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ESCOLA SECUNDÁRIA DE FRANCISCO FRANCO 2006/07

12º ano PORTUGUÊS Data: / /


Turma: Lição nº

Nome: Nº:

Fernando Pessoa e Luís de Camões:


Heróis e Mitos n’Os Lusíadas e na Mensagem

Os heróis de Os Lusíadas são criaturas de carne e osso, argamassados com o barro da


natureza humana e os sonhos de que o homem é capaz. Na prossecução dos sonhos ora os
ajuda uma intervenção divina de raiz cristã, ora os protege ou impulsiona uma moção dos
deuses do Olimpo. De qualquer modo, nunca as armas e os barões assinalados, que o poeta
exalta, ultrapassam em seus feitos mais do que «permitia» a força humana. São heróis em
quem as limitações próprias da condição humana se manifestam. (…)
Em confronto com Os Lusíadas, a Mensagem de Fernando Pessoa mitifica os heróis.
Enquanto Camões no-los apresenta como homens de carne e sentidos, Fernando Pessoa
procura neles, sobretudo, os valores simbólicos. (…) O poema divide-se em três partes: a
primeira parte subtitulada de Brasão, a segunda de Mar Português e a terceira de O
Encoberto. Já se terá reparado que a primeira parte, que diz respeito ao Reino, é referente à
terra, e que a segunda parte se refere à água — Mar Português — e a terceira ao ar (sonhos,
neblinas, nevoeiro)? (…) Em Brasão, a figura dominante é Nun’Álvares; no Mar Português
o infante D. Henrique, e em O Encoberto D. Sebastião. De uma terra, de um Reino
conhecido parte-se à descoberta do mar e constrói-se um império: depois, o Império se desfez,
e o sonho e o Encoberto são a raiz e a esperança de um Quinto Império. (…)
A Mensagem pode encarar-se como uma espécie de poema sinfónico com uma
abertura (os campos e os castelos), um primeiro movimento, em crescendo, significando a
consolidação do Reino (as quinas) e da Coroa (Nun’Álvares Pereira); num segundo
movimento a tensão trágica cresce até à catársis (cf. «O Timbre» e Mar Português); e num
terceiro movimento, O Encoberto, em de-crescendo, até à quase surdina, recria-se o Quinto
Império — Reino do Encoberto, visionado em sonhos e profecias; o remate será um quase
grito estridente — «É a Hora», por oposição à verificação parda e triste: «Tudo é incerto e
derradeiro. / Tudo é disperso, nada é inteiro. / Ó Portugal, hoje és nevoeiro…» (…)
Na segunda Parte da Mensagem, o Infante e os que com ele fizeram o Mar Português
são os heróis. Mas heróis desincarnados; antes símbolos de um dever-ser. Dir-se-ia que os
heróis de Os Lusíadas se inserem numa teoria da História de Portugal; que Camões faz uma

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narrativa comentada da História de Portugal. Fernando Pessoa, esse elabora uma metafísica
do ser português e nela radica a sua Mensagem-apelo. É ilustração deste propósito (?), o
primeiro verso do poema que abre a série Possessio maris e se intitula «O Infante»: «Deus
quer, o homem sonha, a obra nasce». Bartolomeu Dias foi o Capitão do Fim e quem dobrou o
Assombro; Fernão de Magalhães e Vasco da Gama são os mitos da ousadia, do sonho e do
espanto, e do poder de dominar os céus e a terra.
D. Sebastião, que na Mensagem surge com gigantescas dimensões, sobretudo em
confronto com o lugar quase mesquinho da dedicatória n’ Os Lusíadas, é o Sonho e a
Loucura, é a Ambição e a Grandeza. D. Sebastião, na primeira parte do Poema — no Brasão,
é uma das Quinas: é a loucura que fecunda o sonho e leva o homem a ultrapassar os limites
da «besta sadia / Cadáver adiado que procria».
Mas na terceira parte do Poema — O Encoberto — o seu vulto bruxo agiganta-se. Ele
é um dos símbolos: o primeiro; o seu nome é uma espécie de amen no poema — O Quinto
Império (segundo dos Símbolos). Ele é, de certo modo, O desejado (terceiro dos Símbolos);
e, nas Ilhas Afortunadas (quarto dos Símbolos) é talvez a sua voz que lá ecoa, lá onde mora
o Rei esperando. Que Rei, senão o Desejado, o Encoberto? E no Encoberto (o quinto dos
Símbolos), o símbolo final será o da Rosa do Encoberto. (…)
Dir-se-ia que em Mensagem o que interessa é mostrar como os Adamastores e suas
falas, os Mostrengos e suas rondas foram vencidos. Agora os Avisos intentam despertar Quem
foi Senhor do mundo, Senhor dos Mares para Aventuras que façam cumprir-se Portugal. E
surgem os Símbolos que são os mitos verbalizados; poderes que podem encaminhar Portugal
para grandezas futuras: D. Sebastião, o Desejado, o Encoberto, o Quinto Império, as ilhas
afortunadas. Nesta perspectiva, todos estes símbolos aludem e englobam valores do episódio
mítico de Os Lusíadas: ilha dos Amores. (…)
Os mitos de Os Lusíadas correspondiam a uma sublimação das dores e dos prémios
das navegações, a uma sublimação da história; e os heróis situam-se no plano da história —
criaturas de carne e osso, com grandezas e fragilidades, próprias de quanto é humano. Os
mitos na Mensagem são «o nada que é tudo»: são a transfiguração das personagens; são
símbolos, poderes verbalizados, que projectam os «heróis» na zona da meta-história,
transformando-os em mitos. A Mensagem a decifrar, radicada na grandeza mítica do Passado
e projectada na incomensurável grandeza do Futuro, está contida nos mitos do Encoberto, do
Desejado, do Quinto Império, das Ilhas Afortunadas.
Nesta perspectiva, heróis e mitos n’Os Lusíadas narram as grandezas passadas; heróis
e mitos na Mensagem exaltam as façanhas do passado, em função de um desesperado apelo
para grandezas futuras.
Santa Bárbara, Abril de 1980
Maria de Lourdes Belchior

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