FACOS - 2016
Quem é o louco?
A arte de ser louco é jamais cometer a
loucura de ser um sujeito normal”
Século XV: “Nau dos loucos” (Foucault, 1978): a água
como estratégia de isolamento e elemento de
purificação;
Modernidade: “a loucura é banida do exercício da
razão”(Descartes); asilos e internação para toda a
espécie de miseráveis – loucos, pobres, vagabundos,
desempregados;
Século XVII: contexto asilar social e juridicamente
determinado.
(Palombini, 1999)
Aspectos históricos da saúde mental
Século XVIII: iluminismo: Retorno ao convívio social
dos miseráveis; confinamento dos loucos por sua
periculosidade;
“É preciso isolar para conhecer, e conhecer para
intervir” (Jean Tenon)
Pinel: humanização do tratamento da loucura
Século XIX: a escuta substitui o olhar, cidadania e
direitos de escolha ao paciente;
Década de 50: primeiros psicofármacos.
(Palombini, 1999)
Aspectos históricos da saúde mental
Século XX: movimento antimanicomial italiano;
Brasil, anos 80: Reforma Psiquiátrica;
Nova ordem social : “a exclusão prescinde de muros;
o louco, o miserável, o ladrão, dividem a calçada com
os bons cidadãos” (p.27).
Declaração de Caracas: condena papel segregador,
denuncia martírios freqüentes e a legislação
incompatível com os avanços nos direitos civis.
(Palombini, 1999)
A Reforma Psiquiátrica Italiana
Surge na Itália através do veneziano Franco Basaglia,
que assumiu em 1961 a direção do Hospital de Gorizia,
manifestando-se com insatisfação em relação ao sistema
psiquiátrico adotado na época, onde ele não aceitava o estilo
de vida dos internos, assim como os métodos coercitivos e
violentos de tratamento aos mesmos.
A Reforma Psiquiátrica Italiana
Basaglia passou a adotar medidas que visavam a
humanidade do paciente, com o objetivo de resgatar a
dignidade e direitos aos mesmos como cidadãos.
Inicialmente a proposta era a de transformar o manicômio
em local de cura, por meio da introdução de mudanças no
seu interior que possibilitasse a humanização dos
pacientes, criando ao mesmo tempo espaços coletivos que
proporcionasse a participação de profissionais e pacientes,
pois apesar de reconhecer as mudanças realizadas através
da Comunidade Terapêutica dentro do hospital, Basaglia
percebia a ineficácia em função do problema maior, que era
a exclusão imposta pela instituição psiquiátrica.
O QUE É A REFORMA PSIQUIÁTRICA ?
(M.S. 2005)
A Reforma Psiquiátrica é processo político e social
complexo, composto de atores, instituições e forças de
diferentes origens, e que incide em territórios diversos, nos
governos federal, estadual e municipal, nas universidades,
no mercado dos serviços de saúde, nos conselhos
profissionais, nas associações de pessoas com transtornos
mentais e de seus familiares, nos movimentos sociais, e nos
territórios do imaginário social e da opinião pública.
Compreendida como um conjunto de transformações de
práticas, saberes, valores culturais e sociais, é no cotidiano
da vida das instituições, dos serviços e das relações
interpessoais que o processo da Reforma Psiquiátrica
avança, marcado por impasses, tensões, conflitos e desafios.
Histórico da Reforma no Brasil:
Crítica ao modelo hospitalocêntrico (1978-1991)
O início do processo de Reforma Psiquiátrica no Brasil é
contemporâneo da Reforma Sanitária nos anos 70;
Museu de imagens do Inconsciente: produção de
pacientes do Centro Psiquiátrico Pedro II, no
Engenho de Dentro, subúrbio do Rio de Janeiro.
Nise da Silveira
(1905 – 1999)
A psiquiatra que revolucionou os métodos de atendimento
ao portador de transtornos mentais no Brasil, principalmente
os esquizofrênicos, que geralmente eram isolados e
considerados como incompreensíveis.
Ela cria no Centro Psiquiátrico Pedro II, hoje Instituto
Municipal Nise da Silveira, uma oficina de Terapêutica
Ocupacional, para aliviar a dor do conflito psicológico desse
indivíduo visto por muitos como incompreensível em seus
delírios e alucinações.
Filme: Nise – O coração da loucura
Histórico da Reforma:
A implantação da rede extra-hospitalar (1992-2000)
Em 1992 - Movimentos sociais, inspirados pelo Projeto de Lei
Paulo Delgado, conseguem aprovar as primeiras leis que
determinam a substituição progressiva dos leitos psiquiátricos
por uma rede integrada de atenção à saúde mental.
