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Professor da Universidade de Passo Fundo
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Neste trabalho, essa indicação refere-se à obra: HEGEL, G.W.F. Principios de la
filosofía el derecho ou derecho natural y ciencia política. Trad. Juan Luis Vermal.
Barcelona: Edhasa, 1988. Para facilitar a leitura, as citações apresentam-se
traduzidas para o português (pelo próprio autor deste texto).
1988b, p.40). Como se pode ver, o problema que o autor atribui às
abordagens do social de sua época vincula-se ao seu caráter
arbitrário que, por não encontrar um suporte em algo mais, só pode
buscá-lo em elementos da subjetividade (coração, fantasia e
intuição). Entretanto, Hegel não vê nas abordagens, por assim dizer,
emotivistas, um contraposto ao método racional. Para ele, essas
outras propostas estão no grupo daquelas em que o método não foi
adequadamente refinado. Com isso, a oposição deixa de ser
qualitativa para ser de grau. Ou seja, também há raciocínio nas
outras propostas, mas de forma incipiente e pouco autoconsciente.
Assim, o método que Hegel pensa ser necessário à tematização do
social seria resultado de um desenvolvimento cuidadoso das
categorias que organizam o pensamento e também a realidade,
expostas por ele mesmo em sua Ciência da lógica (Cf. Hegel, 1988a),
que por isso é um pressuposto à sua Filosofia do direito.
Dessa forma, para Hegel a filosofia não pode abordar a
sociedade a partir de representações recolhidas aqui e ali, destituídas
da ordem sistemática que resulta de uma orientação metodológica
claramente definida desde o início. Assim, como se pode ver Hegel
assume o ideal de uma filosofia que aborda o real com fins
sistemáticos. O fundamental é demonstrar qual é a ordem por trás do
social (a eticidade), disponível apenas àquele que encontra a forma
correta de abordá-lo.
Entretanto, por outro lado o filósofo não aceita o ponto de vista
segundo o qual o método é algo aplicável a partir de fora da realidade
com a finalidade de organizá-la segundo critérios externos. Para ele,
em ciência “[...] a forma está essencialmente ligada ao conteúdo”
(1988b, p.41). Assim, o método com o qual se organiza as
representações do real é na verdade uma abstração da ordem
subjacente à própria realidade. Quando alguém pretende deixar de
lado qualquer critério formal de representação da realidade, para
captar a verdade em sua simples pureza, o que faz é valer-se de
outros critérios, inconscientemente assumidos como os mais
adequados (e, portanto, pretensamente também condizentes com a
realidade), sem tê-los submetido a uma avaliação criteriosa. Dessa
forma, uma filosofia que visasse tratar diretamente da realidade, sem
preocupar-se com seus pressupostos, poderia produzir apenas
representações arbitrárias, de modo algum superiores a qualquer
opinião vulgar.
Num outro momento de sua argumentação, Hegel apresenta um
primeiro ponto de vista a respeito do propósito da abordagem
filosófica da realidade social. Para ele,
[...] a verdade sobre o direito, a eticidade, o Estado, é tão
antiga como seu conhecimento e exposição nas leis públicas,
na moral pública e na religião. Dado que o espírito pensante
não se contenta com possuí-la desse modo imediato, o que
mais necessita esta verdade é que se a conceba, que se dê
ao conteúdo, já em si mesmo racional, uma forma também
racional, para que apareça assim justificado ante o
pensamento livre, que não se detém ante algo dado, apoiado
na autoridade positiva do Estado, ou no acordo entre os
homens, ou na autoridade do sentimento interno e do
coração, ou no testemunho da aprovação imediata do
espírito, senão que parte de si mesmo e justamente por isso
exige saber-se unido no mais íntimo com a verdade (1988b,
p.41-2).
Bibliografia