4uatro

Por Rodrigo Sena

Cena 1 – Int / Dia (Manhã) / Sala de necrotério

Augusto está sentado e observa algo.

Augusto (OFF)
Toda a minha vida estava diante da morte...

Plano fechado em Augusto. Não é possível identificar o

local nem o que ele observa.

Cena 2 – Int / Noite / Porta do apartamento de André

(Corredor)

Laura bate na porta.

Já está batendo há algum tempo.

Laura
André, abre a porta. Vai André! Abre!
Olha, eu passei no mercado e comprei uma lata de leite
condensado.
Porque que a gente não bate com aquele vinho?
Sei lá... Podemos assistir um filme.
André? Abre a porta.
Você quer dar uma saída? Ver gente, sabe?
André?
Porra, André!
Eu preciso conversar com alguém...
 Só tenho você pra me abrir... Só você me entende...

Laura se senta no chão.

Pó, cara, você ta sendo egoísta, sabia?

Eu sei que você também ta com problema, mas não precisa se
isolar e me ignorar.
Além do mais, problemas de amor sempre se resolvem.
Principalmente quando são duas pessoas que se gostam.
Você pelo menos tem alguém que gosta de você...
Queria eu ter problemas desse tipo...
Quer saber, André.
Vai tomar no cu!

Laura vai embora.

Cena 3 – Ext / Noite / entrada do prédio

Laura sai do prédio e acende um cigarro.

João Carlos aparece.
Ela olha para ele e vai embora.
José Carlos a olha se afastar e entra no prédio.

Cena 4 – Ext / Noite / Rua

Leonardo fala ao telefone com Selminha.

Não vemos Leonardo, somente o telefone público.

Leonardo
Olha Sel, a gente precisa sentar com calma e conversar.
 Selminha
Não, Léo, nós não temos mais o que conversar.

Leonardo
Porque isso?

Selminha
Ah, Léo... pó... Não força... eu não quero mais... Não
quero me prender a ninguém... Eu quero viver a minha vida, eu
to nova. E você quer relacionamento sério, quer casar.

Leonardo
Eu não quero casar. Só quero ficar com você.

Selminha
Olha só, Léo... eu quero ficar sozinha... quero curtir...

Leonardo
Ta certo, eu entendi o que você quer...

Selminha
O que que você quer dizer com isso?

Leonardo
Nada...

Leonardo desliga o telefone.

Cena 5 – Int / Noite / Sala

Selminha desliga o telefone.

 Selminha
Eu acho que ele quis dizer que eu sou piranha...

Helena
Também pudera... Você nem dá a chance pro rapaz conversar
pessoalmente, termina por telefone.

Selminha
Eu não tenho muita paciência pra essas coisas... ai, coisa
mais chata...

Helena
Pelo menos você tem alguém que te quer.

Selminha
Ué... você não tem porque não sai de casa.
Helena
E eu vou pra onde? Com quem?

Selminha
Sair, conhecer gente nova. Vai, hoje você vai sair comigo.
Vai se arrumar.

Helena
Com você? Ta doida? Esses lugares que você freqüenta...

Selminha
O que que tem?

Helena
Não é o tipo de lugar que eu iria. Gente estranha.
 Selminha
Helena... É por isso que você ta sozinha...

Helena
Ah.. Eu só não gosto de me misturar com esse tipo de pessoa

Selminha
Que tipo de pessoa?

Helena
O tipo de pessoa que anda com você

Selminha

Helena, eu só relevo o que você diz porque é minha prima e eu

gosto de você. E por causa disso vou te dar uma chance de
mudar de opinião. Hoje você vai comigo. E se você não mudar
de opinião sobre as pessoas que vai conhecer eu volto pra
casa pelada.

Helena
Ai, não sei.

Selminha
Vamos... quem sabe você até não arruma um bonitão?

Helena
Cheirando a cigarro e cachaça? Eu dispenso...

Selminha
Ou quem sabe uma bonitona...
 Helena
Eu prefiro me matar antes disso acontecer.
Ta bom. Eu vou me arrumar, sua chata.

Cena 6 – Int / Noite / Delegacia (Escritório)

Augusto arruma suas coisas pra ir embora.

Sai do escritório e caminha pelo corredor.
Augusto manca de uma perna.
No meio do caminho encontra Ronaldo que vem com Antonio.

