Meios de Cultura
Para obter energia e formar ou renovar os componentes celulares, os organismos
necessitam de ser fornecidos de nutrientes ou outros materiais que o permitam fazê-lo.
Estes nutrientes são todas as substâncias usadas em processos de biossíntese e obtenção
de energia e que, por isso, contribuem para o crescimento microbiano.
Para além dos nutrientes, outros factores ambientais, como a temperatura, níveis de
oxigénio e a concentração osmótica do meio, são cruciais para o desenvolvimento e
crescimento microbiano.
Fontes de Energia
Fototróficos • Luz solar
Quimiotróficos • Oxidação compostos orgânicos e inorgânicos
Fontes de Electrões
Litotróficos • Moléculas inorgânicas reduzidas
Organotróficos • Moléculas orgânicas reduzidas
Categorias Nutricionais
Fontes Energia – Electrões – Microorganismos
Tipo Nutricional
Carbono Representativos
Fotolitoautotróficos Luz – Compostos Inorgânicos – CO2 Cianobactérias, Algas
Bactérias fotossintéticas, Arqueas
Fotoorganoheterotróficos Luz – Compostos Orgânicos
halófitas
Energia Química (inorgânica) – Compostos Bactérias oxidificantes do Enxofre,
Quimiolitoautotróficos
Inorgânicos – CO2 Bactérias Nitrificantes
Reacção 4.1
ATP ADP + Pi
Factores de Crescimento
Na presença das fontes dos seus elementos fundamentais como carbono, fósforo,
azoto e enxofre e de energia, os microorganismos têm a capacidade de crescer e de se
reproduzirem. Os microrganismos possuem as enzimas e as vias metabólicas que
necessitam para a síntese dos componentes celulares requeridos para a sua
sobrevivência. No entanto, muitos microrganismos não possuem uma ou várias enzimas
essenciais, não podendo sintetizar os seus componentes indispensáveis, devendo obtê-
los ou aos seus precursores através do ambiente externo. Os compostos orgânicos que
não podem ser sintetizados na célula e são essenciais ou percursores de essenciais, são
designados de factores de crescimento. Estes englobam-se em três grupos principais,
considerados clássicos: 1) aminoácidos – síntese de proteínas, 2) purinas e
pirimidinas – síntese de ácidos núcleicos e 3) vitaminas – parte integrante ou os
próprios cofactores enzimáticos – que existem em pequenas quantidades. Alguns
microorganismos necessitam de mais de uma vitamina como é o caso da Entrococcus
faecalis, que precisa de 8 vitaminas diferentes.
As bactérias que necessitam de factores de crescimento, já que não têm a capacidade
de os sintetizar, são designadas vulgarmente de auxotróficas, enquanto que a
Escherichia coli é prototrófica já que é capaz de se desenvolver num meio simples,
sendo que a única fonte de carbono é a glicose, pois possui uma maquinaria enzimática
muito desenvolvia que lhe permite obter todas as outras substâncias que necessita, a
partir desta. Algumas bactérias têm a capacidade de fornecer factores de crescimento a
outras colónias diferentes da sua, como observado na figura abaixo.
Difusão facilitada
Algumas substâncias como o glicerol conseguem atravessar a membrana por
difusão passiva. Este é o processo no qual as moléculas se movem de uma zona de
concentrações mais elevadas para uma zona de concentrações mais baixas, ou seja, a
favor do gradiente de concentração. Como demonstrado na figura 4.2, a taxa de difusão
é proporcional à diferença de concentrações entre o interior e o exterior da célula e, por
isso, à medida que os nutrientes vão entrando, se não forem usados de imediato, essa
taxa de difusão diminui, já que a concentração no interior da célula aumenta. Moléculas
pequenas como H2O, O2 e CO2, atravessam a membrana por este processo simples.
Taxa de Difusão
Gradiente de Concentração
Figura 4.2 – Relação entre gradiente de concentração e a taxa de difusão, nos processos
de difusão simples e facilitada.
Moléculas maiores como iões e substâncias polares não conseguem atravessar a
membrana pelo processo anterior. Ao invés, a taxa de difusão é aumentada pela
presença de proteínas transportadores, designadas de permeases, que se encontram
integradas na membrana plasmática, sendo este novo processo designado de difusão
facilitada. Ao contrário da difusão simples, este mecanismo permite que pequenas
diferenças no gradiente de concentração aumentem o transporte de nutrientes. Neste
caso, os valores da taxa de transporte e do gradiente de concentração não são
proporcionais, sendo que, como observado na figura 4.2, o gráfico atinge um patamar
em que o transporte é constante, correspondendo ao momento em que todas as
permeases estão saturadas com nutrientes, não aumentado a taxa de transporte, mesmo
que se aumente a quantidade de nutrientes disponíveis, o que acontece com gráficos de
cinética enzimática. Esta não é a única semelhança com reacções enzimáticas, já que
também as permeases são específicas para determinadas substâncias. O que acontece é
que assim que o nutriente se liga
à parte exterior da proteína,
provoca uma mudança de
conformação na mesma, havendo
libertação da substância para o
interior. A proteína irá
eventualmente regressar à sua
conformação inicial, permitindo
a captura de novas substâncias,
sendo então um processo Figura 4.3 – Modelo da Difusão Facilitada
reversível. (figura 4.3)
Apesar da existência de proteínas de membrana, este processo só é possível na
presença de um gradiente de concentração. Assim que este desaparece o transporte
cessa, podendo ser mantido, no entanto, no caso dos eucariotas, com a passagem dos
nutrientes para outros compartimentos celulares ou, no caso dos procariotas, ser
utilizado rapidamente no metabolismo.
