A sociedade moderna está cercada de todos os lados pelos vários sistemas de comunicação.
Estudar a comunicação social é uma necessidade atual de todos os povos em qualquer parte
do mundo. Conhecer e dominar os sistemas de informação e da comunicação é indispensável
no mundo globalizado. Estamos iniciando os últimos passos para a saída do século XX e os
primeiros para a entrada do século XXI. Neste período de transição o ser humano vive
momentos de incertezas da comunicação e de (in)comunicação, das crises políticas, culturais,
econômicas e religiosas. As distâncias na sociedade contemporânea estão cada vez mais
próximas, quer seja pelos modernos meios de transporte ou pelas telecomunicações via
satélite, Internet, etc. Com as novas tecnologias, a velocidade da informação e o processo
comunicacional tornam-se cada vez mais complexos e conseqüentemente de mais difícil
compreensão.
Antes de mais nada é preciso dizer que a comunicação é uma necessidade inerente de
qualquer ser humano. O homem das cavernas, deixou sua história contada. No momento que
dois ou mais seres humanos se encontram necessariamente a comunicação passa a ser vital
para a convivência e reprodução deste grupo social. Agora, quanto mais organizada for uma
sociedade humana mais complexos serão os seus sistemas de comunicação e mais complexa
será a sua compreensão.
É na primeira metade do século XX que ocorrem grandes mudanças nas tendências dos
estudos em comunicação quando então se intensificam as linhas de pesquisas quantitativas
para atender à demanda do mercado. A publicidade empregava estratégias para aumentar o
consumo dos produtos industriais. A preocupação com o avanço da propaganda política e os
estudos de opiniões deram novos rumos às pesquisas em comunicação. Foi então que
surgiram as primeiras pesquisas sistematizadas no campo da comunicação, com o objetivo de
conhecer os efeitos dos meios da comunicação de massa.
A depressão econômica de 1929 nos Estados Unidos, as duas guerras mundiais, a guerra fria
entre países capitalistas e socialistas polarizados pelos EUA e pela ex-URSS, geraram nos
meios acadêmicos, em núcleos de pesquisas das ciências humanas e áreas afins
preocupações no sentido de conhecer, os efeitos dos meios de comunicação social sobre a
audiência.
Comunicação é uma palavra que vem do latim communicare, que tem o significado de: trocar
opiniões, partilhar, tornar comum, conferenciar.
Não existe uma definição de consenso para comunicação. No ato de comunicar os signos e os
códigos sempre estarão presentes. Também podemos afirmar que os signos e os códigos são
transmitidos e nesse processo de remeter ou receber signos e códigos dá-se o ato de
comunicar. Por isso podemos afirmar que toda a comunicação envolve signos, significantes,
significados, decodificações entre locutor e ouvinte.
Todo e qualquer ato de comunicação é impulsionado por vários sistemas de ligações que se
completam em diversas situações e adequadamente à nossa percepção. O ato de beijar: “a
mãe” é diferente do beijo “na namorada, na esposa, na filha, no afilhado, na amiga e na
vizinha”, falar uns com os outros, assistir televisão, ouvir rádio, ler uma crônica esportiva em tal
jornal etc. Todo o ato de comunicar tem a sua dimensão sociocultural.
A comunicação pode ser realizada também através do contato físico (abraços, beijos, relações
sexuais, carinhos etc.); da expressão corporal (acenos, olhares, choros, risos, gestos, etc.) é
uma prática efetivada através dos diferentes sistemas simbólicos. É ilimitada a capacidade do
homem se comunicar tanto verbalmente como não-verbalmente. O homem é um fenômeno
social que avança nos campos científico e tecnológico. É o único ser vivo que se comunica
através de código digital, analógico e através da mensagem realiza a interação social.
No primeiro caso os estudos estão voltados para o modo como os emissores e os receptores
codificam e decodificam as mensagens, como são selecionados e utilizados os canais e os
meios de comunicação. Como a comunicação influencia a motivação e o comportamento da
recepção.