Ronaldo
Augusto, fazendo serão? Esse é o Antonio, começou hoje e ta
conhecendo as coisas.

Augusto
É um prazer.

Antonio
Finalmente eu conheci você. Ouvi muito falar.

Augusto
Imagino

Antonio
Foi uma tremenda falta de sorte não é?

Augusto
Eu tenho que ir, já to atrasado pra um compromisso. Foi um
prazer e seja bem vindo.
 Augusto sai.

Ronaldo
É um pobre coitado. Não aceita o que aconteceu...

Antonio
É, mas as pessoas não ajudam. Eu só ouvi chacota.

Ronaldo
Foi motivo de piada por muito tempo.

Antonio
Ele caiu mesmo?

Ronaldo
Foi numa batida. Na invasão ele tropeçou, pisou num buraco
sei lá. Na queda o fuzil disparou e acertou o joelho dele.
Nunca mais se recuperou. E teve que passar a fazer serviços
internos.

Antonio
Eu não faria piada disso.

Ronaldo
Nem eu. Mas o pior de tudo acho q nem é a piada... Mas eu
tento imaginar o que eu faria se isso acontecesse comigo.
Vamos meu rapaz.
Cena 7 – Ext / Noite / Delegacia (Porta da frente)

Augusto sai e caminha pela calçada.

Cena 8 - Ext / Noite / Rua (Cinema / Calçada)

Leonardo sai do cinema e caminha pela calçada.

Leonardo chega à frente de um beco e entra.

Cena 9 – Ext / Noite / Beco

Leonardo está parado dentro do beco olhando a rua.

Ele ouve ruídos vindos do fundo do beco.
Ele olha assustado.

Leonardo
Quem está aí?

Laura
Você tem fogo?

Leonardo
O que?

Ela mostra o cigarro para ele.

Laura
Fogo...
 Leonardo
Não, desculpe... Eu não fumo.

Laura
Meu nome é Laura.
Que nem naquela música do Roberto Carlos, sabe?
Lady Laura?

Leonardo
Não...

Laura
Claro que Conhece: “Lady Laura, Me leva pra casa...”

Leonardo
Ah... Legal...

Laura
O que está fazendo aqui?

Leonardo
Nada... Só estou aqui parado.
 Laura
Você não entendeu. O que está fazendo aqui? Nesse beco?
Porque parou aqui? Tá esperando alguém?

Leonardo
Simplesmente me deu vontade de parar aqui... Sei lá
porque... Pra pensar, olha a vida... Ficar sozinho.

Laura
Desculpe... Estou te incomodando, né? Não foi minha
intenção.

Leonardo
Espere!
Desculpe. Eu não quis dizer que você estava incomodando...
Só pensei que aqui estaria sozinho. Nunca ia imaginar
encontrar alguém num beco escuro.

Laura
O que está te preocupando?
É mulher, certo?
Vai... conta...
É mulher?

Leonardo
É sim... Uma mulher... e daí?
 Laura
O que aconteceu?

Leonardo
Não quero falar disso.

Laura
Tomou um chute na bunda? (rindo) É! Tomou um chute na
bunda!

Leonardo
(gritando) Você quer parar com isso? Não é engraçado!
Você nunca se apaixonou por ninguém?
Nunca se sentiu rejeitada?
Você se diverte com o sofrimento dos outros, né?

Laura
Não... Eu gosto de acabar com o sofrimento dos outros. Você
não gostaria que eu te... Ajudasse a amenizar essa dor?

Leonardo
Como assim?

Ela caminha de forma sensual na direção dele.

 Laura
Você está sozinho... Foi dispensado... Deve estar
carente... Porque ficar aí remoendo esse sofrimento?

Leonardo
O que você está sugerindo?

Laura (irônica)
Tão inocente...

Ela se afasta um pouco, pega um isqueiro na bolsa e

acende o cigarro.

Leonardo (surpreso)
Ah... Então você tem fogo?

Ela dá uma tragada no cigarro e o observa por alguns

instantes.

Laura (desafiadora)
Muito... Quer?

Ele se aproxima devagar.

 Leonardo
Quero!

Ela se aproxima mais mantendo o rosto bem perto do rosto

dele.

Laura (desafiadora)
Pega!

Ele a beija com intensidade.

