Anda di halaman 1dari 40

MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO

UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS


INSTITUTO DE SOCIOLOGIA E POLÍTICA
CURSO DE CIÊNCIAS SOCIAIS

USO DA IMAGEM:
A IMAGEM PÚBLICA DE BRIZOLA

LUCENI MEDEIROS HELLEBRANDT

PELOTAS
Rio Grande do Sul – Brasil
julho de 2005.
1

LUCENI MEDEIROS HELLEBRANDT

USO DA IMAGEM:
A IMAGEM PÚBLICA DE BRIZOLA

Trabalho acadêmico apresentado ao Curso de


Graduação em Ciências Sociais da
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PELOTAS, como
requisito parcial à obtenção do título de Bacharel
em Ciências Sociais.

Orientador: prof. Robson Becker Loeck


Co-Orientador: prof. Edgar Rodrigues Barbosa Neto

PELOTAS
Rio Grande do Sul – Brasil
julho de 2005.
2

Dedico esta monografia à minha mãe.


3

AGRADECIMENTOS

Ao longo do período da graduação, muitas pessoas passaram por minha


vida, deixando marcas e lições para toda ela, proporcionando-me alegrias,
conhecimento e crescimento pessoal. Neste momento gostaria de agradecê-las,
pois, de alguma forma, contribuíram para a conclusão desta etapa.

Entre estas pessoas, agradeço aos professores do Instituto de Sociologia e


Política e aos amigos que encontrei em sala de aula ou nos corredores.

Também gostaria de agradecer a Elis Radmann por ter sido a primeira


pessoa a acreditar em mim e me ensinar a fazer isto.

Um especial agradecimento aos colegas que batalham para realizarmos um


sonho, Taiane, Roberto e Robson.

Novamente agradeço ao professor Robson Loeck, que além de colega e


amigo, me encorajou neste trabalho monográfico, sendo orientador, e também ao
professor Edgar Neto, co-orientador e um novo amigo.

Finalmente e principalmente, agradeço à minha família, em especial ao meu


pai e minha mãe pelo apoio, e também à Janaína, por acreditar em mim.

...e ao deathrock, pois sem trilha sonora nada anda...rs.


4

“O pensamento é impossível sem Imagens”


Aristóteles
5

Lista de Ilustrações

Figura 1 – Brizola na volta do exílio ............................................................. 15

Figura 2 – Brizola em campanha .................................................................. 15

Figura 3 – O presidente Lula no velório de Brizola ...................................... 17

Figura 4 – Desfile em carro aberto do corpo de Brizola pelas ruas de Porto


Alegre .......................................................................................... 17

Figura 5 – Brizola em discurso ..................................................................... 23

Figura 6 – Cartaz do PDT ............................................................................. 29

Figura 7 – Logotipo “Brizola Vive” ................................................................ 29

Figura 8 – Banner dos CIEPs com a imagem de Brizola ............................. 30

Figura 9 – Discurso de Brizola no início do programa para TV .................... 31

Figura 10 – Brizola e crianças nos CIEPs .................................................... 32


6

Lista de Abreviaturas e Siglas

CIEPs – Centros Integrados de Educação Pública

PDT – Partido Democrático Trabalhista

PT – Partido dos Trabalhadores

PTB – Partido Trabalhista Brasileiro

RJ – Rio de Janeiro

RS – Rio Grande do Sul

TSE – Tribunal Superior Eleitoral

TV – Televisão
7

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ............................................................................................... 8

Capítulo I – HISTÓRICO
De graxeiro a símbolo nacional: a construção de uma imagem .................. 11
A morte: comoção nacional em volta de uma imagem construída .............. 16

Capítulo II – CONCEITUANDO IMAGEM


O que é imagem? ......................................................................................... 18
“Fabricação de um grande homem” ............................................................. 20
Erro de imagem ............................................................................................ 24
Controlando a imagem ................................................................................. 25

Capítulo III – RESSUCITANDO / RECONSTRUINDO UMA IMAGEM


O papel da imagem visual ............................................................................ 27
Os programas na TV e a utilização da imagem ........................................... 31
Considerações finais .................................................................................... 35

REFERÊNCIAS ............................................................................................ 37
8

INTRODUÇÃO

A preocupação com a imagem pública é uma constante, tanto na vida


pessoal, como principalmente na política. Ser, ou mais precisamente, parecer a
resposta aos problemas, garante a qualquer candidato uma boa vantagem em
relação a seus adversários.

Esta preocupação, principalmente no campo da política, não é de hoje, Júlio


César e Luís XIV, por exemplo, já dispensavam especial atenção por suas imagens
públicas (Yavetz, 1983; Burke, 1994). O que hoje faz a diferença é a acessibilidade e
a difusão deste tema em virtude, sobretudo, da cultura de massa. Novos meios de
difusão da imagem, com maior abrangência, fazem com que “Talvez nenhuma outra
palavra corra mais fluentemente, hoje, entre os homens de comunicação, os
empresários e os dirigentes de modo geral, do que ‘imagem’”(POYARES, 1997,
p.87).

Entretanto, falar sobre imagem enquanto objeto de estudo nas Ciências


Sociais não deixa de ser um tema novo. Recorrendo a uma metodologia
principalmente emocional e subjetiva, parece um tanto quanto contraditório que se
use fórmulas para construir e manter uma imagem.

Dentre seus vários usos, desde observações antropológicas de imagens


visuais e seu papel no contexto social, como fazem Koury e Bourdieu1, entre outros,
ou ainda apenas como complementos de trabalhos para servirem de simples

1
Mauro Guilherme Pinheiro Koury, professor de Sociologia da Emoção na UFPb publicou vários
artigos relacionando fotografias e seu espaço na trama familiar, a exemplo de Bourdieu (BOURDIEU,
Pierre. La photographie, um art moyen. Paris: Minuit, 1965).
9

comprovação do real, ou então, como me proponho no presente trabalho, tratando a


imagem como fator determinante, já no campo do marketing político2.

O que pretendo é utilizar um fato recente, a morte de Leonel Brizola, um


personagem importante da história política brasileira, para demonstrar como se dá o
uso da imagem pública.

A escolha de Leonel Brizola deu-se principalmente pelo grande foco em sua


morte, o que não teria como ser diferente, visto que sua trajetória política em
diversos pontos se confunde com a história política contemporânea do Brasil.

