAVOS 11 4 11 8 6 6 46
AV ABDO SAAD 128 121 90 85 83 100 607
JACARAIPE
AV N S NAVEGANTES 47 50 28 17 14 18 174
AV CENTRAL 25 22 20 18 21 20 126
AV PRIMEIRA
AVENIDA 1 4 5
PRQ R LARANJEIRAS
AV SEGUNDA
AVENIDA 2 1 4 1 8
RUA PITAGORAS 1 1 2
21 19 15 12 12 14
Total 4 8 7 8 6 5 968
2008
Bairro Local Fe Ma Ab Ma
Jan v r r i Jun Total
FEU ROSA RUA CRAVOS 8 14 10 6 5 5 48
AV ABDO SAAD 133 85 100 66 87 85 556
JACARAIPE
AV N S NAVEGANTES 30 29 29 16 20 9 133
87
AV CENTRAL 19 24 24 26 15 21 129
AV PRIMEIRA
AVENIDA 1 2 1 2 4 2 12
PRQ R LARANJEIRAS
AV SEGUNDA
AVENIDA 3 1 2 2 2 1 11
RUA PITAGORAS 1 2 1 4
19 15 16 11 13 12
Total 4 6 8 8 4
893 3
Variação Absoluta 2008 - 2007 -75
Variação Percentual 2008/2007 -7,75
Variação Absoluta 2008 - 2006 182
25,6
Variação Percentual 2008/2006 0
Tabela 07 – Atendimentos registrados no município de Serra 1º Semestre 2006/2007/2008 - Locais
de Câmeras. Fonte: GEAC/SESP.
Em relação à tabela acima, vale ressaltar que no 1º Semestre de 2007, ainda não
havia o Videomonitoramento no município de Vitória-ES, tendo iniciado somente em
dezembro de 2007, sendo disponibilizado dados no período de janeiro à junho de
2008. No período referenciado, nota-se uma pequena diminuição dos números de
atendimentos em – 3,24%.
88
Marcos Rolim (2004) afirma que tal medida tem contribuído a fim de inibir a prática
de crimes. Assim destacou:
Art. 5°.[...]
X – São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das
pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral
decorrente de sua violação.
91
Marcos Rolim (2004) salienta que as pessoas devem ter conhecimento das áreas
onde existem as câmeras de Videomonitoramento. “Todos devem saber dessas
áreas até para as decisões cotidianas” a fim das pessoas poderem, por exemplo,
escolher se irão sair para um local videomonitorado ou se preferirão locais sem
vigilância eletrônica.
O professor da PUC de Minas e Doutor em Direito pela UFPR, Túlio Vianna (2007)
destaca a problemática quando o operador ultrapassa os limites permitidos violando
a privacidade, ressaltando que “não é porque se pode registrar que se pode
necessariamente divulgar”:
Carlos Alberto Bittar apud Priscila Madallozzo Pivatto (2005, p. 488 e 489), narra que
o direito à privacidade “consubstancia-se em mecanismos de defesa da
personalidade humana contra injunções, indiscrições ou intromissões alheias”.
A seu turno, José Serpa de Santa Maria, lembrado por Priscila Medallozzo Pivatto
(2005, p. 489) considera a privacidade como ”modo de vivência reservada, sob a
resistência moral, a qualquer intromissão, bem como na razoável exclusão do
conhecimento público de fatos, idéias e emoções pessoais do interessado”.
Túlio Vianna (2007), destaca que existem três graus de violação a serem
observados quando um indivíduo encontra-se em locais públicos videomonitorados:
no caso da monitoração, do registro e principalmente, da divulgação, ressaltando
que independentemente do indivíduo se encontrar em local público e estar sendo
tele-assistido, tais imagens não podem ser divulgadas sem as devidas cautelas.
Nesse aspecto acrescenta o Doutor:
Nesse sentido, João Bosco Araújo Fontes Júnior (2005) ensina que “[...] os conceitos
de intimidade e domicílio são indissociáveis, de forma que a proteção do domicílio
constitui uma manifestação diretamente vinculada à tutela da intimidade [...]”
(FONTES JUNIOR, 2005, p. 125).
Exemplifica ainda a empresa, que quando a imagem é desviada para outro ponto
denominado ‘A’, “situado em um objeto na frente da câmera seja formada a imagem
do mesmo ponto no interior da mesma” (2008). De maneira a exemplificar tais
informações, a empresa Fazendo Vídeo apresentou uma figura exemplificativa,
conforme pode se observar abaixo.