A ação se intensifica em beijos e carícias violentas até
que ela o empurra para longe.
Ele fica olhando assustado.
Ela caminha até ele, segura o rosto dele, acaricia sua
boca e aproxima a boca do seu ouvido.

Laura (sussurrando)
Hoje não... Outro dia...

Ela caminha em direção à saída do beco.

Laura
A gente se vê por aí...

Ela sai.
Ele corre e sai do beco.
 Leonardo olha para os lados e vê ela à distancia
caminhando pela calçada.
Ele sorri.

Leonardo (OFF)

Satisfeita por ser desejada... tão satisfeita, tão

sensual e tão perversa...

Cena 10 – Int / Noite / Casa de Augusto

Augusto entra em casa, larga a bolsa e ativa a

secretária eletrônica.
Existem 3 mensagens. Todas da ex-mulher, Silvia.
Enquanto tocam as mensagens ele serve uma dose de whisky
e se senta no sofá.
Junto com a primeira dose ele toma 3 comprimidos.

Mensagem 1
Augusto? Onde você se meteu? Já tem 2 semanas que você nem
manda notícias, não responde meus recados. Me liga.

Mensagem 2
Augusto eu já to ficando preocupada. Você ta trabalhando
demais. Já são 8 horas e vc ainda não chegou em casa. Liga
pra cá. O Matheus ta com saudades. Ele quer falar com você.
Tchau.
 Mensagem 3
Porra, augusto, Você ta aí? Você não quer atender? É seu
filho. Porque você ta fazendo isso? Já tem 1 ano. A culpa
não foi sua, foi um acidente. Você não precisa descontar
isso em você... Ou em nós... A gente sente sua falta...
Liga pra cá...

Augusto fica sentado em silêncio.

O telefone toca.
Ele se levanta devagar e atende.

Silvia
Você chegou tarde.

Augusto
Muito trabalho.

Silvia
Quando você vai vir aqui? O Matheus tem perguntado por você.
Ele sente sua falta... e eu também...

Augusto
Olha, eu só preciso de um tempo.

Silvia
Você já ta dizendo isso a 4 meses.

Augusto
Mas eu preciso de mais.
 Silvia
Tempo pra que.

Augusto
Olha, Eu...

Silvia
Espera um pouco.

Ele espera na linha.

Matheus
Papai?

Augusto
Oi, filho.

Matheus
Papai? Quando você vem aqui?

Augusto
Logo logo, filho, eu vou te ver.

Matheus
Eu quero jogar bola.

Augusto
Eu vou jogar bola com você meu filho.

Matheus
A mamãe comprou um cachorrinho pra mim. O nome dele é Pupi.
Ela disse que era nome de cachorro pequeno, mas ele é tão
pequeno. Mas ela disse que ele ia crescer mais. Você acha
que pupi é nome feio pra cachorro grande?

Augusto
Não... Pupi é um nome lindo, meu filho. E se ele crescer
muito você chama de pupão.

Matheus
Eu te amo pai

Augusto
Eu também te amo. Agora deixa eu falar com a sua mãe.

Silvia atende o telefone.

Augusto
Não faz mais isso.

Silvia
É seu filho e ele quer falar com você.

Augusto
Eu não quero que faça mais isso.

Silvia
Até quando vai se sentir menor? Aconteceu, foi um acidente,
você precisa superar isso
 Augusto
Eu não consigo. Será que você não entende isso? Tudo que eu
sempre quis fazer e eu não posso. Sou motivo de piada. O
homem que escorregou. Eu não ando direito, não durmo
direito, não posso nem jogar bola com meu filho. A dor
física é o de menos. Eu não me sinto nem homem mais... Não
me sinto capaz...

Silvia
Pára com isso.
Olha... Porque que você não vem no domingo? Vamos fazer um
almoço e você passa a tarde com a gente. Faça isso pelo seu
filho. Por favor.

Augusto
Eu vou pensar nisso. Prometo. Agora... Boa noite.

Silvia
Um beijo.

Augusto desliga o telefone e sai de casa.

Cena 11 – Int / Noite / Porta de apartamento (corredor)

João Carlos bate na porta de André.

João Carlos
André? Sou eu.

André abre a porta rapidamente e eles se encaram.

João Carlos entra e vai para o ...
QUARTO

João Carlos entra no quarto com decisão e abre o

armário.
Pega uma bolsa e começa a colocar umas roupas e objetos
pessoais dentro dela.
André entra no quarto e observa a ação de João Carlos.
Ele se encosta em um canto e vai se encolhendo aos
poucos.
Ao pegar um CD João Carlos se demora um pouco olhando
para ele e depois lança um olhar para André.

