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A Casa
dos Espelhos T i a D a g

Formada em pedagogia pela Universidade de São Paulo na década de 1970, Dagmar Riviere
Garroux, ou Tia Dag, como é conhecida, criou em 1994, junto com outros profissionais, a Casa
do Zezinho, no Capão Redondo, na periferia paulistana. Atualmente, a instituição recebe cerca
de 1.500 crianças e adolescentes e oferece aulas de música, capoeira, artes plásticas, atividades
esportivas e oficinas profissionalizantes, entre outras ações. À frente do projeto, a psicopedagoga
acredita na educação e na cultura como as principais ferramentas de transformação social. “Se
não se der cultura, não se está educando ninguém, só se está fazendo robozinhos. É na cultura
que se identifica o ser humano como crítico, pensador, como um ser total.” Discípula de Paulo
Freire, Tia Dag gosta de ensinar e de aprender ao mesmo tempo. O pensamento do educador
está presente, por exemplo, nas comissões formadas pelas próprias crianças, ou Zezinhos, para
se expressarem e sentirem que a casa lhes pertence. Nesta entrevista, concedida na sede da
instituição, Tia Dag revê sua trajetória e fala dos projetos futuros: “Pretendo expandir [a casa],
porque é uma referência. [...] dou curso de formação [...] para quem quer aprender, sair daqui,
trabalhar com o social”.
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Quando começou sua paixão pela educação? daqueles que não sabem nada, os excluídos da sala. Entrei brasileiros, pobres, ricos, e ele se sentou à mesa, ao meu lado,
Desde casa. Meu pai foi um dos idealizadores das escolas na USP em 1971 e logo depois fui fazer estágio em um com a galinha. Eu disse: “Direitos iguais, você tem o direito
Senai e ajudou a formar 80 delas no Brasil. Antigamente, a juizado de menores que depois virou o que conhecemos de ter seu bichinho de estimação e eu também tenho o
criança aprendia na fábrica meio na “porrada”. Aí começaram por muito tempo como Febem. direito de ter o meu”. Eu tinha um sapo chamado Manuel.
a surgir as escolas Senai, que até hoje são referência na Peguei-o e coloquei-o em cima da mesa. Aí o menino
indústria. Minha mãe era uma tecelã proletária e meu pai Como era o juizado de menores daquela época? alemão pediu: “Tira o sapo”. Eu respondi: “Você tira a galinha
era engenheiro, estudou na França. Minha mãe tinha uma Igual à Febem, não tinha nada de diferente. Eles torturavam e eu tiro o sapo, senão vão ficar o sapo e a galinha dentro
cabeça fantástica para o comércio. A gente morava em as crianças, e eu comecei a denunciar isso. Aconteceu o da sala de aula”. E aí foi um tal de “tira o sapo” para cá, “então
uma casa bem grande, eu não nasci pobre. Nossa casa óbvio, recebi ameaças: “Cale a boca, senão vamos matá- vamos colocar o sapo no quintal e a galinha também” para
tinha nos fundos alguns quartos. Às vezes, quando minha la”. E eu não me calava. Só que, na época, meu pai estava lá... Quando o pai chegou e viu a galinha do lado de fora, me
mãe passava de carro pela rua e avistava algum mendigo, trabalhando na Engesa [empresa brasileira especializada perguntou: “O que você fez?”. Eu contei a história e disse que
trazia-o para a casa. Geralmente aquelas pessoas estavam no setor de defesa] como engenheiro de precisão, e eles foi simples: só mostrei para ele que os direitos são iguais.
com feridas na perna. Ela punha uma enfermeira para cuidar ameaçaram matá-lo. Fui mandada embora do estágio e Então, a pedagogia de Paulo Freire é surpreender. Educação
deles, alfabetizava-os. Depois comprava um terreno numa segui para a Bahia. Não fui para lá para ser hippie, porque eu é ação. Educar é seduzir.
gleba na zona leste e fazia uma meia-água. Somos quatro era contra eles também, eu era contra tudo. Fiquei dois anos
irmãs, todas educadoras. Não tinha jeito de ser diferente. lá, tive uma filha. Vamos voltar ao início da Casa do Zezinho?
Começaram a querer matar os meninos que estavam
Então você cresceu vendo o exemplo de sua mãe? Depois da Bahia você voltou para São Paulo? roubando na própria comunidade. Colocavam cartazes em
De minha mãe e de meu pai. Eu sou rica de alma, de espírito, Sim, para essa cidade de pontes, como a João Dias, no um poste e diziam que, se determinada pessoa não saísse
de família, enfim, foi uma senhora educação a que eu tive. rio Pinheiros, as do Tietê, do Tamanduateí, por onde os em sete dias, iria morrer. Poxa, eram meninos de 10, 11 anos!
