26/04/2004 - Vinculação de Receita de Impostos / Constituição
Não-escrita
Bom dia,
Atendendo a pedidos por e-mails, comentarei, hoje, dois enunciados
cobrados no último concurso de Analista de Controle Externo do Tribunal de Contas da União (ACE/TCU), recentemente realizado pelo Cespe/Unb.
O primeiro enunciado reza o seguinte:
“Como regra geral, é vedada a vinculação de receita de impostos a
qualquer tipo de despesa, ressalvada, entre outras hipóteses previstas na Constituição Federal de 1988, a vinculação à despesa destinada à realização de atividades da administração tributária”.
No tocante a essa afirmativa – que está CERTA -, o que pesou, de
fato, foi a necessidade de atualização do candidato em relação às modificações do texto constitucional por meio da aprovação de emendas constitucionais. Essa matéria – princípio da vedação à vinculação de receita de impostos – está disciplinada no art. 167, IV, da Constituição Federal, e foi objeto de alteração recente, por meio da EC nº 42, de 19/12/2003 (reforma tributária), que deu a seguinte redação ao dispositivo:
“Art. 167. São vedados:
(...)
IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa,
ressalvadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente, pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o disposto no § 4º deste artigo;”
Pela leitura do transcrito dispositivo constitucional, percebe-se que o
legislador constituinte derivado acrescentou uma nova hipótese de exceção à não vinculação da receita de impostos, qual seja: vinculação da receita de impostos para a realização de atividades da administração tributária.
Com isso, passamos a ter as seguintes exceções ao princípio da não
vinculação de impostos: a) a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem os arts. 158 e 159 (repartição das receitas tributárias, entre os entes federados);
b) a destinação de recursos para as ações e serviços públicos de
saúde (CF, art. 198, § 2º);
c) a destinação de recursos para manutenção e desenvolvimento do
ensino (CF, art. 212);
d) a destinação de recursos para realização de atividades da
administração tributária (CF, art. 37, XXII);
e) a prestação de garantias às operações de crédito por antecipação
de receita (CF, arts. 165, § 8º, e 167, § 4º).
Essa vinculação de receita de impostos para as atividades da
administração tributária, prevista nesse dispositivo constitucional (art. 167, IV), há que ser interpretada em consonância com a nova redação dada pela mesma EC nº 42/2003 ao art. 37, XXII, que estabelece que as administrações tributárias da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, atividades essenciais ao funcionamento do Estado, exercidas por servidores de carreiras específicas, terão recursos prioritários para a realização de suas atividades.
O outro enunciado estabelece o seguinte:
“As constituições classificadas como não-escritas, produto de lenta
síntese histórica, são compostas exclusivamente por normas costumeiras, jurisprudência e convenções.”
O enunciado está ERRADO, em face da presença da palavra
“exclusivamente”.
De fato, as constituições do tipo não-escritas são compostas,
predominantemente, por normas costumeiras, jurisprudência e convenções. Acontece, porém, que em regimes de constituição não- escrita podem existir, também, normas escritas, leis constitucionais (leis com “status” de norma constitucional).
Assim, por exemplo, na Inglaterra – país que, tipicamente, adota
Constituição do tipo não-escrita –, ao lado das normas costumeiras, temos leis constitucionais escritas, que também integram o ordenamento constitucional inglês. A diferença, em relação aos regimes de constituição escrita, é que tais normas escritas, nos regimes de constituição não-escrita, não foram elaboradas por um órgão especial que tenha recebido essa especial incumbência (para elaborar normas constitucionais - Assembléia Nacional Constituinte, por exemplo), num determinado período. Ganharam elas essa especial dignidade (dignidade de lei constitucional) em razão de seu conteúdo, por versarem sobre matéria substancialmente, materialmente constitucional, de acordo com as tradições do Estado inglês. Daí falar-se, nos regimes de constituição não-escrita, na denominada “supremacia material” das normas constitucionais sobre as demais normas do ordenamento.
Portanto, repito, a palavra “exclusivamente” invalida o enunciado do