relações, cada um deles toma cada vez mais noção de sua individualidade. Se o social se confunde com o consciente, deve se confundir também com a rememoração em todas as suas formas. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL
Fazemos apelo aos testemunhos para fortalecer
ou debilitar, mas também para completar o que já sabemos de um evento sobre que já estamos informados de alguma forma embora algumas circunstâncias estejam obscuras. E a primeira circunstância a que podemos apelar é nós mesmos. Se o que vemos hoje tomasse lugar no quadro de memórias antigas essas lembranças se adaptariam ao conjunto de nossas percepções atuais. Tudo se passa como se confrontássemos diversos depoimentos. Como concordam no essencial, mesmo com algumas divergências, é possível reconstruir um quadro de lembranças de forma a MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL
Nossa impressão pode apoiar na nossa lembrança
e na lembrança dos outros. Assim, nossa confiança na evocação será maior, como se uma mesma experiência fosse recomeçada por várias pessoas. Nossas lembranças permanecem coletivas e são lembradas pelos outros, mesmo que se tratem de acontecimentos em que somente nós estejamos envolvidos, pois nunca estamos sós. Não é necessários que outros estejam lá, que se distingam de nós, pois temos sempre em nós uma quantidade de pessoas que não se confundem. Minha lembrança não está só, pois trago o que MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL Eles me ajudam a lembrar, pois me volto para ele, adoto temporariamente seu ponto de vista, entro no seu grupo, sofro seu impulso e encontro muito mais ideias a que não teria chegado sozinho. O autor começa a abordar o esquecimento pelo desapego do grupo. Ele fala que para recordar ou relembrar, as testemunhas, indivíduos presentes sobre uma forma material e sensível são dispensáveis. Aqui acho que testemunha é o “ele”, o sujeito a que se refere a lembrança. As pessoas podem descrever fatos e lugares em que, segundo elas, estivemos, sem que nos lembremos. Ele mais tarde alega que não basta que eu tenha participado, que outras pessoas também ou tenham apenas visto e depois me contado para que eu possa me lembrar. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL O autor fala que as imagens impostas pelo meio podem alterar a nossa impressão de um fato antigo. As lembranças acrescentadas podem até mesmo serem fictícias. Pode ocorrer o contrário: o relato de terceiros pode ser mais verdadeiro do que o que achamos que lembramos. O relevante é que tanto em um como em outro, as lembranças se fundem a nossa. O autor defende que sempre haverá a necessidade de ter uma rememoração nossa para que haja uma massa de lembrança. Ou seja, mesmo que haja a impressão de que sem o depoimento de outras pessoas eu não me lembraria do fato, quando há somente essa contribuição externa, não se tratará de uma lembrança. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL Segundo o autor, temos pontos em comum com aquelas testemunhas, participamos de um mesmo grupo, nos identificamos com eles e confundimos nossas lembranças com as deles. Não perdemos o hábito de pensar e de lembrar como membros daquele grupo. Pelo que eu entendi, quando se deixa de participar do grupo, ou quando o grupo deixa de existir as lembranças se esvaem. E ainda, quando não distinção das ações. Exemplo do mestre: para os alunos é fácil se lembrar de algum fato das aulas; eles tem a mesma idade, frequentam os mesmos lugares, grupos e até mantem contato depois da escola. O professor não. Apenas dá sua aula. E sempre a mesma aula. O que não marca destaque. Acabou o ano, nova turma, mesmos fatos. Não existe grupo permanente do qual o professor faça parte, para repensar, se recolocar e se recordar. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL
Todas as recordações que poderiam nascer
