de professores.
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inovador, não apenas revolucionário na forma de ‘fazer diferente’, mas
pensando e tendo se constituído diferentemente.
O papel desempenhado pela educação em todas as utopias políticas, a
partir dos tempos antigos, mostra o quanto parece natural iniciar um
novo mundo com aqueles que são por nascimento e por natureza novos.
No que toca à política, isso implica obviamente um grave equívoco: ao
invés de juntar-se aos seus iguais, assumindo o esforço de persuasão e
correndo o risco do fracasso, há a intervenção ditatorial, baseada na
absoluta superioridade do adulto, e a tentativa de produzir o novo como
um fait accompli, isto é, como se o novo já existisse (ARENDT, 2000,
p.225).
Nesse sentido, o dilema que precede a formação de professores de
filosofia para o Ensino fundamental, implica em pensar como o passado
e a cultura irão produzir e dar sentido ao novo. A perspectiva de Hannah
Arendt põem a descoberto uma forma de pensar essa formação: ela
necessariamente partirá do já estabelecido. O extremamente
revolucionário e diferente terá seu lugar a medida que conduzir e
construir um elo entre o passado e o futuro. Resgato aqui o problema
que a professora Elisete Tomazetti levanta sobre a formação de
professores:
É urgente problematizarmos a tarefa fundamental da
escola como conservadora e transmissora da herança
pública da humanidade às gerações novas e o educador
como o mediador entre o velho e o novo, “de modo que
sua própria profissão lhe exige um respeito extraordinário
pelo passado”. Como nos portamos diante de tais idéias
em nosso cotidiano de professores e pesquisadores em
educação, quando o passado tem cedido cada vez mais
espaço ao novo, para a novidade, para as informações
instantâneas que chegam sem muito esforço, quando, a
partir de pesquisas empíricas em escolas, constata-se que
o conhecimento, parte desta herança pública, tem ali sido
substituído por informações, por fragmentos que
encobrem seu valor e sentido? Ao discutirmos sobre isso,
nos poucos momentos em que encontramos na academia
para o debate de idéias, afirmamos que as novas
tecnologias da informação e da comunicação, produtoras
de uma cultura da imagem, devem ser reconhecidas e
incorporadas pela escola (TOMAZETTI, 2006, p.247).
Porém, o dilema posto por Tomazetti, nos leva a pensar que a professor
de filosofia além de levar em consideração todos essas formas de
adquirir informações e percepções, não se constituem conhecimento que
dá sentido. São formas voláteis de relação com o mundo, e isso não
suporta sentidos e ações.
A formação de professores compreendida como uma tarefa da
academia, traz para o centro das discussões a capacidade de formar
professores aptos a trabalhar com as demandas do mundo veloz,
midiático e volátil. Nos questionamos se o sentido e o valor da
informação obtida preenchem as necessidades dos alunos, se o
fragmento, a imagem, o resumo refletem e contribuem para preencher
o sentido da vida, se os sentimentos e as relações poderão se
estabelecer a partir dessas informações. Tendo isso como horizonte, a
distância entre o passado e futuro, bem como a compreensão de que o
professor contribui para que essa relação tenha sentido para a vida
presente, a formação de formação dos professores de filosofia deve
estar calcada nas condições de construção de sentido.
Um dos pontos fundamentais do dilema na formação de professores de
filosofia (poderíamos estender a todas as licenciaturas) é sobre o ponto
de partida dessa formação. O futuro professor também é fruto de uma
escola básica deficiente, que poderia remontar até mesmo a
democratização e universalização do ensino. Porém, os maiores
problemas originam-se na “forma de organização e a estrutura física
desta escola; a formação dos professores, suas práticas docentes e as
dificuldades em readaptar-se às novas condições” (TOMAZETTI, p. 245).
As dificuldades em adaptar-se para uma nova ordem que ainda está em
construção nos causam dilemas, pois põem a descoberto uma certa
incapacidade de pensar o novo em termos objetivos.
O professor deveria estar atento à velocidade com que o mundo se
processa, porém deve ter a segurança que esses fragmentos e
informações só têm sentido a partir do passado constituído enquanto
cultura. Ler o mundo com propriedade e autonomia é o ideal, porém
para que percebamos todas as nuanças a que estamos submetidos
precisamos de pessoas com boa escolaridade básica. Entramos num
círculo vicioso: pessoas que têm origem numa educação básica frágil
serão formadas para educarem em um sistema educacional diferente ou
deficiente? Eis nosso dilema, eis a problematização.