Nos últimos três anos, o processo de desinstitucionalização de
pessoas com longo histórico de internação psiquiátrica avançou
significativamente, sobretudo através da instituição pelo
Ministério da Saúde de mecanismos seguros para a redução de
leitos no país e a expansão de serviços substitutivos aos hospital
psiquiátrico (M.S., 2006).
Serviços Residenciais Terapêuticos (SRT), residências
terapêuticas ou simplesmente moradias, são casas
localizadas no espaço urbano, constituídas para
responder às necessidades de moradia de pessoas
portadoras de transtornos mentais graves, egressas
de hospitais psiquiátricos ou não.
Residência Terapêutica
Uma Residência Terapêutica deve acolher, no máximo,
oito moradores. De forma geral, um cuidador é designado
para apoiar os moradores nas tarefas, dilemas e conflitos
cotidianos do morar, do co-habitar e do circular na cidade,
em busca da autonomia do usuário. De fato, a inserção de
um usuário em um SRT é o início de longo processo de
reabilitação que deverá buscar a progressiva inclusão
social do morador.
Cada residência deve estar referenciada a um Centro de
Atenção Psicossocial e operar junto à rede de atenção à
saúde mental dentro da lógica do território.
Residência Terapêutica
Atualmente, existem 256 serviços de residências
terapêuticas em quatorze estados e 45 municípios do
país, onde moram 1.400 pessoas. Estimativas
recentes da Coordenação Nacional de Saúde Mental
do Ministério da Saúde apontam para a existência de
aproximadamente 12.000 pacientes internados, que
poderiam ser beneficiados com os serviços de
residências terapêuticas. Tais dados evidenciam a
necessidade de significativa expansão do número de
residências, de modo a reduzir a segregação e
aumentar a reinserção social dos pacientes.
Morada São Pedro completa 10 anos
(site Secretaria Estadual da Saúde em 18.12.2012)
Hoje o Morada São Pedro, com 27 casas, configura-se
como um local de passagem. Superados os medos e
assumindo a condição cidadã numa relação de
igualdade, seus moradores almejam mais
independência com a aquisição de casas fora do
residencial que, apesar de promover a
individualidade, ainda é um espaço coletivo. Essa
dinâmica oportuniza novas vagas para aqueles que
ainda vivem nas Unidades do Hospital São Pedro e
sustenta os princípios da Reforma Psiquiátrica.
(Texto: Lia Magalhães)
Maria de Fátima Bueno Fischer
Projeto Morada São Pedro
Maria de Fátima Bueno Fischer, uma das mais ativas
lutadoras pela efetivação do projeto de
Desinstitucionalização no RS.
O Programa de Volta para Casa
Trata-se de um dos instrumentos mais efetivos para
a reintegração social das pessoas com longo histórico
de hospitalização.
Estratégia potencializadoras da emancipação de
pessoas com transtornos mentais;
Criado pela lei federal 10.708, encaminhada pelo
presidente Luís Inácio Lula da Silva ao Congresso,
votada e sancionada em 2003
Programa municipal de reintegração social.
O Programa de Volta para Casa
O objetivo do Programa é contribuir para o processo
de inserção social das pessoas com longa história de
internações em hospitais psiquiátricos, através do
pagamento mensal de um auxílio-reabilitação, no
valor de R$240,00 (duzentos e quarenta reais,
aproximadamente 110 dólares) aos seus beneficiários
Para receber o auxílio-reabilitação do Programa De
Volta para Casa, a pessoa deve ser egressa de
Hospital Psiquiátrico ou de Hospital de Custódia e
Tratamento Psiquiátrico, e indicação para inclusão
em programa municipal de reintegração social.
A rede de cuidados na comunidade
CAPs,
NAPS
Oficinas de Geração de Renda
É função dos CAPS prestar atendimento clínico em regime de
atenção diária, evitando assim as internações em hospitais
psiquiátricos; promover a inserção social das pessoas com
transtornos mentais através de ações intersetoriais; regular a
porta de entrada da rede de assistência em saúde mental na sua
área de atuação e dar suporte à atenção à saúde mental na rede
básica.
É função, portanto, e por excelência, dos CAPS organizar a rede
de atenção às pessoas com transtornos mentais nos municípios.
Os CAPS são os articuladores estratégicos desta rede e da
política de saúde mental num determinado território.