Minha trajetória nas escolas foi complicadíssima. Eu era bandeirantes saíram para desbravar este país. Para mim, as Roubavam iogurte, canetinha... Eu pegava esses meninos e
tachada de hiperativa, não ia bem em nenhuma matéria, pontes viraram uma espécie de Muro de Berlim, para separar procurava um lugar em São Paulo para escondê-los, pois se
porque eu não respeitava nada. Só em São Paulo, fui expulsa ricos de pobres. Uma divisão geográfica, muito clara. No Rio não fizesse isso eles matavam mesmo essas crianças. Minha
de três escolas. de Janeiro, esses dois mundos estão mais próximos, um casa ganhou então 18, 19 filhos.
consegue ver o outro. Em São Paulo, quem está no bairro
Como seus pais reagiam? de Pinheiros, na zona oeste, pode pensar que está na Suíça. Em sua casa as ameaças continuavam?
Eles falavam: “Podem tirar tudo de vocês, tudo, menos o Quando comecei os trabalhos com a Casa do Zezinho, as Continuavam. Mas conheci Saulo [atual marido] e juntou a
saber, o conhecimento. Então aprendam tudo o que vocês crianças eram filhas de migrantes nordestinos e nortistas: eu fome com a vontade de comer! A gente veio para essa casa
puderem”. Eu e minhas irmãs éramos meninas que sabiam dizia que éramos todos “sudestinos”. em 1990. Era como se morássemos em uma chácara, a favela
consertar carro, chuveiro... Até hoje as crianças, quando ainda não existia e a rua era de terra. Foi esse o momento
me vêem mexendo em obra, fazendo uma estrutura junto Conte mais sobre o começo da Casa do Zezinho. da virada. Quando comprei a casa, disse para o Saulo: “Quer
com o pedreiro, xingando, colocando a mão na massa, Quando digo que comecei, quero dizer que foi junto com saber, eu não vou mais trabalhar para rico, vou trabalhar
não entendem que eu tive uma educação completa e que a Corina [Maria Corina Gama de Macedo] e a Mabel [Maria para pobre”. Decidi trabalhar para que as pessoas deixassem
tento repeti-la, pelo menos em parte, na Casa do Zezinho. Izabel Albaneze]. de viver em supostas “bolhas de proteção”. Fundamos então
Mas claro que há a influência do grande Paulo Freire: nunca a Casa do Zezinho e fomos morar num sítio. As crianças da
houve ninguém com a competência dele para ouvir o outro, A Casa do Zezinho é inspirada na filosofia de Paulo casa passavam o sábado e o domingo conosco lá. Antes
senti-lo, percebê-lo. E era em cima do conhecimento do Freire e totalmente voltada para a educação não de começar a dar aulas na casa, eu, Saulo e mais alguns
outro que ele ensinava. Se ia a um canavial, não pegava uma formal... amigos mapeamos quais eram as competências do lugar.
cartilha e falava “O bebê viu a uva”. Ele usava as palavras- Sim. Por falar em Paulo Freire, me lembrei da época em que Queríamos saber o que ele tinha de bom. Comecei a dar
chave daqueles trabalhadores rurais: terra, cana, milho, como recebi um menino de 10 anos, filho de alemães vindos de aulas de cerâmica para oito, 12 Zezinhos. Um deles falou: “A
é que se planta... Depois de muita conversa, começava com Berlim Oriental. A última coisa que ele ganhou da mãe, que minha avó faz isso com casca de coco”. Eu disse: “Vá buscar a
as letras. Era uma alfabetização emocional, com trocas. havia morrido, tinha sido um pintinho, que virou galinha. sua avó”. A velhinha chegou e quebrou um coco, queimou-o,
Ele não ia a lugar nenhum sem a galinha. E as escolas não sentou-se sem ferramentas, sem nada... Eu disse: “A senhora
Você entrou na Universidade de São Paulo (USP) com a aceitavam, não entendiam essa dor. No primeiro dia que vai ser a primeira professora da Casa do Zezinho”. E ela: “Eu
17 anos. Em qual curso? ele veio para cá, o pai me explicou a situação. Eu disse: “Claro não posso, porque eu sou analfabeta”. Eu respondi: “Sem
Pedagogia. Parece que desde sempre eu estou dando aulas, que ele pode entrar com a galinha”. Era uma sala enorme, problemas, eu sou analfabeta em casca de coco, a senhora
ensinando e lidando com grupos, e sempre estive ao lado com muçulmanos, cristãos, judeus, chilenos, argentinos, só é analfabeta em letra, trocamos”. E foi o que aconteceu.