apoiavam uma sobre as outras do grupo e não em relações exteriores. A memória tem duração limitada pela força das coisas e pela duração do grupo. Mas algumas comunidades derivadas desse grupo podem ainda existir, mantendo alguma lembrança e fazendo os outros tentarem se lembrar, mas não se lembram por terem sido excluídos do grupo. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL Ao mesmo tempo em que tentarão nos fazer lembrar, mas não conseguiremos por não estarmos mais postos em contato, nos relacionando; também nós nos lembraremos daquilo que somente nós tivemos contato, impressões que somente nós tivemos. A memória individual então é oposta à coletiva e é condição necessária e suficiente para o ato de lembrar e de reconhecer lembranças? O auto diz “de modo algum”. A memória coletiva é suprimida quando não fazemos mais parte do grupo cuja memória ele conservava. É preciso que minha memória tenha contato com as demais, ela não pode ter cessado de concordar com as memórias do grupo, fazendo com que as lembranças que nos recordam possam ser reconstruídas sobre um fundamento comum. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL
É necessário que essa reconstrução se opere com
dados que estão tanto no nosso espírito como no de outros. As lembranças passam de um para outro, por isso que devem fazer parte de uma mesma sociedade. Somente assim elas podem ser reconhecidas e construídas. Tanto no caso de não compartilharmos uma memória trazida pelo grupo, por não mais mantermos o contato, quando no caso de só nós lembrarmos, pois essa lembrança pode nos ser fictícia ou produzida pela nossa reação pessoal. A memória coletiva abrange a minha e a deles. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL
Há a possibilidade de uma memória estritamente
individual? Até aqui temos que só conseguimos nos lembrar se nos colocarmos no ponto de vista de um grupo de que fazemos parte; um grande número de lembranças aparecem quando recordadas por outros homens; e que é possível falar de memória coletiva mesmo quando eles não estão presentes materialmente, justamente porque evocamos um acontecimento que teve lugar na nossa vida, na vida do grupo. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL Uma memoria coletiva é estabelecida pelo contato das minhas memorias com a dos outros. Assim se a lembrança recordada por terceiros não é suficiente para me fazer lembrar isso é porque ha muito não fazemos parte do grupo que a conserva. Ao mesmo tempo nossa memoria individual não pode ser conhecida apenas pela gente...essa é uma acepção que gera possibilidade de outras influencias criarem ate ilusões. Ate ela deve ser construa sobre dados ou noções em comum que se encontram tanto em nosso espírito como no dos outros. Elas passam destes para aqueles e vice versa e isso só será possível se eles fizerem parte de uma mesma sociedade. Só assim uma lembrança pode ser reconhecida e construída. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL
Da possibilidade de uma memoria estritamente
individual: concedemos ao que uma lembrança aparecera porque foi recordada por outro homem; ou q mesmo que esse homem não esteja presente falaremos de memoria coletiva quando evocarmos um acontecimento que teve lugar na vida de um grupo que considerávamos e que consideramos no momento em q nos lembramos do ponto de vista desse grupo. E desde que ele não questione essa condição de lembrar por um grupo para continuarmos a fazer parte desse grupo. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL Mesmo sozinho em casa o homem se vê como pertencente a um grupo. Mas será q tem como ele se lembrar sem q essa lembrança esteja relacionada a um grupo porque o evento em que ela se reproduz foi recebido por nos quando estávamos sós? E digo sós não só na aparência mas na essência, sem que a imagem se desloque para qualquer grupo. A memoria coletiva não explica todas as lembranças e não explica por si só a evocação de qualquer lembrança. Haveria então na base da lembrança um estado de consciência puramente individual - diferente de percepções em que entram pensamentos sociais - tal que admitiremos que se chame intuição sensível. É necessário haver algo de nós algo nosso e não apenas material de terceiros na constituição da memoria. Essa memoria estaria livre de imagem pensamento de homens e grupos que nos rodeavam. São sensações de reflexo dos objetos exteriores. É assim que acontece com as lembranças da infância, pois não temos qualquer relação ou esteio com algum grupo. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL
