e o audiovisual do resto do mundo Cinema de autor ou de produtor? Cinema clássico ou moderno? Dá para ser autoral e usar a narrativa clássica? As narrativas clássicas se aplicam a novelas e séries? O conflito tira da França o título de maior produtora de filmes até então e, gradativamente, o transfere para os Estados Unidos. Nos Estados Unidos, contudo, o cinema também já vivia uma certa crise de interesse por parte do público norte-americano e uma “Guerra de Patentes” (1897- 1908), deflagrada por Thomas Edson. A primeira delas foi mudar a sede das empresas então existentes da cinza Nova York para um lugar ensolarado e longe dos cobradores de impostos e patentes e lá fundar um famoso “bairro”... ...primeiramente em uma atividade de lazer para toda a família e que, preferencialmente, atingisse todas as classes sociais Mas, como atrair um público respeitável para o cinema? Mais do que um longa-metragem, “O Nascimento de uma Nação” (1915) é o nascimento da chamada linguagem cinematográfica clássica. Ele fez do dispositivo cinematográfico uma máquina de contar histórias lineares (com começo, meio e fim). Usou como conteúdo de seu filme a própria História norte-americana e estimulou cada vez mais, a exemplo do que já fazia Édson, a aproximação do cinema com a literatura para atrair a elite “letrada” e respeitável aos cinemas. tanto Griffith quanto os grandes estúdios surgidos durante a Primeira Guerra em Hollywood perceberam que era cada vez mais necessário “organizar melhor” seus filmes e cada uma das cenas que os espectadores viam na tela. Daí decorre a chamada “gramática cinematográfica”, em que conceitos como Plano, Cena, Sequência e Montagem se tornam essenciais para a composição de um filme. ...todas estes novas noções e conceitos ajudaram os realizadores a organizar “o quadro confuso” do cinema dos primórdios. Ou seja, “orientar o público para os pontos importantes da imagem no desenvolvimento da narrativa” . A câmera “passa a mudar constantemente de posição para mostrar tudo da melhor maneira possível de modo a construir um espaço complexo e dramaticamente intenso”, como explica Arlindo Machado ...os estúdios norte-americanos inventaram “padrões” de filmes facilmente reconhecíveis pelos público “...têm padrões reconhecíveis em termos de tema, época, ambientação e trama, além da iconografia e de tipos de personagens retratados. “O conceito de gênero nasceu com os grandes estúdios em Hollywood para “facilitar a produção e comercialização dos títulos, além de servir de modelo para os roteiristas” e serve não apenas para rápido reconhecimento de filmes, mas também séries, novelas, entre outros produtos audiovisuais. contudo, não evitariam que o cinema passasse por crises e percalços ao longo de sua história no século XX. Para que a chamada “Sétima Arte” sobrevivesse até os dias atuais, ela teve que enfrentar muitas mudanças estéticas, inúmeras transformações tecnológicas e um duelo constantes entre o “cinema de produtor”, criado por Hollywood, e o “cinema de autor”, diretamente ligado ao chamado cinema moderno. Foi a velha sede por novidades por parte dos espectadores o que levou também o cinema a se desenvolver tecnologicamente até o ponto de conseguir sincronizar som e imagem em uma mesma película. os grandes estúdios hollywoodianos viam, com justificada preocupação, seu público minguar mês a mês. Foi esta situação que levou os irmãos Warner – que haviam fundado sua empresa em 1919 – a usar o sistema de som Vitaphone de maneira sincronizada em um longa-metragem, realizando em poucas semanas, em 1927, “O Cantor de Jazz”. Eram apenas duas cenas faladas com 354 palavras, como lembra o crítico de cinema Celso Sabadim em “Vocês Ainda Não Ouviram Nada – A Barulhenta História do Cinema