Quando o efeito é diferente ou menor do que aquele que se pretendia, esta escola tende a falar
em termos de fracasso de comunicação e a analisar os estádios do processo para descobrir
onde é que a falha ocorreu.[3]
A segunda linha de estudo está voltada para a análise dos significados das mensagens nas
culturas. Qual a função da comunicação na nossa cultura e como as mensagens interagem nos
grupos sociais ou nas pessoas. Esta linha de investigação dos signos e significados
denominada de semiótica não considera como fracasso os conflitos, os objetivos não
alcançados no ato de comunicação. O que existe são resultados das diferenças culturais entre
emissor e receptor.
No modelo estruturalista a análise é conjuntural e não por etapas como nos modelos lineares.
A difusão de uma mensagem poderá ser igual e recebida por grandes audiências, porém
sempre serão percebidas diferentemente. Portanto comunicação em todas as situações nunca
será mera transferência de informações. A recepção de mensagens, veiculadas por canais,
interpessoal ou de massa são percebidas e processadas de maneiras diferentes. Cada pessoa
integrante de uma audiência tem diferenças cognitivas e particularidades com relação aos
conteúdos discursivos interpessoais ou midiáticos.
Uma mensagem recebida passa por uma série de avaliações que vão refletir, com maior ou
menor intensidade, de acordo com a capacidade crítica e de organização individual ou coletiva
dos que integram o grupo de recepção. É importante, não é importante, tem prioridade ou não
tem, é verdadeira ou falsa são alguns dos questionamentos que acontecem na recepção
humana. O sujeito receptor julga, decodifica e seleciona conteúdos das mensagens interagindo
com o seu grupo social.
A linha de estudo processual define comunicação como um processo de interação social entre
duas ou mais pessoas, cuja relação poderá influenciar no comportamento, na motivação e no
estado emocional do emissor ou do receptor.
São divergentes os pensamentos nas duas escolas com relação ao conceito de mensagem.
Quanto a definição do que é uma mensagem na escola processual e semiótica Fiske diz que:
A sociedade globalizada recebe um volume cada vez maior de comunicação por todos os
lados. Quanto mais organizada uma sociedade humana, maior é a quantidade de informação
recebida. Quando estamos falando, gesticulando, escrevendo, pintando, usando o nosso cartão
de crédito, o telefone, o computador, assistindo televisão, teatro cinema e executamos tantas
outras atividades do nosso cotidiano, utilizamos, seguidamente, vários meios de informação e
de comunicação.
O século XX está chegando ao final e sem dúvida será historicamente considerado como o
século das comunicações e das novas tecnologias virtuais. O casal, Mattelart, faz a seguinte
análise da comunicação no final deste século:
A noção de comunicação recobre uma multiplicidade de sentidos. Se isso vem sendo assim há
muito, a proliferação das tecnologias e a profissionalização das práticas acrescentaram novas
vozes e essa polifonia, num fim de século que faz da comunicação uma figura emblemática
das sociedades do Terceiro Milênio. [5]
Para entender a evolução do que é comunicação, neste final de século, analisaremos alguns
dos paradigmas já consagrados e os emergentes, os que estão chegando agora nas últimas
décadas do século e início do milênio. Modelos de estudos de comunicação adequados à
realidade do mundo globalizado e em especial para a realidade sociocultural, econômica e
política da América Latina.
O mais importante centro de estudos e pesquisas em comunicação nos anos 60 foi o CIESPAL
(Centro Internacional de Estudos Superiores de Comunicação para América Latina) com sede
em Quito, no Equador. Por alguns anos foi o principal centro de formação profissional, na área
de comunicação, na América Latina.
A fase inicial do CIESPAL foi marcada pelo paradigma funcionalista com base nos modelos de
Lasswell, Lazarsfeld e Schramm. Essas teorias foram utilizadas na capacitação profissional e
nas linhas de pesquisa voltadas para as áreas de comunicação e modernidade, rádio e tele-
educação, difusão de novas tecnologias para o meio rural, liderança de opinião e os agentes de
extensão rural.
As pesquisas quantitativas, de análise de conteúdo e de efeitos foram as mais utilizadas nos
estudos desenvolvidos pelo CIESPAL.[6] O método do CIESPAL era direcionado para a
formação de profissionais polivalentes e posteriormente passou a ser criticado por ser
incompatível com a realidade do mercado latino-americano.[7]
Nos anos 30 a influência da indústria cultural já era nítida nos Estados Unidos e na Europa.
Nos anos 50 expande-se por outras partes do mundo entre elas América Latina e
evidentemente o Brasil.