Nas lembranças de adulto podemos cair na
mesma ilusão: acharmos que ela é pura, mas no fundo encontrarmos a relação do indivíduo com um dado grupo, que os pensamentos de um e de outro se encontrem em seu espírito. E ainda dentro desta questão, como saber qual a impressão gerada, se um só tem ao outro? Essa lembra está compreendida dentro de dois quadros e um impede de ver o outro. A atenção está fixada apenas em seu ponto de contato. Quando percebemos dois pensamentos, eles se tocam porque existem em dois grupos, de onde são tirados, sem notar que consideramos esses dois grupos, porém cada um no ponto de vista do outro. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL No primeiro plano da memória de um grupo se destacam as lembranças dos acontecimentos e das experiências que concernem ao maior número de seus e que resultam quer de sua própria vida quer de suas relações com os grupos mais próximos, de contato mais frequente com ele. Agora, aquelas que concernem a um pequeno grupo ou a um único membro que estejam compreendidas em sua memória – já que ao menos em uma parte se isso se produz dentro de um limite – passam para o ultimo plano. Mesmo que haja contato total, correspondência total entre dois elementos, torna-se necessário uma identificação para o que, de sua experiência, que era estranho a um ou a outro, se achasse assimilado em seu pensamento comum. Na verdade, dois indivíduos que estão longe, mesmo compartilhando todas as informações deixarão passar alguma coisa do que vão experimentar na sociedade e grupo em que estão. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL Um grupo entra em relação com outro. Há acontecimentos que resultam de contatos semelhantes, contatos permanentes ou que se repetem com frequência e se prolongam durante uma duração bastante longa. Ele nos dá um exemplo que nos ajuda a perceber isso: pense em uma família que vive há muito tempo em uma cidade. Temos aí os dois quadros de um indivíduo: um pertencente à família outro à cidade. Assim, temos lembranças comuns aos dois grupos, pertencentes aos dois quadros. Isso obviamente porque ele pertence aos dois quadros. Mas também há momentos, de acordo com os interesses, que se referem hora à família, hora à cidade. E se o indivíduo se mudar, ele terá dificuldade em se lembrar daquilo que ele só se lembrava porque estava submerso nas duas correntes de pensamento coletivos; agora experimenta quase que exclusivamente um deles, apenas. É preciso que haja uma combinação entre esses dois quadros para que a lembrança seja construída e MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL
Na parte da lembrança individual como
interferência para a lembrança coletiva ele começa relatando que frequentemente atribuímos a nós mesmos lembranças como se elas não tivessem outra origem que não em nós, em nossas reflexões, ideias, paixões, que nos foram inspirados por nosso grupo. Isso porque estamos tão afinados com os demais que não sabemos onde começa e onde terminam as vibrações, em nós ou nos outros. Cada vez mais sentimentos, pensamentos e reflexões nossas são de grupos e achamos que estamos sendo livres. Obedecemos a influências sociais sem percebermos. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL Muitas das vezes as diferentes correntes coletivas se cruzam em nós e produzem sentimentos complexos, onde queremos ver acontecimentos únicos, que não existirá a não ser para nós. As influências sociais são mais complexas por serem mais numerosas e entrecruzadas. As vezes limitamo-nos a observar que nosso passado compreende duas espécies de elementos: aqueles em que é possível evocar quando queremos e aqueles que não atendem ao nosso apelo. Os primeiros estão no domínio comum, são familiares, facilmente acessíveis para mim e para os outros. A ideia que representamos mais facilmente, composta d elementos tão pessoais e particulares quanto quisermos, é a ideia que os outros tem de nós; e os acontecimentos que estão mais presentes são aqueles mais gravados na memória do grupo mais próximo de nós. Conseguimos acessar e nos lembrar quando quisermos, pois nos apoiamos nos outros, MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL
Já os que não podemos acessar livremente,
quando bem entendermos, são lembranças que só cabem a nós. No caso dos primeiros, todos os elementos, todas as ligações entre esses elementos nos são familiares, estando em grupos em que estamos livres para passearmos. No caso das segundas, os grupos que a trariam para nós estão mais distantes; estamos em contato com eles de modo intermitente. Não sabemos os caminhos pelos quais esses grupos se comunicam. E são esses caminhos que nos trazem as lembranças que nos dizem respeito. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL
Essas lembranças pessoais, que parecem não
pertencer a ninguém senão a nós mesmos, podem se encontrar em meios sociais definidos e ali se conservar. E os membros desses grupos de que não fazemos parte saberiam nos mostrar, se os interrogássemos como necessário. A memória coletiva tira sua força e duração de um grupo de homens que se lembram, enquanto membros do grupo. Dessa massa de lembranças comuns que se apoiam umas sobre as outras não são as mesmas que aparecerão com a mesma intensidade para cada um deles. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA INDIVIDUAL
Cada memória individual é um ponto de
vista sobre a memória coletiva. Esse ponto de vista depende do lugar que eu ocupo e este lugar depende das relações que eu mantenho com outros meios. Ao tentarmos explicar essa diversidade voltamos a uma combinação de influências que são todas sociais. Dessas, muitas são complexas e assim não depende de nós fazê-las aparecer. A sucessão de lembranças, mesmo daquelas que são mais pessoais, explica-se pelas mudanças que se produzem em nossas relações com diversos meios coletivos. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA HISTÓRICA A oposição aparente entre memória autobiográfica e histórica. Então há duas maneiras de organizar uma lembrança: uma agrupada em torno de uma pessoa, que a considera em seu ponto de vista e outra distribuída no interior de uma sociedade grande ou pequena de que elas são outras tantas imagens. Uma memória individual e outra coletiva, então. Na memória individual, as lembranças tomariam lugar no quadro de sua personalidade, de sua vida pessoal. Assim, as lembranças comuns com outras não seriam consideradas a não ser sobre o aspecto que lhe interessa, na medida em que se distingue dela. Na memória coletiva ele se comporta como membro de um grupo que contribui para evocar e manter as lembranças impessoais na medida em que estas interessam ao grupo. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA HISTÓRICA
A memória individual pode se apoiar na coletiva
para confirmar suas lembranças, se confundindo com ela, mas segue o seu caminho, com esse aporte exterior assimilado a sua substância. A memória individual não está isolada, recorrendo a palavras e ideias que o indivíduo recorre do meio. Ela é limitada no espaço e no tempo. A memória individual envolve memórias coletivas, mas não se confunde com elas. Se uma memória individual a penetra, deixa de ser pessoal. Também é limitada no espaço e no tempo, mas de forma diferente da individual. Há limites mais restritos, pois depende de algo emprestado. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA HISTÓRICA
É daí, desse ponto em que, em uma memória os
limites de tempo e espaço estariam ligados a mim, mesmo que minhas lembranças se apoiassem na coletiva, que na verdade deve tomar-se de que elementos e informações emprestadas da sociedade, que ele definirá uma memória autobiográfica e outra histórica. A primeira se apoia na segunda pois a história de nossa vida faz parte da geral. A segunda seria com certeza mais ampla que a primeira, mas não nos representaria o passado, a não ser por uma maneira esquemática e resumida. A autobiográfica traria um quadro mais contínuo e denso. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA HISTÓRICA
Os acontecimentos e as datas que constituem a
