APRESENTAÇÃO 17
O PAÍS SOCIOECONÓMICO
Lourdes Poeira
ECONOMIA E
DESENVOLVIMENTO REGIONAL*
“Por onde vai a economia portuguesa?” é a pergunta que repetidamente se coloca num País que ainda
mantém fortes assimetrias regionais e sociais, bem como os traços essenciais do padrão de especialização,
apesar das profundas transformações na estrutura produtiva nacional desde a adesão de Portugal à União
Europeia, factores esses que explicam a fraca competitividade em áreas decisivas para o crescimento
económico e desenvolvimento regional equilibrado. Os sectores tradicionais, orientados para o exterior
e assentes no factor trabalho, sofrem a forte concorrência de países em rápido crescimento como a China
e a Índia, enquanto que os sectores assentes na economia do conhecimento, com forte incidência
na componente científica e tecnológica, ainda não conseguiram assegurar o protagonismo necessário
para potenciar e consolidar a via da prosperidade.
Crescimento económico
O PAÍS SOCIOECONÓMICO
Economia e desenvolvimento regional
Evolução do PIB per capita e do produto Produto Interno Bruto, óptica sectorial 1, 1999/2003
por trabalhador em Portugal (PPC)
1960 1964 1968 1972 1976 1980 1984 1988 1992 1996 2000 2002
Dados provisórios
As variáveis expressas em unidades monetárias são apresentadas a preços correntes.
As contas regionais foram elaboradas em escudos e convertidas no final em euros
através da taxa de conversão fixa 1 euro=200,482 PTE – de acordo com
o regulamento (CE) nº 2866/98
O PAÍS SOCIOECONÓMICO
Economia e desenvolvimento regional
Nº kW/h
668 >800
300 200-800
100 80-200
50 40-80
25 20-40
10 10-20
5-10
<5
0 25 50 km
O PAÍS SOCIOECONÓMICO
Economia e desenvolvimento regional
Especialização industrial
–Índice na região superior ao triplo do índice
no país (Quociente de localização superior a 3),
para os seguintes sectores industriais
Indústria extractiva
Alimentação, bebidas e tabaco
Têxteis, vestuário e calçado
Madeira e papel
Químicos, borrachas e plásticos
Indústrias pesadas
Produtos metálicos e máquinas
Máquinas e material eléctrico
Material de transporte
Sem especialização industrial
0 25 50 km
Grandes Empresas
Nº de Empregados % do total 19,8 35,0 34,6
Volume de negócios 28,9 43,8 43,4
PME
Nº de Empregados % do total 80,2 65,0 65,4
Volume de negócios % do total 71,1 56,2 56,6
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Economia e desenvolvimento regional
Rendimento Líquido Médio do agregado familiar por NUT III, Estrutura de emprego, 2004
2001
Mercado de Trabalho Unidade Período Portugal UE-15 UE-25
de
referência
Emprego
Total TMAC 1999/03 0,7 1,0 0,7
Emprego: Agricultura % do total 2003 12,6 4,0 5,2
Emprego: Indústria1 % do total 2003 32,3 24,6 25,5
Emprego: Serviços % do total 2003 55,0 71,4 69,2
Emprego por nível habilitação (15-64)2:
9º ano escolaridade % do emp. do 2003 74,6 25,8 23,7
mesmo grupo
12º ano escolaridade % do emp. do 2003 13,8 43,2 47,4
Ensino superior mesmo grupo 2003 11,5 23,4 22,5
Intensidade Tecnológica3
Emprego nos serviços
intensivos em tecnologia % do total 1,4 3,5 3,2
103 euros Emprego na indústria transf.
