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Universidade Federal de Santa Catarina

Centro de Ciências Jurídicas


Curso de Pós-Graduação em Direito - Programa de Mestrado

Tribunais, Processos e
Feiticeiras

Lucas Machado
Aspectos Históricos
Origem

 Centralização da Fé (Cristianismo
Religião do Estado)
o Edito da Tolerância de Milão (313 d.C) –
Torna o império romano Cristão

 Inquisição Medieval
o triunfo da Igreja Católica (única fé e detentora da
verdade absoluta)
o necessidade de combater aqueles que contestavam os
seus dogmas (heresia): poderoso instrumento
Inquisição Medieval
Confoederatio cum principais ecclesiasticis (Frederico II, 1232)
(Tratado com os príncipes da igreja)
Inquisição Medieval

 Bula Licet ad capiendos (1232)


Papa Gregório IX (dá o início da Inquisição)

"Estais facultados, se os pecadores persistem em defender a


heresia apesar das advertências, a privá-los para sempre de
seus benefícios espirituais e proceder contra eles, sem
apelação, solicitando se necessário a ajuda das autoridades
seculares."
Transição:
Idade Média - Moderna

o a queda de Constantinopla (1453)


o a ascensão das monarquias nacionais europeias
o o início da recuperação demográfica e econômica após a Peste
o os Descobrimentos Marítimos
o o movimento de redescoberta da cultura clássica (Século XV)
o a Reforma Protestante (1517)

 A Inquisição ultrapassou a Idade Média, alcançando a Era


Moderna, contudo, com novos contornos.
Aspectos Históricos
Inquisição Moderna
 Contexto social
o explosão demográfica FOME
o más-colheitas e pragas
o pestes e surtos de doenças epidêmicas MISÉRIA
o guerras constantes
o sistema capitalista mercantil e agrário
o oferta limitada de recursos TENSÃO SOCIAL

MEDO DE REBELIÕES E DESORDEM


o dimensão política da Inquisição Moderna, como instrumento
de manutenção do poder (nobreza)
A Inquisição Moderna
 União dos Estados- Nacionais e da Igreja
o manutenção do status quo (instrumento)
o ampliado o rol de culpáveis (qualquer oposição ao saber ou à
ordem oficial)

 Tribunais Eclesiásticos e Tribunais Seculares


o coexistência de 3 jurisdições
• Central (juízes do Rei)
• Local (cidades ou regiões)
• Eclesiástica
o avanço na repressão
Inquisição Espanhola
 Peculiaridades:
o tolerância durante a Idade Média
(coexistência entre muçulmanos e judeus
num mesmo território)
o prosperidade financeira (comércio) de
mouros e judeus
o casamento da Princesa Isabel de Castela
com o Príncipe Fernando de Aragão (1456)
e unificação dos reinos Castela e Aragão
o política de pacificação, com a expulsão dos
mouros e judeus (1492)
o Perseguição aos convertidos (cristãos-
novos)
Inquisição Espanhola
 Instituída sob o pretexto de verificar
a sinceridade da conversão;

O que emerge de tal situação é que a


inquisição nada mais era que uma
arma de classes, usada para impor,
(...) a ideologia de uma única classe:
a aristocracia dos leigos e
eclesiásticos.
(Kamen, Henry)
Bruxas e Repressão ao Feminismo
 Caça às Bruxas
o séculos XIV – XVIII
o influência dos dominicanos
o grande expressão na Alemanha,
França e Suíça

 Definição de Bruxaria (4 elementos)


o pacto feito com o diabo
o casamento realizado pelo ato
sexual
o feitiços maléficos para prejudicar
pessoas ou animais
o participação no sabá das bruxas
Bruxas e Repressão ao Feminismo
 Bula Papal Summis Desiderantes Affectibus
Papa Inocêncio VIII (1489)

“(...) tem chegado recentemente a nossos


ouvidos que, certas regiões da Alemanha
setentrional, muitas pessoas de ambos os
sexos, esquecendo-se de sua própria
salvação e apartando-se da fé católica, têm
mantido relações com os demônios, por
meio de encantamentos, feitiços, conjuros
e outras superstições malditas (...)”.
Bruxas e Repressão ao Feminismo