substância mesma da vida do grupo não podem ser para o indivíduo senão exteriores, com os quais ele não se relaciona a não ser para se afastar de si. O tempo social é exterior às durações vividas pelas consciências. Os acontecimentos só são registrados por nós depois. Não é da história aprendida, mas sim da história vivida que se constitui a memória. História é um conjunto sucessivo cronológico de acontecimentos e datas e que faz com que um período se distinga dos outros. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA HISTÓRICA
A memória coletiva envolve então a história de
caráter impessoal dessa precisão abstrata e dessa relativa simplicidade onde a memória individual se apoiará. As lembranças coletivas vem aplicar-se sobre as individuais para adquirir uma visão mais cômoda e segura. Mas é preciso que as memórias individuais estejam lá senão nossa memória funcionaria sem causa. Não há como existir memória sem quadros. De um lado que só teria palavras da linguagem e algumas noções emprestadas da vida prática e de outro que só teria um quadro histórico sem memórias, sem ser construído ou reconstruído dentro das memórias individuais. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA HISTÓRICA
É da lembrança que vemos brilhar alguma forma
de significação histórica. Os quadros coletivos da memória não se resumem em datas, nomes e fórmulas. Eles representam correntes de pensamento e experiências onde reencontramos nosso passado. Ao lado da história do passado, há uma história escrita que se perpetua e se renova a través do tempo. Os costumes modernos repousam sobre antigas camadas que afloram em mais de um lugar. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA HISTÓRICA É no passado vivido bem mais que no passado aprendido pela historia escrita que podera se apoiar sua memoria. Se no inicio ela não distinguiu esse quadro e os estados de consciência que ali se desenrolam é bem verdade que pouco a pouco a separação entre p seu pequeno mundo interior e a sociedade que a envolve (a criança) se operará em seu espirito. A historia vivida tem tudo o que é preciso para constituir um quadro vivo e natural em que O pensamento pode se apoiar para conservar e reencontrar a imagem de deu passado. A lembrança é uma reconstrução do passado com dados do presente e além disso é preparada com reconstruções feitas de épocas anteriores, onde a imagem de outrora manifestou-se bastante modificada já. A parte do histórico é bem maior na nossa memória, pois desde o início estamos em contato com os adultos encontrando muitos meios de encontrar e precisar muitas MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA HISTÓRICA
Será que é preciso reconstruir a noção histórica
de um acontecimento que realmente aconteceu mas do qual não temos nenhuma lembrança? Quando eu recrio um quadro histórico é suficiente para dizer que eu tive uma lembrança? Se só se essas lembranças não fossem lembranças reavivadas por declarações e testemunho. Mas ai vem outra pergunta: quantas lembranças não são criadas apenas de testemunhos e pensamos se lembranças rememoradas? A lembrança é uma imagem engajada em outra imagem. Uma imagem reportada no passado. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA HISTÓRICA
Lembranças simuladas. A imagem se transforma e se adequa a realidade.
As imagens que compõem minha lembrança
mudam porque outras se sobrepõem e porque eu também mudei. Meu ponto de vista se deslocou, hoje ocupo um lugar diferente na família. Mas sempre há uma imagem q vai se sobrepujar. Não ha na memoria vazio absoluto...regiões do passado saídas de nossa memória se sorte que toda a imagem que ali projetamos não pode agarrar-se em nenhum elemento de lembrança descobrindo-se imaginação pura e simples ou representação histórica que nos pareça exterior. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA HISTÓRICA Para Bergson o passado se encontra inteiramente dentro de nossa memoria, tal como foi para nós, porem alguns obstáculos como o comportamento de nosso cérebro impede que evoquemos dele todas as partes. As imagens de nosso passado estão em nosso espirito ( na parte inconsciente) com o paginas impressas de um livro que pudéssemos abrir ainda que não abríssemos mais. Para Halbacks as imagens não estão em uma galeria submersa de nosso pensamento imagens prontas, mas sim na sociedade onde estão todas as. Indicações necessárias para reconstruir tais partes de nosso passado, que representamos de modo incompleto ou ate que cremos que venham de nossa memória. Mas quando não lembramos ou lembramos diferente daqueles que participaram do mesmo evento preenchemos lacunas...mas o que acontece é que o cérebro se desviava dessa região por que nela não encontrava muitos vestígios. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA HISTÓRICA
