A tragédia do desenvolvimento em Fausto de Goethe

O FAUSTO DE GOETHE: A
TRAGÉDIA DO
DESENVOLVIMENTO
Marshall Berman
BERMAN, MARSHALL. O FAUSTO DE GOETHE: A TRAGÉDIA DO
DESENVOLVIMENTO. IN: ______. TUDO QUE É SÓLIDO
DESMANCHA NO AR: AVENTURAS DA MODERNIDADE. SÃO
PAULO: COMPANHIA DAS LETRAS, 1986.
• Marshall Berman – a busca por discutir a modernidade em tempos de emergência
do conceito de pós-modernidade.
• “Tudo que é sólido desmancha no ar”, frase retirada do Manifesto do Partido

Comunista, de Karl Marx e Friedrich Engels, afirmando que os tempos que vieram
após Goethe, Marx, Baudelaire, Dostoiévski e as vanguardas artísticas do século XX
não são melhores do que as anteriores, a ponto de se julgarem uma ruptura com o
tempo que passou.
• A lenda alemã de Fausto é baseada no médico, mago e alquimista alemão Dr.
Johannes Georg Faust, e o seu nome tem sido utilizado como base para diferentes
textos literários.
• Fausto é uma peça de teatro de Johann Wolfgang von Goethe, cuja primeira versão
data de 1806 e a segunda de 1832, às vésperas da morte do autor.
• Fausto começou a ser escrita ainda no final do século XVIII, durando, portanto, mais
de sessenta anos para ser concluída.
• Homem das ciências, desiludido com o conhecimento do seu tempo, Fausto vende a
alma ao diabo Mefistófoles, que o enche de energia satânica insufladora da paixão
pela técnica e pelo progresso.
• O mito de Fausto nos leva a pensar de que modernidade falamos, ou, mais
precisamente, em que medida a expressão modernidade, tomada aqui como uma
dimensão de tempo, também pode ser pensada como um adjetivo de melhoria,
transformação, mudança positiva.
• “Quase quatrocentos anos após sua entrada em cena, Fausto continua a atrair a
imaginação moderna. Por isso, o semanário The New Yorker, em um editorial
antinuclear, logo após o acidente de Three Mile Island, aponta a figura de Fausto
como símbolo de irresponsabilidade política e indiferença à vida [...]” (p. 39)
• Enquanto isso, no outro extremo do espectro cultural, um número recente da revista

em quadrinhos Capitão América anuncia “os desígnios maléficos do... Doutor
Fausto!”. O vilão, que se assemelha extraordinariamente a Orson Welles, sobrevoa o
porto de Nova Iorque num gigantesco dirigível. [...]” (p. 39)
• “O Fausto começa num período cujo pensamento e sensibilidade os leitores do século XX
reconhecem imediatamente como modernos, mas cujas condições materiais e sociais são
ainda medievais; a obra termina em meio às conturbações espirituais e materiais de uma
revolução industrial. [...] O Fausto de Goethe expressa e dramatiza o processo pelo qual,
no fim do século XVIII e início do seguinte, um sistema mundial especificamente
moderno vem à luz” (p. 40-41)
• “A força vital que anima o Fausto goethiano, que o distingue dos antecessores e gera
muito de sua riqueza e dinamismo é um impulso que vou designar com desejo de
desenvolvimento. [...]” (p. 41)
• “A história do Fausto pode ser acompanhada através de três metamorfoses: ele
aparece primeiro como O Sonhador; em seguida, graças à mediação de Mefisto,
transformase em O Amador, e finalmente, bem depois do desenlace da tragédia do
amor, ele atingirá o clímax de sua vida, como O Fomentador.” (p. 42)
• No primeiro momento da peça, Fausto é um herói de meia-idade bem sucedido em

