político e midiático1
Considerações Inicias
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Trabalho apresentado ao NP 12 Comunicação para a Cidadania, do IV Encontro dos Núcleos de Pesquisa da
Intercom.
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Jornalista e mestranda em Ciências da Comunicação no PPGCC – Unisinos, onde desenvolve dissertação de
mestrado intitulada (provisoriamente) de “A mídia agencia a política: a organização dos Movimentos de Resistência
Global nos e pelos processos midiáticos” – email: renatadias14@hotmail.com.
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Pesquisador do PPGCC – Unisinos. Professor orientador, desenvolve pesquisa sobre a pesquisa das ong´s na Web.
E-mail: ferreira@mercurio.unisinos.br.
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Inclusive há discussões se essa ação coletiva caracteriza um movimento social ou se é um outro tipo de
manifestação política. Discussões logicamente localizadas na sociologia, que não cabe aqui debater.
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democracia, etc. – e outras que inserem agentes sociais vinculados a temas construídos
nos últimos 30 anos – ecologia, gênero, etnia, entre outros).
Neste texto vai se chamar essa ação coletiva de Movimentos de Resistência
Global. A palavra movimento aparece no plural para apontar a diversidade de
organizações componentes da ação coletiva – que será detalhada no decorrer do texto –;
resistência para indicar as alternativas e demandas sociais que apresentam perante aos
projetos hegemônicos de “globalização”; e global refere-se ao caráter transnacional
desse movimento social. Consideramos que o movimento é composto de agentes sociais
coletivos articulados ou não em instituições, como organizações não governamentais
(ong´s), sindicatos, associações etc..
Os Movimentos de Resistência Global apresentam-se como uma forma diferente
de mobilização, ao unir, sem apagar as diferenças, “num campo de ação comum, grupos
políticos e tribos culturais que até então nem sequer se sentavam juntos para dialogar”
(Gohn, 2002, p. 15). A composição social desses Movimentos abarca associações, redes
de luta e solidariedade, entidades de espectros variados, como ong’s, movimentos
rurais, entidades de defesa dos direitos humanos, estudantes, anarquistas, centrais
sindicais, ambientalistas, homossexuais, entre outros. Por juntar organizações de
diferentes naturezas, com formas de protesto e objetivos variados, os Movimentos, de
acordo com Maria da Glória Gohn (2003, p. 33), são “completamente diferentes de
outros movimentos sociais que conhecemos até o século XX”, diferente também das
ações de grupos revolucionários, terroristas ou fundamentalistas. A gramática dos
Movimentos, para a pesquisadora (p.48), une as razões da luta de movimentos e grupos
característicos dos anos 80, isto é, referentes ao “reconhecimento da identidade
sociocultural de seus participantes (ser negro, mulher, índio, ambientalista, homossexual
etc.)” à causas mais objetivas, referentes à estrutura política econômica. É por estas
características que a autora afirma que os Movimentos de Resistência Global
apresentam-se hoje “como uma das principais novidades na arena política e no cenário
da sociedade civil, dado sua forma de articulação/atuação em redes com extensão
global” (p. 34).
Nossa formulação parte do conceito de campos das mídias para pensarmos a
constituição dos Movimentos, ao mesmo tempo em que formula a tese de que a sua
constituição é também midiática e não só política. Isto é, observamos que a organização
dos Movimentos acontece com grande intensidade nos e dentro dos processos
midiáticos o que aponta ser também um fenômeno do campo midiático. Um objeto de
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Os materiais aqui discutidos fazem parte de pesquisa exploratória realizada em 2003, a partir da Reunião do G-8 em
Evian e conta com dez sites (A Las Barricadas, El Attacante, La Haine, Indymedia Barcelona, Indymedia Buenos
Aires, Ação Global dos Povos (AGP), Ação pela Tributação das Transações Financeiras em Apoio aos Cidadãos
(Attac), Conferderación General del Trabajo (CGT), G8 illegal, Jubileu Sul).
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Importante dizer que Rodrigues (2000, p. 191) entende campo social num sentido energético e não espacial, como
um campo de forças onde há uma tensão permanente que se manifesta e se gera nas fronteiras entre os diferentes
campos sociais.
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Aqui também se nota a interseção entre os dois campos, já que durante os protestos há diversos ativistas que são
produtores de algum tipo de mídia e que portanto possuem ‘um pé em cada campo’. Mas mesmo localizados em dois
campos, os integrantes dos Movimentos possuem características que os distinguem dos membros de outros campos,
como o religioso, o militar, etc.