Como breve histórico de Brizola, o Capítulo I resume seus maiores feitos,


extraídos de sua biografia no Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro (ABREU et al.,
2001). A segunda parte deste capítulo enfoca a morte deste personagem político,
acompanhando o velório e homenagens prestadas.

No Capítulo II desenvolvo a teoria da imagem pública, observando como esta


se construiu na carreira política de Leonel Brizola, de que elementos Brizola utilizou-
se para fabricar e manter sua imagem, bem como e porque esta imagem ficou
abalada ao final de sua vida, e ainda o que ficou de marca, representando Brizola,
enquanto imagem deste.

O último capítulo segue a linha do capítulo anterior enquanto teoria da


imagem, porém aqui já com o intuito de demonstrar como sua imagem está sendo
reconstruída, após sua morte, pelo partido político a qual pertencia, o PDT.

2
Em seu artigo “O marketing político: entre a ciência e a falta de razão”, Rubens Figueiredo descreve
a atividade: “O marketing político é um conjunto de técnicas e procedimentos cujo objetivo é avaliar,
através de pesquisas qualitativas e quantitativas, os humores do eleitorado para, a partir daí,
encontrar o melhor caminho para que o candidato atinja a maior votação possível. A seqüência é a
seguinte: análise do clima de opinião, do quadro político e dos adversários; planejamento e realização
das pesquisas; análise das pesquisas e elaboração da estratégia, com a definição dos melhores
meios de comunicação para se atingir os fins desejáveis; e novas pesquisas para aferir a eficácia do
caminho escolhido e, se necessário, corrigir os rumos anteriormente traçados.”
10

Nas considerações finais o trabalho lança uma questão a se pensar tendo


em vista a próxima eleição presidencial em 2006.

Em síntese, o que pretendo ao denominar este trabalho de “Uso da Imagem:


A Imagem Pública de Brizola” é, passando por elementos da semiologia e sua
aplicação no marketing político, demonstrar como uma questão tão comum, a
imagem presente no nosso cotidiano de forma aparentemente inocente, pode vir a
transformar o futuro sem que muitas vezes nos atentemos a ela.
11

Capítulo I

HISTÓRICO

De graxeiro a símbolo nacional: a construção de uma imagem

Leonel de Moura Brizola nasceu em 22 de janeiro de 1922 nas redondezas


de Passo Fundo (RS). De origem humilde (seu pai era lavrador), Brizola aprendeu as
primeiras “letras” com a mãe e concluiu o primário em Carazinho (RS) tendo, em
1936, partido para Porto Alegre, onde formou-se técnico rural em 1939 enquanto
trabalhava como graxeiro numa refinaria de óleo em Gravataí (RS). Em 1945 entrou
para a Escola de Engenharia da Universidade do Rio Grande do Sul, concluindo o
cuso em 1949.

Ingressou no PTB logo após sua criação, formando o primeiro núcleo gaúcho
do partido, conquistando um público humilde, através de discursos emocionais, que o
elegeu deputado estadual em 1947.

Articulou a candidatura de Vargas à presidência da República em 1950 e


reelegeu-se deputado estadual, bem como assumiu a liderança da Assembléia
Legislativa gaúcha.

Em 1954 foi eleito deputado federal e no ano seguinte, prefeito de Porto


Alegre, priorizando as reivindicações das classes trabalhadoras, entre elas, a
construção de escolas primárias e grupos escolares em toda área urbana,
principalmente nas vilas populares.

Em 1958, com 55% dos votos, Brizola foi eleito governador do Rio Grande do
Sul e repetiu a dose na educação, agora a nível estadual, levando ensino primário e
médio a municípios longínquos e sem atenção. Ao fim de seu mandato haviam sido
12

construídas 5.902 escolas primárias, 278 escolas técnicas e 131 ginásios e escolas
normais, totalizando 6.302 novos estabelecimentos de ensino; haviam sido abertas
também 688.209 novas matrículas e admitidos 42.153 novos professores, segundo
dados apresentados por Moniz Bandeira (1979).

Com a renúncia do presidente da República Jânio Quadros, em 1961, deu-se


início um dos episódios que mais marcariam a carreira política de Brizola, a “cadeia
da legalidade”, que consistiu em uma campanha a fim de empossar o vice-presidente
João Goulart como legítimo sucessor de Jânio. Para isso, Brizola ocupou as rádios
Guaíba e Farroupilha, e comandou um total de 104 rádios gaúchas, catarinenses e
paranaenses na campanha contra os ministros militares que não concordavam com a
posse de Goulart. Este ato revoltou o Exército, que tentou acabar com o movimento
encabeçado por Brizola, utilizando armas para tomar o Palácio Piratini (sede do
governo gaúcho) e se necessário, assassinar Brizola.

Brizola distribuiu armas à população civil e contou com o apoio dos


governadores do Paraná e de Goiás para garantir a posse de Goulart.

Em 1962 foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro com a maior votação
obtida até então por um candidato a deputado no Congresso.

Utilizou a rádio Mayrink Veiga para denunciar as intenções golpistas das


correntes ligadas aos militares de direita, tornando-se assim um dos principais alvos
para os conservadores.

Com o golpe militar de 1964, novamente Brizola ocupou a Rádio Farroupilha,


ao lado do comandante do III Exército, Ladário Telles, evocou a população a resistir
contra o golpe, mas o presidente deposto, Goulart, se recusou a aprovar a
resistência. Em abril foi lançado o Ato Institucional nº 1 que cassava mandatos de
parlamentares e suspendia direitos políticos por dez anos, tendo como um dos
13

primeiros nomes da lista o de Brizola, que em maio foi para o Uruguai, onde iniciou
seu exílio.

Em 1977 foi expulso pelo governo uruguaio, que aderiu a pressão que o
governo brasileiro vinha fazendo desde 1964, indo morar nos Estados Unidos.

A partir de 1978 foi morar em Lisboa e viajou pela Europa, estreitando seus
laços com líderes socialistas. Articulou em um encontro junto a outros trabalhistas
exilados a reconstituição do PTB, o que resultou em um documento denominado “A
Carta de Lisboa”.