Mudo” O sucesso, no entanto, foi imediato e salvou a Warner Bros. da falência. o cinema sonoro surgiu na mesma década em que o rádio – um meio que trabalha o tempo inteiro com o som para estimular nossa imaginação e assim ampliar e modificar nosso imaginário – se consolidava como a grande mídia de informação e entretenimento doméstico nos Estados Unidos. será marcada pela consolidação da cor no cinema a partir de técnicas como o technicolor, patenteada pela empresa norte-americana Technicolor Motion Picture Corporation em 1922 e aperfeiçoada a partir de 1932 em um processo em que três tiras de filmes em cores primárias são transferidas para uma única imagem, podendo ser captadas e exibidas por uma única câmera e projetor. A técnica foi a mais utilizada pelos estúdios norte-americanos até o início dos anos 1950. o inglês George Albert Smith já havia criado em 1906 uma técnica de coloração de filmes, a Kinemacolor, sendo comercializada pela empresa Charles Urban Trading Company a partir de 1908. Por sua vez, a Kodak lança, em 1935, o Kodakchrome tanto para fotografia quanto para cinema. Em 1948, a empresa colocará no mercado um filme de 35 mm seguro com base de triacetato para a indústria cinematográfica em substituição ao com base de nitrato de celulose inflamável, passando a dominar o setor. no século XX pareciam estar apenas começando, mesmo após a criação de uma linguagem específica para essa mídia e tantas mudanças tecnológicas. Após o término da Segunda Guerra, a televisão emergirá com força total colocando mais uma vez o meio em xeque. O esvaziamento dia a dia das salas obrigará os grandes estúdios gradativamente a se aproximarem da TV e a pensarem em uma série de inovações para manterem o cinema vivo. Filmes mais ousados: liberta Hollywood do puritanismo trazido ao cinema em 1922, desde que o Código Hays, criado por Will Hays, presidente da MPAA, entrou em vigor para moralizar os “escândalos sexuais” de Hollywood. Novos ídolos: para romper de vez com a autocensura e atrair uma plateia mais jovem ao cinema. Cinerama (1952): três projetores, três telas para envolver a visão periférica do público que via o filme num ângulo de 140º; Também valia filmar em novos formatos e aumentar o tamanho da tela! A chamada Natural Vision (3D) era baseada na técnica das fotografias estereoscópicas, como relata Luiz Gonzaga de Luca. A estereoscopia foi criada em 1838, por Sir Charles Wheatstone, na Era Vitoriana. Consiste em registrar duas vistas de uma cena, com a câmera nas posições correspondentes ao olho esquerdo e direito. Por diversas maneiras, pode-se fazer com que depois cada olho veja exclusivamente a cena que lhe corresponde. Era o slogan para “A Sombra e a Escuridão” (novembro de 1952), do produtor independente Arch Oboler, considerado o primeiro longa- metragem em Hollywood feito em 3D. Porém, causavam experiências desconfortáveis ao público. Era preciso usar óculos de cartolina, mal cuidados quase sempre, gerando dores de cabeça. Por sua vez, as imagens 3D dessa época eram instáveis, criando “fantasmas” nas telas. Ainda assim, Hollywood fez, entre 1952 e 1954, aproximadamente 30 filmes deste tipo por ano, de todos os gêneros. Com as constantes reclamações do público pelo “estorvo” dos óculos, o formato foi gradativamente “esquecido” e filmes como “Disque M para Matar”, de Hitchcock foram relançados em formato plano. BERGAN, R. Guia Ilustrado Zahar Cinema. Rio de Janeiro: Zahar, 2007. ___________. Ismos – para entender o cinema. São Paulo: Globo, 2010. BERNARDET, J.C. O que É Cinema. São Paulo: Brasiliense, 2010. MACHADO, A. Pré-cinemas & Pós-cinemas. Campinas: Papirus, 1997. SABADIN, C. Vocês Ainda Não Ouviram Nada – A Barulhenta História do Cinema Mudo. São Paulo: Lemos, 1997