PUNIBILIDADE
1- Conceito de Punibilidade
• Com a prática da infração penal, surge para o Estado o direito de punir, ou seja,
a punibilidade, que nada mais é do que a possibilidade jurídica de o Estado
impor a sanção ao autor do delito.
• O legislador, entretanto, estabelece uma série de causas subsequentes que
extinguem essa punibilidade, impossibilitando, pois, a imposição da pena.
• O art. 107 do Código Penal enumera algumas causas dessa natureza. Esse rol,
entretanto, não é taxativo, pois existem várias outras causas extintivas da
punibilidade descritas na Parte Especial do Código e em outras leis:
Ex.: morte da vítima em crimes de ação privada personalíssima (art. 236, parágrafo
único);
3- Causas que afetam a punibilidade de uma conduta:
1-Condições objetivas de punibilidade não satisfeitas (preceito secundário do art. 122-CP);
Art. 122-Pena - reclusão, de dois a seis anos, se o suicídio se consuma; ou reclusão, de um a três anos, se
da tentativa de suicídio resulta lesão corporal de natureza grave.
2-Escusas absolutórias(é uma expressão jurídica usada no CP para designar uma situação
em que houve um crime e o réu foi declarado culpado, mas, por razões de utilidade pública,
ele não está sujeito à pena prevista para aquele crime.);
Art. 181-CP. É isento de pena quem comete qualquer dos crimes previstos neste título, em rejuízo:
I - do cônjuge, na constância da sociedade conjugal;
II - de ascendente ou descendente, seja o parentesco legítimo ou ilegítimo, seja civil ou natural.
3-Hipóteses de extinção da punibilidade.
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:
I - pela morte do agente; [...]
4- Hipóteses de extinção da punibilidade no art. 107 do CP
Art. 107 - Extingue-se a punibilidade:
I - pela morte do agente;
II - pela anistia, graça ou indulto;
III - pela retroatividade de lei que não mais considera o fato como criminoso;
IV - pela prescrição, decadência ou perempção;
V - pela renúncia do direito de queixa ou pelo perdão aceito, nos crimes de ação privada;
VI - pela retratação do agente, nos casos em que a lei a admite;
VII- (revogado)
VII- (revogado)
IX - pelo perdão judicial, nos casos previstos em lei.
5. Causas de extinção da punibilidade do art. 107-CP
5.1- Morte: Art. 107 - I
• Extingui-se a punibilidade porque a pena é intranscendente, não há como punir o morto.
• Com a morte, comprovada através da certidão de óbito, dá-se a extinção da punibilidade.
Obs.: E se a certidão de óbito juntada aos autos, que embasa a decisão transitada em julgado, é
falsa? Isto é, e se o réu ou condenado não morreu?
Há duas orientações:
a) Ele não poderá mais ser julgado pelo crime em que se deu a extinção de sua punibilidade, pois
não há possibilidade de revisão criminal pro societate, de modo que apenas poderá ser punido
por falsidade documental.
b) Como a decisão judicial é baseada em fato juridicamente inexistente, e sendo certo que
ninguém pode se beneficiar de sua própria torpeza, ela não faz coisa julgada (STF, C
31234/MG).
5.2 Anistia, graça e indulto: Art. 107 - II
- Anistia, graça e indulto são formas de clemência estatal, que se diferenciam em alguns aspectos,
como a abrangência, a competência para decretação e seus efeitos.
5.2.1-Anistia: é ato do Congresso Nacional, que a concede através de uma lei, a qual deve ser
sancionada pelo Presidente da República. Tratando-se de lei penal benéfica, é retroativa. Pode
abranger crimes políticos, ou demais crimes, inclusive militares e eleitorais. Apenas não poderá
versar sobre crimes hediondos e equiparados (art. 5º, XLIII, CF).
Ex.: Art. 1º (Lei nº 6.683-79) É concedida anistia a todos quantos, no período compreendido entre 02 de setembro
de 1961 e 15 de agosto de 1979, cometeram crimes políticos ou conexo com estes, crimes eleitorais, aos que tiveram
seus direitos políticos suspensos e aos servidores da Administração Direta e Indireta, de fundações vinculadas ao
poder público, aos Servidores dos Poderes Legislativo e Judiciário, aos Militares e aos dirigentes e representantes
sindicais, punidos com fundamento em Atos Institucionais e Complementares
Obs.: Todos os efeitos penais da sentença condenatória são extintos pela anistia, mantendo-se os
efeitos civis.
5.2- Indulto e graça:
• Semelhanças:
a) Ao contrário da anistia, não são atos do Congresso Nacional, mas do Presidente da
República, por meio de decreto.
b) Qualquer que seja a hipótese, impõe-se a existência de uma sentença condenatória
irrecorrível (ao contrário do que ocorre na anistia).
c) Podem ser totais (plenos), extinguindo a pena por completo; ou parciais, apenas
comutando a sanção penal (substituição de uma pena por outra).
d) Quanto aos efeitos, afetam apenas a execução da pena. Permanecem íntegros os demais
efeitos da sentença condenatória, como a possibilidade de reincidência.
