USO DA IMAGEM:
A IMAGEM PÚBLICA DE BRIZOLA
PELOTAS
Rio Grande do Sul – Brasil
julho de 2005.
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USO DA IMAGEM:
A IMAGEM PÚBLICA DE BRIZOLA
PELOTAS
Rio Grande do Sul – Brasil
julho de 2005.
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AGRADECIMENTOS
Lista de Ilustrações
RJ – Rio de Janeiro
TV – Televisão
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SUMÁRIO
INTRODUÇÃO ............................................................................................... 8
Capítulo I – HISTÓRICO
De graxeiro a símbolo nacional: a construção de uma imagem .................. 11
A morte: comoção nacional em volta de uma imagem construída .............. 16
REFERÊNCIAS ............................................................................................ 37
8
INTRODUÇÃO
1
Mauro Guilherme Pinheiro Koury, professor de Sociologia da Emoção na UFPb publicou vários
artigos relacionando fotografias e seu espaço na trama familiar, a exemplo de Bourdieu (BOURDIEU,
Pierre. La photographie, um art moyen. Paris: Minuit, 1965).
9
2
Em seu artigo “O marketing político: entre a ciência e a falta de razão”, Rubens Figueiredo descreve
a atividade: “O marketing político é um conjunto de técnicas e procedimentos cujo objetivo é avaliar,
através de pesquisas qualitativas e quantitativas, os humores do eleitorado para, a partir daí,
encontrar o melhor caminho para que o candidato atinja a maior votação possível. A seqüência é a
seguinte: análise do clima de opinião, do quadro político e dos adversários; planejamento e realização
das pesquisas; análise das pesquisas e elaboração da estratégia, com a definição dos melhores
meios de comunicação para se atingir os fins desejáveis; e novas pesquisas para aferir a eficácia do
caminho escolhido e, se necessário, corrigir os rumos anteriormente traçados.”
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Capítulo I
HISTÓRICO
Ingressou no PTB logo após sua criação, formando o primeiro núcleo gaúcho
do partido, conquistando um público humilde, através de discursos emocionais, que o
elegeu deputado estadual em 1947.
Em 1958, com 55% dos votos, Brizola foi eleito governador do Rio Grande do
Sul e repetiu a dose na educação, agora a nível estadual, levando ensino primário e
médio a municípios longínquos e sem atenção. Ao fim de seu mandato haviam sido
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construídas 5.902 escolas primárias, 278 escolas técnicas e 131 ginásios e escolas
normais, totalizando 6.302 novos estabelecimentos de ensino; haviam sido abertas
também 688.209 novas matrículas e admitidos 42.153 novos professores, segundo
dados apresentados por Moniz Bandeira (1979).
Em 1962 foi eleito deputado federal pelo Rio de Janeiro com a maior votação
obtida até então por um candidato a deputado no Congresso.
primeiros nomes da lista o de Brizola, que em maio foi para o Uruguai, onde iniciou
seu exílio.
Em 1977 foi expulso pelo governo uruguaio, que aderiu a pressão que o
governo brasileiro vinha fazendo desde 1964, indo morar nos Estados Unidos.
A partir de 1978 foi morar em Lisboa e viajou pela Europa, estreitando seus
laços com líderes socialistas. Articulou em um encontro junto a outros trabalhistas
exilados a reconstituição do PTB, o que resultou em um documento denominado “A
Carta de Lisboa”.
Em 1998 tentou novamente, agora como candidato à vice de Lula, mas suas
divergências facilitaram a reeleição de Fernando Henrique Cardoso no primeiro
turno.
Figura 2 – Brizola em campanha: “Só a força do povo unido pode mudar o Brasil”
Fonte: FOLHA ONLINE BRASIL, 2005.
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Leonel Brizola esteve integrado socialmente, mais que isso, construiu parte
da história do Brasil, consolidou-se como uma imagem na mente da sociedade
brasileira, e em 21 de junho de 2004, esta imagem voltou, emocionando a população
brasileira em virtude de sua morte.
Após o velório em Porto Alegre (RS), o corpo seguiu para São Borja (RS), no
cemitério Jardim da Paz, onde segundo a Brigada Militar, 25 mil pessoas
participaram das homenagens a Brizola no município.4
3
O homem é o único animal que morre. Só ele tem consciência da morte e faz dela um drama, um
marco de referência de sua vida. [...] Só morre quem tem um círculo de relacionamento (e. g., família,
empresa, tribo, Estado, etc.), porque a morte como desaparecimento, não é a morte do homem ou de
determinado homem em si mesmo, mas morte para os outros. (SILVA, 2000, p.1-7). Entre vários
temas ligados à morte, o autor relaciona este fato com as Ciências Sociais. Silva, Justino Adriano
Faria da. Tratado de Direito Funerário – Tomo I. Método, SP – 2000.