Com a anistia política em 1979, Brizola retorna ao Brasil e logo começa a


reorganizar o PTB, porém o TSE concede a legenda PTB em favor de outro grupo,
liderado por Ivete Vargas. Cinco dias após a derrota pela legenda PTB, o grupo
liderado por Brizola dá início ao PDT (Partido Democrático Trabalhista).

Em 1982 Brizola lançou-se candidato ao governo do Rio de janeiro pelo PDT


e foi eleito, mesmo com todas as tentativas de fraude na votação.

No começo de 1984, engajou-se na campanha das eleições diretas para


presidente da República, e participou do comício que levou um milhão de pessoas às
ruas, realizado no Rio de Janeiro.

Em 1986 o presidente Sarney lançou um plano econômico para conter a


inflação, denominado Plano Cruzado. Brizola foi à televisão denunciar o plano como
uma medida para “servir aos donos do capital”, mas de início o plano surtiu o efeito
desejado na população, desprestigiando Brizola.

Para as eleições presidenciais de 1989, Brizola iniciou a campanha na frente


como preferência do eleitorado, mas com a proximidade do pleito e a desavença
entre Brizola e a Rede Globo, o quadro foi mudando, Collor que vinha em 3º lugar
14

disparou, tornando-se um “fenômeno eleitoral”, e no dia 15 de novembro de 1989


realizou-se o primeiro turno de eleições diretas para presidente, suspensas desde
1961, dando a vitória a Collor e em segundo lugar, Lula, com apenas 0,5% de
vantagem sobre Brizola.

Com a derrota, Brizola voltou-se novamente ao governo do estado do Rio de


Janeiro, porém já visando as eleições presidenciais de 1994, nacionalizando seu
discurso e encabeçando a oposição contra o governo de Collor. Venceu o pleito no
primeiro turno com maioria absoluta.

Mas buscando verbas para o Rio de janeiro, Brizola aproximou-se de Collor,


demorando muito para juntar-se à campanha pelo impeachment do então presidente.
Além desta defesa de Collor, a falta de atenção à segurança pública do Rio de
Janeiro rendeu um período nefasto para a imagem de Brizola. Com as chacinas da
Candelária e de Vigário Geral, Brizola foi considerado pela primeira vez o campeão
nacional de impopularidade. Alguns dramas em sua vida pessoal, como a morte de
sua esposa e a prisão de sua filha por posse de drogas, contribuíram mais ainda
para sua decadência.

Foi candidato nas eleições presidenciais de 1994, chegando em quinto lugar,


com uma votação inexpressiva, numa derrota sem paralelo em sua carreira política.

Em 1998 tentou novamente, agora como candidato à vice de Lula, mas suas
divergências facilitaram a reeleição de Fernando Henrique Cardoso no primeiro
turno.

No dia seguinte, declarou que não mais se candidataria a cargo eletivo,


embora não fosse abandonar a vida política, pois “ainda tinha muita gente para
ajudar”.
15

Figura 1 – Brizola na volta do exílio


Fonte: FOLHA ONLINE BRASIL, 2005.

Figura 2 – Brizola em campanha: “Só a força do povo unido pode mudar o Brasil”
Fonte: FOLHA ONLINE BRASIL, 2005.
16

A morte: comoção nacional em volta de uma imagem construída.

“O homem não morre. Morre um homem. Só morre quem está integrado


socialmente”. Assim descreve Justino Adriano da Silva em seu Tratado de Direito
Funerário3 a relação sociológica da Morte.

Leonel Brizola esteve integrado socialmente, mais que isso, construiu parte
da história do Brasil, consolidou-se como uma imagem na mente da sociedade
brasileira, e em 21 de junho de 2004, esta imagem voltou, emocionando a população
brasileira em virtude de sua morte.

Em números e símbolos, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da


Silva, decretou luto oficial no país por três dias (Figura 3), e sua morte reuniu cerca
de 10 mil pessoas nas ruas de Porto Alegre (RS) por onde passou o corpo em carro
aberto, em direção ao Palácio Piratini, onde foi realizado seu velório (Figura 4).

Após o velório em Porto Alegre (RS), o corpo seguiu para São Borja (RS), no
cemitério Jardim da Paz, onde segundo a Brigada Militar, 25 mil pessoas
participaram das homenagens a Brizola no município.4

3
O homem é o único animal que morre. Só ele tem consciência da morte e faz dela um drama, um
marco de referência de sua vida. [...] Só morre quem tem um círculo de relacionamento (e. g., família,
empresa, tribo, Estado, etc.), porque a morte como desaparecimento, não é a morte do homem ou de
determinado homem em si mesmo, mas morte para os outros. (SILVA, 2000, p.1-7). Entre vários
temas ligados à morte, o autor relaciona este fato com as Ciências Sociais. Silva, Justino Adriano
Faria da. Tratado de Direito Funerário – Tomo I. Método, SP – 2000.
4
As informações e fotos da morte, homenagens, velório e enterro de Leonel Brizola foram retiradas da
versão virtual do jornal Folha de São Paulo – Folha Online. Segundo este jornal, Brizola morreu às
21h20min de segunda-feira 21-06-2004, na terça-feira 22-06-2004 o corpo foi velado no Rio de
Janeiro – RJ, onde Brizola morava, e 50 mil pessoas prestaram homenagens. O corpo seguiu para
Porto Alegre – RS, onde 10 mil pessoas o saudaram no trajeto entre o aeroporto Salgado Filho e o
Palácio Piratini, local em que recebeu homenagens de autoridades, seguindo para ser sepultado em
São Borja – RS, sendo enterrado às 16h do dia 24-06-2004, no jazigo onde já estão os presidentes
Getúlio Vargas e João Goulart, além da mulher de Brizola, Neusa Brizola.
17

Figura 3 – O presidente Lula no velório de Brizola no Palácio da Guanabara - Rio de Janeiro,


RJ.
Fonte: FOLHA ONLINE BRASIL, 2005.

Figura 4 – Desfile em carro aberto do corpo de Brizola pelas ruas de Porto Alegre - RS
Fonte: FOLHA ONLINE BRASIL, 2005.
18

Capítulo II

CONCEITUANDO IMAGEM

O que é imagem?

No capítulo anterior apresentei a trajetória pública de um personagem


político, a partir de seus atos construindo uma imagem e transformando esta, mas
este termo, imagem, o que seria exatamente? Como se forma a imagem?