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Ficavam nos cantos da assembléia. Andavam em duplas e trios com uma cara tensa
e culpada que nenhum manifestante jamais teria. Conversavam cochichando e não
prestavam atenção no que estava sendo discutido e, sim, em um ou outro ativista.
Suas roupas de ‘protesto’ eram de um estereótipo de punk de novela. Jeans
rasgado, boné, blusa Adidas. Às vezes, tinham o cabelo descolorido ou pintado.
Este relato aponta que só a vestimenta não basta para caracterizar um indivíduo
como manifestante, mas a maneira de se portar e agir é fundamental para designar o
membro dos Movimentos de Resistência Global. Por isso, os policiais não conseguem
se inserir dentro do campo político, pertencem a outro campo que possui discursos,
práticas e modos de se comportar diferentes.
Na perspectiva de Rodrigues (2000, p. 202), o campo das mídias é a instituição
responsável por “criar, impor, manter, sancionar e restabelecer a hierarquia de valores”
e o conjunto de regras envolvidos no exercício da mediação social entre os diferentes
campos sociais. As funções de mediação, então, constituem a razão de ser do próprio
campo das mídias. Por esta característica, o campo midiático não possui um domínio de
experiência específico, já que é formado por parte das funções expressivas ou
discursivas dos outros campos sociais, principalmente àquelas que se referem à
inscrição no espaço público. A visibilidade social em ampla escala é difícil hoje de ser
alcançada sem passar pelos espaços midiáticos. A atuação das mídias no tecido social
envolve a publicização de informações, a tematização de agendas, a construção de
cenários, enfim, ações que garantem a existência pública de um
acontecimento/nome/instituição.
O campo das mídias detém então as modalidades de acesso, presença, circulação
e permanência das diversas entidades na dimensão pública, o que conduz a realidade
hoje ser confundida cada vez mais com aquilo que é midiatizado. É interessante
ressaltar aqui que o campo midiático trabalhado neste texto não é compreendido como
algo homogêneo, mas, pelo contrário, recheado de divisões internas caracterizadas por
modos de produzir diferenciados que compõem diversos setores presentes no campo das
mídias. Pode-se dizer que neste campo se encontram a grande imprensa, os setores do
entretenimento, mídias ligadas e/ou pertencentes aos movimentos sociais e ong’s, entre
outros setores de mídias. Perceber as dissimetrias do campo midiático pode ajudar na
tentativa nem de endeusar as intervenções na mídia no tecido social como também nem
endiabrar tais intervenções. É importante deixar claro que a problematização de Adriano
Duarte Rodrigues sobre o campo midiático não aborda diferenças presentes no interior
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Nos termos das relações entre campos sociais e discursos, ancoramos nossas
observações nos conceitos e formulações de Rodrigues (1990), para quem campo social
tem como característica principal a visibilidade que pode transparecer através de formas
manifestas, como insígnias – máscaras, tatuagens, fardas, emblemas, etc.8 – e/ou formas
implícitas, como modalizações de discursos, de gestos e de comportamentos
(Rodrigues, 1990, p. 145-146). Identificar essas formas em textos (em suas várias
modalidades de registros), é localizar, no discurso, lugares sociais de pertencimento dos
agentes que participam do processo enunciativo, seja como agente de enunciação,
enunciadores ou do enunciado. Num primeiro momento, não estamos diferenciando
esses agentes, mas exercitando a análise das diferentes marcas que nos permitam
identificar campos sociais de pertencimento de um processo enunciativo.
É difícil apresentar uma marca de visibilidade que caracterize todos os agentes
sociais que formam os Movimentos de Resistência Global. A composição social muito
diversificada garante características, modos de agir e se comportar, objetivos específicos
diferentes para cada organização componente dos Movimentos – em alguns casos, até
contraditórios. Pode-se, sem dúvida, dizer que as manifestações de rua durante os
encontros da Organização Mundial do Comércio (OMC), do Fundo Monetário
Internacional (FMI), enfim de entidades ligadas à globalização hegemônica – por
defender seus princípios e/ou seguir suas orientações –, configuram-se como a principal
marca de visibilidade dos Movimentos.
