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Brasil só perde para EUA e México em

número de mórmons
País já tem 1,167 milhão de fiéis da igreja que proíbe de café a sexo antes do
casamento

SÃO PAULO - Há cerca de três meses, Carolina de Aquino Cidano, de 20 anos,


descobriu que estava grávida. Com o marido, Diogo de Oliveira Silva, de 23,
desempregado e ela mesma há apenas sete meses trabalhando como
vendedora numa loja, não lhe parecia uma boa hora para ter um filho. Pensou
em aborto. Desistiu. Estava confusa e angustiada. A sogra, a governanta Maria
de Lourdes Oliveira, de 55, pensou que a nora precisava de ajuda espiritual e a
convidou a ouvir os missionários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos
Últimos Dias (SUD), mais conhecida como Igreja dos Mórmons, à qual se
converteu há 12 anos.
Foi num modesto prédio no Morumbi, São Paulo, que Carolina encontrou, há
dois meses, os missionários Tyler Ostlund, um americano de 20 anos, e Diego
Amorim, de 21, baiano. Com gravatas, camisas brancas e plaquetinhas pretas
com os nomes gravados sobre o bolso da camisa, os missionários são a face
mais visível da igreja onde quer que se vá.
— O que podemos fazer para ajudar você? — pergunta o Elder (como são
chamados os membros experientes da igreja e os missionários) Ostlund, em
português perfeito.
Carolina fala do bebê, do trabalho cansativo, do marido desempregado. Diz que
gosta de Deus, de crianças, de animais e de cantar. É pouco mais que uma
menina confusa. O encontro dura uma hora. Os missionários rezam, dizem que
"O Livro de Mórmon" é uma escritura tão sagrada quanto a Bíblia, cantam
hinos.
— Prometemos que, se você guardar os mandamentos de Deus, terá felicidade
sem fim, espiritualmente e materialmente — diz Diego.
Carolina está mais calma e promete ir à igreja. Ela fará parte dos 1,167 milhão
de membros que a SUD projeta ter este ano no Brasil. O crescimento se
acelerou nos últimos anos. Mantido o ritmo, o Brasil ultrapassará o México
(1,234 milhão) como segundo maior país de mórmons do mundo em cinco
anos, prevê a igreja, e ficará atrás apenas dos Estados Unidos, onde a religião
nasceu e tem cerca de quatro milhões de fiéis. No mundo, são 14,1 milhões de
mórmons.
— Apesar do enriquecimento dos emergentes, Brasil inclusive, e de toda a
tecnologia, as pessoas sofrem com um vazio espiritual grande — diz o Elder
Carlos Godoy, conselheiro da presidência da SUD no país, a única que não tem
americanos na cúpula. — Nossa vantagem foi estarmos preparados.
Godoy se refere ao exército de quatro mil missionários que circulam pelo Brasil
anualmente (50% brasileiros, 50% americanos). Aqui, eles se espalham por 27
regiões e, por dois anos, rapazes de 19 a 26 anos e mulheres de 19 a 40
peregrinam porta a porta tentando converter pessoas. O trabalho é sempre em
dupla, o que lhes vale o apelido de Cosme e Damião, referência irônica aos
santos católicos.
Nos EUA, os mórmons estão em alta. Mitt Romney, ex-governador de
Massachusetts, é pré-candidato no Partido Republicano e briga para ser o
opositor oficial do partido a Barack Obama nas eleições deste ano. Na
Broadway, o musical "The Book of Mormon", dos mesmos criadores de "South
Park", fatura alto e foi o grande vencedor do Tony em 2011.
Os mórmons não acreditam em proselitismo de massa. A pregação é olho no
olho. Num terreno de oito mil metros quadrados em Casa Verde, Zona Norte de
São Paulo, fica o Centro de Treinamento Missionário (CTM), por onde passam,
por semana, 70 jovens candidatos a missionários. Ali, por três semanas (os
brasileiros) ou nove (os americanos), recebem aulas de como melhor convencer
as pessoas sobre o que diz "O Livro de Mórmon" e o retorno à terra de Jesus
Cristo, fundamentos centrais da religião.
— Eles aprendem a lavar roupas, recebem dicas de convivência e descobrem
como planejar a rotina, além das melhores formas de passar a mensagem da
igreja — diz Aldo Francesconi, diretor do CTM.
Tarefa difícil num país onde porteiros e interfones separam a rua dos
moradores de casas e edifícios. Sem falar nos que veem esse tipo de visita
mais como chatice do que salvação.