Uma das definições mais antigas da imagem, a de Platão, coloca-nos na


trilha certa: “Chamo de imagens em primeiro lugar as sombras, depois os
reflexos que vemos nas águas ou na superfície de corpos opacos,
polidos e brilhantes e todas as representações do gênero.”5 Imagem,
portanto, no espelho, e tudo o que emprega o mesmo processo de
representação; já percebemos que a imagem seria um objeto segundo
com relação a um outro que ela representaria de acordo com certas leis
particulares. (JOLY, 1996, p.13,14).

A questão da representação é chave para compreender o conceito de


imagem e voltarei a ela em seguida, porém agora uma distinção se faz necessária,
entre imagem visual e imagem mental:

O conceito de imagem se divide num campo semântico determinado por


dois pólos opostos. Um descreve a imagem direta perceptível ou até
mesmo existente. O outro contém a imagem mental simples, que, na
ausência de estímulos visuais pode ser evocada. Essa dualidade
semântica das imagens como percepção e imaginação se encontra
profundamente arraigada no pensamento ocidental. [...] A polaridade
fundamental entre a imagem como representação visual e como
imaginação mental se reflete, em muitas culturas, nas opiniões divididas
sobre as imagens. As imagens mentais, seja como idéias ou modelos
(desde Platão) ou também como sonhos (desde Freud), podem, pelo
menos quase sempre, no Ocidente, ser valorizadas positivamente, já que
elas, segundo seus apologistas, são a essência das coisas, do
pensamento, ou até mesmo da aproximação de Deus. Já as avaliações
das imagens visuais, nas várias culturas, são bem polarizadas. Tais
avaliações vão da idolatria mágico-religiosa, passando pelo ceticismo
racional da imagem, até a proibição da imagem e do iconoclasmo.
(SANTAELLA e NÖTH, 1997, p.36,37)

5
Platão. La Republique. Trad. É. Chambry. Paris: Lês Belles Lettres, 1949. Citado em Jolly, 1996.
19

A imagem mental corresponde à impressão que temos quando, por


exemplo, lemos ou ouvimos a descrição de um lugar, de vê-lo quase
como se estivéssemos lá. Uma representação mental é elaborada de
maneira quase alucinatória, e parece tomar emprestadas suas
características da visão. Vê-se. (JOLY, 1996, p.19)

Os conceitos acima são adaptáveis ao campo da política e Wilson Gomes


utiliza o termo “imagem conceitual” ao invés de “imagem mental”, porém com o
mesmo significado, e esclarece a homonímia existente no uso da palavra imagem:
“Tratar-se-ia, o caso de duas espécies do gênero imagem, de forma que como há
uma imagem visual, haverá também uma imagem social ou pública, ambas podendo
ser consideradas espécies de representação ou apresentação de algo da ordem da
realidade” (Gomes, 2004, p.245).

Se imagem é representação de algo, “imagem de” como sugerem os


fenomenólogos6, como se dá esta representação no imaginário coletivo?

Imagens se fazem com ações e com discursos, principalmente, e, além


disso, com configurações expressivas que incluem, claro, elementos
visuais, ao lado de outros tantos.[...] Formar uma imagem é, portanto,
reconhecer um conjunto de propriedades como características de
determinadas instituições e atores políticos - um “reconhecimento” que, a
bem da verdade, é uma atribuição. (GOMES, 2004, p.251-255).

O papel dos elementos visuais será discutido no Capítulo III. Por hora
preocupo-me em expor as “ações e discursos” da forma como constituíram a imagem
pública de Brizola.

6
Goffman, E. A representação do Eu na vida cotidiana. Também Edmund Husserl. Citado por Gomes,
2004.
20

“Fabricação de um grande homem”∗

Peter Burke (1994)7 cita um “pacote” com itens indispensáveis para a


formação da imagem pública: Ideologia, Propaganda e Manipulação da opinião
pública.

Descrevo a seguir, como o “pacote” de Burke esteve presente na formação


da imagem pública de Brizola8:

• Ideologia – O conceito marxista com a idéia de “falsidade” parece


pertinente em se tratando de imagem pública no campo da política,
porém, de fato, o que se encaixa aqui é o “significado fraco” do
termo ideologia, como definição “de Carl J. Friedrich, segundo o
qual as Ideologias são ‘sistemas de idéias conexas com a ação’,
que compreendem tipicamente ‘um programa e uma estratégia para
a sua atuação’ e destinam-se a ‘mudar a ordem política
existente’“(BOBBIO, 2002, p. 587). A educação sempre foi a
principal bandeira de Brizola, sua principal preocupação,
possivelmente em virtude de sua própria história de vida. E
complementando o conceito: “Têm [...] a função de manter
conjuntamente um partido ou um grupo empenhado na luta política
(Man and his government, New York 1963, p. 89)” (BOBBIO, 2002,


Expressão de Bodelier, 1982 . Citado em Burke, 1992.
7
Peter Burke analisa o reinado de Luis XIV através da produção da imagem do Rei tanto por quadros
que retratavam o cotidiano do Rei Luis XIV, peças teatrais, moedas comemorativas, literatura e outros
meios utilizados para perpetuar e transmitir sua imagem, bem como os responsáveis por esta
produção e difusão.
8
Burke não conceitua os termos em seu livro, apenas citando que para a formação de uma imagem
pública é necessário um pacote: Ideologia, Propaganda e Manipulação da opinião pública. Utilizei os
conceitos de Ideologia, Propaganda e Manipulação presentes em: BOBBIO, Norberto et al. Dicionário
de Política. 2002. O conceito de Ideologia é apresentado nas p. 585-597, Propaganda p. 1018-1021 e
Manipulação nas p. 727-734.
21

p. 587). Pode-se dizer que este é o ponto forte da ideologia


brizolista: “Nenhuma criança sem escola”9.