que tudo que fizera, mas insatisfeito com a própria vida. Percebe suas conquistas
como lixo, visto que quanto mais se envolveu em seu processo de expansão da
mente acontecia mais ele se afastava do mundo anterior.
• Fausto é um humanista clássico, nada que é humano lhe é estranho, e ele tudo fez para
conseguir alcançar todo o conhecimento humano.
• “Seus poderes mentais, interiorizando-se, voltaram-se contra ele e se tornaram sua

prisão. Ele luta para encontrar um meio de fazer transbordar a abundância de sua vida
interior, de expressá-la através da ação no mundo exterior. [...]” (p. 43)
• Diante de sua insatisfação consigo mesmo, Fausto resolve dar fim à própria vida. Tranca-
se em um quarto e vai tomar veneno quando escuta os sinos de Natal, que evocam à sua
infância.
• “O Mefistófeles de Goethe se materializa como o grande mestre desses paradoxos [...].
Em uma ironia goethiana típica, ele aparece para Fausto justamente quando este se sente
mais perto de Deus. Fausto retorna uma vez mais a seu quarto solitário para meditar
sobre a condição humana. Abre a Bíblia, no início do Evangelho segundo São João: “No
princípio era o Verbo”. Considerando esse princípio cosmicamente inadequado, procura
uma alternativa e finalmente escolhe e escreve um novo princípio: “No princípio era a
Ação”. Ele se entusiasma com a idéia de um Deus que se define através da ação, através
do ato primordial de criar o mundo; ilumina-se de vibração pelo espírito e pelo poder
desse Deus, e se declara pronto a reconsagrar sua vida a ações amplamente criadoras.
Seu Deus será o Deus do Velho Testamento, do Livro do Gênesis, que se define e
demonstra sua divindade criando os céus e a terra.” (p. 47)
• O encontro com o diabo faz Fausto se libertar de suas antigas culpas, visto que havia
abandonado a medicina quando ele e seu pai provocaram mortes.
• O diabo encoraja Fausto a “confiar em si mesmo”, em seu próprio poder de sedução,

esbanjando charme e autossegurança, que, juntos com seu brilho anterior e energia, são
suficientes para seduzir qualquer mulher.
• O encontro de Fausto com Gretchen, e a sedução deste sobre ela, com fins trágicos,
representa a tragédia de um mundo com seus condicionamentos feudais, que começam a
ruir diante dos símbolos da modernidade.
• O final da obra traz um Fausto irado perante a tirania da natureza e a aparente
incapacidade humana de submetê-la a si.
• Fausto, então, volta a adquirir vida ao perceber a capacidade de utilizar meios

técnicos de transformar a natureza e usá-la ao seu próprio favor.
• Nesse momento, o próprio Mefistófoles percebe que Fausto ultrapassou o seu

próprio plano, uma vez que ele pretende mover o seu próprio mundo.
• A busca de Fausto, no entanto, ao contrário do que preveria Mefistófoles, não é o de
conseguir o máximo de dinheiro com os seus ganhos, mas de tornar o mundo
acessível a milhões, retornando e sanando a causa de sua insatisfação inicial.
• O Fausto de Goethe seria, nesse sentido, uma tragédia do desenvolvimento

capitalista, aparecendo como uma crítica a ela em plenos tempos de emergência do
capitalismo industrial.

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O FAUSTO DE GOETHE: A

• “Tudo que é sólido desmancha no ar”, frase retirada do Manifesto do Partido

• Enquanto isso, no outro extremo do espectro cultural, um número recente da revista

• No primeiro momento da peça, Fausto é um herói de meia-idade bem sucedido em

• “Seus poderes mentais, interiorizando-se, voltaram-se contra ele e se tornaram sua

• O diabo encoraja Fausto a “confiar em si mesmo”, em seu próprio poder de sedução,

• Fausto, então, volta a adquirir vida ao perceber a capacidade de utilizar meios

• Nesse momento, o próprio Mefistófoles percebe que Fausto ultrapassou o seu

• O Fausto de Goethe seria, nesse sentido, uma tragédia do desenvolvimento

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