André
Muitas lembranças, não é?

João Carlos coloca o CD de volta na gaveta e continua

separando suas coisas.
Vai até o banheiro e recolhe seus pertences.
João Carlos fecha o armário e a bolsa, coloca-a nos
ombros e vai em direção à porta.

André
Pára!

João Carlos pára e se vira para ele.

André
Não vai não... Fica... Por favor...
 João Carlos
Não faz isso. Você sabe que eu não posso ficar.

André
Claro que pode. É só você querer. Eu sei que você quer.

João Carlos
Não! Não é certo!

André
Certo? Você acha que o amor não é certo? E tudo que nós
vivemos? Tudo o que nós sentimos?

João Carlos
Eu não quero mais discutir isso. Acho que já te disse tudo o
que deveria a respeito disso.
Você sabe da minha vida. Você sabe que eu tenho uma vida.
Uma família. Minha mulher... Meus filhos...

André se levanta e vai para a janela.

André
você tem sempre que lembrar da porra da sua família... Da
sua felicidade perfeita que você já deixou bem claro ser uma
falsa felicidade.

João Carlos
Não é bem assim...
 André
Eu nunca te pedi para deixar sua família... Nunca te pedi
nada... Nem te pedi para vir. Você simplesmente veio...
Sim... você veio... Veio, entrou, ficou o tempo que queria
e agora quer abandonar.
Você quer ir embora, né?

Caminha até a porta e aponta para fora do quarto.

André
Então vai! Some daqui! Sai da minha vida!

João se vira e recomeça sua caminhada em direção à porta

André se joga de joelhos aos seus pés.

André
Não... Por favor... Eu preciso de você... Não vai...
Fica...

Enquanto fala e pede para João Carlos ficar, André vai

subindo, escalando o corpo de João Carlos que fica
impassível.
Se olham cara a cara.

André
Eu te amo... Eu te amo.. entenda que eu te amo...

André abraça João Carlos e procura seus lábios.

Eles se beijam.
João Carlos larga a sacola e o abraça.
 André
Vai...

João Carlos fica olhando para André.

João Carlos
Como é?

André volta para a janela.

André
Você não quer ir embora? Então vai...

João Carlos
Eu não sei mais... Estou confuso...

André vira-se para ele e sorri.

André
Vai sim... Tudo o que eu quero de você já tá guardado aqui
dentro... eu prefiro você guardado aqui dentro... Não
preciso de suas fraquezas... Dos seus medos... E é só isso
que terei se você ficar... Vai...

André volta para a janela.

João Carlos pega a sacola e sai.
André espera e ouve o barulho da porta se batendo.

Cena 12 – Int / Noite / Bar

Augusto está sentado no balcão e toma uma bebida.

Do outro lado do balcão uma mulher o olha.
 A mulher se aproxima e senta do lado dele.

Mulher
Oi, bonitão. Que tal me pagar ma bebida.

Augusto
Desculpe, querida, mas não vai ser hoje.

Mulher
Que isso, bonitão? Não quer se divertir?

Augusto
Não.

Mulher
Ah, que isso...

A mulher tenta acaricia-lo nos genitais e Augusto segura

a mão dela com força, que dá um gemido de dor.
Um homem se manifesta no fundo do bar.

Homem
Ei, solta a garota.

Augusto solta e continua bebendo.

 Homem
Qual é, cara? Você se acha valente com as mulheres é? Vem
cá ser comigo.

Mulher
Valente nada, é uma bicha. Ele fez isso porque eu chamei ele
pra trepar.

Homem
Tu é viado, é?

Mulher
Ou então é brocha!

Augusto se irrita e se levanta.

Augusto
Eu acho bom vocês ficarem quietinhos e pararem com isso.
Você não sabem com quem estão falando.

Homem
Ah não? E eu to falando com quem?

Augusto puxa a carteira e mostra a identificação de

policial.

Augusto
Agora vai cuidar da sua vida e me deixa em paz.
 Homem
Acontece que não gostamos muito de policiais por aqui.

Augusto
Foda-se você

O homem pega Augusto e dá um soco nele, que cai no chão.