• Diferença quanto à formalização:
a) A graça deve ser requerida, ao passo em que o indulto pode ser concedido de ofício;
b) A graça tramita perante o Ministério da Justiça, aguardando decreto presidencial, ao
passo em que o indulto é conferido pelo Presidente ou por pessoa delegada (Ministro de
Estado, Procurador-geral da República ou Advogado-geral da União).
• Diferença em relação à abrangência:
a) O indulto é coletivo, a graça é individual.
Ex.: Indulto de Natal.
Obs.: Há vedação constitucional para a incidência da graça em crimes hediondos (art. 5º,
XLIII, CF). Mas a Constituição Federal não proíbe o indulto, embora o art. 2º da Lei n.
8.072 estabeleça a proibição. Essa vedação é constitucional?
5.3 Abolitio criminis: Art. 107 - III
• Quando uma lei nova deixa de considerar crime (infração penal) uma conduta
anteriormente criminalizada, ocorre a abolitio criminis.
Regra geral: o prazo prescricional da pretensão punitiva pela pena em abstrato tem início
com a consumação do crime.
Ex.: se, em um homicídio, a vítima é atingida pelo disparo de arma de fogo no dia 2 de
fevereiro, mas só vem a falecer no dia 9 do mesmo mês, depois de passar uma semana
internada no hospital, apenas no dia 9 terá início a contagem do prazo.
Tentado: na tentativa a consumação não poderá ser usada, pois ela inexiste, o termo
inicial será a data em que cessou a atividade criminosa.
Art. 111 – III
Crimes permanentes: o prazo só tem início quando cessada a permanência.
Ex.: Ter em depósito drogas para finalidade de tráfico (art. 33 da Lei n. 11.343-
06), conduta permanente: se o sujeito ativo constituiu o depósito no dia 19 de
março, o crime já está consumado; todavia, se a manutenção da droga em
depósito perdurou até o dia 31 de março, ocasião em que a substância foi
apreendida pela polícia, apenas nesta data teremos o início do prazo
prescricional.
Obs.: Nos crimes habituais, o prazo da prescrição inicia-se da data da última das
ações que constituem o fato típico.
Art. 111 – IV
Crime de bigamia:
Art. 235-CP. Contrair alguém, sendo casado, novo casamento:
Ex.: se o sujeito ativo contraiu o segundo vínculo matrimonial em abril de 2003,
mas apenas em outubro de 2015 o fato foi descoberto por uma autoridade
policial, pois até então era mantido em segredo, somente nessa segunda data o
prazo se iniciará.
Crime de falsificação ou alteração de assentamento do registro civil: o
prazo prescricional só começa a correr quando o fato se torna conhecido.
Ex.: Art. 241-CP. Promover no registro civil a inscrição de nascimento inexistente:
Art. 111 – V
Crimes contra a dignidade sexual de crianças e adolescentes: da data em que a
vítima completar 18 anos, salvo se a esse tempo já houver sido proposta a ação penal.
Aqui, temos duas regras:
a) O prazo começa a correr quando a vítima completa 18 anos (dia de seu aniversário);
b) Se proposta ação penal antes desse momento (18 anos da vítima), o termo inicial passa
a ser outro, surgindo três posições distintas na doutrina:
b.1. O termo inicial é a data da consumação do crime, com esteio no inciso I;
b.2. É a data da propositura da ação;
b.3. É a data do recebimento da denúncia, em analogia ao disposto no art. 117, I, do CP.
1.5- Causas interruptivas da pretensão punitiva
• Uma vez iniciado o fluxo do prazo prescricional, pode ele ser interrompido.
• Quando isso ocorre, ele é “zerado”, reiniciando-se a sua contagem. O art.
117 do CP traz as causas interruptivas da prescrição da pretensão punitiva
em seus incisos I a IV. São elas:
Causas interruptivas da prescrição
Art. 117 - O curso da prescrição interrompe-se:
I - pelo recebimento da denúncia ou da queixa;
II - pela pronúncia;
III - pela decisão confirmatória da pronúncia;
IV - pela publicação da sentença ou acórdão condenatórios recorríveis;
V - pelo início ou continuação do cumprimento da pena; (aplica-se à
pretensão executória)
VI - pela reincidência. (aplica-se à pretensão executória)
• Como as causas interruptivas determinam o reinício do prazo prescricional:
Art. 117, § 2º - Interrompida a prescrição, salvo a hipótese do inciso V deste artigo, todo o prazo
começa a correr, novamente, do dia da interrupção.
• A verificação da causa extintiva da punibilidade se dará “por trechos”.