Nesse sentido, estamos adotando, como procedimentos operacionais, processos
de diferenciação e agrupamento das marcas, conforme nossa formulação, em três
momentos: primeiro, quais são as marcas de um vínculo do processo enunciativo ao
campo político; segundo, quais são as marcas de vínculo ao campo das mídias; terceiro,
marcas de intersecção. Nesse artigo, apresentamos indicadores de uma configuração
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O Exército Zapatista de Libertação Nacional, movimento social mexicano, por exemplo, tem como uma de suas
marcas a passamontanha, isto é, os membros do movimento só se apresentam com uma máscara que cobre o rosto e
apenas mostra os olhos, a boca e o nariz.
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Começar pelas marcas da intersecção é valorizar o indiferenciado nas relações entre o campo das mídias e o campo
político. Mas esse início tem um valor metodológico. É a partir dele que pretendemos diferenciar, distanciar as
marcas específicas, e reconstruir as intersecções num patamar superior. O plano metodológico, neste sentido, retoma
o sentido da história das relações entre campo das mídias e campo político.
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É importante ressaltar que o corpo social dos Movimentos possui um caráter fluído, sua composição não é estática.
Logicamente, há entidades que sempre participam de seu corpo, mas também há organizações que toma parte no
corpo em protestos específicos.
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lugar específico. A mídia digital é importante para a interação dos agentes componentes
dos Movimentos pois permite visibilizar grande quantidade de informações em espaço
de tempo rápido e também porque é possível criar um fluxo intenso de informações
entre as mídias de maneira rápida, de fácil manuseio e sem muitos custos.
O que vai caracterizar essa zona de intersecção que localiza os Movimentos de
Resistência Global como adaptados ao campo midiático é a utilização da lógica
midiática do espetáculo nas ações de manifestação de rua 11 e principalmente pela
organização política dos Movimentos se realizar em grande intensidade nos espaços
digitais.
Pode-se considerar as ações espetaculares como estratégias de midiatização dos
Movimentos ao perceber que estas ações são pensadas também para atrair o olhar de
certos setores midiáticos. O seguinte trecho 12 serve para perceber a preocupação em
realizar atividades também para atrair as mídias, foi retirado do site El Attacante, da
matéria Contra el G8 prederemos fuego al lago Leman, do dia 24 de abril de 2003:
Por nuestra parte nos dirigimos a todos vosotros y vosotras para proponernos una
idea que podria ser realizada de forma unitaria y popular y generar un gran impacto
mediático y simbólico. El sábado 31 de mayo 2003 a comienzos de la noche,
podriamos, en todos los lugares posibles encender, a la misma hora, fuegos de
resistencia y de esperanza contra el orden mundial que representa el G8.
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Não se afirma aqui que está forma de ação é inaugurada pelos Movimentos, mas que ela caracteriza essa zona de
intersecção.
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Retirado de um momento de articulação dos agentes componentes dos Movimentos em organizar as ações durante
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vinculados a processos revolucionários de sua época. Porém, essa interseção ocorria sob
uma concepção que colocava o jornal “a serviço” da política, ou seja, que pensa o
campo das mídias a serviço do campo político. A autonomização das mídias rompeu
com essa possibilidade, gerou processos específicos em termos discursivos, colocando
anteparos em termos de linguagem, e criando-se como critério de acesso ao espaço
público. Hoje, portanto, talvez inverta-se a relação, com o campo político “dobrando-se
ao discurso das mídias” para se constituir como força com acesso ao espaço público.
Referências Bibliográficas
BOURDIEU, Pierre. La distinción: criterios y bases sociales del gusto. - 2. ed. - Madrid:
Taurus, 2000.
_____. Sem o macacão branco. Lugar Comum. nº 15-16. set./abr., 2001b. p. 37-44.
MORAES, Dênis. Por uma outra comunicação. São Paulo: Record, 2003. p. 139-171.
RODRIGUES, Adriano Duarte. A emergência dos campos sociais. In.: SANTANA, R.N.
Reflexões sobre o mundo contemporâneo. Piauí: Revam, 2000.
RUBIM, Antônio Albino C.. O lugar da política na sociabilidade contemporânea. In: PRADO,
José Luiz Aidar; SOVIK, Liv (orgs). Lugar global e lugar nenhum: ensaios sobre a
democracia e globalização. São Paulo: Hacker, 2001.
_____. Media, Política e Democracia. Revista Textos de Cultura e Comunicação - Fase II.
Salvador: UFBA, 1994. p. 75-96.