Transporte activo
Quando os nutrientes já se encontram em concentrações elevadas dentro da célula,
apesar da difusão facilitada ser um processo bastante eficiente, este não tem a
capacidade de transportar moléculas contra o seu gradiente de concentração. Esta
situação ocorre na maioria das vezes já que, como foi referido, as bactérias encontram-
se variadas vezes em ambientes muito diluídos. Neste caso, dois processos são vitais, o
transporte activo propriamente dito e a translocação de grupo.
O transporte activo permite a passagem de nutrientes para um compartimento de
concentração superior, tendo, para o efeito, de gastar energia metabólica. Este é um
processo em muito semelhante à difusão facilitada, já que faz igualmente uso de
permeases, tão especificas quanto as anteriores, diferindo no gasto de energia e na
capacidade dos últimos em desenvolverem gradientes de concentração mais definidos.
Assim, qualquer inibidor que bloqueie a produção de energia vai igualmente impedir o
transporte de substâncias para o interior da célula.
Os sistemas de transporte activo são do tipo ABC (ATP-binding cassette), existente
nas bactérias, archae e nos eucariotas. Normalmente, estes sistemas são constituídos por
dois domínios membranares, hidrofóbicos, associados na sua face citosólica a dois
domínios de ligação ao ATP (ver figura 4.4). Os domínios intramembranares formam
um poro enquanto que os domínios de ligação do ATP se ligam a este, hidrolizando-o,
permitindo então, o transporte da substância. Estes transportadores utilizam ainda
proteínas de ligação ao substrato que se localizam no periplasma em bactérias gram-
negativas ou que se encontram associadas aos lípidos membranares da face externa das
bactérias gram-positivas. As substâncias que entram nas bactérias garm-negativas têm
de atravessar a membrana externa antes de passarem pelos transportadores ABC,
podendo neste espaço ocorrer outros tipos de transporte activo. Se a molécula for
pequena pode ser usada uma porina vulgar como as OmpF enquanto que se a molécula
for de maiores dimensões devem passar por meio de porinas especializadas.
Reacção 4.2 – PEP + Açúcar (fora célula) Piruvato + Açúcar – P (dentro célula)
O sistema PTS consiste em duas enzimas, EI e EII e uma proteína de baixo peso
molecular, estável ao calor, HPr.
F igura
4.6 –
Transporte do ferro
A assimilação de ferro nos microorganismos está dificultada, já que o ião férrico
(Fe3+) e os seus derivados são extremamente insolúveis, o que o torna pouco disponível
para ser capturado. Assim, os microorganismos (bactérias e fungos) desenvolveram
mecanismos de assimilação de ferro, através da secreção de sideróforos – moléculas de
baixo peso molecular que são capazes de complexar o ferro férrico, provendo a célula
com esse ião.
Estas moléculas podem ser hidroxamatos ou fenolatos-catecolatos. Muitos fungos
produzem ferricromo (figura 4.7, (a)), um hidroxamato, enquanto que as E. coli
produzem um catecolamato designado de enterobactina. (figura 4.7, (b)) Pensa-se que
cada ião ferro é complexado por três sideróforos formando um complexo octaédrico
(figura 4.7, (c)) (número de coordenação igual a seis).
Assim que o complexo ferro-sideróforo atinge a superfície da célula liga-se ao seu
receptor podendo ser transportado inteiramente para o interior da célula por
transportadores do tipo ABC ou libertar o ferro directamente. Nas E. Coli o ião ferro
libertado no espaço periplasmático é transportado pela membrana com auxílio de um
transportador. Após entrar na célula é
reduzido à sua forma ferrosa (Fe2+) para
ser incorporado em citocromos e enzimas.
O ferro é tão importante para a célula
que podem existir vários meios de
aquisição de maneira a que a célula seja
abastecida de acordo coma s suas
necessidades.
Meios de Cultura
Os estudos de microbiologia dependem largamente na habilidade para crescer e
manter os microorganismos em laboratório, o que apenas é possível quando existem
meios de cultura apropriados.
Um meio de cultura pode ser definido como uma preparação líquida ou sólida
usada para o crescimento, transporte e preservação de microorganismos em laboratório.
Para ser efectivo deve conter os nutrientes necessários ao crescimento do
microorganismo em questão, sendo que meios específicos são bastante importantes para
a identificação, isolamento e estudos acerca de um determinado microorganismo. O
conhecimento de habitat de uma bactéria permite a aproximação da constituição do
respectivo meio de cultura.
• Meios complexos: ao contrário dos meios sintéticos, estes são constituídos por
substâncias acerca das quais não se conhece a composição química exacta. Entre
elas encontram-se as peptonas – fracções de proteínas hidrolisadas, contendo,
por isso, aminoácidos e péptidos, resultante da digestão proteolítica de fontes de
proteínas, extractos de carne – contêm aminoácidos, nucleótidos, minerais,
vitaminas e extractos de leveduras – fontes de vitamina B assim como de
compostos carbonados e nitrogenados. Os meios complexos mais comuns são o
caldo nutritivo (tabela 4.5), o caldo de soja triptica e o agar de MacConkey
(tabela 4.6).
Agar MacConkey
Substância Função Quantidade (grama)
Digesto pancreático de gelatina Fonte péptidos e aminoácidos 17
Digesto pancreático de caseína Fonte péptidos e aminoácidos 1,5
Digesto de carne animal Fonte péptidos, vitaminas e nucleótidos 1,5
Lactose Indicador diferencial 10
Sais biliares Inibidor gram-positivas 1,5
NaCl Mantém equílibrio osmótico 5
Vermelho neutro Indicador pH 0,03
Cristal violeta Inibidor gram-positivas 0,001
Agar Agente solidificante 14
Água destilada Solvente; Fonte de Hidrogénio 1000 mL