Ex.: Imaginemos um crime de autoaborto (art. 124 do CP), cujo prazo prescricional pela
pena em abstrato é de 8 anos: primeiramente, verifica-se o decurso desse prazo entre a
data da consumação do crime e o recebimento da denúncia; não ocorrendo a prescrição,
da data do recebimento da denúncia até a sentença de pronúncia, e assim por diante. Em
suma, o tempo não é contado da consumação até a sentença condenatória, mas sim
separando o lapso temporal em trechos, determinados pelos marcos interruptivos.
Obs.: À pena de multa se aplicam as causas interruptivas da prescrição concernentes à
legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública (art. 51 do CP).
I - Recebimento da denúncia ou da queixa: Apenas a decisão judicial sobre o recebimento da
denúncia ou da queixa tem o condão de interromper o prazo prescricional. O simples oferecimento
não o interrompe.
“A interrupção se dá com a publicação, isto é, com a entrega em cartório, ao escrivão, da decisão de
recebimento da denúncia ou queixa.” (GONÇALVES, 2016, p. 722)
II- Decisão de pronúncia: Causa interruptiva que existe apenas nos procedimentos do Tribunal
do Júri.
A pronúncia é uma decisão judicial interlocutória mista que encerra a primeira fase do
procedimento do júri. Ao proferi-la, o juiz admite a existência de indícios de autoria e de prova da
materialidade de crime doloso contra a vida e, assim, manda o réu a julgamento pelos jurados.
III- Decisão confirmatória de pronúncia: Refere-se à decisão tomada em segundo grau de
jurisdição, existente apenas nos procedimentos do Tribunal do Júri.
Sendo o réu pronunciado e havendo interposição de recurso em sentido estrito contra a decisão,
caso o tribunal venha a confirmá-la, estará novamente interrompido o prazo prescricional.
IV- Pela publicação de sentença ou acórdão condenatórios recorríveis. A publicação se dá
com a entrega dos autos em cartório. Apenas a sentença e o acórdão condenatórios, ou seja,
aqueles que condenam pela primeira vez, ou que majoram a pena, interrompem a prescrição.
1.6 Causas impeditivas ou suspensivas da
pretensão punitiva
• Além das causas interruptivas da prescrição, também existem causas suspensivas ou
impeditivas do prazo. Estas causas determinam o seu sobrestamento por certo período.
Cessando a causa que ensejou a suspensão, o prazo volta a correr normalmente.
• O art. 116 do CP traz algumas das causas suspensivas da prescrição. Não se trata de
enumeração taxativa porque há várias causas suspensivas fora do âmbito do mencionado
dispositivo.
Ex.: O art. 366 do CPP (acusado citado por edital que não comparece, nem constitui
advogado, o que acarreta a suspensão processual), é uma causa suspensiva da prescrição.
Ex.: A suspensão condicional do processo (art. 89, § 6º, Lei n. 9.099, de 1995).
Causas impeditivas da prescrição
Art. 116 - Antes de passar em julgado a sentença final, a prescrição não corre:
I - enquanto não resolvida, em outro processo, questão de que dependa o reconhecimento da
existência do crime;
II - enquanto o agente cumpre pena no estrangeiro.
Parágrafo único - Depois de passada em julgado a sentença condenatória, a prescrição não corre
durante o tempo em que o condenado está preso por outro motivo.
• As causas previstas no art. 116 são:
a) Pendência de questão prejudicial (arts. 92 a 94 do CPP) de que dependa o
reconhecimento da existência do crime, não resolvida em outro processo;
b) O cumprimento de pena pelo agente no estrangeiro.
Obs.: À pena de multa se aplicam as causas suspensivas da prescrição concernentes à
legislação relativa à dívida ativa da Fazenda Pública (art. 51 do CP).
2- Prescrição da pretensão punitiva:pena
em concreto
• Em um primeiro momento, como não há pena fixada, toma-se a pena máxima abstratamente
cominada para a verificação do prazo, observando o disposto no art. 109 do CP.
• A sentença prolatada em primeiro grau de jurisdição fixa um novo teto para a pena. Quando
esta pena não puder mais ser discutida em grau recursal, ela passa a ser a referência para se
determinar a prescrição.
Ex.: O autor é condenado a uma pena de 4 anos de reclusão, em primeira instância, decisão da
qual cabe recurso; todavia, o MP se dá por satisfeito com a decisão, não recorrendo, ou interpõe
contestando, por exemplo, o valor da pena de multa aplicada, ao passo em que a defesa recorre,
buscando a absolvição do réu. Neste caso, a pena de 4 anos passa a ser a referência para se aferir
a prescrição.
Se pela pena em abstrato, o prazo prescricional era de 16 anos, agora, passará a ser de 8 anos.
• Somente será analisada a prescrição pela pena em concreto (subsidiária) se
não ocorreu a prescrição pela pena em abstrato!