Uma vez que nos indiquem o caminho que temos
que seguir esses traços se evidenciam, se ligam uns aos outros. Eles existem sendo mais marcantes na Quadros longínquo e meios próximos. Lembre que para que memoria do outro venha reforçar e completar a nossa é preciso que as lembranças desse grupo se relacionem com eventos de nosso passado. Memoria histórica é a sequencia dos acontecimentos dos quais a historia nacional guarda a lembrança memoria dos outros. Ela não representa a memória coletiva. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA HISTÓRICA
A memória coletiva não se confunde com a
memória histórica. São termos opostos. A história é a compilação dos fatos que ocuparam maior espaço na memória dos homens. Mas tudo aprendido em livros, nas escolas, os acontecimentos são escolhidos, aproximados e classificados de acordo com regras e necessidades. A história começa quando acaba a tradição, memória social. Enquanto subsiste, uma memória não pode ser fixada MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA HISTÓRICA
A memória coletiva se distingue da historia por
dois aspectos: primeiro é uma corrente de pensamento contínuo, de uma continuidade que nada tem de artificial, já que retém do passado apenas aquilo que esteja vivo ou que seja capaz de viver na consciência do grupo. Ela não ultrapassa os limites do grupo. A memória coletiva é contínua. Mesmo com os fatos e as rupturas, ela parece não ser interrompida. Ao contrário, na história essa continuidade é interrompida por linhas claras. Na história, presente e passado são períodos que não se opõem, distintamente. Apesar de o passado não existir mais, para o historiador, ele tem tanta realidade como o presente. MEMÓRIA COLETIVA E MEMÓRIA HISTÓRICA
A memória da sociedade se estende até onde a
memória dos grupos que a compõe vai. E se ela se esquece é a lembrança que os grupos guardavam desaparece. Memórias coletivas, centros de tradição. Há muitas memórias coletivas. Essa é outra diferença da história, pois a história é única. O mundo histórico é um oceano no qual fluem todas as histórias parciais. Não há memória universal, pois toda ela é limitada por um tempo e por um espaço. MEMÓRIA COLETIVA E O TEMPO
A divisão social do tempo – a sucessão do tempo e
seu ritmo são devidas a uma ordem necessária segundo a qual se encadeiam os fenômenos de natureza material e do organismo. Além disso, as divisões do tempo seguem convenções e condutas. Todo o ser dotado de consciência teria o sentimento da duração, já que nele se passariam estados diferentes. A duração é a sequencia desses estados. Eu poderia pela passagem do tempo e seus indicadores fazer cortes e divisões. Mas tenho que considerar que a minha memória se toca com a de outros indivíduos. Assim, seriam produzidos cortes na minha duração e na deles. MEMÓRIA COLETIVA E O TEMPO
Crítica ao subjetivismo Bergsoniano:
Primeiramente, ele pede para que consideremos estes estados que se sucedem como distintos uns dos outros, mas de uma maneira diferente que a das coisas materiais. São presos por uma corrente contínua que se esvai sem que haja entre um e outro uma linha de separação bem definida. A memória não tem alcance sobre os estados passados e não os restitui em sua realidade de outrora senão na razão de que elas não os não os confunde confunde entre si nem com os antigos nem com os recentes. MEMÓRIA COLETIVA E O TEMPO Os estados são diferentes entre si, mas desligados das sequencias dos outros retirados das correntes onde estavam entranhados como poderiam ser considerados diferentes de qualquer outro estado igualmente considerado a parte? Toda essa separação significa que estamos separando esses estados no espaço. E no espaço, mesmo sendo diferentes, comportam analogias. As diferenças que levantamos entre eles se determinam em relação a tantos gêneros comuns dos quais participam tanto uns quanto outros. Ao contrario, a corrente na qual os pensamentos estão entranhados no interior de cada consciência não é um meio homogêneo como o espaço, onde a forma não se confunde com a matéria e o continente assume a função de conteúdo. MEMÓRIA COLETIVA E O TEMPO