13,5 intensiva em tecnologia % do total 3,1 7,1 6,6
12,5
10 Desemprego4
9 Total TMAC 1999/03 10,5 -0,8 0,5
8 Taxa de desemprego total % pop. activa 2003 6,3 8,1 9,1
Taxa de desemprego
jovens c/ -25 anos % pop. activa 2003 14,4 15,9 18,4
1. inclui construção
2. com base em valores relativos ao 2º trimestre do ano
3. CAE, Ver. 1.1 e estimativas do Eurostat para UE-15 e UE-25
4. Taxa de desemprego harmonizada sem considerar a sazonalidade
Índice de Poder de Compra per capita, 2004 Índice de Poder de Compra “turístico”, 2004
167 3
150 1
100 0
75 -0,1
-0,5
-1
0 25 50 km
O PAÍS SOCIOECONÓMICO
Economia e desenvolvimento regional
População empregada no sector primário, 2001 População empregada no sector secundário, 2001
% %
50 75
30 60
20 45
10 30
5
84 Sector primário
70 Sector secundário
60
Sector terciário social
50
Sector terciário económico
0 25 50 km
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Economia e desenvolvimento regional
Sociedades na indústria transformadora, 2001 Sociedades industriais com 10 e mais pessoas ao serviço
% %
60 30
30 24
10 12
Média das cidades: Média das cidades:
15,04% 15,04%
A dimensão dos círculos A dimensão dos círculos
é proporcional ao número de é proporcional ao número de
sociedades nas respectivas cidades sociedades nas respectivas cidades
IRC liquidado por distritos e regiões autónomas, 2000 Variação de IRC liquidado por distritos e regiões autónomas, 1999/2000
106 euros %
> 1 000 > 30
100 –1 000 10-30
50 – 100 0-10
20 – 50 -10-0
10 – 20 -30--10
1 – 10
> -30
<1
0 25 50 km
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Economia e desenvolvimento regional
sector, com o desaparecimento de muitas pequenas empresas. dade dos bens dependentes das economias de escala; seguem-se
A estrutura do emprego evidencia a inércia das tendências Lisboa (10%) e Porto (8%);
tradicionais do nosso tipo de desenvolvimento, tal como a — Competitividade baseada na intensidade dos recursos –
estrutura empresarial. sobressaem o sector florestal, com 9% do total dos bens
exportados, nomeadamente cortiça e madeira, o sector agro-
-alimentar, com cerca de 7%; os minerais não metálicos
Mercado externo e competitividade representam 3%. Destacam-se (com pesos entre 12 e 16% do
total das exportações respectivas) a Grande Lisboa e o Grande
No início dos anos 2000, a posição de Portugal no comér- Porto, Entre-Douro-e-Vouga e Baixo Mondego;
cio internacional podia-se caracterizar do seguinte modo: — Competitividade baseada no conhecimento – apesar da
— forte presença em sectores de trabalho intensivo com pouca expressividade deste factor, destaca-se o grupo que
fraco peso de inovação, onde se incluem o calçado, cablagens integra os aparelhos e equipamento de telecomunicações e de
e vestuário, e também de sectores baseados nos recursos som, responsáveis por cerca de 3% das exportações, e de ilu-
naturais; minação, com cerca de 2%. Os produtos medicinais e farma-
— presença em sectores dependentes da escala de produ- cêuticos apresentam valores ligeiramente superiores a 1%.
ção, nomeadamente sector automóvel, pouco estruturada e Salientam-se, uma vez mais, as áreas da Grande Lisboa (33%)
dependente de uma empresa dominante – AUTOEUROPA – e e Grande Porto (27%), península de Setúbal (13%), Ave
de um conjunto de produtores estrangeiros que fabricam em (12%) e Cavado (menos de 10%);
Portugal componentes de reduzida complexidade; — Competitividade baseada na tecnologia e na diferenciação
— presença fraca na electrónica dirigida a um produto – destes bens, apenas “peças separadas e acessórios, não eléc-
final – os autorádios. tricas, de máquinas e aparelhos” registam um valor superior a
A exportação de bens intensivos em trabalho representava 1%. Destacam-se a Grande Lisboa (23%) seguida do Baixo
em 2001 cerca de 32% do total de exportações; os bens pro- Vouga e Grande Porto (com 14% cada).