As reflexões que se seguem não deixam de reconhecer a importância dos estudos dos
funcionalistas e dos frankfurtianos, das polêmicas entre apocalípticos e integrados. Nos anos
70/80 o mal-estar, a insatisfação estava instalada nos meios acadêmicos e centros de
pesquisas de comunicação com relação aos modelos consagrados e os estudos de
comunicação no mundo globalizado e em particular na América Latina. Era necessário mudar o
enfoque dos estudos de comunicação relacionados com as novas matrizes culturais, com as
novas configurações das identidades locais e globais, o papel dos emissor e receptor na
comunicação de massa ou face a face.
A TEORIA DA FOLKCOMUNICAÇÃO
Em março de 1965 o professor e jornalista Luiz Beltrão publica um artigo sobre o ex-voto como
veículo de comunicação popular, na Revista Comunicação e Problemas. Iniciam-se então as
primeiras reflexões para formatação de um modelo de comunicação comunitária/horizontal, que
viria a ser mais tarde a teoria da folkcomunicação:
Não é somente pelos meios ortodoxos – a imprensa, o rádio a televisão, o cinema a arte
erudita e a ciência acadêmica – que, em países como o nosso, de elevado índice de
analfabetos e incultos, ou em determinadas circunstâncias sociais e política, mesmo nas
nações de maior desenvolvimento cultural, não é somente por tais meios e veículos que a
massa se comunica e a opinião pública se manifesta. Um dos grandes canais de comunicação
coletiva é, sem dúvida, o folclore. [8]
Luiz Beltrão percebe e chama atenção para a importante função do líder de opinião como
agente de comunicação social no sistema da comunicação popular. Esses agentes
comunicadores do sistema interativo local de comunicação, que Beltrão passou a chamar de
agentes da folkcomunicação, são na realidade (inter)mediadores dos processos de recepção
das mensagens midiáticas que circulam nos vários estágios de difusão nos grupos de
referência:
Esta relação cada vez mais próxima entre os produtores da cultura popular/folclórica e a cultura
dos mídias do sistema social global, despertou no pesquisador Beltrão o interesse em estudar
as novas relações socioculturais dos líderes de opinião local com as culturas dos mídias.
Na transposição das mensagens dos mídias para a recepção local os líderes de opinião
exercem influências importantes no procedimento, percepção, aceitação e apropriação, mesmo
que em determinadas situações seja dispersa e desorganizada mas, nunca passiva e
homogênea.
Com base no esquema eletrônico de comunicação desenvolvido por Shannon e Weaver, visto
anteriormente, foi possível ao cientista social Wilbour Schramm desenvolver um modelo de
comunicação humana e suas relações com os mídias. É um modelo fundamentado nas teorias
da sociologia e com a preocupação de analisar o processo de comunicação no contexto
cultural do comunicador e do receptor.
A fonte: no caso poderá ser uma pessoa ou audiência da comunicação de massa. Ou seja,
uma comunicação de menor ou maior alcance;
O receptor: também poderá ser uma pessoa, um grupo de pessoas ou as grandes audiências
dos meios de comunicação de massa.
A comunicação se processa através de redes de informação que por sua vez já traz dados
anteriores. Portando, não é verdadeira a afirmação que o processo tem o seu início em
determinado lugar e termina em outro lugar previamente determinado. No modelo proposto a
comunicação é um constante processo de retroalimentação que acontece em múltiplas etapas.
É um modelo voltado mais para os estudos de audiência dos meios de comunicação de massa.
Para Schramm, a recepção, mesmo que seja individual, está interligada a diferentes grupos
primários (família, amigos, etc.) e secundários (trabalho, escola, igreja, clube, sindicato,
partido político, etc.).
Na recepção de uma mensagem dos mídias existe uma grande diversidade de respostas
individuais no mesmo grupo de referência. São respostas dadas dependendo do nível de
interesse entre os membros de uma audiência ou de uma mesma comunidade que vão
influenciar nas decisões tomadas pelo receptor.