Nos diversos estados de consciência (ele aqui chama a
atenção que o termo “estado” é errado, pois o que há na consciência são movimentos ou pensamentos num devir) só distinguimos qualidades por abstração, já que o interessante aqui é a unidade de cada um deles e que eles são como pontos de vista na totalidade da consciência, não existindo entre eles gêneros comuns. Qualquer tentativa de comparação romperia a continuidade da serie. Mas é essa continuidade que explica que uns lembram os outros. É porque são todos diferentes que os estados individuais formam uma série contínua. Toda a semelhança introduziria uma descontinuidade. É porque são diferentes que as lembranças evocam umas as outras. MEMÓRIA COLETIVA E O TEMPO
O que está dentro da duração são os
pensamentos, não os objetos, então eu não saio de mim. Uma voz de outra pessoa me traria dois pontos de vista, o meu e o da outra pessoa que também tem uma consciência que dura. Uma pessoa de fora pode quebrar então a continuidade de minha duração e impor uma representação. Há em toda a percepção sensível a tendência a se exteriorizar. Expulsa o pensamento do circulo estreito da consciência individual de onde ele se escoa, considerando o pensamento como podendo ser representado em várias consciências. A simultaneidade impede que achemos que as durações são individuais. MEMÓRIA COLETIVA E O TEMPO Falando de tempo agora, o tempo nos importa aqui somente na medida em que nos permitir nos lembrar e conservar dos acontecimentos que ali se produziram. Tempo abstrato é o tempo de bergson, vivido, sem qualquer tipo de consciência. Aqui os homens se abrem a um conjunto ou grupo. Isso porque o tempo tem que se esvaziar pouco a pouco da matéria, o que possibilitaria distinguir suas partes e assim servir a um número crescente de seres diferentes. Teríamos aqui um meio inteiramente uniforme, próximo ao espaço. Aqui, nessa superfície lisa restam apenas os acontecimentos que não tem data e não mudam de natureza. O tempo real se aproxima do social e é composto por divisões. MEMÓRIA COLETIVA E O TEMPO
O tempo universal envolve todos os
acontecimentos que ocorreram em todos os lugares do mundo. Lembrando: a memória histórica retém as diferenças, que marcam a passagem súbita de um estado que subsiste para outro que subsiste. A história é um resumo que resume as evoluções de períodos extensos. A multiplicidade e heterogeneidade das durações coletivas. A história vai além dos limites da memória coletiva, ou seja, não atingindo mais os acontecimentos e as pessoas. MEMÓRIA COLETIVA E O TEMPO
Dizem que a história se interessa pelo passado,
mas na verdade esse “passado” é o que não está no domínio do pensamento de nenhum grupo atual. O tempo é uma serie sucessiva de fatos ou de diferenças. Mas é ilusório achar que uma serie de diferenças ou de acontecimentos definirá um tempo mais longo o u mais curto. Os acontecimentos dividem o tempo, mas não o preenchem. A noção de rapidez aplicada ao tempo não apresenta significação definida. É no tempo de determinado grupo que o espírito se apoia para reconstruir uma lembrança. Só ele pode representar esse papel, tendo em vista que ele apresenta caráter contínuo. Ele advém de um MEMÓRIA COLETIVA E O TEMPO
Mas esse tempo não se confunde com os
acontecimentos que ali ocorreram. E também não se reduz a um quadro homogêneo e vazio. Nele está inscrita a marca de acontecimentos de outrora na medida em que respondem ou respondiam ao interesse de um grupo. E mesmo que não tenha ninguém desse grupo presente materialmente, continuo a receber dele influência. Isso desde que guarde algo que me permita me posicionar do ponto de vista dos membros desse grupo. De me envolver em seu meio, em seu próprio tempo e de me fazer sentir no coração do grupo. MEMÓRIA COLETIVA E O TEMPO