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Em três meses, ela estava lendo e escrevendo. Trabalhou na McDonald’s, eram cerca de 60 meninos. Arrumei dinheiro Exatamente. Foi o primeiro movimento espontâneo que
casa por um ano e depois foi embora para Crato [no Ceará] suficiente para cada um deles, fomos em dez carros, com realmente me animou. A década de 1990 foi extremamente
com sua família. a ajuda de muitas pessoas. No McDonald’s havia um difícil para mim. No meu ponto de vista, nada aconteceu nos
empresário com dois filhos. Perguntou-me o que estava aspectos cultural, político, econômico e social. Quando o hip
Paulo Freire, novamente... acontecendo e eu contei toda a história. Ele me disse: “Posso hop surgiu, com poesia, mostrando o cotidiano, eu adorei.
Pois é! Certa vez um menino quebrou o dedo e eu o levei ajudar na carona da volta?”. Eu aceitei, claro. Naquela época havia meninos que davam o endereço da
ao ortopedista, pois era meu dia de educadora (eu não falo Casa do Zezinho, e não de sua própria casa, para conseguir
professora, e sim educadora, porque é diferente. Professora Ele se ofereceu ou você o convidou? emprego. Porque, se dissessem que moravam em Capão
para mim é conteudista e, hoje em dia, com a web, se eu quiser Ele se ofereceu. Era dono de um moinho. Quando chegamos Redondo, Jardim Ângela, seriam considerados ladrões e
um conteudista, eu aperto um botão e acabou-se. Agora, à casa, viu que aqui era um terreno, ali na esquina onde está ninguém os empregaria. Hoje já existe o movimento 100%
educador está difícil de achar. É aquele pessoa que passa o prédio em que matavam as pessoas e as jogavam. Ele Capão, a grife Um da Sul [do escritor Ferréz], o Racionais
o dia inteiro educando, aprendendo, ouvindo, cheirando, falou: “Qual teu sonho?”. Eu disse: “Eu quero ter mil crianças”. MC’s e a própria Casa do Zezinho.
abraçando...). Bom, o fato é que o garoto quebrou o dedo, Naquela época, eram 100 e hoje eu quero ter 10 mil. “E
levei-o ao ortopedista e na volta passei no McDonald’s. Ele nesses terrenos dá pra construir?”, ele perguntou, ao que Você passou a usar o hip hop nas aulas também?
chegou aqui com um McLanche Feliz. No dia seguinte, eu respondi: “Claro que dá”. Ele queria saber se eu tinha algum Claro, eu não parei no tempo. Nas aulas de português,
tinha cinco meninos com dedos quebrados. projeto na cabeça. Eu já sonhava com a Casa do Zezinho. Aí começamos a usar letras de rap para trabalhar a língua,
ele falou: “Então vamos fazer. Você permite que eu participe com transversalidade, multidisciplinaridade. Mas, além do
Outras crianças quebraram o dedo de propósito para disso?”. Ele viu que eu era meio complicada: “Numa boa, hip hop, todas as tribos estão aqui dentro, inclusive a da
ganhar um McLanche Feliz? desde que seja um consenso, um denominador comum a orquestra.
Sim, olha a força da periferia. Logo pensei: “Sou uma todos – Zezinhos, educadores...”
pedagoga idiota, eu não ensino as crianças a fazer comissão, Uma das metas é sempre evitar os guetos?
se organizar, expressar seus desejos”. Eles não tinham Dessa forma, ele passou a ser um agregado, um Sim, eu sempre falei com a turma do hip hop: “Se a gente
coragem de falar para mim: “Quero ir ao McDonald’s!”. Foi colaborador da casa... se fechar em um gueto, o que vai virar isso aqui? Temos de
quando começamos o processo de comissões na Casa do Sim, é o João Batista, nosso vice-presidente, um empresário abrir”. Mano Brown mesmo fala: “A Tia Dag é sinceridade”. É
Zezinho, que existe até hoje. sensível, que convenceu muita gente com boa situação preciso mostrar todos os lados e aí os Zezinhos decidem.