• Propaganda – “... pode ser definida como difusão deliberada e


sistemática de mensagens destinadas a um determinado auditório
e visando a criar uma imagem positiva ou negativa de
determinados fenômenos [...] e a estimular determinados
comportamentos” (BOBBIO, 2002, p. 1018). No caso de Brizola,
este sempre foi adepto de um contato direto com seus eleitores,
fazendo discursos emocionados e simples, “falando a mesma
língua” que seus eleitores, principalmente, através de comícios e do
rádio, numa época em que o rádio era um dos meios de
comunicação com maior audiência. Prova disso é a utilização que
faz da rádio Mayrink Veiga e outras rádios, formando o que ficou
conhecido por “cadeia da legalidade”. Porém para tocar no ponto
da imagem negativa citada acima decorre que a carreira política de
Brizola é acompanhada por desavenças com a principal rede de
televisão do Brasil, a Rede Globo de Televisão10 e de acordo com o
Dicionário Histórico-Biográfico Brasileiro (ABREU et al., 2001),
poucas vezes houve uma trégua entre Brizola e a Rede Globo e,
quanto aos meios de propaganda: “A imprensa [...] tem sido o
veículo mais importante [...] foi-se colocando com êxito primeiro o
rádio e depois a televisão, formas que permitem atingir eficazmente
[...] camadas muito vastas de analfabetos e semi-analfabetos”
(BOBBIO, 2002, p. 1019).

9
slogan de Brizola, segundo Moniz Bandeira. (BANDEIRA, 1979, p. 56)
10
Um exemplo desta desavença pode ser constatado no documentário BRAZIL: BEYOND CITIZEN
KANE, onde Brizola comenta sobre Roberto Marinho, presidente da Rede Globo de Televisão:
“Costumamos dizer que ele é uma espécie de Stalin das comunicações em nosso país. Quem não
concorda com ele, ele manda pra Sibéria, a Sibéria do gelo, a Sibéria do esquecimento.” Em outro
trecho do mesmo documentário, Brizola enquanto candidato as eleições presidenciais de 1989
declara: “...tanto que o dia que o nosso partido chegar ao governo da República nós vamos mudar
este sistema. A partir do primeiro dia, da primeira manhã, nós estaremos tomando medidas contra
este monopólio.”
22

• Manipulação da Opinião Pública – segundo sua definição:

“Na esfera social e política, a Manipulação pode ser definida [...] como uma
das espécies do poder. [...] é uma relação em que A determina um certo
comportamento de B, sem que, ao mesmo tempo, A solicite abertamente
esse comportamento a B, mas antes lhe esconda sua intenção de obtê-lo
(ou então a natureza de sua ação para o conseguir), e sem que, por outro
lado, B note que seu comportamento é querido por A (ou então que é
provocado pela intervenção de A), mas antes acredite que é ele que o
escolhe livremente (ou mediante uma decisão consciente)” (BOBBIO, 2002,
p. 727)

Logo, é inevitável pensar em manipulação como algo pejorativo, e


segundo Wilson Gomes: "A democracia garante o discurso, mas
não garante a veracidade do discurso."11. No caso de Brizola,
manipulação não parece se encaixar muito bem com sua trajetória
política, ao menos no início de sua carreira. Creio que este item do
“pacote” é mais pertinente à reconstrução de sua imagem em favor
do PDT após sua morte, o que será tratado no próximo capítulo.

E assim Brizola se fez, se fabricou, através de seus discursos e atos,


pregando sua ideologia, fazendo sua propaganda, utilizando a mídia para figurar na
mente dos brasileiros como um nome forte, com sua imagem sempre ligada à
educação devido aos seus feitos nesta área, a construção de CIEPs, por exemplo. E,
assim os eleitores de Brizola identificaram-se com seu discurso, com sua origem.

11
Wilson Gomes citado por Alexandre Goulart em artigo denominado “Imagem e Opinião Pública.
Fuga do conflito ameaça democracia.” publicado no site Observatório da Imprensa.
23

Figura 5 – Brizola em discurso


Fonte: FOLHA ONLINE BRASIL, 2005.
24

Erro de imagem

Walter Poyares (1997) descreve que ao longo de sua trajetória política,


Brizola sempre acreditou que apenas seu discurso, sinceridade e carisma seriam
necessário para garantir-lhe a vitória nas urnas, e por um bom tempo foi, mas
apenas isso não foi suficiente para reverter uma sucessão de erros estratégicos
apontados pelo autor, citando reportagem do jornal O Globo, a título do resultado das
eleições presidenciais de 1989:

O Globo, em sua edição de 19/11/89, já anunciava: “Pedetista foi vítima


de seu próprio carisma”. Julgou que imagem não se desfaz. Desprezou
os resultados do Ibope. Embriagou-se na vaidade inútil. Foi rejeitado!

“O ex-governador Leonel Brizola talvez tenha pecado por se fiar em


demasia no carisma de sua personalidade. Quem o conhece na
intimidade possivelmente já ouviu uma frase que se tornou mítica em sua
carreira política: ‘Basta-me um microfone para derrotar os adversários’.
Brizola teve o microfone, mas os resultados de sua pregação não
surgiram. O malabarismo retórico de Brizola não foi bastante para
superar problemas tão abissais quanto a raquítica estrutura do PDT em
São Paulo, Estado depositário de 18 milhões de votos.” (O GLOBO,
1989 apud POYARES, 1997, p.36,37).

Poyares (1997), em outro trecho de sua análise da imagem pública de


Brizola, agora a respeito do resultado das eleições presidenciais de 1994, intitula o
seguinte trecho como “Erro de Imagem”:

Brizola, depois de uma longa carreira como governador, presidente de


partido, insistia num discurso demagógico, escudando-se,
freqüentemente, em seu projeto onírico dos CIEPs, catedrais do ensino
primário, em geral erguidas à beira de estradas em lugares onde jamais
poderia atingir os mil alunos que justificariam suas gigantescas
dimensões, como se o eleitor não percebesse o enorme embuste para
efeito eleitoral. E sua imagem foi para o fundo, tendo ficado com apenas
2,5% dos votos para presidente, abaixo do candidato ridículo do Prona.
Seu erro de visão não anula, contudo, o talento desse político gaúcho,
exímio articulador do discurso e manipulador de palavras. (POYARES,
1997, p.33)
25

Controlando a imagem

Os episódios acima demonstram a fragilidade das imagens públicas, mesmo


no caso de Imagens solidificadas como o caso de Brizola. Não podemos esquecer da
“plasticidade” da imagem, como Wilson Gomes define: “A sua capacidade de ser
formada, transformada ou deformada” (GOMES, 2004, p.266).