 Bula Papal Summis Desiderantes Affectibus

“(...) têm assassinado crianças ainda no útero da mãe, além de novilhos, e


têm arruinado o produto da terra, as uvas das vinhas, os frutos das
árvores, e mais ainda: têm destruído homens, mulheres, bestas de carga,
rebanhos, animais de outras espécies, parreiras, pomares, prados, pastos,
trigo e muitos outros cereais; estas pessoas miseráveis ainda afligem e
atormentam homens e mulheres, animais de carga, rebanhos inteiros e
muitos outros animais com dores terríveis e lastimáveis e com doenças
atrozes, quer internas, quer externas; e impedem os homens de realizar o
ato sexual e as mulheres de conceberem, de tal forma que os maridos não
vêm a conhecer as esposas e as esposas não vêm a conhecer os maridos”.
Bruxas e Repressão ao Feminismo
 Malleus Malleficarum (1487)
o Embasado na Bula Papal Summis Desiderantes
Affectibus
o Inquisitores (dominicanos) Jacob Sprenger e
Heinch Framer
o Foram 29 edições entre a publicação (1487) e
1669 (perdendo apenas para a Bíblia naquela
época)
o Obra mais vendida (depois da Bíblia) até 1678
o 3 partes:
• Como reconhecer uma Bruxa
• Os malefícios
• Forma de inquirir e condenar uma Bruxa
Bruxas e Repressão ao Feminismo
 Perseguição às mulheres:
o Antiguidade
• Doadora da vida (símbolo da fertilidade)
• Curadoras populares, parteiras, detentoras de um saber próprio e
transmitido de geração em geração (ameaça ao saber médico)
o Manifestação do demônio pela sexualidade

“...porque Eva nasceu de uma


costela torta de Adão, portanto
nenhuma mulher pode ser reta...”

(Malleus Malleficarum)
Aspectos Jurídicos
 Direito Canônico
o Aplicado inicialmente apenas ao Clero, teve grande
influência sobre o direito laico
Aspectos Jurídicos
 Motivos dessa influência:

o ser um direito escrito e formalizado


o constituir-se objeto de vários estudos
doutrinais, tendo sido sistematizado
antes do laico
o em virtude das relações da Igreja com o
Estado
o a extensão da competência dos
tribunais eclesiásticos tornou a caça aos
hereges uma operação judicial
Aspectos Jurídicos
 Competência dos Tribunais Eclesiásticos:

• Heresia
• Apostasia (afastam. def.)
• Simonia (favores Divinos)
• Sacrilégio (Profanação)
• Bruxaria
• Adultério
• Usura
Aspectos Jurídicos

 Classificação dos crimes:

- Crimes contra a moral;


- Crimes contra os costumes;
- Crimes contra a fé; (mais grave e penas mais severas)
Processo penal

 Processo penal acusatório:


o Acusação
• legitimidade exclusiva da vítima e sua família (privada)
• Acusação pública, feita sob juramento, com risco de
responder pelo processo no caso de declarada inocência do
acusado

o Investigação (Sistema de provas)


• Provas inequívocas: condenação
• Dúvidas do Juízo: verificação pelo ordálio, pelo duelo ou por
testemunhas (compurgação)
Processo penal
o Papel do Juiz:
• mero arbitro imparcial, pois a verdade seria anunciada por
meio da intervenção divina (ordálio);

o Deficiências:
• tornava os crimes ocultos difíceis de serem julgados
• consistia em um risco à pessoa do acusador, que responderia
um processo em caso de inocência do acusado
• o apelo a meios sobrenaturais dava ensejo a manipulação do
sistema
• resistência a dor, facilidade de cura dos ferimentos e técnicas
respiratórias poderia facilitar a passagem pelo ordálio
• homens com mais posses poderiam reunir muitas testemunhas
e ser inocentado.
Um novo processo penal
 Processo penal inquisitório
o vem substituir o processo acusatório a partir do século XIV;
o grande influência da Igreja (pois o identificou como método mais
eficaz no combate à heresia)

o Acusação
•qualquer do povo ou do Estado
possuíam legitimidade para
apresentar a denúncia, que não
precisaria ser identificada
•não há mais responsabilidade do
acusador no caso de absolvição
•meros boatos eram suficientes
para a abertura do processo
Um novo processo penal
o Investigação (Sistema de provas)
• Provas divididas em:

Plenas Testemunho ocular de duas pessoas Qualquer condenação

Indícios próximos Semiplenas Suplícios, mas não a pena capital


Indícios longínquos Opinião pública e má fama Suficiente para iniciar o processo

• Importância da confissão, especialmente nos “crimes ocultos”

o Peculiaridades:
• Todo o processo era escrito (testemunhos, confissões, sentenças...)
• Processo corria em sigilo absoluto, inclusive para o acusado
“Elemento chave do funcionamento do Santo Ofício – O SEGREDO”
• O morto poderia responder pelo processo (exumação do corpo)
Tortura

o Decorre da grande importância conferida à confissão


o Processo Infalível (condenação de 95% dos acusados)
Tortura
 Bula Ad exstirpanda (1252)
Papa Inocêncio IV (autorização da tortura de heréticos, heresia é
uma razão de Estado)

“Os hereges devem ser esmagados


como serpentes venenosas”
Tortura

“A culpa pela tortura era do torturado que insistia em


não confessar:
- Assinava um termo em caso de ferimentos,
mutilações e até mesmo a morte;”

- “Termo de Segredo” – em que o réu prometia segredo


sobre os atos durante sua prisão, sob pena de voltar
ao encarceramento;
Tortura
 Manual do Inquisidor (Directorium Inquisitorum)
Nicolau Eymerich (1376) e Francisco de la Peña (1576)
Instrumentos de tortura