duzidos em economias de escala representavam cerca de 26% Com o actual padrão de competitividade das exportações a
e os bens obtidos de produtos naturais endógenos cerca de economia portuguesa está confrontada com uma forte concor-
21%, o que perfaz um total de cerca de 80%. Os bens inten- rência de várias regiões mundiais:
sivos em conhecimento representavam 11% do total de — dos países asiáticos no têxtil/vestuário e electrónica;
exportações e os baseados na média tecnologia, 9%. — dos países mediterrâneos no têxtil/vestuário, cablagens
A maioria dos bens e serviços que constituem a oferta e produtos agro-alimentares;
internacional de Portugal provêm das sub-regiões do litoral — dos países da Europa Central em produtos intensivos
ocidental e sul, sendo o Algarve responsável por grande parte em trabalho ou em produções de economia de escala.
das exportações de serviços de turismo e o litoral ocidental
pelas exportações de bens. Assim, podem-se retirar algumas ilações importantes
Com base numa tipologia de produtos para avaliação do sobre o desempenho da economia portuguesa:
desempenho das sub-regiões portuguesas face à dinâmica do 1. uma forte presença em sectores de trabalho intensivos
comércio internacional, é possível aferir o tipo de competiti- em que a inovação ainda é insuficiente para diferenciar os
vidade regional: produtos, sendo provável a perda de emprego em sectores
— Competitividade baseada na intensidade de trabalho – o como o calçado, cablagens e vestuário;
vestuário e acessórios de vestuário dominam com mais de 2. uma presença em sectores dependentes da escala de
18% das exportações do País, seguindo-se o calçado, com produção – nomeadamente no sector automóvel – ainda pou-
pouco mais de 6%. Os equipamentos para distribuição de co estruturada e em que Portugal fabrica componentes, como
energia eléctrica correspondem a cerca de 3% do total. As cablagens, assentos, mas cuja possibilidade de deslocalização é
sub-regiões onde dominam (mais de 10% das exportações) os sempre um cenário;
bens intensivos em trabalho são o Ave, o Grande Porto e o 3. uma fraca presença na electrónica, centrada em torno de
Cávado, seguidas do Tâmega, Entre-Douro-e-Vouga e Baixo um produto final – auto-rádios – em que conta com vários
Vouga (7 a 10%); fabricantes;
— Competitividade baseada nas economias de escala – 4. um papel-chave dos investimentos principalmente ale-
domínio dos bens associados ao sector automóvel, sendo a mães nas actividades exportadoras que mais cresceram na
península de Setúbal responsável por quase metade da totali- última década.
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Economia e desenvolvimento regional
Indicadores Gerais
Produtividade por TMAC
pessoa empregada (pr 95) 1999/03 0,5 0,9 1,3
Produtividade por
pessoa empregada euros, 2003 41,9 100,0 88,4
UE-15=100
Produtividade por euros,
pessoa empregada UE-25=100 2003 47,4 113,1 100,0
Produtividade sectorial
por pessoa empregada, euros,
total1 UE-15=100 2003 46,6 100,0 89,1
EXPORTAÇÕES
Para a UE % do total 2003 80,6 67,0 67,9
Manufacturados1 % do total 2002 88,0 82,0 82,2
IMPORTAÇÕES
Da UE % do total 2003 78,4 65,0 65,3
Manufacturados1 2002 74,6 76,8 77,1
0 25 50 km
1. UE-25 e NEM10: excluindo Malta e Chipre
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Economia e desenvolvimento regional
106 euros
106 euros
>1 000
500 - 1 000 >1 000
100 - 500 500 - 1 000
50 - 100 100 - 500
<50 50 - 100
<50
0 25 50 km
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Economia e desenvolvimento regional
IRS médio liquidado por agregado familiar, por distrito, 2000 A coesão social
Indicadores físicos
Total de pensionistas (Nº) (a) 1 979 608 2 483 199 2 574 800
Nº beneficiários, segundo
principais benefícios concedidos:
Pensão de sobrevivência 494 378 603 823 629 200
Pensão de invalidez 359 847 348 984 349 800
Pensões de velhice 1 125 383 1 530 392 1 595 800
Trabalhadores subsidiados,
por desemprego (Nº) 314 403 337 100 nd
Notas: os valores de 2002 e 2003 são provisórios (a) Regimes de segurança social dos
trabalhadores do sector privado, incluindo todos os regimes, excepto em 1999, ano em que
N a informação concerne ao Regime Geral e Regime não Contributivo da Segurança Social.