Os CAPS devem ser substitutivos, e não complementares ao
hospital psiquiátrico
CAPS - Centros de Atenção Psicossocial
Os CAPS se diferenciam pelo porte, capacidade de
atendimento, clientela atendida e organizam-se no país de
acordo com o perfil populacional dos municípios brasileiros:
CAPS Álcool e Drogas (Grupo Hospitalar Conceição)
Avenida Sertório, 7170 Telefone: (51) 3345-1759
CAPS Álcool e Drogas (Cruzeiro - em fase de implantação)
Rua Raul Moreira, 253 Telefone: (51) 3289-5733
CAPSad Vila Nova em Porto Alegre
Estrada João Vedana, 355 - Vila Nova - Telefone: (51) 3266.1623
CAPSad IAPI em Porto Alegre
Rua Valentim Vicentini, S/N - Passo D’areia Telefone: (51) 3289.3459
CAPSad III Partenon Lomba do Pinheiro
Rua Dona Firmina, 144 Bairro Partenon Telefone: (51) 3289.5740
Centro de Atenção Psicossocial/Álcool e
Drogas
São centros que oferecem, através do SUS, um serviço
especializado no atendimento de pessoas que buscam
tratamento para dificuldades relacionadas ao uso de
substâncias psicoativas (tabaco, álcool e outras
drogas), atendendo também seus familiares.
CAPS Infância e Adolescência (Hospital de Clínicas de
Porto Alegre)
Rua Ramiro Barcelos, 2550
Telefone: (51) 2101-8710
Serviços: tratamento e reabilitação a crianças e
adolescentes, 7 a 18 anos, com transtornos mentais severos
e persistentes. Oficina de pintura, caminhada, grupo de
meninas(atividades), grupo de meninos (atividades),
projeção de vídeos, atividades esportivas, oficina de
culinária, oficina de bijouteria, ginastica, oficina de
higiene e saúde. São fornecidas três refeições diárias.
Principais desafios
Qualificação profissional
Acessibilidade e equidade
Potencializar atenção a politica de saúde mental da
infância e adolescência
Ampliação das Politicas de combate ao álcool e
outras drogas: perspectiva da redução de danos
Inclusão social pelo trabalho (parcerias com
Ministério do Trabalho)
Centros de convivência e cultura
Organização da rede de atenção
Movimentos Sociais: 18 de maio
Dia da Luta Antimanicomial
Enquanto você E esse caminho
Se esforça pra ser Que eu mesmo escolhi M
Um sujeito normal É tão fácil seguir
E fazer tudo igual... Por não ter onde ir... A
Eu do meu lado Controlando L
Aprendendo a ser louco
Maluco total
A minha maluquez
Misturada
U
Na loucura real... Com minha lucidez C
Eeeeeeeeuu!...
Controlando Controlando 0
A minha maluquez A minha maluquez
Misturada Misturada
Com minha lucidez... Com minha lucidez
B
Vou ficar
Ficar com certeza
Vou ficar
Ficar com certeza
E
Maluco beleza Maluco beleza L
Eu vou ficar Eu vou ficar
Ficar com certeza Ficar com certeza E
Maluco beleza... Maluco beleza
Eu vou ficar Z
(Raul Seixas, 1977) Ficar com toda certeza
Maluco, maluco beleza...
A
Referências
ABRAPSO (2001). Psicologia Social: Estratégias, políticas e implicações. Santa Maria. Abrapso Sul.
ABRAPSO (2005). Psicologia & Sociedade. Vol. 17, no. 2, mai/ago.
Andrade, S.M.; Soares, D.A. & Cordoni Jr, L (2001). Bases da Saúde Coletiva. .Rio de Janeiro. Abrasco.
Belini, M.G. & Hirdes, A.Texto contexto - enferm. Projeto morada São Pedro: da institucionalização à
desinstitucionalização em saúde mental. vol.15 no.4 Florianópolis Oct./Dec. 2006
Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. DAPE. Coordenação Geral de Saúde
Mental. Reforma psiquiátrica e política de saúde mental no Brasil. Documento apresentado à
Conferência Regional de Reforma dos Serviços de Saúde Mental : 15 anos depois de Caracas.
OPAS. Brasília, novembro de 2005
Campos, G.W.S. 1997. Reforma da Reforma. São Paulo. Hucitec.
Carvalho, S.R. (2005). Saúde coletiva e promoção da saúde. São Paulo. Hucitec.
Dias, M.T.G. - A Reforma Psiquiátrica Brasileira e os Direitos dos Portadores de Transtorno Mental:
Uma Análise a partir do Serviço Residencial Terapêutico Morada São Pedro – Tese de Doutorado
PUC-RS 2007.
Palombini, A.L. (1999). O Louco e a rua. Educação, subjetividade e poder. Porto Alegre, no. 6, v.6, p.
25-31.
Pinheiro, R. & Mattos, R.A. Org. (2001) Os sentidos da integralidade na atenção e no cuidado à saúde.
Rio de Janeiro, Abrasco.
Site Secretaria Estadual da Saúde
Obrigada!
lucianacastoldi@hotmail.com