Como contornar a fragilidade de um processo de formação se
precisamos qualificar nossos professores? Essa questão, de certa forma,
mantém a academia sempre alerta. A busca incessante por melhorias
metodológicas e materiais é uma tentativa de acelerar a formação
através de estímulos e exercícios. Porém geralmente esquecemos a
básico: para educar é preciso ter autoridade para tal, uma autoridade
que se constitua um elo do antes com o depois. Nesse ponto temos o
maior trabalho para a formação dos futuros professores: autoridade não
se delega, não se institui, ela existe ou não no professor.
A autoridade do educador e as qualificações do professor não são a
mesma coisa. Embora certa qualificação seja indispensável para a
autoridade, a qualificação, por maior que seja, nunca engendra por si só
autoridade. A qualificação do professor consiste em conhecer o mundo a
ser capaz de instruir os outros acerca deste, porém sua autoridade se
assenta na responsabilidade que ele assume por este mundo. Face à
criança, é como se ele fosse um representante de todos os habitantes
adultos, apontando os detalhes e dizendo à criança: - Isso é o nosso
mundo ( ARENDT, p.239)
Para conquistar a autoridade perante seus alunos o professor de filosofia
deve saber ler a realidade de forma clara e sem pré-conceitos
ideológicos, deve perceber a intensidade das relações e, principalmente,
não deve deixar levar-se por extremos interpretativos de notícias e
informações fragmentárias. Ler o mundo claramente é sua tarefa mais
premente. Questões colocadas por Tomazetti nos fazem pensar em
como devemos elaborar a formação desses profissionais e,
principalmente, se eles terão condições de levar adiante uma possível
reelaboração:
Porém, apesar desse universo aberto diante do adulto, criado por ele
mesmo afinal, a infância se manifesta como um lugar de salvação de
todas as possibilidades futuras. Isso significa que delegamos à infância a
possibilidade da saída de nossas próprias frustrações com o mundo.
Aparentemente lhes damos uma voz maior do que antes tinham, porém
essa voz é rigorosamente construída a partir de nossas próprias
construções. Isso marca a crise educacional e a proposta de filosofia no
ensino fundamental como um foco central a ser discutido.
A criança, destituída do vocabulário necessário para articulação
argumentativa das idéias nos moldes da linguagem científica determina,
incapaz de apropriar-se do conhecimento científico sobre ela mesma,
alheia aos critérios de verdade, encarna as idéias de falta, carência e
incompletude destinadas a ela nos espaços educativos. (LEAL, p.174)
Nesse sentido, como proporcionaremos o desenvolvimento do novo,
mantendo sua perspectiva do vir-a-ser, sem marcá-la com um sendo
demarcado pela construção conceitual de infância a partir do
conhecimento científico do adulto? O que nos separa da antiga
percepção de que a criança e sua infância é apenas um preparar-se para
a vida adulta? O aspecto que tento levantar aqui é de que há muito o
que fazer. Apesar da filosofia se incluir no ensino fundamental como
disciplina que almeja dar voz às crianças, de certa forma, está
proporcionando uma reduplicação do problema, pois o ensino da
argumentação científica não garante reflexão e compreensão do mundo
que o adulto lhe apresenta. Como preparar esse professor de filosofia
para o ensino fundamental para que assuma sua formação (que creio
que deverá ser contínua) de forma a perceber que a infância não pode
deixar de manter-se como um vir-a-ser, pois ela vive e viverá neste
mundo, porém protegendo o sendo criança de todo o suposto projeto do
adulto? Eis aí mais um dilema.
Nosso professor deverá ser capaz de mudanças significativas, seja na
formação individual ou mesmo na ordem institucional. Sua qualificação
estará diretamente ligada à capacidade de ler o mundo e apresentá-lo
as crianças de forma clara e sem pré-conceitos, porém mantendo a
instância da infância protegida. E é dessa forma que apresento uma
possibilidade de formação comprometida e contínua do professor de
filosofia para o ensino fundamental, um laboratório. Laborar! Esta é a
dimensão em que o professor de filosofia deveria se incluir para fazer a
diferença no conjunto da escola e para incluir significado ao seu trabalho
em sala de aula. Ao mesmo tempo em que supera suas dificuldades
históricas se instrui para a compreender o mundo de forma clara.
Manter um diálogo contínuo com a tradição filosófica é manter uma
constante reflexão sobre os caminhos do porvir. O professor de crianças
não apresentará teorias filosóficas, mas oportunidades de trilhar sobre
um caminho que já foi trilhado.
A formação deve estar atrelada à responsabilidade de proteger a
infância e o mundo, como diz Arendt:
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: