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PALESTRA: FÉ CRISTA OU SUICÍDIO INTELECTUAL?

UECE - ABU - 23.10.97

Pr Alexandre Carneiro de Souza


Penso que se nos detivéssemos nas motivações históricas subjacentes que sustentam a formulação do
tema: Fé Cristã ou suicídio intelectual?, o tempo que dispomos não seria suficiente para sequer construír
um quadro de analise acerca dos questionamentos sobre a relação entre fé cristã e intelectualidade,
inserindo-o naquilo que Castoriadis denomina de “lógica histórica” ou seja, uma construção lingüística e
de natureza social que explica o tema proposto. O nosso tempo é insuficiente para esgota-la. No entanto,
é mais do que evidente que o tema possui uma função apologética e, desta forma, reage a uma ordem
de argumentos que pretenda afirmar a incompatibilidade entre fé cristã e exercício da intelectualidade.
Gostaria de antecipar três preposições que se me apresentam úteis no desenvolvimento desta análise:
A primeira: A isenção de valoração por parte da teoria científica na abordagem do fenômeno religioso.
A segunda: A imprescindibilidade da ação intelectiva inerente a proposta religiosa de reordenação do
cosmos tendo como base o sagrado.
A terceira: A consciência religiosa como a condição última de possibilidade de transcender a
precariedade estrutural dos mundos históricos, num processo contínuo de ultrapassagem em busca dos
significados últimos da história.
A isenção de valoração por parte da teoria científica na abordagem do fenômeno religioso:
Berger afirma que igualar religião e alienação constitui uma tomada de posição epstemológica
inadmissível no âmbito de um quadro de referência científica . Isto equivaleria dizer que a religião,
enquanto experiência comunicativa (universos de significados) desenvolveria uma função
irredutivelmente legitimadora da realidade objetiva. Tal enfoque ignora o caráter de construção humana
da prática religiosa, confinando-a a uma espécie de lei estrutural sobreposta e indiferente às
situacionalidades infra-estruturais; bem como restringe a condição criativa do ser humano. Entender o
comportamento religioso deste modo, seria, portanto, destituir a religião de sua natureza social e atribui-
lhe caráter de fenômeno da natureza. A função alienante ou emancipadora de um determinado
comportamento religioso não deve ser buscada na essência do conteúdo da fé, mas na relação da
religião, num dado momento, com infra-estruturas especificas.
A anteposição entre os conceitos de religião e intelectualidade nasceu de um desdobramento do
racionalismo. Acerca disto alguns dados devem ser ressaltados:
*) É inegável o fato de que a ciência moderna emergiu de um contexto impregnado por referências
cristãs (Alfred North Whitehead); na verdade, muitos cientistas, a exemplo de Galileu, Copérnico, Bacon,
Kleper reconheceram como verdadeira a afirmação bíblica acerca da criação do mundo por um ser
racional e que, mediante a razão, poder-se-ia chegar a compreender a ordem de universo;
*) É também inegável que a referência cristã predominante no contexto do qual a ciência moderna
emergiu se exprimia através de uma hermenêutica monoliticamente fechada, controlada pela elite
sacerdotal que negava a possibilidade de leitura do mundo através de outros recursos afora o da
teologia;
*) Com base nisto, Feuerbach afirmou a religião como sonho da mente humana. Através dela as coisas
reais são vistas no esplendor mágico da imaginação, ao invés de vê-las sob a simples luz diurna da
realidade e necessidade.
Penso que Feuerbach comete dois equívocos conceituais e, por causa disto, define precariamente tanto
o sentido de religiosidade como o de imaginação. Nessa direção precisa ser dito, em primeiro lugar, que
a anteposição entre religião e intelectualidade, enquanto analise científica, é datada e, portanto, restrita a
uma infra-estrutura sócio-histórica específica. Depois, essa classificação a que a linguagem considerada
científica, arbitrariamente, submete o fenômeno religioso, concebendo-o como ilusão, doença ou falsa
consciência, pressupõe o conhecimento como reduplicação do mundo real ou interiorização do dado
objetivo. De maneira tal que ao homem só seria permitido pensar aquilo que concretamente se situa no
mundo dos sentidos humanos objetivados.
O tempo decorrido entre o século XVI e XX contrariou os prognósticos da ciência moderna sobre o fim
iminente da religião. Pensava-se que com o avanço da história e a emergência de formas científicas de
pensar o mundo, gradativamente, a sociedade renunciaria as suas ilusões religiosas. Se a religião era,
no pensamento de Marx, o suspiro da criatura oprimida, na medida em que desaparecesse a opressão,
não existiria razões para suspirar .
O equívoco da ciência moderna constitui em rotular arbitrariamente a religião, concebendo-a como
irracionalismo primitivo, uma etapa do desenvolvimento da humanidade pré-científica, o que nos termos
da psicanálise freudiana equivaleria a uma dinâmica psíquica que substitui o real pelo imaginário , ou
seja, a essência da neurose.
Berger assinala que a perspectiva científica não deveria negar a dimensão empírica da religião ou seja,
deveria entende-la como projeção humana, baseada em infra-estruturas específicas da história humana.
Desta forma, cairia por terra a noção preconceituosa da religião entendida como ilusão. O fato religioso é
incontestavelmente um universo de significados construído pelo homem e, sendo uma construção social,
a religião é um produto humano linguisticamente erigido. Tal construção não poderia prescindir de um
exercício de intelectualidade.
Rubem Alves diz que:
“A história, entretanto, parece, que se deleita em zombar de nossas previsões científicas. Quando tudo
parecia anunciar os funerais de Deus e o fim da religião, o mundo foi invadido por uma infinidade de
novos deuses e demônios e um novo fervor religioso que totalmente desconhecíamos, tanto pela sua
intensidade quanto pela variedade de suas formas, encheu os espaços profanos do mundo que se
proclamara secularizado. O fascínio pelo misticismo oriental, a ioga, o zembudismo, a meditação
transcendental, os cultos demoníacos, a feitiçaria, a busca de experiências transracionais como o falar
de línguas estranhas (não mais explicáveis em termos de classe social). Todos esses elementos fizeram
cair por terra as previsões científicas acerca do fim da religião” .
Como uma exteriorização dos sentidos que habitam o mundo da consciência dos homens, a religião,
como as demais construções sociais, é antes de tudo um empreendimento racional sustentado pelas
relações comunicativas precedentes. A fonte de onde emana a instituição religiosa não é outra senão a
própria experiência cotidiana das relações dos indivíduos com o mundo exterior.
Como bem expressa Max Werber:
“A ação religiosa ou magicamente motivada é ademais, precisamente em sua forma primordial, uma
ação racional, pelo menos relativamente, ainda que não seja necessariamente uma ação orientada por
meios e fins, orienta-se, pelo menos, pelas regras da experiência. A ação ou o pensamento religioso ou
mágico não podem ser apartado, portanto, do círculo das ações cotidianas ligadas a um fim, uma vez
que também seus próprios fins são em sua grande maioria de natureza econômica” .
O mesmo Max Weber, ao afirmar uma contribuição direta da ética do protestantismo na expansão do
capitalismo, põe por terra a noção da religião, como ilusão. Como sabemos a evolução do capitalismo
nas suas mais diferentes formas, nada tem de fantasia. Como se explicaria o fato de que um dado
meramente ilusório, como a crença protestante, fosse capaz de agir de modo decisivo na determinação
concreta da história do capitalismo?
Creio que poderíamos encerrar esse primeiro ítem mencionando, como exemplo recente, a trajetória
científica de Renê Girard., Graduado em Filosofia e pós-graduado em História na França. Doutorou-se
em História nos E.U.A. Sua carreira profissional, como professor, ficou ligada basicamente nas
universidades americanas. Dos 10 aos 38 anos estava distante de uma prática religiosa e considerava-
se vagamente ateu. Ele sublinha que sua conversão está intimamente vinculada à própria evolução de
seu trabalho teórico. Dos 38 anos em diante se declarou convicto cristão, ligado à tradição católica.
A imprescindibilidade da ação intelectiva inerente a proposta religiosa de reordenação do cosmos:
Teríamos que sublinhar os fenômenos da exteriorização e da objetivação do universo subjetivo da fé
cristã.
Quando mencionamos a exteriorização e a objetivação do universo de sentido do ser religioso, estamos
nos referindo a um último estágio do desenvolvimento da religião, ou seja a religião racional, que se
exprime na experiência concreta e coletiva de uma determinada comunidade humana pela veiculação de
um conjunto de verdades religiosas, linguisticamente estruturadas. Na medida em que concebemos a
religião nos termos de uma projeção humana, uma construção social, temos a admitir que ela jamais o
seria sem um quadro lingüístico de referência. Ou seja, é na passagem do estado de consciência acerca
do além como real que espera ser realizado, para a comunicação objetiva desse sentimento, mediante
dogmas, doutrinas, crenças com o fim de revestir o cosmos de um significado sagrado, que a construção
religiosa exprime sua racionalidade. Em outros termos, a efetivação do sentido religioso não ocorre fora
do contexto de um agir comunicativo.O racional em religião é aquilo que permite comunicação. Só se
comunica aquilo que é racional. O aspecto emotivo não é plenamente comunicável. Aquilo que
normalmente entendemos por religião é a religião em sua formulação racional, ou seja é a objetivação do
sagrado, que ocorre mediante a reorganização das crenças e rituais como elementos centrais de uma
coerente ordenação da vida. Uma organização que poderá ser apreendida coletivamente mediante uma
linguagem unificadora com respeito a condutas que mereça a aprovação ética.
A ação religiosa possui três momentos distintos:
1. A emoção do sentimento de solidão ante a constatação da precariedade do mundo;
2. A produção de pensamentos e a estruturação da linguagem;
3. A instituição de uma cultura religiosa;
Esses três momentos são fundamentais para uma compreensão da transição do sentimento religioso
para uma religião racional. Como diz Whitehead:
“A religião racional não produz somente emoções, mas também, pensamentos dentro dos limites da vida
prática A exteriorização do sentimento religioso significa, em outros termos, a própria experiência
religiosa, e esta não se efetiva por outros meios senão através dos sentidos comuns do homem normal” .
O que isto significa ? Significa que o religioso é um homem normal que, através dos sentidos e de sua
capacidade intelectual, gesta as suas experiência de ser no mundo. Whitehead ainda acrescenta que a
experiência religiosa, vivida pelo homem, pertence à normalidade de suas experiências. Têm-se a
experiência religiosa como se tem a experiência de, por exemplo, conhecer o mundo. A objetivação da
religiosidade humana implica na produção de uma ética religiosa estruturada numa linguagem adequada
e numa organização coerente de crenças e de ritos, de maneira que garantam a sua comunicação e num
sentido prático, influenciem a ação dos indivíduos. A esse nível de religiosidade chamamos doutrina.
Mediante sistemas doutrinários racionalmente ordenados, o corpo burocrático da religião veicula um
saber sagrado que interpreta as experiências místicas e sistematiza a conduta do fiel no mundo. A
validade de tal racionalidade reside no seu caráter sagrado. A doutrina é o elemento organizador da vida
religiosa. Ela cria possibilidades para a prática coletiva do culto, e possui uma pretensão globalizante, no
sentido de que, a inserção do religioso no ambiente, não apenas se situe no contexto da atitude ritual
presente no culto, mas que englobe toda a experiência vivida, fundamentada numa matriz ideológica
religiosa.
A consciência religiosa como a condição ultima de possibilidade de transcender a precariedade estrutural
dos mundos históricos, num processo contínuo de ultrapassagem em busca dos significados últimos da
história.
A história vivida pelos homens possui duas dimensões: a situacional e a transcendental. A situacional diz
respeito a experiência cotidiana num contexto de significações. A transcendental encarna a efetivação do
ser do homem, rompendo o caracter determinante de sua existência, confrontado pela possibilidade
histórica do diferente.