Como salientado no tópico anterior, as câmeras podem ter os seus focos desviados
ou distorcidos na medida de suas necessidades, dessa forma, pode-se desviar o
foco imediatamente para o local onde mereça melhor observação. A empresa
Fazendo Vídeo ressalta ainda essa questão:
[...] ajustando o foco no anel da objetiva x rack focus o efeito rack focus
consiste em mudar rapidamente o foco de um elemento da cena para outro,
para chamar a atenção do público, como em uma sala com pessoas
conversando ao fundo (local onde está inicialmente o foco) e um telefone
em primeiro plano (desfocado). Quanto o telefone toca, o foco muda das
pessoas para ele (2008).
Uma questão bastante interessante levantada pela empresa é que existem maneiras
de fazer com que o fundo da imagem fique fora de foco, concentrando o foco em
primeiro plano. Esse tipo de procedimento pode-se enquadrar como um tipo de
ponderação entre o direito à privacidade sem desmerecer a segurança da
sociedade.
99
[...] existem algumas maneiras de fazer com que o fundo da imagem fique
fora de foco, concentrando o foco no primeiro plano. Uma delas é aumentar
a abertura do diafragma manualmente, quando a câmera permite este
controle direto. Neste caso, quando isto é feito, aumentará a quantidade de
luz que entra pela objetiva e o sistema de exposição automática da câmera
aumentará a velocidade do obturador para compensar esta quantidade extra
de luz. [...] Se a câmera não possuir controle manual direto sobre a abertura
do diafragma, pode ser tentado o aumento da velocidade do obturador -
controle este presente na maioria das câmeras - que produzirá o mesmo
efeito. A outra alternativa para se desfocar o fundo é simplesmente mover a
câmera para mais próximo do objeto a ser focalizado: quanto menor esta
distância, mais desfocado ficará o fundo atrás do mesmo (2008).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que se deve destacar quanto à obtenção de imagens captadas através das lentes
das câmeras é a importância da preservação dessas imagens e resguardo quanto à
publicação das imagens, de modo a não se violar a privacidade e a intimidade de
cada um.
É oportuna, porém, a lição do professor Carlos Ari Sundfeld, ao concluir que: “Tem
de se controlar o uso posterior dessa imagem, ver onde ela será guardada, não
deixar divulgar” (SUNDFELD apud BRITO, 2007).
102
REFERÊNCIAS
ANGHER, Anne Joyce (Org.). Código Penal. In:______. Vade mecum: universitário
de direito Rideel. 4. ed. São Paulo: Rideel, 2008. 1348 p. (Coleções de leis Rideel).
BENTHAM, Jeremy. O Panóptico. [traduções: Guacira Lopes Loutro, et. al.]. Belo
Horizonte: 2000.
104
BRITO, Luisa. Advogados defendem que filmagens sejam feitas de forma que
não viole a privacidade. Prefeitura diz que uso das imagens seguirá protocolo
rígido. Disponível em:
<http://www.nevusp.org/portugues/index.php?option=com_content&task=view&id=15
09&Itemid=29> Acesso em: 20 de maio 2008.
MESSA, Ana Flávia. Direito Tributário: Direito Material. São Paulo: Rideel,
[2008?].
MOULIN, Luiz Ferraz. Polícia Interativa. [s.n.]. Vitória: Editora Formar, 2003.
NUCCI, Guilherme de Souza. Código Penal Comentado, rev., atu. e ampl. São
Paulo, Revista dos Tribunais, 2007.
RANGEL, Kamila. Câmeras de vídeo vão inibir a ação dos bandidos, segundo
projeto da Secretaria de Segurança. Disponível em:
<http://gazetaonline.globo.com//noticias/minutoaminuto/local_materia.php?cd_matia
=355866&cd_site=0> Acesso em: 19 de maio 2008.
SILVA, José Afonso da. Curso de Direito Constitucional Positivo. São Paulo,
Malheiros, 1991.
SILVA FILHO, José Vicente da. A Polícia no novo Século. Disponível em:
<http://www.josevicente.com.br/jt/jtart31.htm> Acesso em: 14 de jul. 2008.
ANEXO A
ANEXO B
PERGUNTAS E RESPOSTAS:
pública para a comunidade serrana, bem como as pessoas que circulam pela
cidade.
Ledir Porto.
Secretário de Defesa Social da PMS.
ANEXO C
PERGUNTAS E RESPOSTAS:
2) O número é ideal?
R. Com certeza não, mas já projetos para ampliação do sistema.
ANEXO D
PERGUNTAS E RESPOSTAS: