DO AMBIENTE
Rui M. Sá
rui.sa@iscsp.ulisboa.pt
1 . A DESCONSTRUÇÃO DO BIOCENTRISMO E
DO ANTROPOCENTRISMO : O POSICIONAMENTO Aula 1
DE UMA ÉTICA AMBIENTAL
OBJECTIVOS DE APRENDIZAGEM
• Perceber o contexto do surgimento de uma Ética Ambiental;
• Explicar e discutir os conceitos de antropocentrismo e biocentrismo;
• Revisitar a emergência da ética ambiental e o contributo de Richard Routley;
• Entender a singularidade da atribuição de novos direitos. A Declaração da
Mãe Terra.
• Analisar diferentes posicionamentos éticos ambientais na Declaração da Mãe
Terra como exemplo de análise de discurso.
IMPORTA PREOCUPARMO-NOS COM O
AMBIENTE? PORQUÊ? PARA QUÊ?
MISSÃO
Quando os antropólogos estão a tentar compreender alguma
problemática ambiental em alguma comunidade, ou em algum
movimento social, ou em diferentes contextos sociais temos
forçosamente de perceber o seu sistema de valorização ética, daí ser
fundamental reconhecer nos diferentes discursos e narrativas dos
diversos actores sociais os seus principios éticos e morais subjacentes.
INTRODUÇÃO
Antes os problemas ambientais não eram reconhecidos como tal, porque a Natureza parecia ser
inesgotável. Os problemas passaram a ser reconhecidos quando passaram a ser vistos como danos que se
podiam evitar ou quando podiam ser empregues meios para os remediar ou pelo menos aliviar.
O LUGAR DO HOMEM NO MUNDO NATURAL
Vários filsófosos se preocuparam em perceber o lugar do Homem na Natureza, mas nenhum se debruçou
sobre uma Ética Ambiental.
Platão (423/428? a.C – 347/348 a.C.) in “Crítias” Aristóteles (384 A.C – 322 a. C.) in “Metereologia”
1. O SURGIMENTO DE UMA ÉTICA AMBIENTAL NA
DÉCADA DE 1970: ENQUADRAMENTO
1973 2019
ANTECEDENTES
De outro modo, se o mundo natural só tem valor porque serve os interesses humanos, então no caso
do mundo natural não servir mais os interesses humanos (porque deixamos de existir), então não
pode ter valor, e por isso não há mal nenhum em destruí-lo.
Na tentativa de explicar porque é que seria errado apertar o botão, os primeiros eticistas
ambientais argumentavam que o mundo natural tem valor por si e é independente dos interesses
humanos e que as nossas obrigações morais em relação ao mundo natural não são só uma forma
daquilo que devemos aos nossas companheiros humanos e só percebendo isso é que podemos
chegar a uma ética do ambiente em vez de uma ética para o uso do uso ambiente.
2. O ANTROPOCENTRISMO. RICHARD ROUTLEY
Críticas a Routley:
Routley responde que o ultimo homem não tem mais interesses humano.
Ele sabe que vai morrer em breve e os unicos interesses que ficam em
jogo são aqueles dos animais não humanos e das plantas, ainda assim
muitas pessoas consideram que é errado destruir os outros seres vivos.
2.
O pressuposto de que as coisas podem ter valor como um meio para um fim (valor
instrumental) só se existe algo que tem valor como um fim em si mesmo (valor intrínseco)
parece assumir uma justificação fundacionista de algum tipo. Ou seja, assume que de
forma que as reclamações do nosso valor só podem ser justificadas tem de existir pelo
menos uma coisa que tenha valor independentemente das suas relações com as outras
coisas e que serve como a ultima justificação para todos os outros valores (O bem mais
elevado de Aristóteles).
4. HOLISMO E INDIVIDUALISMO
Que tipo de entidades são moralmente importantes por direito
próprio?
Correntes:
Pluralismo minimalista- reconhecer que há diferentes tipos de
valores;
Pluralismo prático- a visão de que podemos ter diferentes
normas éticas correctas que nos dão recomendações para a ação;
Pluralismo de princípios- a visão de que um numero de prinipios
éticos mutuamente inconsistentes podem ser todos aceites como
sendo correctos;
Pluralismo teórico- a visão de que um numero de teorias éticas
mutuamente inconsistentes podem todas ser aceites como correctas.
5. PRAGMATISMO E ANTROPOCENTRISMO
Existem também correntes pragmatistas que argumentam que os eticistas
ambientais também devem aceitar o antropocentrismo. Segundo Bryan Norton
muitos dos decisores de politicas publicas bem como muitos cientistas sociais (ex.
economistas) cujas visões afectam as politicas ambientais assumem o
antropocentrismo como verdade-Antropocentrismo Fraco.
Bryan Norton
5. QUESTÃO DA JUSTIÇA
Questão da Justiça também foi um dos temas discutidos durante
a década de 1990:
Questão das obrigações para com as gerações futuras se existe
de facto alguma obrigação na forma como os recursos naturais
são alocados, na forma como se controla a poluição, etc. Estas
discussões começaram a emergir na década de 1970 e depois
em 1980 sobre a energia nuclear, já que este tipo de energia
produz resíduos radioactivos que vão durar milhares de anos e
por isso pode envolver algum tipo de injustiça intergeracional
impondo custos às gerações futuras para o beneficio das
pessoas actuais.
6. DUAS ESCOLAS DE PENSAMENTO ÉTICO
PARALELAS
Consideramos que todos somos parte da Mãe Terra, uma comunidade indivisível vital dos seres
interdependentes e inter-relacionados com um destino comum;
Reconhecemos com gratidão que a Mãe Terra é fonte de vida, alimento, ensino e fornece tudo aquilo que
nós necessitamos para viver bem;
Afirmamos que para garantir os direitos humanos é necessário também reconhecer e defender os direitos da Mãe
Terra e de todos os seres que a compõe, e que existem culturas, praticas e leis que o fazem.
Conscientes da urgência de realizar ações coletivas decisivas para transformar as estruturas e sistemas que causam as
mudanças climáticas e outras ameaças à Mãe Terra;
Proclamamos esta Declaração Universal dos Direitos da Mae Terra, e fazemos um chamado à Assembleia Geral das
Nações Unidas para adota-la, como propósito comum para todos os povos e nações do mundo, com a finalidade de
que tanto os indivíduos como as instituições, responsabilizem-se em promover através do ensino, a educação e a
conscientização, o respeito para com estes direitos reconhecidos nesta Declaração e assim assegurar através de
medidas e mecanismos efetivos e progressivos de caráter nacional e internacional, o seu reconhecimento e aplicação
universal entre todos os povos e países do Mundo.
DECLARAÇÃO DA MÃE TERRA
Artigo 1: A Mãe Terra
A Mãe Terra é uma única comunidade, indivisível e auto- regulada, de seres interrelacionados que sustem, contem e reproduz a todos os seres que a compõe.
Cada ser se define pelas suas relações como parte da integrante da Mãe Terra.
Os direitos inerentes da Mãe Terra são inalienáveis porque derivam-se da fonte mesma da existência.
A Mãe Terra e todos os seres que a compõe são titulares de todos os direitos inerentes reconhecidos nesta Declaração sem nenhum tipo de distinção, como
pode ser entre seres orgânicos e inorgânicos, espécies, origem, usos para os seres humanos, ou qualquer outro status.
Assim como os seres humanos possuem os seus direitos, todos os demais seres da Mãe Terra também possuem direitos específicos da sua condição e
apropriados para o seu papel e função dentro das comunidades em nas quais existem.
Os direitos de cada ser são limitados pelos direitos dos outros seres, e qualquer conflito entre estes direitos deve ser resolvido de maneira que seja mantida
a integridade, equilíbrio e saúde da Mãe Terra.
DECLARAÇÃO DA MÃE TERRA
Artigo 2: Direitos Inerentes da Mãe Terra
A Mae Terra e todos os seres que a compõe possuem os seguintes direitos inerentes:
Direito à regeneração da sua bio-capacidade e continuação dos seu ciclos e processos vitais livre das alterações humanas;
Direito a manter a sua identidade e integridade como seres diferenciados, autorregulados e interrelacionados.;
Direito ao ar limpo;
Direito a não ser alterada geneticamente e modificada na sua estrutura, ameaçando assim a sua integridade ou funcionamento vital e saudável;
Direito a uma plena e pronta restauração depois de violações aos direitos reconhecidos nesta Declaração e causados pelas atividades humanas;
Cada ser tem o direito a um lugar e a desempenhar o seu papel na Mãe Terra para o seu funcionamento harmônico;
Todos os seres possuem o direito ao bem estar e a viver livre de tortura ou trato cruel por parte dos seres humanos.
DECLARAÇÃO DA MÃE TERRA
Artigo 3: Obrigações dos seres humanos para com a Mãe Terra
Todos os seres humanos são responsáveis de respeitar e viver em harmonia com a Mãe Terra;
Reconhecer e promover a aplicação e a plena implementação dos direitos e obrigações estabelecidos nesta Declaração;
Promover e participar na aprendizagem, analise, interpretação e comunicação sobre como viver em harmonia com a Mãe Terra de
acordo com esta Declaração;
Assegurar que a procura do bem estar humano contribua ao bem estar da Mãe Terra, agora e no futuro;
DECLARAÇÃO DA MÃE TERRA
Estabelecer e aplicar efetivamente normas e leis para a defesa, proteção e conservação dos Direitos da Mãe Terra;
Respeitar, proteger, conservar e onde seja necessário restaurar a integridade dos ciclos, processos e equilíbrios vitais da Mãe Terra.
Garantir que os danos causados pelas violações humanas dos direitos inerentes reconhecidos nesta Declaração sejam corrigidos e que os responsáveis
prestem contas para restaurar a integridade e a saúde da Mãe Terra;
Autorizar a todos os seres humanos e as instituições a defender os direitos da Mãe Terra e de todos os seres que a compõe;
Estabelecer medidas de precaução e restrição para prevenir que as atividades humanas conduzam à extinção das espécies, à destruição dos
ecossistemas ou a alteração dos ciclos ecológicos;
Promover e apoiar praticas de respeito para com a Mae Terra e todos os seres que a compõe, de acordo com as suas próprias culturas, tradições e
costumes.
Promover sistemas econômicos em harmonia com a Mae Terra e de acordo com os direitos reconhecidos nesta Declaração.
DECLARAÇÃO DA MÃE TERRA
Artigo 4: Definições
O termo “ser” inclui os ecossistemas, comunidades naturais, espécies e todas as outras entidades naturais que
existem como parte da Mãe Terra. Nada nesta Declaração poderá restringir o reconhecimento de outros direitos
inerentes de todos os seres o de qualquer em particular.
Conferência Mundial dos Povos sobre Mudanças Climáticas e direitos da Mãe Terra