Lembrando que o que constitui esse grupo é
essencialmente um interesse, uma ordem de ideias e de preocupações que se particularizam e se refletem em certa medida nas personalidades de seus grupos, mas que não são bastantes gerais e impessoais para conservar seu sentido para mim. É a partir desses elementos que construo as imagens. Se penso em alguém que já morreu, é porque me coloco numa corrente de ideias que nos foram comuns e que subsiste para mim mesmo que essa pessoa não esteja mais lá. Mas devem se conservar em mim as condições para que eu possa ainda me recolocar. MEMÓRIA COLETIVA E O TEMPO
Ainda elas se conservam porque não são
estranhas a outras pessoas em comum. Se eu me lembrar de algo e um amigo se lembrar de algo mais distante é porque organizamos nossos pensamentos em centros de interesses que não são mais completamente os mesmos. Os indivíduos pertencem a vários grupos e dividem vários pensamentos sociais e seu olhar mergulha em vários tempos coletivos. As consciências concentram durações variadas e se decompõem em diversas correntes de pensamento que tem origem nos próprios grupos. A consciência individual é apenas o local de passagem dessas correntes, o ponto de encontro dos tempos coletivos. O pensamento se move no MEMÓRIA COLETIVA E O TEMPO
As impressões não nos fazem sair de nós mesmos,
fazem parte de nosso corpo, mas não nos deixam alcançar o passado. A memória se originam e tem curso no pensamento dos diversos grupos aos quais nos ligamos. As consciências do passado, o tempo e a imagem subsistem e se imobilizam. O tempo dura dentro de certos limites variáveis conforme os grupos. O tempo é real na medida que tem um conteúdo, isto é, oferece um conteúdo de acontecimentos ao pensamento, é limitado e relativo, porém tem realidade plena. É muito amplo para oferecer às consciências individuais um quadro suficientemente respaldado pra que elas possam dele dispor e encontrar suas lembranças. MEMÓRIA COLETIVA E O ESPAÇO Há memória no espaço, na disposição das coisas. Quando um grupo está inserido em um espaço ele o transforma a sua imagem, ao mesmo tempo em que se adapta e às coisas materiais que a ele resistem. A imagem do meio exterior e das relações estáveis que ele mantém consigo passa ao primeiro plano da ideia que faz de si mesmo, penetrando elementos de sua consciência, comandando e regulando sua evolução. O lugar recebeu a marca do grupo e vice e versa. As ações do grupo podem se traduzir de modo espacial. Cada lugar do espaço tem um sentido que é inteligível apenas para os membros do grupo, porque cada espaço que ele ocupou corresponde a aspectos da sua estrutura e da vida de sua sociedade, ao menos naquilo de mais estável que havia nela. Não há memória coletiva que não se desenvolva num quadro espacial. MEMÓRIA COLETIVA E O ESPAÇO
O espaço é a realidade que dura. Nossas
impressões se sucedem uma a outra e nada permanece em nosso espírito. Não seria possível compreender como recuperar o passado se ele não permanecesse no meio material que nos cerca. É sobre nosso passado que devemos depositar nossa atenção, para que apareça essa ou outra categoria de lembrança. Qualquer princípio que invoquemos para assegurar o direito de propriedade, ele só irá adquirir valor se a memória coletiva intervir para garantir aplicação. Mas a memória que possibilita a permanência no espaço apoia-se nessa mesma permanência. As pessoas duram porque as coisas duram. MEMÓRIA COLETIVA E O ESPAÇO
Pensar no espaço como meio para lembrar e
assim viver a experiência nostálgica. Não é certo portanto que para se lembrar é preciso ir para fora do espaço. Pelo contrário, somente que, em razão de sua estabilidade, dá- nos a ilusão de não nos mudar através do tempo e de encontrar o passado no presente. O espaço é suficientemente estável para durar sem envelhecer. MEMÓRIA COLETIVA E O ESPAÇO MEMÓRIA COLETIVA E O ESPAÇO MEMÓRIA COLETIVA E O ESPAÇO