4
As informações e fotos da morte, homenagens, velório e enterro de Leonel Brizola foram retiradas da
versão virtual do jornal Folha de São Paulo – Folha Online. Segundo este jornal, Brizola morreu às
21h20min de segunda-feira 21-06-2004, na terça-feira 22-06-2004 o corpo foi velado no Rio de
Janeiro – RJ, onde Brizola morava, e 50 mil pessoas prestaram homenagens. O corpo seguiu para
Porto Alegre – RS, onde 10 mil pessoas o saudaram no trajeto entre o aeroporto Salgado Filho e o
Palácio Piratini, local em que recebeu homenagens de autoridades, seguindo para ser sepultado em
São Borja – RS, sendo enterrado às 16h do dia 24-06-2004, no jazigo onde já estão os presidentes
Getúlio Vargas e João Goulart, além da mulher de Brizola, Neusa Brizola.
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Figura 4 – Desfile em carro aberto do corpo de Brizola pelas ruas de Porto Alegre - RS
Fonte: FOLHA ONLINE BRASIL, 2005.
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Capítulo II
CONCEITUANDO IMAGEM
O que é imagem?
5
Platão. La Republique. Trad. É. Chambry. Paris: Lês Belles Lettres, 1949. Citado em Jolly, 1996.
19
O papel dos elementos visuais será discutido no Capítulo III. Por hora
preocupo-me em expor as “ações e discursos” da forma como constituíram a imagem
pública de Brizola.
6
Goffman, E. A representação do Eu na vida cotidiana. Também Edmund Husserl. Citado por Gomes,
2004.
20
∗
Expressão de Bodelier, 1982 . Citado em Burke, 1992.
7
Peter Burke analisa o reinado de Luis XIV através da produção da imagem do Rei tanto por quadros
que retratavam o cotidiano do Rei Luis XIV, peças teatrais, moedas comemorativas, literatura e outros
meios utilizados para perpetuar e transmitir sua imagem, bem como os responsáveis por esta
produção e difusão.
8
Burke não conceitua os termos em seu livro, apenas citando que para a formação de uma imagem
pública é necessário um pacote: Ideologia, Propaganda e Manipulação da opinião pública. Utilizei os
conceitos de Ideologia, Propaganda e Manipulação presentes em: BOBBIO, Norberto et al. Dicionário
de Política. 2002. O conceito de Ideologia é apresentado nas p. 585-597, Propaganda p. 1018-1021 e
Manipulação nas p. 727-734.
21
9
slogan de Brizola, segundo Moniz Bandeira. (BANDEIRA, 1979, p. 56)
10
Um exemplo desta desavença pode ser constatado no documentário BRAZIL: BEYOND CITIZEN
KANE, onde Brizola comenta sobre Roberto Marinho, presidente da Rede Globo de Televisão:
“Costumamos dizer que ele é uma espécie de Stalin das comunicações em nosso país. Quem não
concorda com ele, ele manda pra Sibéria, a Sibéria do gelo, a Sibéria do esquecimento.” Em outro
trecho do mesmo documentário, Brizola enquanto candidato as eleições presidenciais de 1989
declara: “...tanto que o dia que o nosso partido chegar ao governo da República nós vamos mudar
este sistema. A partir do primeiro dia, da primeira manhã, nós estaremos tomando medidas contra
este monopólio.”
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“Na esfera social e política, a Manipulação pode ser definida [...] como uma
das espécies do poder. [...] é uma relação em que A determina um certo
comportamento de B, sem que, ao mesmo tempo, A solicite abertamente
esse comportamento a B, mas antes lhe esconda sua intenção de obtê-lo
(ou então a natureza de sua ação para o conseguir), e sem que, por outro
lado, B note que seu comportamento é querido por A (ou então que é
provocado pela intervenção de A), mas antes acredite que é ele que o
escolhe livremente (ou mediante uma decisão consciente)” (BOBBIO, 2002,
p. 727)
11
Wilson Gomes citado por Alexandre Goulart em artigo denominado “Imagem e Opinião Pública.
Fuga do conflito ameaça democracia.” publicado no site Observatório da Imprensa.
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Erro de imagem
Controlando a imagem
Após este incidente, com alto índice de rejeição, figurando como um político
ruim ou péssimo para mais da metade dos eleitores do Rio de Janeiro, somando
outros “escândalos políticos”12, Brizola teve uma “derrota sem paralelo em sua
carreira política” nas eleições presidenciais de 1994 (ABREU, 2001, p. 853).
12
Como exemplo, a tentativa de legalizar o jogo do bicho no Rio de Janeiro que acabou denunciando
o recebimento, por parte de Brizola e outros políticos do PDT, de doações em dinheiro feitas pelo
banqueiro do bicho Castor de Andrade. Outro exemplo de escândalo é a prisão por duas vezes da
filha de Brizola, por posse de drogas.
27
Capítulo III
Para que essas imagens visuais tenham o efeito desejado, “para que linhas e
cores dispostas sobre uma superfície sejam consideradas imagens de algo são
necessárias convenções sociais, simbolizações de algum modo contratadas
socialmente” (GOMES, 2004, p. 247-248), como as cores que identificam o partido
político e as cores usadas nos novos símbolos (fig. 6, fig. 7 e fig. 8) do PDT.