Devido a isso, a preocupação com o controle da imagem é fator importante e


embora este controle total seja impossível, algumas providências devem ser
tomadas. A primeira delas é a pesquisa ou sondagem de opinião pública:

Com efeito, os participantes do sistema de política de imagem só se sentem


autorizados a falar e a identificar a imagem pública de uma pessoa, de uma
classe ou de uma instituição depois que soldagens levadas a termo por
institutos autorizados são realizadas. Essa identificação é etapa inicial
necessária para que se tracem diretrizes e estratégias de ação, bem como
para que se implementem iniciativas, enfim, para que se dispare ou corrija
propriamente o processo da política de imagem. (GOMES, 2004, p. 272).

A soldagem de opinião possibilita ao candidato:

...o conhecimento do público, dos seus quadros hermenêuticos, da natureza


dos extratos que os constituem e da possibilidade de aproveitar seus
elementos ou de alterá-los para evitar a distorção sistemática na
decodificação. Esse conhecimento deve levar à produção de códigos de
emissão mais congruentes com os códigos de recepção, tornando as ações,
discursos e apresentações mais facilmente programáveis no sentido que a
emissão deseja. (GOMES, 2004, p.289).

Então, a partir da soldagem, sabe-se “que lugar se ocupa” no imaginário


coletivo.

No caso de Brizola, citarei um exemplo da sua fase “negativa”, logo após as


chacinas da Candelária e de Vigário Geral, quando era governador do Rio de
Janeiro:
26

No fim de seu terceiro ano de mandato, Brizola foi considerado, pela


primeira vez, um governador ruim ou péssimo por mais da metade dos
eleitores fluminenses (52%), entrevistados entre 28 de fevereiro e 1º de
março de 1994, segundo pesquisa do Datafolha, divulgada em 15 de março.
Seis meses antes, a avaliação de ruim ou péssima fora dada à
administração estadual do Rio de Janeiro por 49% dos entrevistados. Ele
também registrou a imagem mais desfavorável entre os governadores de
dez estados e do Distrito Federal. (ABREU, 2001, p. 852).

Após este incidente, com alto índice de rejeição, figurando como um político
ruim ou péssimo para mais da metade dos eleitores do Rio de Janeiro, somando
outros “escândalos políticos”12, Brizola teve uma “derrota sem paralelo em sua
carreira política” nas eleições presidenciais de 1994 (ABREU, 2001, p. 853).

12
Como exemplo, a tentativa de legalizar o jogo do bicho no Rio de Janeiro que acabou denunciando
o recebimento, por parte de Brizola e outros políticos do PDT, de doações em dinheiro feitas pelo
banqueiro do bicho Castor de Andrade. Outro exemplo de escândalo é a prisão por duas vezes da
filha de Brizola, por posse de drogas.
27

Capítulo III

RESSUSCITANDO / RECONSTRUINDO UMA IMAGEM

O papel da imagem visual

Após sua morte, a tentativa do PDT de reviver sua imagem, fortalecendo o


partido, ligando a imagem mental que as pessoas tem de Brizola ao partido, foi
através de elementos visuais, os símbolos do PDT (fig. 6, fig. 7 e fig. 8) e os
programas na televisão, onde os políticos do PDT sempre estão acompanhados de
uma figura de Brizola ou evocando seu discurso.

Para que essas imagens visuais tenham o efeito desejado, “para que linhas e
cores dispostas sobre uma superfície sejam consideradas imagens de algo são
necessárias convenções sociais, simbolizações de algum modo contratadas
socialmente” (GOMES, 2004, p. 247-248), como as cores que identificam o partido
político e as cores usadas nos novos símbolos (fig. 6, fig. 7 e fig. 8) do PDT.

Charles Peirce formulou uma teoria dos signos “particularmente útil para a
compreensão das imagens e dos diferentes tipos de imagens, assim como para a
compreensão de seu modo de funcionamento” (JOLY, 1996, p. 36).

Trata-se da classificação em que se distinguem os signos em função do tipo


de relação que existe entre o significante (a face perceptível) e o referente (o
representado, o objeto) e não o significado. Nessa perspectiva, Peirce
propõe distinguir três tipos principais de signos: o ícone, o índice e o
símbolo.

O ícone corresponde à classe de signos cujo significante mantém uma


relação de analogia com o que representa, isto é, com seu referente. Um
desenho figurativo, uma fotografia, uma imagem de síntese que represente
uma árvore ou uma casa são ícones, na medida em que se “pareçam” com
uma árvore ou com uma casa.

Porém, a semelhança pode acontecer de outra forma que não visualmente,


e a gravação ou a imitação do galope de um cavalo podem ser, em teoria,
considerados também como um ícone, da mesma maneira que qualquer
28

signo imitativo: perfumes sintéticos de certos brinquedos, tecidos sintéticos


que parecem tecidos naturais ao tato, gosto sintético de certos alimentos.

O índice corresponde à classe dos signos que mantêm uma relação causal
de contigüidade física com o que representam. É o caso dos signos ditos
“naturais”, como a palidez para o cansaço, a fumaça para o fogo, a nuvem
para a chuva, e também as pegadas deixadas pelo caminhante na areia ou
as marcas deixadas pelo pneu de um carro na lama.

Finalmente, o símbolo corresponde à classe dos signos que mantêm uma


relação de convenção com seu referente. Os símbolos clássicos, como a
bandeira para o país ou a pomba para a paz, entram nessa categoria junto
com a linguagem, aqui considerada como um sistema de signos
convencionais.(JOLY, 1996, p. 36).

No caso dos símbolos do PDT, são símbolos no sentido peirciano do termo,


signos convencionais, mas como o próprio Peirce afirma: “Os símbolos crescem.
Retiram seu ser do desenvolvimento de outros signos, especialmente dos ícones”
(PEIRCE, 1990, p.73), ou seja, a Imagem de Brizola é um signo composto por um
ícone (imagem visual propriamente dita de Brizola) e um símbolo (o que esta imagem
representa enquanto convenção no imaginário popular).
29

Figura 6 – Cartaz do PDT


Fonte: PDT, 2005.