financeira a ajudar a construir a Casa do Zezinho. Ela nasceu Então, se me perguntarem qual é a linha da Casa do Zezinho,
E como funcionam essas comissões? oficialmente em 1994 e nosso “arranque” aconteceu em eu diria: “É a linha do Paulo Freire, que é dar ferramentas
Cada espaço de aprendizagem possui comissões que são 1995, 1996... pedagógicas, desenvolvimento humano, cultural”. Se não
eleitas pelos alunos e representam a sala. E assim sabemos o se der cultura, não se está educando ninguém, se está só
que eles estão ou não achando legal, o que querem e o que A partir desse capítulo, vocês também foram fazendo robozinhos. É na cultura que se identifica o ser
não querem. Todos podem escutar e falar. Nenhum projeto agregando pessoas de diferentes classes sociais... humano como crítico, pensador, como um ser total. E não
da Casa do Zezinho se concretiza se não passar – e for Não podemos ser xiitas! Precisamos atravessar as pontes e adianta separar a cultura da educação. Isso é um absurdo.
aprovado – pelas comissões. Nesse ponto, podemos voltar devemos nos lembrar do mestre Paulo Freire. Rompemos o
àquela colocação feita no início, de as pessoas sentirem que muro, muitos chegaram e a casa foi crescendo, mas sempre, Na Casa do Zezinho há mais de 40 salas, com música,
pertencem a algum lugar. absolutamente sempre, conversando com a comunidade capoeira, artes, oficinas de cabeleireiro... E esses
e deixando muito claro que não viemos aqui pra fazer espelhos, há um monte deles espalhados? São para
Hoje essas crianças não são mais migrantes. Já podem um projeto pessoal. Tinha de ser um projeto de toda a que os meninos se olhem e se identifiquem como
se considerar paulistanas? comunidade do Parque Santo Antônio, de São Luiz, Capão parte da casa?
Elas não se consideram paulistanas porque a cidade não as Redondo, Campo Limpo, Fundão, Jangadeiro. Donos da casa.
recebe. Se uma criança vai ao shopping, cinco seguranças
ficam em cima dela. Em nenhum lugar está escrito “Proibido”, Hoje, o que dá identidade a esses jovens, ao bairro? Como é o diálogo da Casa do Zezinho com seu entorno,
mas essa proibição invisível é terrível. Podemos senti-la no ar O hip hop. Fim de Semana no Parque, uma das músicas do com o bairro? Vocês recebem algum tipo de ameaça,
em alguns lugares... Racionais MC’s, por exemplo: sabe qual é o parque? É esse por exemplo?
aqui em frente, o parque Santo Antônio. Não. Para ter uma idéia, nunca recebemos nenhum tipo de
É preconceito social? ameaça do tráfico.
Totalmente. A criança chega ao shopping e não pode Por meio dessas músicas, eles começaram a se
entrar? Depois dessas comissões de sala, fui com todos ao enxergar, a se identificar?
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Você perde muito Zezinho para o tráfico? [no bairro]. Não há saneamento básico, estrutura de Fazemos parceria com as escolas. Aliás, no começo da Casa
Não. É a coisa mais fantástica. Se você me perguntar quantos moradia, alimentação adequada”. Ela topou o desafio e do Zezinho as escolas queriam me matar, porque achavam
Zezinhos eu perdi desde 1994, foram no máximo 20. Em uma tem funcionado muito bem. que eu mimava as crianças. Mas eu ensinava o aluno a
conta simples, já passaram por aqui mais de 5 mil crianças, e ter voz. Ele falava: “Cadê a professora de inglês a que eu
hoje 60% dos meus funcionários são Zezinhos. Ficamos de Vi casas por aqui com muito arame e grades de tenho direito?”. Na Casa do Zezinho, temos aulas de inglês,
olho em possíveis líderes, e eles surgem naturalmente. proteção... espanhol e alemão.
Só essa rua [rua Anália Dolácio Albino, em frente à Casa do
Você é chamada para mediar conflitos? Zezinho] foi assaltada 17 vezes em um único dia! Quantos funcionários trabalham na casa?
Algumas crianças me chamam. São torturadas pela mãe, São 40 funcionários e o mesmo tanto de voluntários,
que dá facada, ou pelo pai, que dá cintada. A gente conversa Dezessete vezes! principalmente profissionais liberais (dentista, psicólogo,
muito, e há terapia familiar na Casa do Zezinho, aos sábados. Lembro-me de uma época em que não tínhamos recursos médico). Descobrimos que temos 120 Zezinhos subnutridos.
A turma às vezes diz que eu pareço o prefeito do pedaço... para comprar mesas. E como eram elas? Eram tábuas Então, agora, vamos trabalhar a alimentação. Não se
Temos uma fila de espera de 2 mil crianças e atendemos com cavaletes e, quando púnhamos para fora para lavar, consegue educar sem saúde, pois quem aprende com a
cerca de 1.500. chamavam a polícia e diziam que estávamos jogando cartas. barriga vazia? Ou você seduz ou o tráfico seduz. Eu falo que
Agora essa visão errada passou... é o quarto setor, e eles ficam bravos comigo.