Charles Peirce formulou uma teoria dos signos “particularmente útil para a
compreensão das imagens e dos diferentes tipos de imagens, assim como para a
compreensão de seu modo de funcionamento” (JOLY, 1996, p. 36).
O índice corresponde à classe dos signos que mantêm uma relação causal
de contigüidade física com o que representam. É o caso dos signos ditos
“naturais”, como a palidez para o cansaço, a fumaça para o fogo, a nuvem
para a chuva, e também as pegadas deixadas pelo caminhante na areia ou
as marcas deixadas pelo pneu de um carro na lama.
"Por muitos anos, você ouviu, nos programas do PDT, a voz corajosa de
Leonel Brizola. Muitas vezes você concordou com o que ele dizia. Outras
vezes, não. Mas, num país como o nosso, onde os políticos, um dia, dizem
que estão de um lado, e outro dia, dizem que estão do outro, Brizola era um
dos raros homens públicos que, ao longo de sua vida, nunca mudou de
lado".
Termina este quadro com a frase: “O PDT de Brizola será sempre o partido
da escola!”.
Segue com Carlos Lupi fazendo críticas ao governo nacional do PT por falta
de investimentos na educação.
13
No dia 23/06/05, foi exibido o segundo programa para TV do PDT, porém o mesmo não se encontra
disponível no site do partido. A estrutura do programa é semelhante ao primeiro, baseado, sobretudo,
em Brizola, com mais ênfase na vida de Brizola, buscando identificação do público com o menino
humilde e homem batalhador.
14
Numa rápida busca no ORKUT, um sistema de comunidades virtuais, encontra-se algumas dezenas
de comunidades cujo tema é Brizola, destinadas a discutir o pensamento brizolista.
15
O material descrito encontrado no site refere-se ao período em que este trabalho foi escrito: março
a julho de 2005.
16
O candidato do PDT, Anselmo Rodrigues, foi impedido de dar continuidade a sua campanha
eleitoral pelo TSE, sendo substituído por sua filha Adriane Rodrigues.
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Considerações finais
Conforme visto em sua biografia, Brizola construiu uma imagem positiva com
seus atos e discursos e obteve expressão nacional que se traduziu em vitórias nas
urnas.
Segundo Sartori (2001, p.21) a televisão “...antes de mais nada, vai modificar
[...] a própria natureza da comunicação, deslocando-a do contexto da palavra (seja
impressa ou transmitida pelo rádio) para o contexto da imagem.”. Desta forma, a
desavença com a Rede Globo de Televisão pode ter reduzido grande parte do efeito
que os discursos de Brizola produziam e prejudicado sua imagem, pois “... na
televisão o fato de ver predomina sobre o falar, no sentido que a voz ao vivo, ou de
um locutor, é secundária, pois está em função da imagem e comenta a imagem”
(SARTORI, 2001, p. 15) e, ele não possuía qualquer tipo de controle sobre o tempo
de exibição de sua imagem e edição de sua voz ou da forma que sua imagem era
comentada por um locutor.
17
A Rede Globo de Televisão é a emissora brasileira que detém os maiores índices de audiência após
o período da redemocratização. Isso demonstra a importância e, por que não dizer, a necessidade da
aparição de políticos em seus programas e noticiários.
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18
Sobre Homo Videns: “A televisão – como diz o próprio nome – consiste em ‘ver de longe’ (tele), e
portanto, levar à presença de um público de espectadores coisas para ver, quer dizer, visualmente
transmitidas de qualquer parte, e qualquer lugar e distância. [...] Através da televisão nos aventuramos
em uma realidade radicalmente nova. Por isso, a televisão não é um acréscimo, mas, antes de mais
nada, uma substituição que derruba a relação entre o ver e o entender. Até hoje nós tomávamos
conhecimento tanto do mundo, como também dos seus acontecimentos mediante a narração oral ou
também escrita; hoje, porém, podemos vê-los com os nossos olhos, e a narração – ou a sua
explicação – é quase apenas em função das imagens que aparecem no vídeo. [...] Por conseguinte,
fica comprovado que no fim do século XX o homo sapiens entrou em crise: uma crise de perda de
sabedoria e de capacidade de conhecer.” (SARTORI, 2001, p. 15-48).
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REFERÊNCIAS
ANDRADE, Sérgio Arapuá. A “Imagem Certa”: O que é, o que faz, como criá-la.
in:______ Como Vencer Eleições Usando TV e Rádio. São Paulo, SP. Nobel,
1996. p. 31-38.
BARTHES, Roland. O Óbvio e o Obtuso. Ensaios Críticos III. Rio de Janeiro, RJ:
Nova Fronteira, 1990.
FOLHA ONLINE BRASIL. Site do jornal Folha De São Paulo. Disponível em:
<http://www.folha.com.br> Acesso em mar – jul 2005.
KOURY, Mauro Guilherme Pinheiro. Ato Fotográfico e Vida Familiar. In: XXVI
ANPOCS. Outubro de 2002, 1 CD-ROM.
39
POYARES, Walter. Imagem Pública: Glória para uns, ruína para outros. São Paulo,
SP: Editora Globo S.A., 1997.