Figura 7 – Logotipo “Brizola Vive”


Fonte: PDT, 2005.
30

Figura 8 – Banner dos CIEPs com a imagem de Brizola


Fonte: PDT, 2005.
31

Os programas na TV e a utilização da imagem

O programa para TV do PDT exibido em 11/03/05, o primeiro após a morte


de Brizola, inicia com a Bandeira Nacional seguida pela Bandeira do Partido e em
seguida Brizola convocando: "Este partido existe para honrar esta doutrina e para
defender os interesses do povo brasileiro. Venha conosco".

Figura 9 – Discurso de Brizola no inicio do programa exibido em 11/03/05


Fonte: PDT, 2005.

A seguir o presidente nacional do Partido, Carlos Lupi prossegue:

"Por muitos anos, você ouviu, nos programas do PDT, a voz corajosa de
Leonel Brizola. Muitas vezes você concordou com o que ele dizia. Outras
vezes, não. Mas, num país como o nosso, onde os políticos, um dia, dizem
que estão de um lado, e outro dia, dizem que estão do outro, Brizola era um
dos raros homens públicos que, ao longo de sua vida, nunca mudou de
lado".

Com a imagem de Brizola ao fundo e em seguida cortando para uma nova


imagem com Brizola e o ex-presidente Jango, Carlos Lupi relembra os feitos políticos
de Brizola, evidenciando que a coerência e sinceridade de Brizola ficaram de
herança ao PDT.
32

Assim o programa abre espaço para os políticos do PDT mostrarem seus


feitos e reforçar a idéia de educação como uma das principais bandeiras do Partido.
Segundo Severiano Alves (líder do PDT na Câmara) “que não é uma educação
qualquer, é a Escola de Brizola... a escola que tira o menino da rua, dá emprego,
forma cidadãos e desenvolve o país”.

O programa segue mostrando uma criança em frente a um CIEP, o jingle ao


fundo “lá lá lá Brizola” e Brizola abraçando crianças.

Termina este quadro com a frase: “O PDT de Brizola será sempre o partido
da escola!”.

Figura 10 – Brizola e crianças nos CIEPs


Fonte: PDT, 2005.

Segue com Carlos Lupi fazendo críticas ao governo nacional do PT por falta
de investimentos na educação.

Assim o 1/3 do programa remete a memória da população brasileira a Brizola


e o resto do programa segue com críticas ao governo nacional em diversas áreas e
propostas de solução para estes problemas, até a última parte, onde são retomadas
as idéias de Brizola e para finalizar mais 3 minutos de discurso de Brizola. Somando
33

os 7 minutos iniciais, Brizola esteve presente em metade do programa que teve


duração aproximada de 20 minutos.13

Além dos programas para televisão, a internet é outro meio bastante


utilizado14. No site do partido a imagem de Brizola também é constante através de
banners, links e de uma campanha intitulada “Brizola Vive”, buscando sempre a total
identificação do partido com o mesmo15. No site também é possível encontrar alguns
dos seus artigos e sua biografia, declarações de outros políticos do PDT a seu
respeito, além de muitas fotos e documentos que tiveram sua participação na
confecção, sendo destacado sua importância para a história política do Brasil,
identificando o partido com a ideologia brizolista, personificando o PDT na imagem
de Brizola.

Outro exemplo de uso da imagem de Brizola diz respeito à campanha


eleitoral para prefeitura na cidade de Pelotas (RS) em 2004, na qual o candidato do
PDT, Anselmo Rodrigues, utilizou a imagem de Brizola sempre ao fundo nos seus
programas de televisão no horário eleitoral gratuito.16

Ainda, com relação a utilização da imagem de Brizola após sua morte, é


válido destacar a ampla cobertura jornalística dos meios de comunicação, em
especial das emissoras de televisão, entre elas a Rede Globo (com quem, conforme
já demonstrado, Brizola tinha desavenças públicas), através de seus noticiários,

13
No dia 23/06/05, foi exibido o segundo programa para TV do PDT, porém o mesmo não se encontra
disponível no site do partido. A estrutura do programa é semelhante ao primeiro, baseado, sobretudo,
em Brizola, com mais ênfase na vida de Brizola, buscando identificação do público com o menino
humilde e homem batalhador.
14
Numa rápida busca no ORKUT, um sistema de comunidades virtuais, encontra-se algumas dezenas
de comunidades cujo tema é Brizola, destinadas a discutir o pensamento brizolista.
15
O material descrito encontrado no site refere-se ao período em que este trabalho foi escrito: março
a julho de 2005.
16
O candidato do PDT, Anselmo Rodrigues, foi impedido de dar continuidade a sua campanha
eleitoral pelo TSE, sendo substituído por sua filha Adriane Rodrigues.
34

plantões e reportagens especiais, contribuindo assim para a utilização da imagem de


Brizola pelo próprio PDT.
35

Considerações finais

Ao longo deste trabalho busquei analisar a formação de imagem, usando


como exemplo o caso de Brizola.

Conforme visto em sua biografia, Brizola construiu uma imagem positiva com
seus atos e discursos e obteve expressão nacional que se traduziu em vitórias nas
urnas.

Ao final de sua carreira política, sua imagem tornou-se negativa. Alguns


fatores contribuíram para isso, entre eles, a desatenção com a segurança pública no
Rio de Janeiro em seu segundo mandato como governador, as alianças políticas-
eleitorais mal sucedidas e sua desavença com a Rede Globo de Televisão17.

Segundo Sartori (2001, p.21) a televisão “...antes de mais nada, vai modificar
[...] a própria natureza da comunicação, deslocando-a do contexto da palavra (seja
impressa ou transmitida pelo rádio) para o contexto da imagem.”. Desta forma, a
desavença com a Rede Globo de Televisão pode ter reduzido grande parte do efeito
que os discursos de Brizola produziam e prejudicado sua imagem, pois “... na
televisão o fato de ver predomina sobre o falar, no sentido que a voz ao vivo, ou de
um locutor, é secundária, pois está em função da imagem e comenta a imagem”
(SARTORI, 2001, p. 15) e, ele não possuía qualquer tipo de controle sobre o tempo
de exibição de sua imagem e edição de sua voz ou da forma que sua imagem era
comentada por um locutor.