(b) Valores retirados da Conta Global dos regimes de protecção social dos trabalhadores
do sector privado (inclui regime não contributivo).
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Economia e desenvolvimento regional
Receitas totais das Câmaras Municipais, 2002 Receitas: fundos municipais, 2002
103 euros %
719 787 80
500 000 75
100 000 50
50 000 40
10 000 30
20
10
% %
51 27
50 20
20 10
10 5
1
0 25 50 km
O PAÍS SOCIOECONÓMICO
Economia e desenvolvimento regional
103 euros %
%
Contribuição
Autárquica: 8
Empréstimos: 14
Fundos Municipais: 28
Outros: 50
%
Despesas das Câmaras Municipais, 2002
>40
30 - 40
20 - 30
<20
Com o pessoal: 22
Investimentos: 35
N
0 25 50 km
Outros: 43
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O desenvolvimento humano
O conceito de Desenvolvimento Humano tem vindo a se encontram Timor Leste em 158º lugar, a Guiné em 160º,
ser abordado pelas Nações Unidas desde 1990, tendo Angola em 166º e Moçambique em 171º.
como premissa que “As pessoas são a verdadeira riqueza Portugal tem registado um forte crescimento do IDH, des-
das nações”. Medir esse Desenvolvimento é o objectivo do de 1970, bem como dos Índices intermédios que o compõem,
Índice de Desenvolvimento Humano, IDH, que foca três principalmente nas décadas de 70 e 80. Relativamente ao
dimensões fundamentais: viver uma vida longa e saudável, último ano de observação, 1999, é a Região de Lisboa e Vale
medida pela esperança de vida à nascença, ser instruído, do Tejo que apresenta o valor mais elevado, (0,925) superior
medida pela taxa de alfabetização de adultos e pela taxa de à média nacional (0,905). As regiões com valores de IDH
escolarização bruta combinada do primário, secundário e mais baixos são o Alentejo (0,872) e a Região Autónoma da
superior (com ponderação de um terço), e ter um padrão de Madeira (0,889), seguindo-se a Região Centro com 0,894, a
vida digno, medida pelo PIB per capita. Região Norte com 0,899, o Algarve com 0,900, e os Açores
O valor máximo que pode atingir o IDH é 1, consideran- com 0,903.
do-se diversos patamares abaixo desse valor: Desenvolvi- De notar que ao nível das sub-regiões, a dicotomia entre
mento Humano Elevado, de 0,800 a 1, onde encontramos, Litoral e Interior se mantém entre 1970 e 1999, apesar da evo-
na escala mundial e em 2002, a Noruega em 1º lugar e Por- lução dos valores de IDH entre essas datas. Por outro lado, o
tugal no 26º; Desenvolvimento Humano Médio, de 0,500 Litoral é mais restrito em 1999 do que em 1970 e do que em
a 0,800, onde se encontram entre outros o Brasil em 72º 1991. A sub-região com valor mais elevado de IDH, em 1999,
lugar, Cabo Verde em 105º e S. Tomé e Príncipe em 123º; é a Grande Lisboa, com 0,938, e a que apresenta valor mais
Desenvolvimento Humano Baixo, de 0,273 a 0,500, onde baixo é o Baixo Alentejo, 0,862.
1970 1981
0,900 0,900
0,850 0,850
0,750 0,750
0,650 0,650
1991 2001
0,900 0,900
0,850 0,850
0,750 0,750
0,650 0,650
N
0 25 50 km