O Presidente dos missionários, Marcus Martins, e esposa Mirian,


em frente a Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias O Globo / Michel Filho

— Usamos muito outros membros da igreja, que recomendam a conhecidos a


visita dos missionários — diz Marcus Martins, presidente da Missão São Paulo
Norte, uma das quatro regiões que dividem o estado. — Isso contorna o
problema da segurança.
O que leva cada jovem ao trabalho missionário — um treinamento que custa
US$ 500 e é bancado pelas famílias — vai da curiosidade à ideia de que aquilo
vai melhorar suas vidas. É o que pensa a dona de casa Luzi Vandete dos
Santos, de 46 anos, que há um mês se despediu aos prantos do filho Jonathan
dos Santos Silva, de 24, na porta do CTM. Após o treinamento, eles passam
pelo menos dois anos como missionários, vivendo em casas alugadas pela
igreja. Nesse tempo, podem escrever emails ou cartas à família, mas só podem
falar com os parentes três vezes por ano: Dia das Mães, Dia dos Pais e Natal.
— Eles voltam melhores — diz ela, cujo filho Julio Cesar dos Santos Silva, de 27
anos, também foi missionário.
Sem o apelo midiático de muitas das religiões neopentecostais que avançam
pelo Brasil — ainda que esteja presente na internet —, a SUD tem uma
estrutura corporativa digna de grandes empresas. Os cerca de 300 empregados
do prédio-sede da administração em São Paulo (epicentro da igreja no Brasil,
com o maior número de seguidores, seguido por Ceará) cuidam de tudo para
que as mais de 1.900 congregações do país se dediquem apenas às discussões
religiosas.
Ali, em meio a pôsteres de um Jesus Cristo caucasiano (quase louro),
profissionais planejam e monitoram investimentos em prédios (cada nova
capela para 500 pessoas custa R$ 3 milhões), digitalização de documentos
(este ano, serão 4,2 milhões de registros de nascimento e casamento
digitalizados, serviço fundamental para uma igreja que acredita no casamento
após a morte), logística para produção e distribuição de material de
evangelização (são 50 mil assinantes da revista "A Liahora", 200 mil
exemplares de "O Livro de Mórmon" e 60 mil Bíblias vendidas por ano) e ações
de responsabilidade social (doação de três mil cadeiras de rodas por ano e o
programa de voluntarismo Mãos que Ajudam).
Além disso, há ações que melhoram a vida dos fiéis, como um fundo de
educação que ajuda a pagar os estudos em famílias convertidas que não
tenham condições. Em 2011, foram 13 mil alunos. Outro orgulho é o Centro de
Recolocação de Empregos, que atende a 3.400 pessoas desempregadas com
cursos de autossuficiência profissional e recolocação.
— A igreja me dá ferramentas para que eu possa me aprimorar — diz Juliana
Ribeiro, desempregada há quatro meses, numa sala com cartazes onde o ex-
presidente da SUD, Gordon Hinckley, explica uma filosofia que permeia várias
igrejas americanas: "O Senhor gostaria que vocês fossem bem-sucedidos."
Esta estrutura é bancada por dízimos dos fiéis (10% da renda de cada um),
cuidadosamente acompanhados em balancetes anuais individualizados. Há a
percepção, entre os mórmons, de que o dízimo volta para a igreja e para os
fiéis através dessa estrutura empresarial.
— É uma maneira de demonstrar ao Senhor como somos gratos por sua bênção
— diz o autônomo José Luiz da Silva, 44 anos, chefe de uma família de cinco
convertidos.
Há o outro lado. Ainda que a SUD negue que o pagamento do dízimo seja pré-
requisito, muitos ex-mórmons focam nesta exigência suas críticas, alegando
que ninguém participa ativamente das atividades religiosas ou sociais das
congregações se não estiver com o pagamento em dia.
— Há uma vinculação clara entre pagamento e vida na igreja — diz o
economista Antonio Carlos Popinhaki, 48, que foi membro da SUD por 18 anos,
oito deles como bispo em Santa Catarina, até abandoná-la em 2005 e criar o
blog "Sobre o mormonismo". — A SUD não paga impostos, e bispos fazem
doações para a própria igreja como forma de eles mesmos pagarem menos
impostos.
O discurso hiperconservador sobre virtudes é especialmente poderoso para
quem vive fragilizado num mundo tão materialista e individualista. A