17
A Rede Globo de Televisão é a emissora brasileira que detém os maiores índices de audiência após
o período da redemocratização. Isso demonstra a importância e, por que não dizer, a necessidade da
aparição de políticos em seus programas e noticiários.
36

Com a repercussão de sua morte, o PDT passou a utilizar a imagem de


Brizola, evidenciando seus melhores atos políticos na fase positiva da sua carreira
política, reconstruindo assim sua imagem no imaginário popular e buscando ligar
positivamente Brizola ao partido e vice-versa.

As implicações e a eficácia do uso da imagem de Brizola pelo PDT, serão


visualizadas nos resultados dos próximos pleitos eleitorais, contudo, o importante é
ressaltar a direta relação existente hoje entre a política e a construção da imagem
pública, ainda mais numa época em que, segundo Sartori (2001), prevalece o Homo
Videns18, o homem que vê, mas não consegue compreender o que está vendo.

Isso indica que imagem pública, sua construção e reconstrução merecem


especial atenção, pois cada vez mais a política se faz através de imagem.

18
Sobre Homo Videns: “A televisão – como diz o próprio nome – consiste em ‘ver de longe’ (tele), e
portanto, levar à presença de um público de espectadores coisas para ver, quer dizer, visualmente
transmitidas de qualquer parte, e qualquer lugar e distância. [...] Através da televisão nos aventuramos
em uma realidade radicalmente nova. Por isso, a televisão não é um acréscimo, mas, antes de mais
nada, uma substituição que derruba a relação entre o ver e o entender. Até hoje nós tomávamos
conhecimento tanto do mundo, como também dos seus acontecimentos mediante a narração oral ou
também escrita; hoje, porém, podemos vê-los com os nossos olhos, e a narração – ou a sua
explicação – é quase apenas em função das imagens que aparecem no vídeo. [...] Por conseguinte,
fica comprovado que no fim do século XX o homo sapiens entrou em crise: uma crise de perda de
sabedoria e de capacidade de conhecer.” (SARTORI, 2001, p. 15-48).
37

REFERÊNCIAS

ABREU, Alzira Alves de et al. Dicionário Histórico – Biográfico Brasileiro: Pós


1930 / Vol. I. Rio de Janeiro, RJ: Editora FGV, 2001.

ANDRADE, Sérgio Arapuá. A “Imagem Certa”: O que é, o que faz, como criá-la.
in:______ Como Vencer Eleições Usando TV e Rádio. São Paulo, SP. Nobel,
1996. p. 31-38.

BANDEIRA, Moniz. Brizola e o Trabalhismo. Rio de Janeiro, RJ: Civilização


Brasileira, 1979.

BARTHES, Roland. O Óbvio e o Obtuso. Ensaios Críticos III. Rio de Janeiro, RJ:
Nova Fronteira, 1990.

BOBBIO, Norberto et al. Dicionário de Política. – Brasília, DF: Editora Universidade


de Brasília, 12ª ed., 2002.

BRICKMANN, Carlos. Amar, Verbo Proibido. In: ______ A Vida é Um Palanque.


São Paulo, SP: Editora Globo S.A., 1994, 2ª edição, 1998. p. 26-30.

BURKE, Peter. A Fabricação Do Rei: A construção da imagem publica de Luis XIV.


Rio de Janeiro, RJ: Jorge Zahar Ed., 1994.

CIAVATTA, Maria e ALVES, Nilda (orgs.) A Leitura de Imagens na Pesquisa


Social. História, Comunicação e Educação. São Paulo, SP: Cortez, 2004.

DARIANO, Daniela. Órfãos de Brizola testam popularidade do líder. Disponível em:


<http://clipping.planejamento.gov.br/Noticias.asp?NOTCod=142465> Acesso em mai
2005.
38

FARIAS DA SILVA, Justino Adriano. Tratado de Direito Funerário: Tomo I. São


Paulo, SP: Método Editora, 2000.

FELDMAN-BIANCO, Bela & MOREIRA LEITE, Miriam L. (orgs.) Desafios da


Imagem: Fotografia, iconografia e vídeo nas Ciências Sociais. Campinas, SP:
Papirus Editora, 1998, 3ª edição, 2004.

FIGUEIREDO, Rubens. O marketing político: entre a ciência e a falta de razão. In:


FIGUEIREDO, Rubens (Org.). Marketing político e persuasão eleitoral. São Paulo:
Fundação Konrad Adenauer, 2000.

FOLHA ONLINE BRASIL. Site do jornal Folha De São Paulo. Disponível em:
<http://www.folha.com.br> Acesso em mar – jul 2005.

GOMES, Neusa Demartini. A Personificação do Político e a Formação da Imagem.


in: Formas Persuasivas De Comunicação Política: Propaganda política e
publicidade eleitoral. Porto Alegre, RS: EDIPUCRS, 2000. p. 41-45.

GOMES, Wilson. Transformações da Política na Era da Comunicação de Massa.


São Paulo, SP: Paulus, 2004.

GOULART, Alexandre. Imagem e Opinião Pública. Site Observatório da Imprensa.


Disponível em:
<http://observatorio.ultimosegundo.ig.com.br/artigos/mid0910200293p.htm> Acesso
em: 10 jun 2005.

JOLY, Martine. Introdução à Análise da Imagem. Campinas, SP: Papirus Editora,


1996, 8ª edição, 2005.

KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Ato Fotográfico e Vida Familiar. In: XXVI
ANPOCS. Outubro de 2002, 1 CD-ROM.
39

ORKUT. Rede de relacionamentos e comunidades virtuais. Disponível em:


<http://orkut.com> Acesso em jul 2005.

PDT. Site do Partido Democrático Trabalhista. Disponível em: <http://pdt.org.br>


Acesso em mar – jul 2005.

PEIRCE, Charles Sanders. Semiótica. São Paulo, SP: Perspectiva, 1990.

POYARES, Walter. Imagem Pública: Glória para uns, ruína para outros. São Paulo,
SP: Editora Globo S.A., 1997.

SANTAELLA, Lucia e NÖTH, Winfried. Imagem: Cognição, semiótica, mídia. São


Paulo, SP: Editora Iluminuras, 1997, 4ª edição, 2005.

SARTORI, Giovanni. Homo videns: Televisão e pós-pensamento. Bauru, SP:


EDUSC, 2001.

Anda mungkin juga menyukai