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ORMADO NO
vem crescendo em vários países em desenvolvimento do Sul do Pacífico,
da África, do Leste e do Sudeste da Ásia, sobretudo da América Latina, on-
de o Brasil se destaca abrigando cerca de trinta milhões de evangélicos1.
No Brasil, a expansão pentecostal não é recente nem episódica. Ocorre de
modo constante já há meio século, o que permitiu que o pentecostalismo se tor-
nasse o segundo maior grupo religioso do país. Mas seu avanço não é expressivo
apenas nos planos religioso e demográfico. Estende-se pelos campos midiático,
político partidário, assistencial, editorial e de produtos religiosos. Seus adeptos
não se restringem mais somente aos estratos pobres da população, encontrando-
se também nas classes médias, incluindo empresários, profissionais liberais, atle-
tas e artistas 2. Ao lado e por meio disso, o pentecostalismo vem conquistando
crescente visibilidade pública, legitimidade e reconhecimento social e deitando e
aprofundando raízes nos mais diversos estratos e áreas da sociedade brasileira.
Conforme os Censos Demográficos do IBGE, os evangélicos perfaziam
apenas 2,6% da população brasileira na década de 1940. Avançaram para 3,4% em
1950, 4% em 1960, 5,2% em 1970, 6,6% em 1980, 9% em 1991 e 15,4% em 2000,
ano em que somava 26.184.941 de pessoas. O aumento de 6,4 pontos percentuais
e a taxa de crescimento médio anual de 7,9% do conjunto dos evangélicos entre
1991 e 2000 (taxa superior às obtidas nas décadas anteriores 3) indicam que a ex-
pansão evangélica acelerou-se ainda mais no último decênio do século XX.
Os evangélicos estão distribuídos desigualmente pelas regiões brasileiras.
O Nordeste, com apenas 10,4% de evangélicos, continua sendo o principal redu-
to católico e, por isso, a região de mais difícil penetração protestante, enquanto
o Norte e o Centro-Oeste, com 18,3% e 19,1%, respectivamente, constituem as
regiões em que esses religiosos mais se expandem. Apesar de reproduzir a média
brasileira, o Sul, onde se concentra o luteranismo, tem apresentado os mais bai-
xos índices de crescimento evangélico, sendo que em alguns estados ocorre per-
da relativa de crentes na população. O Sudeste, com 17,7%, mantém-se como
um dos mais importantes pólos da expansão evangélica.
Os principais responsáveis por tal sucesso proselitista foram os pentecostais,
que cresceram 8,9% anualmente, enquanto os protestantes históricos atingiram a
cifra de 5,2%. Com isso, os pentecostais, que perfazem dois terços dos evangéli-
Edir Macedo ficou preso durante doze dias em cela especial do 91ª DP de São Paulo.
Evolução da %
na população total
%2000 - %1991
1,5
1
0,5
0,2
Ausência de informação
Fonte : IBGE - Censos Demográficos 1991 e 2000
Rede Record
Bonfim
Boa Vista
Macapá
Óbidos Belém
Santarém São Luís
Pinheiro
Manaus Altamira Fortaleza
Tucurui Coroatá
Itaituba
Açailândia Codó
Caxias
Marabá Imperatriz Teresina Natal
Araguaína João Pessoa
Balsas
Redenção Recife
Porto Velho
Peixoto de
Alta Floresta Azevedo Paraíso do Palmas Maceió
Rio Branco Jaru
Ji-Paraná Tocantins
Juara Cláudia Porto Nacional
Cacoal
Rolim de Moura
Pimenta Bueno Sinop Vera Gurupi
Sorriso
Salvador
Tangará da Serra
Barra do Bugres
Mirassol d'Oeste Primavera do Leste Brasília
Cuiabá Barra do Garças
Cáceres
Rondonópolis Goiânia
Belo Horizonte
Campo Grande São José
do Rio Preto Franca Vitória
Ribeirão Preto Campos dos
Bauru Goytacazes
Cornélio Campinas
Procópio
Maringá Londrina São Paulo Rio de Janeiro
Santos
Toledo
Curitiba
Xanxerê Itajaí
Florianópolis Localidades onde a Record
está presente no território nacional
Porto Alegre
Pelotas
Notas
1 Na América Latina, o termo evangélico abrange as igrejas protestantes históricas
(Luterana, Presbiteriana, Congregacional, Anglicana, Metodista, Batista, Adventista),
as pentecostais (Congregação Cristã no Brasil, Assembléia de Deus, Evangelho
Quadrangular, Brasil Para Cristo, Deus é Amor, Casa da Bênção etc.) e as neopen-
tecostais (Universal do Reino de Deus, Internacional da Graça de Deus, Renascer
em Cristo, Sara Nossa Terra etc.). Grosso modo, o pentecostalismo distingue-se do
protestantismo histórico, do qual é herdeiro, por pregar a crença na contemporanei-
dade dos dons do Espírito Santo, entre os quais se destacam os dons de línguas
(glossolalia), cura e discernimento de espíritos, e por defender a retomada de cren-
ças e práticas do cristianismo primitivo, como a cura de enfermos, a expulsão de
demônios, a concessão divina de bênçãos e a realização de milagres.
2 Compostos majoritariamente de pentecostais, a Associação dos Homens de Negócio
do Evangelho Pleno (Adhonep) e o Comitê Cristão de Homens de Negócio (CCHN),
por exemplo, procuram converter empresários e profissionais liberais mediante a
narração de testemunhos de bênçãos durante jantares e cafés da manhã em restau-
rantes e hotéis luxuosos.
3 Segundo os Censos Demográficos, os evangélicos apresentaram as seguintes taxas de
crescimento médio anual entre 1940 e 1991: 4,9% nos anos de 1940, 4,7% nos de
1950, 5,3% nos de 1960, 4,9% nos de 1970 e 4,8% nos de 1980.
4 No Censo 2000, 1.627.870 evangélicos (6,2% do total) foram classificados pelo
IBGE como “sem vínculo institucional” e “outros evangélicos”. Embora constem
na soma geral dos evangélicos, não são contabilizados nos totais de pentecostais e
protestantes históricos.
5 Com base no último Censo, a Assembléia de Deus teria saltado de 2.439.770 para
8.418.154 adeptos entre 1991 e 2000, o que representa um crescimento de 14,8%
ao ano. Por certo, o número de assembleianos foi subestimado no Censo de 1991, o
que elevou artificialmente sua taxa de crescimento na década seguinte, taxa que não
deve alcançar sequer a metade dos 14,8%. Indício de subestimação pode ser observa-
do, por exemplo, no fato de o Censo de 1991 apontar que a Assembléia de Deus
tinha apenas 17,2% dos evangélicos da região Norte e meros 10,2% dos crentes do
Estado do Pará, onde foi fundada. Dados improváveis, decorrentes, sobretudo, da
dificuldade do IBGE em identificar a denominação de considerável parte dos evan-
gélicos daquela e de outras regiões do país, o que levou a subestimar o montante de
fiéis da Assembléia de Deus. De modo geral, pode-se afirmar que o Censo de 1991
subestimou o tamanho da maioria das principais igrejas evangélicas do país. Isso
permite explicar, em parte, sua espetacular taxa de crescimento no Censo 2000.
Sobre os dados de religião no Censo de 1991, ver Mariano, 2001.
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ABSTRACT – THIS ESSAY deals initially with the growth of the Pentecostal movement and
its evolution in Brazil. It also analyzes the expansion of the Universal Church of the
Kingdom of God, prioritizing the study of its ecclesiastical organization, pastoral work,
collection capabilities and management of resources thus obtained, electronic evangelism,
the systematic offering of magical/religious services, and the deliberate syncretism with
popular religiousness.