A grande contribuição dos Riley é na análise das interligações do emissor (E) e do receptor (R)
com os seus grupos primários de referência que influenciam na percepção das mensagens. É o
que demonstra o gráfico:
Neste modelo de comunicação, apesar dos avanços, o ranço entre comunicador e receptor, é
mantido de certa forma, ou seja, caracteriza uma polarização entre emissor e receptor. Os
fatores culturais, sociais, pessoais e psicológicos influenciam na produção e recepção da
comunicação. Esta passa a ser a novidade nos estudos de comunicação.
Os fatores culturais – têm grande influência sobre o comportamento do receptor são fator
determinante no processo de recepção individual e decisivo na recepção coletiva.
Sem dúvida que é o primeiro passo para a formulação de uma nova metodologia de pesquisa
de comunicação, ou seja, para a construção teórica do método das mediação nos estudos de
recepção que vão influenciar os atuais estudos de comunicação desenvolvidos por Beltrão,
Barbero, Orozco, Immacolata, Jorge González, Benjamin e tantos outros.
A recepção das mensagens midiáticas é um acontecimento individualizado, cada um
decodifica, percebe, retransmite a informação mas, discute e toma decisão dentro dos seus
grupos de referência.
O gráfico a seguir, estruturado por Beltrão, demonstra a correlação entre os dois sistemas: da
folkcomunicação e dos mídia.
Nos dias de hoje, as barreiras entre a cultura da elite e a cultura do povo começam a ser
demolidas, em conseqüência do fenômeno da socialização produzida pelos meios de
comunicação coletiva. O impacto do rádio, da televisão, do cinema e da imprensa, utilizando
todos os recursos da tecnologia moderna, realmente desencadeia uma revolução no panorama
cultural: [15]
O interesse nos estudos e nas pesquisas de folkcomunicação se ampliou para uma perspectiva
multidisciplinar, com a intencionalidade de compreender os novos fenômenos comunicacionais
e culturais por que passam os agentes folk.
Os produtores da cultura folk estão ao alcance das mensagens midiáticas, incorporam os bens
culturais midiáticos no seu cotidiano e decodificam para o sistema de recepções folk-midiáticas.
Os mídias se apropriam dos valores da cultura folk para atender os interesses de um novo
mercado de consumo cultural, do turismo e da (re)configuração das identidades socioculturais
locais. Neste procedimento a cultura dos mídias exerce função interativa entre a cultura
dominante e a cultura folclórica.
Marques de Melo faz a seguinte observação sobre a troca de interesses das duas culturas:
A evolução das festas tradicionais, da produção e venda de artesanato revela que essa não é
mais tarefa exclusiva dos grupos étnicos, nem sequer de setores camponeses mais amplos,
nem mesmo da oligarquia agrária; intervêm também em sua organização os ministérios da
cultura e de comércio, as fundações privadas, as empresas de bebidas, as rádios e a
televisão.[17]
Os estudos sobre mídia e identidade cultural numa perspectiva das relações entre
produção de bens culturais do mundo globalizado e a produção de bens culturais da localidade
não podem continuar desconhecendo os estudos da folkcomunicação. O modelo da
folkcomunicação tem suas limitações conceituais, está recheado de ingredientes do modelo
linear/vertical de comunicação mas tem várias pistas importantes para o desenvolvimento de
pesquisas empíricas de comunicação interativa.
ADEUS ARISTÓTELES:
RUMO A NOVOS MÉTODOS DE PESQUISA DA COMUNICAÇÃO
Todo ato de pensar exige um sujeito que pensa, um objeto pensado, que mediatiza o
primeiro sujeito do segundo, e a comunicação entre ambos, que se dá através de
signos lingüísticos. O mundo humano é, desta forma, um mundo de comunicação.[22]
A pesquisa em comunicação nos anos 80-90 na América Latina toma rumo inverso dos
estudos que até então privilegiavam o emissor e os efeitos da comunicação e deixavam o
receptor de lado, apenas como mais um componente do processo de recepção. O tema central
passa a enfocar as mediações na recepção midiática, o sujeito da recepção, passa a ser
observado pelos investigadores como agente ativo do processo de comunicação. Essa linha
de pesquisa está conectada, neste mesmo período aos estudos sobre a temática da
globalização da comunicação e o impacto nas culturas regionais e locais. É uma questão da
identidade nacional, regional e local no mundo midiatizado pelas novas tecnologias.
As pesquisas em recepção mesmo não sendo ainda hegemônicas voltam-se para o novo
cenário latino-americano.