Quando pensa em reagir o homem puxa uma arma e aponta
para Augusto.

Barman
Ei, cara, deixa isso pra lá. Bota só ele pra fora daqui e ta
tudo certo. Não vale a pena. Ele nem é um policial de
verdade.

O homem ri da cara de Augusto.

Cena 12 – Ext / Noite / Frente do Bar

Augusto é jogado na calçada por 2 homens.

Ele se levanta e vai andando pela calçada.

Cena 13 – Int / Noite / Bar (Boteco do Osmar)

Helena e Selminha chegam no bar.

Algumas pessoas cumprimentam selminha ao longe.
Helena fica assustada com o ambiente.
Selminha corre para os braços de um rapaz e o beija.
Helena vai logo atrás dela.
 Calisto (OFF)
Helena era assim...
Tinha dificuldades em aceitar as coisas do mundo.
Tinha medo de tudo que era diferente.

Selminha
Essa é minha prima Helena.
Quer beber alguma coisa, Helena?

Helena
É... Seria bom...

Selminha
Pede ali no Balcão pro Osmar.

Calisto (OFF)
Pensava em casar, ter filhos e ter uma vida normal.
Aquela vida normal de casa com quintal, Jantar à mesa com a
família e Igreja todos os domingos.

Helena caminha devagar para o balcão

Helena
Com licença...

Osmar
Fala aí, Gata!

Helena
O senhor poderia me dar um vinho?
 Osmar
Que tipo?

Helena
Tinto seco, por favor.

Osmar
Saindo!

Calisto (OFF)
Só que ela não sabia que esse não era o seu destino.
Para poder sobreviver ela precisaria aceitar o fato de que
seus desejos iriam além disso.

Osmar dá um copo com vinho.

Ela tira o dinheiro da bolsa e dá para Osmar.

Osmar
Se quiser paga tudo no final.

Helena
Prefiro pagar logo. Não devo demorar muito por aqui.

Helena pega o copo e percebe que tem um homem sentado na

outra ponta do balcão que a olha.
Ela fica sem graça e vai para a porta do bar.
Fica alguns segundos observando as pessoas no bar.
Alguém passa gritando para o Osmar e esbarra nela,
derrubando o vinho na roupa.
 Homem
Opa, desculpa aí gatinha.

Helena não responde e vai até o balcão.

Helena
Onde fica o banheiro?

Osmar
Pega esse corredor aí. É lá no fundo. Não se preocupe não,
gata. É limpo.

Helena olha para o homem do balcão e dessa vez ele não

está olhando para ela.
Ela pega o corredor e vai caminhando.

Calisto (OFF)
Acho que Helena nem imaginava que iria me conhecer nessa
noite.
Mas foi aí que eu entrei na vida dela.

Helena encontra o banheiro.

Helena
É... Pelo menos é limpo.

Quando estava entrando ouviu um ruído mais ao fundo do

corredor.
Ela segue pelo corredor e existe um segundo banheiro.
Ela observa que tem 2 pessoas dentro.
São 2 mulheres e estão se beijando e se acariciando,
Calisto e Alice.
 Ela foge sem pensar, mas pára no meio do caminho.
Calisto Percebe o movimento e vê Helena.
Helena volta e se esconde atrás de uma pilastra.
Calisto, sabendo-se observada, faz com que Alice
desça e faça sexo oral nela, mas não olha fixamente para
Helena.
Helena não consegue para de olhar para as 2 mulheres e
começa a tocar os seios.
Calisto olha fixamente para Helena, que sai de trás da
pilastra ficando visível para ser observada.
Calisto observa Helena e pede, com o olhar, para ela
levantar a saia.
Helena obedece devagar e ainda sem jeito.
Da mesma forma, pede para Helena tirar a Calcinha e ela
obedece de novo.

Calisto (OFF)
Como ela era linda.
Eu podia ver nos olhos dela que ela pedia por mim.
Parece que me esperava.

Calisto começa a demonstrar sinais de muita excitação.

Helena leva a mão bem devagar para a virilha e começa a
se masturbar.

Calisto (OFF)
Era a outra que tocava o meu corpo, mas era com Helena que eu
me relacionava.
Era Helena que me dava todo aquele prazer.
 Helena se segurou na pilastra.
Seus movimentos ficavam cada vez mais intesos.

Calisto (OFF)
Foi aí que eu consegui ver.
Havia pânico no seu olhar.