Suas ações vão além da zona sul de São Paulo. Você já
atuou na zona leste, por exemplo? Você pensa em fazer outras unidades da Casa do O quarto setor?
Já fizemos interferência na favela do Pantanal. Em escola Zezinho? O tráfico. Mas tenho de ressaltar que nunca fui incomodada
pública também, quando uma empresa da iniciativa Pretendo expandir esta aqui, porque é uma referência. Já por eles. No Parque Santo Antônio, eles chamam a casa de
privada quis colaborar para melhorá-la. Conversamos dou curso de formação em educação social, para quem Sol do Santo Antônio. Eu pintei essa casa de amarelo porque
com a diretora, os professores, os funcionários, chamamos quer aprender, sair daqui, trabalhar com o social. olhava para as favelas e via que ninguém tinha essa cor na
os alunos. A escola foi pintada de várias cores, cheia de favela. Hoje já se vê o colorido, vê-se casas com mosaico.
painéis, mosaico, jardim. Nesse “Dia D” ninguém foi expulso, Algum ex-Zezinho abriu seu próprio espaço?
suspenso ou brigou. No Parque Santo Antônio, dois ex-Zezinhos estão cuidando É a Casa do Zezinho influenciando o bairro?
de portadores de HIV. Como eu tenho microcrédito, por uma Há um projeto em fase inicial chamado Colar Idéia.
Os próprios alunos fizeram essa interferência junto empresa parceira, ajudei ex-Zezinhos que abriram escola Convidamos arquitetos pra trabalhar com meio ambiente e
com os Zezinhos? de informática, de cabeleireiro. Trata-se do pensamento com barracos que estão ruins, quentes. Eles usam energia
Sim. Sempre levo para as escolas alguns Zezinhos e também autônomo. Quando me dizem, por exemplo, “Eu quero ser do sol, reaproveitam água da chuva. No mês que vem, uma
educadores. Na casa não há professor, monitor, tutor, nada pipoqueiro”. Eu digo: “Tá legal, você vai ser pipoqueiro, é o casa na favela vai ser transformada.
disso. Também não há coordenadores, e sim mediadores. seu sonho. Mas seu carrinho vai ter neon, vai ser diferente,
com marketing para você vender mais pipoca, você vai ter É um projeto em que as pessoas podem aprender
Do vigia à diretora, todos são considerados educadores website”. qual é a tecnologia para a casa que desejam e podem
na casa? construir.
Todo mundo é educador. Não se pode perder tempo, Se um Zezinho quiser ficar trabalhando aqui, ele Será formado o primeiro grupo para aprender a fazer esse
entrou aqui é educador. Por quê? Às vezes, a criança não pode? tipo de casa. Eles poderão mudar as próprias casas e ajudar a
está a fim de ficar no espaço (a gente não usa o termo sala Se a gente percebe que é um potencial educador, ele fica mudar a dos outros... Eu só acredito em contaminação.
de aula). E daí? Aconteceu comigo quando era estudante. aqui. Hoje em dia as empresas vêm buscar os Zezinhos. Isso
Se não estava a fim da aula, não ficava. Claro que eu é muito legal! Aonde a Casa do Zezinho vai chegar?
levava aquele castigo. Então, se a criança não quer ficar no No mundo, essa é a idéia. Onde houver criança sofrendo,
espaço, que vá conhecer o trabalho do pessoal da limpeza, Vocês têm trânsito livre aqui na casa, sem nenhum sem sonhar, jovem sem perspectivas. Que isso contamine
da cozinha, da médica. segurança ou controle de acesso... cada vez mais e siga. Começamos sem nada, acreditando
Ou se acredita no projeto ou não. em um projeto junto com a comunidade e que é possível
Você tem uma médica que atua aqui, como ela se mudar... Falta muito ainda para a gente sonhar. Quero ter um
chama? Todos os Zezinhos têm de obrigatoriamente estar na sítio onde as crianças possam desfrutar a liberdade. Quero
Doutora Dina Kaufman, que trabalha conosco há um escola? trabalhar com jovens que vão para a Febem [atual Fundação
ano e começou como voluntária. Quando resolveu Têm de estar entre aspas. Vamos supor que um Zezinho não Casa]. Acredito que possam ser recuperados. Eu acredito no
permanecer, eu lhe disse: “Não há nenhum recurso aqui se adapte à escola. Então procuramos resolver seu conflito. ser humano.

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