Estamos vivendo uma nova referência de mundo. Um mundo com novo cenário político,
sócio-econômico, geográfico e tecnológico que passa por transformações culturais e religiosas
em grande velocidade e são decisivas para a construção desta nova sociedade e
reconfiguração das identidades culturais latino-americanas.
Parto do princípio de que a recepção não é somente uma etapa no interior do processo
de comunicação, um momento separável, em termos de disciplina, de metodologia, mas uma
espécie de um outro lugar, o de rever e repensar o processo inteiro da comunicação.[27]
É importante saber que a recepção dos mídias não acontece da mesma maneira. As
intenções, as situações e os meios são diferentes. As categorias de mediações definidas por
Orozco no processo midiático são as seguintes:
Nesta linha de pesquisa, Maria Immacolata Lopes tenta minimizar as insatisfações entre
os estudos de comunicação e os métodos de pesquisa das ciências sociais. Consiste em
combinações de métodos e de técnicas como estratégia multimetodológica para o
desenvolvimento de pesquisas multidisciplinares de recepção. Os estudos de recepção vão
além de um campo de pesquisa é na verdade uma perspectiva de investigação, como afirma
Immacolata:
Trata-se de uma tentativa de superação dos impasses a que tem nos levado a
investigação fragmentadora e, portanto, redutora do processo de comunicação em área
autônomas de análise: da produção, da mensagem, do meio e da audiência.[29]
A construção dessas mediações não foi aleatória, mas decorreu das exigências
metodológicas de integração das diversas dimensões do processo de comunicação de
abordagem multidisciplinar presente na teoria das mediações.[30]
Isto ficou claro através do percurso bibliográfico que foi fonte dos seminários teóricos e
metodológicos que realizamos na etapa inicial do projeto, quando revisitamos as seguintes
correntes teóricas: pesquisa dos efeitos, pesquisa dos usos e gratificações, estudos de critica
literária, estudos culturais e estudos de recepção.[31]
São realmente fatores que devem ser levados em consideração nas pesquisas de
recepção e identidades culturais. Para Fausto Neto, a preocupação mais recente no estudo
sobre o campo de recepção se deve ao esgotamento dos modelos positivistas.
A ênfase dada à questão do receptor passa, por exemplo, pelo estatuto de sua cidadania
e ao mesmo tempo, pela especificidade da sua condição de agente ativo no circuito
sociocultural como instância produtora de mensagem.[32]
(...) não se trata de um espaço onde ao receptor seja concedido o trabalho de executar
as normas de instruções de leitura enviadas pelo campo da emissão. Trata-se de relação mais
complexa, cuja compreensão põe por terra essa dimensão absoluta e unificante do sujeito.[33]
Somente agora, nas últimas três décadas, com a criação da INTERCOM, da COMPÓS,
a ALAIC e a FOLKCOM, alguns pesquisadores brasileiros e latinos americanos, vêm se
dedicando sistematicamente ao estudo da comunicação, às pesquisas empíricas e teóricas. A
preocupação com esse mal-estar em relação ao paradigma das ciências sociais e seus
empregos nas pesquisas teóricas e empíricas de comunicação vem persistindo ao longo dos
últimos anos. O caminho percorrido para encontrar um modelo teórico/metodológico que
atenda os interesses e minimize as insatisfações nos estudos de comunicação tem dado
resultados positivos. Falta-nos mais pesquisas empíricas, da observação participante,
etnográfica de recepção, de conhecer/conhecendo o objeto de estudo na sua origem. O
entrincheiramento existente entre os pesquisadores empíricos e os teóricos está encurtando.
Quando vamos construir um paradigma latino-americano/brasileiro? Bom, não sei dizer mas
neste momento estamos no caminho certo. Quem sabe em um futuro próximo poderemos
contar a história dos fundadores da Teoria de Comunicação da Escola de São Leopoldo!
Quando o pesquisador resolve fazer uma investigação, cada etapa cumprida deve ser
cuidadosamente analisada conforme os procedimentos científicos.