Helena olha para Calisto e sai correndo.

Calisto (OFF)
Pânico de quem não consegue compreender a si próprio.

Helena passa correndo pelo bar e Selminha a vê.

Selminha
Helena? Aonde você vai? Helena?

O homem que ela estava beijando a segurou por trás.

Homem
Ela vai ficar bem. Vem cá.

Eles se beijam de novo.

Helena está correndo pela rua.
Ela chega até uma ponte e pára.
Se encosta no parapeito e fica ali.
Ainda no banheiro a mulher que estava com Calisto sai e
a deixa lá fumando um cigarro.
Calisto sai do banheiro e pega a calcinha que Helena
deixou para trás no chão.
 Calisto (OFF)
Foi a única vez que eu vi Helena.

No bar selminha está discutindo com o namorado quando

Calisto está se aproximando.

Selminha
Eu tenho que ir atrás dela.
Saber o que aconteceu.

Homem
Porra, não sei porque você trouxe essa pudica pra cá.
Menina mais nojentinha.
Deve ter saído porque viu uma barata.

Selminha
Eu to preocupada.
A Helena não é de fazer isso.

Homem
Vem cá que eu tiro sua preocupação.

Selminha
Não. eu tenho que ir.

Homem
Ah, então vai.
Coisa chata!

Selminha sai e o homem olha para Calisto com interesse.

Ela faz um sinal feio com a mão pra ele.
 Calisto (OFF)
Tem certas coisas que só acontecem uma vez na vida.

Calisto vai para o balcão.

Calisto
Vai Osmar, me dá um troço aí pra beber!

Cena 14 – Int / Noite / Casa de Augusto

Augusto entra em casa e toma mais 3 comprimidos com

whisky.
Ele se senta no sofá e fica por alguns instantes
bebendo.
Depois de algum tempo ele levanta e volta a se sentar.
Ele tem uma arma nas mãos.
Augusto tenta se matar, mas não consegue.

Cena 15 – Ext / Noite / Rua (Calçada)

Laura está andando pela calçada.

Ela pára vai até o meio fio e observa um ônibus vindo.
Quando o ônibus está próximo ela atravessa a rua.

Cena 16 – Int / Noite / Apartamento de André

André está na janela e olha para a rua.

Cena 17 – Int / Noite / Saguão do prédio de André

João Carlos está indo para a saída quando vê seu nome

junto com o de André na caixa de correio.
Pensa em voltar, mas ouve um barulho na rua.
Sai na porta do prédio e vê André caído na frente do
prédio.

Cena 18 – Ext / Noite / Ponte

Helena está na ponte olhando para baixo.

Ela sobe no parapeito e se joga.

Cena 19 – Int / Dia / Casa de Augusto

Augusto está sentado no chão encostado no sofá.

Tem a garrafa de whisky quase vazia em uma das mãos e a
arma na outra.
O telefone toca.
Ele acorda e atende.

Augusto
Oi.
Tava...
que?
Não tem mais ninguém pra mandar?
Ta bom. Eu chego lá em 1 hora.

Augusto desliga o telefone e guarda a arma.

Cena 20 – Int / Dia / sala de necrotério

Igual ao início.
Augusto olha para algo.

Augusto (OFF)
...E na morte eu encontrei a minha vida.

O plano abre e pode-se ver que ele olha para 3 corpos

cobertos.
Entra o legista.

Dr. Armando
Oi, augusto, te tiraram da cama cedo, é.

Augusto
Pois é.

Dr. Armando
Coisa estranha, né? 3 suicídios na mesma noite.

Dr. Armando levanta o lençol do rosto dos 3 corpos.

Laura, André e Helena.
Uma voz no interfone chama o Dr. Armando.

Voz
Dr. Armando, ligação na linha 3

Dr. Armando
Me espera um pouco que eu já volto.
 Augusto
À vontade

Augusto fica sozinho olhando para os 3 corpos.

Ele olha para cada corpo e em cada rosto ele vê o seu
próprio rosto.
Dr. Armando Volta.

Dr. Armando
Desculpe. Minha mulher é uma coisa, você acredita que...

Augusto sai de repente e vai em direção à saída.

Dr. Armando
Augusto? Você vai pra onde?

Augusto se vira e olha pro Legista.

Augusto
Vou ver meu filho.

Augusto sai.

Fim