ESMAGA CABEÇAS
Instrumentos de tortura

RODA DE ESPEDAÇAMENTO
Instrumentos de tortura
QUEBRADOR DE JOELHOS
Instrumentos de tortura

DAMA DE FERRO
Instrumentos de tortura
BERÇO DE JUDAS
Instrumentos de tortura

PÊRA
Instrumentos de tortura
TORTURA DA ÁGUA
Instrumentos de tortura

CADEIRA
Instrumentos de tortura

CADEIRA DA BRUXA
Instrumentos de tortura

CAVALETE
Instrumentos de tortura
PÊNDULO
Instrumentos de tortura

MESA DE EVISCERAÇÃO
Instrumentos de tortura

POTRO
Instrumentos de Condenação

GAIOLA DE SUSPENSÃO
Instrumentos de Condenação

SERROTE
Instrumentos de Condenação

FOGUEIRA
"Se alguém não permanecer em mim, será lançado fora à semelhança
do ramo, e secará; e o apanham, lançam no fogo e o queimam“
(João 15, versículo 6)
Condenação
 Necessárias provas conclusivas
o Confissão era a mais conclusiva das provas

 Penas
o Fogueira
o Prisão perpétua
o Prisão temporária
o Confisco de bens
o Usar o sambenito
o Trabalhos nas galés de navios
o Flagelação
Condenação

 Procedimento
o Leitura pública
o Oportunidade para confessar e se arrepender
o Apelação (raríssimo)
o Execução
o Confisco dos bens a título de custas processuais
o Extensão da pena aos familiares
Execução
Autos de fé

- “Festas populares”;
- Era montado um “palco” na praça central;
- Toda comunidade convocada;
- Começavam com uma procissão
seguida de uma missa;
Execução
Autos de fé

- “Desfile” dos réus vestidos com os sambenitos (saco


bendito) ou hábito;
- Os reconciliados com a igreja eram obrigados usar
eternamente a roupa, e depois de mortos era exibida no
alto da igreja;
- Após tempos a roupa era substituída por algum pano com o
nome da família;
- Excomungado pela igreja, pela sociedade e família, sem
bens, vivia mendigando;
Execução
Autos de fé

- no lugar de réus mortos ou fugitivos eram


queimados seus restos mortais ou efígies, para
memória seja marcada a família;
- “ A igreja não executava a pena da fogueira, apenas
condenava e entregava o culpado para o poder
secular (Estado) executar”.
Revisando o Processo
 Denúncia;
 Prisão e confisco dos bens;
 Audiência para obter a confissão da heresia;
 Tortura;
 Confissão;
 Condenação – Sentença;
 Auto de fé – arrependimento;
 Execução da pena;
 Extensão da pena aos familiares e as próximas
gerações
Declínio
 A Inquisição foi extinta, gradualmente, ao longo do século
XVIII
o O único Estado a formalizar o final da Inquisição foi Portugal, em
1821, numa sessão das Cortes Gerais

 3 grandes fatores:
o Atuação revolucionária dos magistrados franceses
o Humanismo penal
o Racionalismo jurídico
Declínio
 Jurisprudência revolucionária
o Críticas do médico Jean Wier (1563)
o Decisão do Tribunal de Dijon (1570)
o Decisão do Parlamento de Paris (1589)
o Uniformidade das decisões ( 1640) - medida terapêutica
Declínio
 Humanismo Penal e Racionalismo Jurídico
o jusnaturalismo de cunho humanitário
o superação dos obstáculos metafísicos e o prevalecimento da
razão (busca irrestrita de racionalidade dos atos processuais)
o crime é desvinculado do pecado, passando a vincular-se a noção
de ilicitude

o Novos direitos legados:


• reserva legal
• taxatividade e irretroatividade
• personalidade, individualização e proporcionalidade das penas
• devido processo legal
• igualdade perante a lei.
Referências
GONZAGA, João Bernardino. A Inquisição em seu mundo. 6
ed. São Paulo: Saraiva, 1993.
KRAMER, Heinrich; SPRENGER, James. O Martelo das
Feiticeiras. 9 ed. Rio de Janeiro: Rosa dos Tempos, 1993.
EYMERICH, Nicolau. Manual dos Inquisidores. Rio de Janeiro:
Roda dos Tempos, 1993.
MAX, Fréderic. Prisioneiros da Inquisição. Porto Alegre:
L&PM, 1991.
NOVINSKY, Anita. A Inquisição. 2 ed. São Paulo: Brasiliense,
1983.
WOLKMER, Antonio Carlos (Org). Fundamentos de História do
Direito. 4 ed. Belo Horizonte: Del Rey, 2009.
Vídeo Vigiar
http://www.youtube.com/watch?v=huMArRCxmN0e Punir
Foucault

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