Uma das características nas ciências é a utilização do método científico. Mas existem
outras formas de aplicação do método sem ser em estudos científicos. Vejamos o que afirma
Barros:
Assim, o método é o caminho ordenado e sistemático para se chegar a um fim. Pode ser
estudado como processo intelectual, como processo operacional. Como processo intelectual é
a abordagem de qualquer problema mediante análise prévia e sistemática de todas as vias
possíveis de acesso á solução. Como processo operacional é a maneira lógica de organizar a
seqüência das diversas atividades para chegar ao fim almejado; é a própria ordenação da ação
de pesquisa. [35]
Mas, para produzir conhecimento não é necessário ser um cientista. A maioria das
pessoas produz os seus conhecimentos para atender as suas necessidades diárias. É o
conhecimento adquirido pela experiência passada de gerações a gerações é o conhecimento
do senso comum adquirido pela observação, pela tradição e que deve ser verificado pelos
investigadores. É o conhecimento popular que em determinadas situações prevalece, mesmo
que falte a comprovação científica, mas que resolve muitos problemas nas práticas sociais.
Tem agricultor que é capaz de fazer prognóstico sobre o tempo sem ter o conhecimento
científico de meteorologia. Como explicar as estratégias de comunicação dos produtores da
cultura popular que continuam até os dias atuais transmitindo os seus conhecimentos? São
estratégias de comunicação participativa não aprendidos nas escolas que atendem às suas
necessidades.
Todos nós utilizamos o conhecimento do senso comum nas nossas atividades diárias.
Porém, no campo das ciências o conhecimento deve ser sistematizado e a pesquisa só será
desenvolvida através de métodos e objetivos definidos pelo rigor científico. Pedro Demo,
chama a atenção para a necessidade do emprego do bom senso na nossa vida cotidiana:
O bom senso é marcado pela dosagem adequada, pelo sentido de convivência, capaz
de simplificar através do faro da boa média. Simples, é a inteligência que surge no momento
certo, com a solução certa, ainda que não brilhante. É o traço típico do homem comum que
sabe resolver seus problemas sem complicações.[38]
Os seus conhecimentos vão além dos códigos corporais como por exemplo identificar o
cheiro, o calor, o gosto, as cores, a dor, distinguir o sexo, reconhecer os seus descendentes.
Através dos vários níveis de conhecimento a sociedade humana formula a sua história, a
sua cultura, religião, filosofia e ideologia. Desde os primórdios até os nossos dias o homem
sobrevive construindo e adequando o mundo às suas necessidades. Assim sendo, o
conhecimento não é exclusividade dos “letrados e doutores”. Mas a complexidade do
conhecimento científico é reservada aos especialistas, aos que detêm formação acadêmica,
intelectual para pesquisar determinados temas e resolver os problemas através de explicações
dos fenômenos, segundo os critérios científicos.
No mundo atual, onde o fluxo de informação circula com maior velocidade, alcança um
grande número de pessoas em tempo real, com suas diferenças socioculturais, econômicas e
territoriais, os campos do conhecimento estão continuamente se cruzando.
A investigação científica de comunicação, pela sua natureza, é cada vez mais complexa
no mundo globalizado. Envolve diferentes áreas de interesse: lingüística, antropologia, história,
sociologia, psicologia, educação, a cibernética, a administração, o marketing e o turismo. É um
campo de pesquisa que se amplia e por isso fica cada vez mais complexo.
A opção pela observação participante e pelo método etnográfico para coleta de dados lá
no território do grupo que se deseja pesquisar, observar as pessoas que está estudando para
ver as situações com que se deparam normalmente e como se comportam diante delas[40], é
certamente o procedimento mais adequado para a aproximação da realidade do objeto de
estudo. Conhecer/conhecendo e entender com profundidade os fenômenos socioculturais, só
poderá acontecer com a participação nas diferentes atividades organizadas pelo grupo
estudado[41]. Não é uma tarefa fácil, a pesquisa de campo é mais demorada e exige do
pesquisador uma permanência maior no campo da pesquisa. As relações de confiabilidade
entre o pesquisador, que não deixa de ser um intervencionista, e o sujeito pesquisado terão
maior possibilidade de acontecer com as constantes visitas ao local da pesquisa. A confiança e
a identificação do pesquisador e o grupo pesquisado será importante para o desenvolvimento
do trabalho de campo. São pessoas com repertórios diferenciados e esta aproximação facilitará
a compreensão dos interesses de quem dá e de quem obtém as informações.