valorização da família é o centro da doutrina, ainda que isso pareça anacrônico
diante de um Brasil onde o divórcio só cresce, e as mulheres exercem cada vez
mais a posição de chefes de família. Mas a igreja parece não se importar.
A SUD não tem bispos ou autoridades solteiros ou divorciados, sequer viúvos.
Famílias gays, nem pensar. O sacerdócio é privilégio masculino, e as mulheres
têm postos de liderança em cargos que cuidam de assuntos familiares e
infantis. Em tese, mórmon não faz sexo antes do casamento, não bebe café ou
chá e não toma álcool ou drogas.
— Gosto da igreja porque ela é voltada para a união da família — diz Maria José
Gonçalves, 46 anos e nove filhos.
— A sensação de fazer parte de uma grande família, que parece protetora no
início, acaba se tornando opressora no fim — conta Antonio Carlos.
— As religiões que estão mais próximas de pessoas cujas vidas passam por
dificuldades tendem a ser bem-sucedidas. Elas representam um grupo que
acolhe numa hora difícil — diz o teólogo Clemir Fernandes, do Instituto de
Estudos da Religião (Iser).
O mormonismo foi criado em 1830 nos Estados Unidos por Joseph Smith Jr.,
que aos 14 anos afirmou ter tido uma visão de Deus e de Jesus Cristo. A ele foi
dito que ajudasse a restaurar o cristianismo, preparando os fiéis (considerados
os santos) para a volta do messias no futuro (os tais últimos dias). Isso elevou
Smith à condição de profeta, citado e adorado tanto quanto Jesus Cristo.
Ainda que essencialmente uma igreja cristã, teses sem fundamentos históricos
(ou católicas) não faltam no fundamento teológico da SUD. Como a ideia de
que o continente americano foi visitado por povos hebreus muitos anos antes
do nascimento de Cristo. Ou que o próprio Cristo teria visitado as Américas
após a ressurreição. Em 1823, Smith teria sido visitado por um anjo chamado
Moroni, que o mostrou placas de ouro onde estaria a história da tal civilização
vinda de Jerusalém para as Américas. As placas foram traduzidas e resultaram
em livros, sendo que o mais importante é "O Livro de Mórmon".
Por ser adepto da poligamia (mais tarde banida do mormonismo) e de
cerimônias maçons, Smith e seus seguidores eram vistos por religiosos
protestantes americanos da época como membros de uma espécie de culto,
pecha que persegue os adeptos da religião até hoje. A igreja se estabeleceu em
Salt Lake City, em Utah, sede mundial da SUD. No Brasil, a religião chegou em
1926 através de um casal de imigrantes alemães, os Lippelt, que pediram o
envio de missionários ao país.
Má notícia para o pré-candidato Mitt Romney, uma recente pesquisa do
Instituto Gallup mostra que 22% da população americana jamais votaria num
candidato mórmon, alegando serem eles adeptos de práticas "típicas de culto".
As cerimônias, chamadas ordenanças, acontecem nos templos da igreja, sendo
cinco deles no Brasil. Ali, onde só se permite a entrada de membros da SUD
vestidos com roupas brancas especiais, são realizados rituais de casamento
eterno (após a morte), de batismo de antepassados mortos (a SUD tem o
maior banco de pesquisa genealógica do planeta e acredita que antepassados
podem ser convertidos ao mormonismo), de aperfeiçoamento dos santos (um
trajeto que resulta na transformação de humanos em deuses e deusas que
habitarão um planeta chamado Kolob, perto da morada de Deus), além da
entrega de códigos e chaves que são dados aos fiéis para a entrada no céu
propriamente dita.
Em fevereiro de 2011, a igreja lançou uma campanha nacional nos Estados
Unidos chamada "I’m a mormon" ("Sou um mórmon"), em que pessoas de
várias profissões buscam desmistificar a ideia do mormonismo como uma seita
de gente esquisita. Mas o estudante Lucas Dias, de 19 anos, convertido à igreja
em 2003 em Bauru, decidiu sair da SUD em 2010 pelo que ele chama de
"inconsistências e bizarrices da religião".
— As cerimônias nos templos são bizarras, e a trajetória da igreja não tem
fundamento histórico nenhum, por isso eles buscam fazer com que você
acredite cegamente nas escrituras inventadas por Joseph Smith — diz ele, que
criou, no ano passado, o blog "HumorExMórmon".

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