Em outros termos, o homem, enquanto tal, produz sua própria história, mediante o conflito entre a
faticidade de situar-se num mundo determinado que caracteriza o ser humano, e a possibilidade aberta
para a emergência de novos significados, que o fazem transcender a realidade objetiva mediante a
elaboração subjetiva de realidades inéditas.
Em outras palavras, esse conflito entre o situacional e o transcendental afirma o processo no qual o
homem procura conquistar o seu ser. Os irracionais vivem um mundo fechado em termos de
possibilidades; tudo acha-se determinado pela estrutura dos seus instintos. O mundo do homem é
imperfeitamente programado; é um mundo aberto e que deve ser modelado pela própria atividade do
homem.
É na dimensão transcendental que se situa a emergência de novos sentidos e que revela a condição de
possibilidade do processo indefinido de ultrapassagens históricas num ato de fazer-se continuamente
homem.
Segundo Manfredo , a vida humana é a experiência da transcendência permanente, na qual emergem os
mundo históricos concretos como mediações não esgotadas do processo indefinido de conquista da
liberdade solidária. A história só permanece humana como movimento de pensamento, possibilitador de
ultrapassagem das condições objetivas limitantes. A vida humana, como processo permanente de
ultrapassagem, aponta para a busca da possibilidade última do processo histórico, ou seja, a experiência
do absoluto. Essa busca pela experiência do absoluto caracteriza-se por duas coisas: a construção de
mundos históricos e a alteridade desses mundos pela transcendência permanente do homem.
Com isto afirma-se que a experiência religiosa, enquanto explicitação dessa busca do absoluto, está na
raiz da experiência humana, por constituir-se “consciência negadora” da possibilidade de absolutização
de qualquer realidade finita. A história humana, enquanto tal, só é possível como referência ao absoluto,
de maneira que a sua negação (do absoluto) seria a redução da vida humana ao nível da natureza e a
negação da própria historicidade do homem.
Deste modo, Manfredo assevera:
“A experiência religiosa não só, em princípio, não se contrapõe a esta experiência fundante da existência
humana, mas se revela como sua condição última de possibilidade à medida que só a consciência do
absoluto, enquanto tal, pode possibilitar o processo enquanto processo...A consciência religiosa abre ao
homem a chance última de ser homem.”
Ora, Manfredo vai estabelecer uma clara refutação ao argumento que concebe a religião como ilusão ou
doença. Ao contrário, ele vai afirmar que a verdade religiosa se desenvolve quando nossos sentidos
comuns e nossas operações intelectuais atingem o seu mais alto grau de disciplina. Isto parece estar
claro quando o autor atribui a consciência religiosa uma condição possibilitadora para o alcance da
chance última de ser homem. Ou seja, é mediante uma consciência religiosa que o homem desenvolve
generalizações sobre verdades ultimas. Deste modo, a religião se situa não como entrave ao avanço
histórico, mas como uma exigência que emerge no interior da própria história.
A crítica que ao longo do tempo tem se abatido sobre a religião, a concebe como uma explicação
primitiva do mundo, como se seu propósito tivesse que equiparar-se ao da ciência, cuja finalidade é
descrever objetivamente a realidade. Tal postura desconhece tanto a natureza quanto a finalidade da
religião. Qual a intenção original da religião ? Originalmente, a intenção da religião não é explicar o
mundo e, muito menos mante-lo tal qual o encontra objetivamente, mas transcende-lo. Ela nasce como
forma de protesto, uma busca do inédito, um tipo de consciência “desacomodada” que busca desinstalar-
se das limitações dos mundos historicamente construídos, cujo projeto utópico é a transcendência . Os
conceitos de alienação, extra-mundanismo, ser fora-do-mundo aplicados dogmaticamente à religião ou
ao religioso, ignoram o seu caráter essencial que é a inovação da experiência pela superação da
precariedade dos mundos históricos, em um processo de busca da axperiência absoluta.
Concluindo: Como bem disse Weber a ação religiosa é, em sua forma primordial, uma ação racional.
Religião e razão não se contrapoem. Temos no entanto que admitir que a religião, à semelhança de
outras projeções humanas, como o estado, as leis, pode.

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